quinta-feira, 12 de março de 2015

CAPÍTULO 13 - TANTAS PERGUNTAS PARA SEREM RESPONDIDAS...

Os dois amigos chegaram à casa da Diretora do Colégio do Ensino Médio e Morganne foi recebido com muito entusiasmo pelos SETES. Além dos jovens espertos havia outras pessoas lá. Stefânia Seller, Cibele, a amiga de Sophie, e a misteriosa Yasmin, que estava sentada, ainda mostrando sinais de que estivera internada recentemente. Pelo visto sua recuperação foi bem rápida. E havia ainda uma outra pessoa, um homem, vestido numa jaqueta negra, que estava de costas.
Alguns minutos depois, quando Morganne avançou para o meio da sala, o homem de jaqueta negra virou-se e encarou o jovem SETE.
- Seja bem vindo, meu rapaz – disse ele, sorrindo.
Naquele momento, Morganne teve uma das maiores surpresas de sua vida.


- Professor Pike!!!??? Por Deus, que história é essa?
O homem conhecido como Albert Pike aproximou-se de Morganne e estendeu a mão.
- Desculpe, meu rapaz. Sinto muito por ter feito isso com vocês, mas, como já expliquei para seus amigos, não havia outra saída.
Morganne permaneceu quase um minuto em silêncio, olhando e examinando de alto a baixo aquele homem que todos pensavam estar morto.  
- Não quer sentar, querido? – Magry aproximou-se e pegou na mão direita de Morganne – Venha. Hoje, todas as perguntas que nos perturbaram nos últimos dias serão respondidas.
*******
Albert Pike contava sua história.
- Há muito tempo que não sei o que significa viver em paz ou viver em segurança. Até aqui minha vida tem sido de medo, perseguição, suspense. E não somente minha vida, mas principalmente de outra pessoa, a pessoa mais maravilhosa que já conheci. Nesses últimos 14 anos vivemos momentos maravilhosos, mas também de inquietação e medo. Já viajamos por quase todo o Brasil, procurando um lugar tranqüilo para vivermos o nosso amor em paz. Depois de muito tempo, resolvemos nos esconder nesta pequena cidade, mas jamais imaginamos que até aqui alguém iria nos descobrir. Meu verdadeiro nome é Jamal Kandahar, eu sou egípcio.
*******
Porto Alegre, Brasil, 1981.
Jamal Kandahar, um jovem egípcio, professor de Arqueologia e História do Médio Oriente, está participando de uma conferência há dois dias. Há cientistas, professores, jornalistas e estudantes de várias partes do mundo. É uma conferência importantíssima sobre as mais recentes descobertas arqueológicas da Mesopotâmia e Egito. Um dos palestrantes é o famoso professor americano Victor Santinni, que reside há cinco anos no Brasil, e leciona História na mais tradicional Universidade de Porto Alegre.
Jamal estava tenso, muito tenso. Cuidadosamente, abriu sua maleta e ficou alguns segundos examinando a foto que levava consigo. Ele estava ali para matar Victor Santinni. Não sabia a razão, mas por algum motivo, o professor Santinni tinha ficado na mira da Ordem dos Escorpiões, uma sociedade tão secreta, que nenhum historiador ocidental jamais tinha ouvido falar. Essa sociedade possuía laços de união com outras sociedades secretas, mas era temida por todas as outras. Um dos seus objetivos era recuperar todos os tesouros egípcios saqueados por arqueólogos e caçadores ao longo dos séculos. Mas seu objetivo final era restaurar a milenar monarquia egípcia, e colocar o Egito novamente como o único Império da Terra. É claro que, para alcançar tais objetivos, os Escorpiões estavam dispostos a tudo. Qualquer historiador ou cientista que eles considerassem um empecilho, seria tirado do caminho. E sua forma de matar era inusitada: um escorpião venenoso!
Durante um intervalo, Jamal passeava pelos corredores da Universidade que estava sediando a conferência. Naquele momento, um grupo de estudantes discutia sobre os mistérios da mitologia egípcia, e um deles pronunciou a palavra “escorpião”. Foi como uma agulhada no peito de Jamal. Ele se aproximou, curioso e ficou atônito ao ver uma bela moça sorridente e de lindos olhos verdes e brilhantes, que parecia estar dominando a conversa.
- Sou fascinada pela cultura egípcia e meu grande sonho é visitar o Egito um dia. Tenho certeza de que em alguma biblioteca egípcia haverá algo sobre essa sociedade dos Escorpiões.
- Onde você leu sobre isso? – Perguntou um jovem ruivo, que estava na frente de Jamal.
- Quando estive nos Estados Unidos no ano passado, encontrei um professor de Egiptologia, que sabia muitas coisas. Enquanto pesquisava numa biblioteca americana, tive a oportunidade de me aproximar dele e fazer algumas perguntas. E foi assim, que, quase sussurrando, e olhando para todos os lados, desconfiado, ele me falou que um parente seu havia lhe contado sobre essa secretíssima sociedade de assassinos.
“Parece que não é mais tão secreta assim” Pensou Jamal, com os olhos fixos na moça, como se estivesse hipnotizado.
- Oi, você é egípcio? – Ela perguntou de repente, olhando para Jamal, que ainda mais atônito ficou, e tentou não tremer nas bases.
- Co - como disse?
- Se eu não me engano, sua fisionomia é de um egípcio bem natural – disse ela, aproximando-se. Muito prazer, eu sou Agnes Hannah.
- Você conhece bem os egípcios – disse Jamal, tentando controlar suas emoções e apertando a mão da moça – meu nome é Jamal Kandahar, professor de Arqueologia e História do Médio Oriente.
-Puxa vida! Quanta honra – disse a moça.
*******
Enquanto tomava banho, Jamal não conseguia pensar em outra coisa. Durante mais de uma hora, ele havia conversado com Agnes. Quanto mais conversava com ela, mais ficava fascinado. Era um sentimento estranho e muito bom. Seu coração batia de forma descontrolada. Nunca antes ele havia sentido tal coisa. Na verdade, tinha nascido e crescido em meio a tristeza e o ódio. Ainda criança viu sua mãe sendo morta acidentalmente quando tentava barrar o duelo de dois tios que se matavam com agudas espadas mortais. Cresceu vendo parentes sendo mortos a cada instante por causa de disputas religiosas, dentro do misticismo egípcio. Anos mais tarde, pouco depois de concluir seu curso universitário, testemunhou sua casa pegando fogo, matando seu pai e suas duas irmãs. Ao descobrir que seu pai fazia parte de uma sociedade secreta milenar, tentou seguir sua carreira, aceitando o convite da Ordem. Na verdade, ele pretendia se vingar de um tio, a quem culpava pelo incêndio e pela morte do pai. Mas, ao entrar na sociedade, teve que frear seus instintos, ou pelo menos adiar sua vingança, pois a Ordem não permitia vinganças pessoais.
Tudo que seu coração conhecia era ódio, desconfiança e vingança. Mas naquele dia, durante aquela conferência, uma reviravolta estava fazendo todo seu corpo tremer.
*******
É o quarto e último dia da conferência. Hoje ele deve executar sua missão. Há um grande conflito dentro de sua mente. O misterioso sentimento chamado amor havia invadido seu coração e ele só pensava em Agnes, que por sua vez também estava sentindo algo por aquele jovem egípcio. Mas ao mesmo tempo, uma força sinistra o impelia a cumprir a missão que o trouxera ao Brasil. Em seu quarto, ele abre uma maleta e apanha uma pequena garrafa de vidro. Olha bastante tempo para o pequeno escorpião preso. O que fazer agora? Não tinha tempo a perder. A sociedade não tolerava falhas ou hesitação.
Cheio de conflitos, Jamal consegue entrar no quarto do professor Santinni, enquanto este começava sua palestra. Calmamente, retira o escorpião da garrafa e o esconde dentro da mala do velho professor. Sai rapidamente do quarto e vai assistir o restante da palestra.
Procura Agnes com o olhar e sorri ao vê-la bem na frente, bastante atenta às palavras do professor. Tenta se aproximar dela, mas todas as cadeiras da frente já estavam ocupadas. Algum tempo depois, Victor Santinni pede desculpas aos conferencistas e, olhando para Agnes, faz um pedido:
- Filha, você poderia apanhar aquele documento sobre Hieróglifos que digitei ontem à noite? Infelizmente esqueci de trazê-los hoje. Está na minha maleta, no lugar de sempre.
Agnes se levanta, e Jamal tem um choque.
“Filha? Não é possível!” – Pensa ele, bastante atônito. Ele corre desesperado para impedir uma tragédia. Dentro do seu coração há um turbilhão de emoções, dominadas pelo desespero. Agnes estava muito mais próxima do quarto do que ele. Inocentemente, ela entra no quarto e abre a maleta do pai. Lá dentro, o pequeno assassino preparava seu aguilhão mortal.
*******
Jamal escancara a porta. Há um silêncio de morte dentro do quarto. Agnes Hannah está estendida no chão, enquanto o pequeno e diabólico escorpião passeia sobre seu braço direito, como se nada tivesse acontecido. Jamal joga-se ao chão, em prantos, desesperado.
- Não!!! Não!!!
Ele levanta-se, e com grande raiva, apanha o escorpião e o lança por terra, esmagando-o em seguida. Abraça o corpo de Agnes e tem outra surpresa, a melhor das surpresas. Agnes está viva.
- Agnes! Agnes, você está bem? Agnes, me perdoa, me perdoa!
*******
Desde criança Agnes Hannah tinha pesadelos envolvendo escorpiões. Ela tinha pavor só em ver a figura de um daqueles pequenos assassinos. Quando abriu a maleta do pai, e viu o escorpião, o choque foi tão grande, que ela desmaiou. Alguma força sobrenatural impediu que o escorpião fizesse mais uma vítima, pois o terrível aracnídeo ficou apenas passeando sobre o corpo desmaiado da bela jovem.
Quando Agnes voltou a si, Jamal contou toda a sua triste história. Por fim, pediu a ela que o denunciasse às autoridades policiais local, pela tentativa de homicídio. Mas ela apenas o abraçou, dizendo:
- Se Deus colocou você em meu caminho, e se Ele me poupou de uma morte tão trágica, é porque tem algo importante a realizar em nossas vidas.
Agnes era Cristã Fundamentalista e mais tarde conseguiu transformar Jamal em um ardoroso seguidor de Jesus Cristo.
*******
CRISTÃO FUNDAMENTALISTA – O Congresso Mundial dos Fundamentalistas, que se reuniu em 1976, no Usher Hall, Edinburgh, Escócia deu a seguinte definição de um Cristão Fundamentalista: Um fundamentalista é um Cristão nascido de novo no Senhor Jesus Cristo que:

1. Mantém uma inarredável lealdade à Bíblia, como sendo inerrante, infalível e verbalmente inspirada.
2. Crê que tudo que a Bíblia diz, assim é.
3. Julga todas as coisas pela Bíblia e somente dela aceita julgamento.
4. Afirma as verdades fundamentais da fé cristã histórica: a doutrina da Trindade, a Encarnação de Jesus, Seu nascimento por meio de uma virgem, Sua morte como expiação dos pecados da humanidade, Sua Ressurreição corporal em glória, Sua ascensão, Sua Segunda Vinda, o novo nascimento através da regeneração pelo Espírito Santo, a ressurreição dos santos para a vida eterna, a ressurreição dos perdidos para o julgamento final e a condenação eterna e consciente, a comunhão dos santos, os quais são o corpo de Cristo.
5. Pratica fidelidade àquela fé e empenha-se por pregá-la a toda criatura.
6. Expõe e se separa de toda negação eclesiástica àquela fé, acomodação com o erro e apostasia da verdade.
7. Ardentemente guerreia pela fé que, de uma vez para sempre, foi entregue aos santos.
*******
Jamal cortou todo laço com o passado e tentou viver como um novo homem em um novo mundo, com novos propósitos e uma nova visão das coisas. Mas pairava sobre ele a sombra da Sociedade dos Escorpiões. Algum tempo depois e Jamal se casou com Agnes. Durante algum tempo eles viveram muito felizes e estavam no auge de suas realizações profissionais quando repentinamente se viram ameaçados por um misterioso inimigo sem rosto.
Jamal lembrou que, uma das regras da Sociedade dos Escorpiões era que, todo membro que fosse realizar uma missão pela primeira vez, teria um outro membro, mais experiente, como uma espécie de guardião, caso as coisas saíssem erradas. Se o iniciante falhasse em sua missão, ou fizesse algo que ameaçasse os segredos da Sociedade, deveria ser eliminado. Quando Jamal resolveu abandonar sua “meteórica carreira de assassino” (que não chegou a se consumar), seu guardião resolveu matá-lo.
Mas o Novo Guardião de Jamal era muito mais forte, e o livrou dos perigos dezenas de vezes.
*******
“O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua mão direita. O Senhor te guardará de todo o mal; ele guardará a tua vida. O Senhor guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre.” (Salmo 121.5,7,8)
“Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio.
Porque ele te livra do laço do passarinho, e da peste perniciosa. Ele te cobre com as suas penas, e debaixo das suas asas encontras refúgio; a sua verdade é escudo e broquel.
Não temerás os terrores da noite, nem a seta que voe de dia, nem peste que anda na escuridão, nem mortandade que assole ao meio-dia. Mil poderão cair ao teu lado, e dez mil à tua direita; mas tu não serás atingido.”
(Salmo 91.1-7)
*******
Quando o professor Victor Santinni, pai de Agnes, veio a falecer (de causas naturais), os dois jovens resolveram procurar um lugar seguro e viajaram por várias partes do Brasil. De cidade em cidade, chegaram a São Luís, onde, durante algum tempo, conseguiram trabalho numa Universidade particular. Muito tempo depois, mais tranqüilos e achando-se livres da ameaça mortal, resolveram aumentar a segurança, e Agnes, que já tinha firmado amizade com muitas pessoas, viajou até uma pacata, pequena e desconhecida cidade do interior do Maranhão, Igarapé Grande, onde comprou um Colégio de Ensino Médio, que estava ameaçado de fechar, devido as condições de saúde de sua proprietária.
Desde algum tempo, Agnes passara a usar outra identidade, e agora se chamava Stefânia Seller.
*******
Igarapé Grande, 1991.
Os jovens SETES ouviam com atenção a espantosa narrativa de Albert Pike. Naquele momento, todos olharam para dona Stefânia.
- A senhora é ... esposa dele? – Perguntou Magry, bastante admirada. Na verdade, todos estavam surpresos.
- É bom saber que consegui esconder isso muito bem, até dos famosos SETES – respondeu Stefânia, sorrindo.

- É, muito bem mesmo – disse Diego – Nunca passou pela minha mente nada parecido. Agora, relembrando de algumas coisas, e com esse novo conhecimento, muitos detalhes começam a se encaixar.
- Começo a entender o que realmente aconteceu na noite daquele incêndio – disse Morganne.
- Talvez eu nem precise explicar esse ponto – disse Albert Pike.
*******

Mais tarde, quando Stefânia já estava bastante conhecida e respeitada na região, convidou três novos professores da capital: seu marido Jamal (agora com a identidade de Albert Pike); Cibele Santos e Sophie Soran. Os três novos professores eram tão brilhantes, que tornaram aquele Colégio ainda mais requisitado.

Sophie era um amor de pessoa (ninguém nunca teve a mais leve idéia da maldição que aquela mulher carregava, nem sua melhor amiga, Cibele). Alguns casos estranhos na região jamais foram esclarecidos. Nas cidades vizinhas, durante um período de três anos (o mesmo período em que Sophie esteve em Igarapé Grande), várias jovens desapareceram. Algumas foram encontradas vivas, mas com grande falta de sangue. Outras foram encontradas mortas, e as causas diagnosticadas apontavam principalmente para uma enorme perda de sangue.

Se algum desses casos tivessem ocorrido em Igarapé Grande, teria despertado o interesse dos SETES – e a astuciosa Sophie sabia muito bem disso – por essa razão executava seus crimes o mais longe possível dali. Mas um dia aquilo haveria de acabar.

Ao mesmo tempo, uma outra ameaça chegava em Igarapé Grande, especialmente para Albert Pike e sua querida esposa Stefânia. Eles já estavam se sentindo tão seguros que pensavam em tornar público que eram casados. Justamente nesse período de tempo chega o guardião, encarregado de eliminar o Escorpião dissidente.

À noite, enquanto todos festejavam o aniversário da professora Sophie, Pike teve um encontro com o seu perseguidor. O encontro foi na biblioteca do professor.

- Você fugiu pra muito longe, irmão – disse o misterioso guardião – quase que eu desistia de procurá-lo, mas nós, escorpiões, somos pacientes e perseverantes.

- Caro amigo – Pike levantou-se devagar – estou nas mãos de um Deus Verdadeiro e não de uma ilusão. Se Ele quiser, escaparei mais uma vez. Ele é maior do que a Sociedade dos Escorpiões.

- Não devo perder tempo com você – o homem arrancou um punhal do bolso e preparava-se para lançá-lo, mas Pike, com uma agilidade surpreendente, lançou sobre o perseguidor um livro que estava lendo, e tentou desarmá-lo.

Os dois homens se envolveram numa luta perigosa. Durante alguns minutos parecia que ninguém iria vencer – ambos eram bem treinados. Então, com um violento chute, Pike empurrou seu oponente contra a parede. Ele jamais imaginou que a pancada fosse tão violenta, pois o homem ficou imóvel, como se estivesse desmaiado. Pike tocou no pulso do perseguidor e descobriu que ele estava morto. Sentiu um grande alivio, mas ficou preocupado ao mesmo tempo. O que faria agora? É claro que ele matou aquele homem em legítima defesa, mas como explicar para as autoridades?

E se aquele homem não estivesse naquela cidade sozinho? Fazia tantos anos que ele perseguia Pike, que poderia muito bem ter entrado em contato com outros assassinos. Pike lembrou-se de Stefãnia. Será que ela estava em perigo? Será que havia algum “escorpião” ameaçando ela? Naquele momento de tensão e desespero, Pike teve uma idéia estranha. Relutou bastante, pois era uma idéia ilegal, era uma mentira, uma mentira que iria entristecer muitas pessoas. Mas ele não via outra saída. Se ele, de alguma forma “morresse” poderia ficar livre para investigar se havia outros daqueles assassinos em Igarapé Grande, e teria mais liberdade para proteger sua amada.

Examinou os bolsos do morto, e encontrou uma pequena caixa. Ele sabia muito bem o que era. Uma caixa cheia de escorpiões perigosos. Era a arma secreta daqueles assassinos. Pike sentiu um tremor na espinha, apanhou a caixa e, após pensar alguns segundos, abriu sua gaveta e jogou a caixa lá. Arrastou a mesa para longe dos livros e apanhou o isqueiro.

Lembrou-se de Stefânia, que naquele momento estava no aniversário de Sophie. Ele tinha que avisá-la de alguma forma, antes que ela fosse iludida também. Pensou alguns minutos, e resolveu sair. Sua casa ficava um pouco afastada das outras, e naquela rua a maior parte do tempo era deserta. Talvez ninguém tivesse visto o perseguidor entrar ali. Mas quem garantiria isso?

Rapidamente, ele escreveu um bilhete, explicando tudo a Stefânia e foi até ao clube. Chegando lá pediu para alguém entregar o bilhete e voltou apressado para casa. A grande encenação iria começar.

Correu até a cozinha. Sabia que aquilo era arriscado demais, mas tinha que fazer um serviço perfeito. Derramou álcool em torno do botijão de gás e foi derramando até a biblioteca. Afastou alguns livros e organizou tudo de modo que, mesmo que o incêndio destruísse uma parte da casa, a  biblioteca ficasse intacta.

Depois de tudo pronto, acendeu um pequeno pavio, que, dentro de alguns minutos (o tempo suficiente para ele sair dali), iria atingir o botijão de gás, causando uma tremenda explosão e chamando a atenção da cidade inteira.
E assim aconteceu. A explosão foi ouvida e o incêndio começou. Alguns minutos depois, o professor Pike chegou e parou atônito. Então, após alguns segundos de hesitação, teve uma reação surpreendente. Correu em direção à casa em chamas, gritando:
- Há documentos importantes lá! Preciso salvá-los!
- Não faça isso, professor! – Gritou um dos homens que tentava apagar o incêndio.
Mas o professor sumiu casa adentro, apesar de várias pessoas tentarem segurá-lo. No exato momento em que ele entra, uma parte da parede da frente cai, provocando gritos e grande alvoroço. Os homens continuam desesperados carregando baldes d’água, enquanto o incêndio prossegue. Passam-se os minutos, como se fossem horas, e o professor não retorna. Cerca de vinte minutos depois, o incêndio é controlado. A primeira coisa que vem à mente de todos é procurar o professor, e é com grande terror que o mestre é encontrado minutos depois. Na sala da biblioteca, com grande parte destruída, havia um corpo queimado, agarrado à uma pasta de documentos.
E assim todos pensaram que o professor havia morrido no incêndio. Mas a verdade era outra, uma que ninguém ali era capaz de imaginar. Ao chegar na biblioteca, Pike rapidamente trocou de roupa com o morto, e após lançar um livro em chamas sobre o rosto do perseguidor morto, correu, saindo escondido, pelo quintal, e sumindo dentro da noite.

Com o rosto desfigurado pelo incêndio, e usando as roupas do professor, o homem morto foi rapidamente confundido e mais tarde enterrado como Albert Pike. O plano saiu perfeito. É claro que Pike correu para se esconder na casa de sua amada Stefãnia, e entrou lá por um caminho que somente os dois conheciam, já que viviam naquela cidade como dois amigos e não como dois cônjuges.

No dia seguinte, foi grande a comoção no funeral do “professor”. Ninguém, exceto Stefânia, sabia a verdade.

*******
- Por isso naquele dia eu achei suas lágrimas muito estranhas – disse Sabrina – achei superficial demais. Alguma coisa me dizia que a senhora não estava sendo sincera ao chorar diante do enterro do professor.

- Essa não! E eu que me esforcei tanto para chorar lágrimas de crocodilos – disse Stefânia, sorrindo  - mas pelo menos, ninguém nunca desconfiou de nada.

- É, vocês enganaram os SETES direitinho - disse Diego, sorrindo. Morganne sorriu discretamente, mas preferiu não fazer nenhum comentário.
- Bom, deixem-me concluir essa história – disse Albert Pike, tossindo um pouco.
*******

Algum tempo depois, e Pike retornou à sua casa, secretamente. Foi então que se lembrou do medalhão que tirara do morto, no dia da tragédia. Lembra-se de ter jogado o medalhão com o escorpião dourado para trás de uma pequena mesa, mas depois ficou se torturando, imaginando mil coisas: E SE ALGUÉM ENCONTRASSE AQUELE MEDALHÃO? TALVEZ FOSSEM SURGIR ALGUNS CURIOSOS E...

E é claro que os curiosos surgiram, e muito rapidamente: OS SETES. E eles encontraram o medalhão, e com isso começaram a suspeitar que havia algo errado naquela história. Somente não imaginavam que o morto não era o professor. Na noite em que Morganne, Diego e Sabrina visitaram a biblioteca do professor, este também estava lá e por pouco não se encontraram. Após investigar a possível existência de outros assassinos da seita dos Escorpiões em Igarapé Grande, e não encontrar vestígios de nenhum, Pike resolveu forçar os SETES a devolverem o medalhão, a fim de que jamais tomassem conhecimento da famosa sociedade secreta e despertassem a fúria daqueles assassinos.

Mas os SETES estavam mesmo dispostos a tirar tudo aquilo a limpo. 

*******

- E, de repente, os acontecimentos se precipitaram, nos envolvemos na mais estranha aventura de nossas vidas e grande parte dos mistérios foram esclarecidos – disse Diego Draconne.

- Quando, naquela noite fatídica, o misterioso motoqueiro foi apanhar o medalhão, lançamos aquele pó especial nos pneus de sua moto e seguimos os rastros até aqui, descobrindo toda a verdade – esclareceu Scapelly.

- Foi um lindo golpe, SETES – disse Pike, sorrindo.

- E se nunca tivéssemos chegado a essa descoberta? Vocês esconderiam essa verdade para sempre? – Perguntou Sabrina.
- Não sei – respondeu Pike – Stefânia relutou muito em aceitar que eu continuasse oficialmente morto. De qualquer forma, estava difícil demais viver escondido. Qualquer hora, um erro fatal e eu seria descoberto. Depois de muito pensar, só encontramos uma saída.

- Que vocês se mudassem daqui – sugeriu Brigitte.

- Exatamente – respondeu Stefânia – e é isso que iremos fazer ainda nesta semana.

- Mas não acham que esse lugar ainda é o mais seguro pra vocês? – Perguntou Morganne, quebrando seu misterioso silêncio.

- Pode ser, mas não se esqueçam que fui responsável por uma morte – disse Pike.

- Em legítima defesa – completou Morganne.

- Mas teria que explicar muitas coisas para as autoridades, e, francamente, acham que alguém iria acreditar nessa história de Sociedade dos Escorpiões?

- O senhor está certo – concordou Diego.

Naquele momento, Morganne olhou para Yasmin e perguntou:

- E você? Onde se encaixa nessa história toda? Quem é você afinal? O que a trouxe até Igarapé Grande? – Ele parou um pouco, pegou na mão dela e olhou em seus olhos – me desculpe. Desculpe meu jeito brutal de interrogador, mas é que os acontecimentos recentes ainda estão perturbando minha alma. Já ouvimos a história do professor, mas acho que é a sua que nos trará a verdade sobre Sophie.


- É verdade – Yasmin olhou para o chão durante alguns segundos. Então levantou a cabeça e começou sua narrativa – Pra começar, meu verdadeiro nome é Mary-Sandra. Eu sou ... eu sou ... – Ela esforçou-se para concluir – eu sou ... eu sou a filha de Sophie – Yasmin chora, enquanto fala – eu sou filha da mulher que vocês conheceram como professora Sophie. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário