segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O CRIME DO QUARTO FECHADO – Um conto ao estilo “Agatha Christie”


[ATENÇÃO!!! A parte final deste conto não será publicada aqui (por enquanto). Mas se você deseja conhecer o restante da história envie uma mensagem para mim, que enviarei a resposta por e-mail (ou você pode também me enviar uma mensagem via facebook - meu face é: https://www.facebook.com/moacir.junior.31)]

Minha filha Suzanna Rani sempre gostou de ler (depois que aprendeu a ler, é claro).

E uma de suas paixões literárias é a obra de Agatha Christie, a grande escritora inglesa, rainha dos romances policiais.

Hoje, meus parabéns pelos 21 anos dessa esperta garota vêm na forma de um conto policial que fiz especialmente para ela, usando um artifício da literatura policial conhecido como CRIME DO QUARTO FECHADO. 

É uma expressão usada por detetives (e escritores policiais) para se referir a uma categoria especial onde um crime acontece num ambiente fechado, sem indícios de uma segunda pessoa, dando a impressão de que a vítima cometeu suicídio.

Leiam com cuidado e tentem descobrir o QUEM e o COMO. 

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O CRIME DO QUARTO FECHADO – Especialmente para Suzanna Rani

Roma, março de 2001.

O professor Dr. Charles Tenebaum estava terminando sua palestra para aquele pequeno grupo de sete pessoas. O local era a sala de sua invejável biblioteca. O Dr. Tenebaum era reconhecido internacionalmente por seu profundo conhecimento da cultura da antiga Msopotâmia e regiões vizinhas. Era uma autoridade sempre requisitada quando o tema envolvia aqueles povos do antigo médio oriente: babilônios, persas, hebreus, egípcios, etc.

- Como vocês acabaram de ouvir, meus amigos, os povos antigos, especialmente os semitas, valorizavam muito o significado de um nome. Geralmente nomeavam seus filhos de acordo com algum evento especial. O caso de Matusalém é um exemplo impressionante.

- Eu nunca tinha ouvido falar de algo tão insólito, professor – disse Elizabeth Semara, uma bonita morena na casa dos seus trinta anos, que lecionava História Antiga na Universidade de Oxford. Seus traços fisionômicos denunciavam claramente sua origem de alguma região do Oriente Médio.

- Pois é – respondeu o professor – no nosso encontro da próxima quinzena vocês verão coisas ainda mais impressionantes envolvendo esses fascinantes povos do antigo Médio Oriente.

O encontro a que o professor se referia fazia parte de um curso que tinha começado há cerca de três meses. A cada duas semanas, o professor e mais sete pessoas se reuniam a fim de debaterem sobre a cultura dos antigos povos do Médio Oriente. Muitas pessoas adorariam participar de tal curso, mas as vagas eram limitadas, principalmente porque o evento acontecia dentro da biblioteca, um ambiente muito agradável, porém misterioso e apertado.

Estes eram os sete participantes:

- a professora Elizabeth Semara, 
- o professor de Arqueologia, Phillip Seymour, 
          - o professor de Literatura Oriental, Paulus Polkasa, 
          - a estudante de Religiões Antigas, Sandra Mahonney
          - a estudante de Arqueologia, Suzy Rani Christie;
          - o estudante de Literatura Oriental, Ferdinand Maximus
       - e a senhora Anita Salazar, uma bela mulher de 40 anos, que estudava História antiga, mas era também a assistente pessoal do Dr. Tenebaum.

- Anita, por favor, acompanhe nossos amigos à sala do banquete. Vou só repassar uns documentos para a senhorita Semara e logo acompanharemos vocês.

- Tudo bem, professor – respondeu Anita prontamente, logo apontando o caminho para os outros participantes.

A “sala do banquete” era um local bem agradável cercado por belas plantas, onde o Dr. Tenebaum, de vez em quando, reunia alguns amigos para um almoço, jantar ou lanches.

Alguns minutos depois Elizabeth Semara também chegou ao local do lanche.

- E o professor? – Perguntou Anita.

- Está vindo – respondeu Elisabeth, sentando-se e apanhando um pedaço de bolo.

Todos estavam descontraídos e satisfeitos. Elizabeth, além de bonita e inteligente, era bastante simpática e sabia como divertir os amigos. Conhecia muitas histórias interessantes e anedotas, principalmente as tradicionais piadas bastantes populares entre os judeus e os árabes. 

Enquanto aguardavam a chegada do professor, a movimentação era grande. Alguns saiam de vez em quando (provavelmente iam ao banheiro).

Num dado momento, Suzy Rani, a estudante de Arqueologia aproximou-se de Elizabeth e passaram a conversar sobre as recentes descobertas arqueológicas em Israel. Anita estava próxima delas, porém parecia não se interessar pela conversa, pois estava concentrada em ler algo num tablet.

- Acredito que, nos próximos cinco anos teremos muitas surpresas arqueológicas, pois as novidades nessa área têm aumentado consideravelmente nestes últimos três anos – disse Suzy.

- Eu soube que, em Israel, existe uma grande expectativa sobre a questão do local exato do Templo de Salomão – falou Elizabeth, enquanto procurava se ajeitar na cadeira.

- Sim – respondeu Suzy – essa questão é crucial para que haja a reconstrução do Templo a qualquer momento. Além disso, eu diria que...

Subitamente, um som esquisito, parecendo o disparo de uma arma de fogo, assustou a todos.

- Meu Deus! – Anita levantou-se de um salto e correu, sendo logo seguida pelos outros.

A biblioteca estava fechada. Ao tentar abrir a porta, Anita percebeu que estava trancada.

- Professor! Professor! – Gritou, desesperada.

Todo mundo estava atônito.

- Você não tem uma cópia da chave? – perguntou Elizabeth.

- Tenho, mas só funciona se a outra chave não estiver na fechadura – respondeu a secretária do Dr. Tenebaum.

- Como assim, na fechadura? – Admirou-se o professor Polkasa.

- Estou vendo que a chave está na fechadura do lado de dentro – explicou Anita. 

- Então teremos que arrombar a porta – disse o professor Seymour, já se preparando para chutar a porta.

Depois de algumas tentativas, a porta foi arrombada e todos pararam, estarrecidos, ao verem um corpo caído no chão. Era o corpo do Dr. Tenebaum.

- Meu Deus! Professor! Professor! – Anita balançava o corpo sem vida, na esperança de que aquilo não estivesse acontecendo.

- Por favor, afaste-se! – Pediu Elizabeth, logo acrescentando – que ninguém mexa em nada. Alguém chame a polícia.

Os peritos examinaram toda a sala e chegaram a uma só e desanimadora conclusão:

- Não há outra saída nesta biblioteca. A arma disparada estava ao lado do corpo, e a porta estava trancada por dentro, com a chave ainda na fechadura. Tudo leva a crer que foi suicídio.

- Não! Não pode ser! – Gritou Anita, sendo em seguida abraçada por Elizabeth – não havia razão nenhuma pra ele fazer isso.

- Eu fui a última a vê-lo – disse Elizabeth, ainda abalada – não notei nada de estranho nele. Quando o deixei, antes de sair ainda o vi sorrindo e guardando uns papeis, prometendo que logo me acompanharia, pois seu estômago estava reclamando bastante.

E, apesar dos protestos de alguns, dias depois a polícia deu como encerrada a investigação, concluindo que o professor havia mesmo se suicidado.

“Muito estranho para ser um suicídio” pensou alguém que, naquele momento, havia notado algo que nem Anita (que era mais próxima do professor Tenebaum) tinha observado: a arma estava próxima da mão direita do professor. Mas ele era canhoto. 
*******

TRÊS MESES DEPOIS...

Os sete alunos do finado professor Tenebaum estavam sentados ao redor de uma mesa, numa sala reservada, cercada de livros. Uma das elegantes e misteriosas salas da Biblioteca Alessandrina, em Roma.

Suzy Rani, a estudante de Arqueologia, foi a promotora do encontro. Com a morte do professor, o grupo de estudos se dissolveu e só foram se reencontrar alguns meses depois. Todos haviam recebido um convite, chamando-os para um café na Biblioteca Alessandrina. 

Os seis membros do grupo de estudos estavam curiosos.

- Bem, senhorita Rani – falou o professor de Arqueologia, Phillip Seymour – ao receber o convite, fiquei surpreso e ao mesmo tempo curioso. Aqui diz que precisamos conversar sobre algo importante a respeito do professor Tenebaum.

- Sim, sim, claro – Suzy levantou-se e andou de um lado para o outro, enquanto explicava – o que aconteceu há três meses nos pegou de surpresa e desde aquele dia nunca parei de pensar, tentando entender o que pode ter acontecido.

- Eu também não tenho dormido direito – disse Elizabeth – o professor estava bem vivo, pertinho de nós e de repente... muito estranho. E não deixou nada escrito, nenhuma explicação para o seu estranho ato.

- Pois é – disse Anita, a ex-assistente do professor Tenebaum – em todos esses anos nunca notei qualquer traço de tristeza, amargura, depressão ou coisa parecida, esses elementos que geralmente se encontram num suicida.

- Não me digam que vocês estão descartando o fato do suicídio – disse Ferdinand – pra mim estava muito claro, apesar de desconhecer as ações de tal ato extremo.

- Eu também não vejo como não poderia ter sido um suicídio – disse o professor Seymour.

- Senhora Anita. Você que conviveu muitos anos com o professor. Ele era destro ou canhoto? – Perguntou Suzy.

A pergunta provocou uma atmosfera pesada na sala.

- Sim, claro. Ele era canhoto – confirmou Anita. Como você sabia?

Suzy sorriu e respondeu:

- Em todos os meses que tivemos aulas com ele eu observei isso. Pessoas destras a gente nem presta muito atenção, mas canhotas é diferente. 

- E daí? Qual o significado dele ser canhoto ou não? – Perguntou Ferdinand. Até aquele momento, duas pessoas ainda não tinham falado nada sobre o tema em pauta: Paulus Polkasa, o professor de Literatura Oriental, e a estudante de Religiões Antigas, Sandra Mahonney.

- A arma estava próxima da mão direita – explicou Suzy de imediato.

- Sabe que você está parecendo mais uma policial e não uma estudante de Arqueologia? – finalmente o professor Polkasa falou. Mas seu tom foi meio seco e irritante.

- Na verdade, eu sou algo parecido com um policial – Suzy apanhou uma espécie de distintivo e todos ficaram boquiabertos ao ver aquelas famosas letrinhas em hebraico e também no alfabeto latino: MOSSAD. – sou do serviço secreto israelense.

- Que história é essa? – Anita levantou-se – O que está acontecendo?

- Que ninguém saia do seu lugar – Suzy falou num tom ameaçador – que fique bem claro: Nesta sala existe alguém que é não somente um assassino, mas um terrorista internacional.

- Que palhaçada é essa? – O professor Polkasa levantou-se, irritado.

- Calma, professor – pediu Suzy – por favor, sente-se. Sinto muito por ter sido brusca, mas o que eu disse é verdade. Alguém, que está em nosso meio, assassinou friamente o professor Tenebaum. Me permitam explicar em detalhes.

Há um ano o professor Tenebaum estava em uma biblioteca francesa, quando testemunhou um assassinato. Isso aconteceu na seção de História. Ele estava do outro lado da seção quando ouviu um pedido de socorro. Ao chegar até o local de onde partira o grito, viu alguém debruçado sobre uma pessoa caída no chão. Esse alguém portava um punhal todo ensangüentado. O professor não chegou a ver o seu rosto, mas com certeza foi bem visto pelo assassino, pois nos dias seguintes passou a ser perseguido por uma sombra e conseguiu escapar de alguns atentados. O morto era um professor de História que estava investigando um estranho manuscrito que comprara recentemente num mercado de antiguidades em Bagdá. As circunstâncias de sua morte despertaram a atenção da policia francesa e logo o caso passou para o departamento do serviço secreto francês.

Especialistas do departamento de criptografia conseguiram detectar uma mensagem secreta escondida no tal manuscrito. Na verdade, era um plano terrorista contra a Mesquita de Omar, em Jerusalém. O plano visava a destruição da Mesquita para lançar a culpa sobre o Estado de Israel, atraindo a condenação mundial contra aquele país. 

Como o professor Tenebaum se tornou uma testemunha perigosa, foi criada uma rede de proteção para ele. Sabíamos que o assassino era uma ameaça real. Quando houve o concurso para a seleção de sete estudantes que deveriam passar alguns meses tendo aulas especiais com o professor Tenebaum, o serviço secreto israelense (pois o professor, apesar de residir em Roma por algum tempo, tinha também a cidadania israelense), juntamente com o serviço secreto francês, me infiltrou nesse seletivo grupo.

Enquanto falava, Suzy andava de um lado para o outro, olhando fixamente nos olhos de cada um dos seis personagens, atentando especialmente para suas mãos, como se esperasse uma reação violenta de algum deles a qualquer momento.

- Apesar de estar infiltrada neste grupo de estudos, jamais passou pela minha cabeça que o assassino também fosse fazer a mesma coisa. Mas no momento em que vi o professor morto e a arma ao seu lado, compreendi que o matador era um de nós, pois se fosse alguém de fora jamais tentaria simular que o professor havia se suicidado. Simplesmente teria atirado nele e fugido com a arma.

- E por que você não diz logo quem é o assassino, pois nós poderemos estar correndo um grande perigo? – disse o professor Polkasa.

- Talvez sim – disse Suzy – talvez não. Ele é muito autoconfiante. Pode até estar achando que estou blefando. Vamos recordar aquele trágico dia, rapidamente. Todos estávamos na sala do banquete, aguardando o professor. Mas havia um entra e sai incontrolável. Eu conversei por alguns minutos com a Elizabeth e a senhora Anita estava próxima. O professor Polkasa entrou e saiu algumas vezes, e não consigo lembrar se o vi na hora em que o tiro foi disparado. O professor Seymour também sumiu por algum tempo.

- Mas eu estava na sala quando o disparo foi ouvido – esclareceu o professor Seymour, meio irritado.

- Sim. Naquele momento ele conversava comigo – disse Sandra Mahoney, a estudante de Religiões Antigas, que, até aquele momento, não havia falado nada.
- Eu também estava na sala – disse Ferdinand.

- Parece que todo mundo estava na sala – falou Suzy – mas alguém atirou contra o professor. E não havia mais ninguém na casa.

- E a questão do quarto fechado, com a chave por dentro? – Perguntou Ferdinand – você não acha que a explicação mais simples é a do suicídio?

- Não, meu amigo. A coisa foi um pouco sofisticada. Mas não foi suicídio. Foi assassinato. Um crime quase perfeito. E o assassino está aqui. Na verdade, neste exato momento, há uma força tática cercando este prédio, pronta para invadir esta sala. 

Naquele exato momento, o misterioso assassino se sentiu acuado. E preparou-se para a última cartada.

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O professor Tenebaum foi assassinado. Mas não havia ninguém na sala, a biblioteca só possuía uma porta, que estava fechada e a chave se encontrava por dentro. Todas as sete pessoas estavam (ou pareciam estar) na sala do banquete quando o tiro foi disparado.

O que você acha? Quem matou o professor e como fez isso?


Moacir R. S. Junior – morganne777@hotmail.com