Os dois amigos chegaram à casa da
Diretora do Colégio do Ensino Médio e Morganne foi recebido com muito
entusiasmo pelos SETES. Além dos jovens espertos havia outras pessoas lá.
Stefânia Seller, Cibele, a amiga de Sophie, e a misteriosa Yasmin, que estava
sentada, ainda mostrando sinais de que estivera internada recentemente. Pelo
visto sua recuperação foi bem rápida. E havia ainda uma outra pessoa, um homem,
vestido numa jaqueta negra, que estava de costas.
Alguns minutos depois, quando Morganne
avançou para o meio da sala, o homem de jaqueta negra virou-se e encarou o
jovem SETE.
- Seja bem vindo, meu rapaz – disse ele, sorrindo.
Naquele momento, Morganne teve uma das
maiores surpresas de sua vida.
- Professor Pike!!!??? Por Deus, que história é essa?
O homem conhecido como Albert Pike
aproximou-se de Morganne e estendeu a mão.
- Desculpe, meu rapaz. Sinto muito por ter feito isso
com vocês, mas, como já expliquei para seus amigos, não havia outra saída.
Morganne permaneceu quase um minuto em
silêncio, olhando e examinando de alto a baixo aquele homem que todos pensavam
estar morto.
- Não quer sentar, querido? – Magry aproximou-se e
pegou na mão direita de Morganne – Venha. Hoje, todas as perguntas que nos
perturbaram nos últimos dias serão respondidas.
*******
Albert Pike contava sua história.
- Há
muito tempo que não sei o que significa viver em paz ou viver em segurança. Até
aqui minha vida tem sido de medo, perseguição, suspense. E não somente minha
vida, mas principalmente de outra pessoa, a pessoa mais maravilhosa que já
conheci. Nesses últimos 14 anos vivemos momentos maravilhosos, mas também de
inquietação e medo. Já viajamos por quase todo o Brasil, procurando um lugar
tranqüilo para vivermos o nosso amor em paz. Depois de muito tempo, resolvemos
nos esconder nesta pequena cidade, mas jamais imaginamos que até aqui alguém
iria nos descobrir. Meu verdadeiro nome é Jamal Kandahar, eu sou egípcio.
*******
Porto
Alegre, Brasil, 1981.
Jamal
Kandahar, um jovem egípcio, professor de Arqueologia e História do Médio
Oriente, está participando de uma conferência há dois dias. Há cientistas,
professores, jornalistas e estudantes de várias partes do mundo. É uma
conferência importantíssima sobre as mais recentes descobertas arqueológicas da
Mesopotâmia e Egito. Um dos palestrantes é o famoso professor americano Victor
Santinni, que reside há cinco anos no Brasil, e leciona História na mais
tradicional Universidade de Porto Alegre.
Jamal
estava tenso, muito tenso. Cuidadosamente, abriu sua maleta e ficou alguns
segundos examinando a foto que levava consigo. Ele estava ali para matar Victor
Santinni. Não sabia a razão, mas por algum motivo, o professor Santinni tinha
ficado na mira da Ordem dos Escorpiões, uma sociedade tão secreta, que nenhum
historiador ocidental jamais tinha ouvido falar. Essa sociedade possuía laços
de união com outras sociedades secretas, mas era temida por todas as outras. Um
dos seus objetivos era recuperar todos os tesouros egípcios saqueados por
arqueólogos e caçadores ao longo dos séculos. Mas seu objetivo final era
restaurar a milenar monarquia egípcia, e colocar o Egito novamente como o único
Império da Terra. É claro que, para alcançar tais objetivos, os Escorpiões
estavam dispostos a tudo. Qualquer historiador ou cientista que eles
considerassem um empecilho, seria tirado do caminho. E sua forma de matar era
inusitada: um escorpião venenoso!
Durante
um intervalo, Jamal passeava pelos corredores da Universidade que estava
sediando a conferência. Naquele momento, um grupo de estudantes discutia sobre
os mistérios da mitologia egípcia, e um deles pronunciou a palavra “escorpião”.
Foi como uma agulhada no peito de Jamal. Ele se aproximou, curioso e ficou
atônito ao ver uma bela moça sorridente e de lindos olhos verdes e brilhantes,
que parecia estar dominando a conversa.
- Sou fascinada
pela cultura egípcia e meu grande sonho é visitar o Egito um dia. Tenho certeza
de que em alguma biblioteca egípcia haverá algo sobre essa sociedade dos
Escorpiões.
- Onde você leu sobre
isso? – Perguntou um jovem ruivo, que estava na frente de Jamal.
- Quando estive nos
Estados Unidos no ano passado, encontrei um professor de Egiptologia, que sabia
muitas coisas. Enquanto pesquisava numa biblioteca americana, tive a
oportunidade de me aproximar dele e fazer algumas perguntas. E foi assim, que,
quase sussurrando, e olhando para todos os lados, desconfiado, ele me falou que
um parente seu havia lhe contado sobre essa secretíssima sociedade de
assassinos.
“Parece
que não é mais tão secreta assim” Pensou Jamal, com os olhos fixos na moça,
como se estivesse hipnotizado.
- Oi, você é
egípcio? – Ela perguntou de repente, olhando para Jamal, que ainda mais atônito
ficou, e tentou não tremer nas bases.
- Co - como disse?
- Se eu não me
engano, sua fisionomia é de um egípcio bem natural – disse ela, aproximando-se.
Muito prazer, eu sou Agnes Hannah.
- Você conhece bem
os egípcios – disse Jamal, tentando controlar suas emoções e apertando a mão da
moça – meu nome é Jamal Kandahar, professor de Arqueologia e História do Médio
Oriente.
-Puxa vida! Quanta
honra – disse a moça.
*******
Enquanto
tomava banho, Jamal não conseguia pensar em outra coisa. Durante mais de uma
hora, ele havia conversado com Agnes. Quanto mais conversava com ela, mais
ficava fascinado. Era um sentimento estranho e muito bom. Seu coração batia de
forma descontrolada. Nunca antes ele havia sentido tal coisa. Na verdade, tinha
nascido e crescido em meio a tristeza e o ódio. Ainda criança viu sua mãe sendo
morta acidentalmente quando tentava barrar o duelo de dois tios que se matavam
com agudas espadas mortais. Cresceu vendo parentes sendo mortos a cada instante
por causa de disputas religiosas, dentro do misticismo egípcio. Anos mais
tarde, pouco depois de concluir seu curso universitário, testemunhou sua casa
pegando fogo, matando seu pai e suas duas irmãs. Ao descobrir que seu pai fazia
parte de uma sociedade secreta milenar, tentou seguir sua carreira, aceitando o
convite da Ordem. Na verdade, ele pretendia se vingar de um tio, a quem culpava
pelo incêndio e pela morte do pai. Mas, ao entrar na sociedade, teve que frear
seus instintos, ou pelo menos adiar sua vingança, pois a Ordem não permitia
vinganças pessoais.
Tudo
que seu coração conhecia era ódio, desconfiança e vingança. Mas naquele dia,
durante aquela conferência, uma reviravolta estava fazendo todo seu corpo
tremer.
*******
É o
quarto e último dia da conferência. Hoje ele deve executar sua missão. Há um
grande conflito dentro de sua mente. O misterioso sentimento chamado amor havia
invadido seu coração e ele só pensava em Agnes, que por sua vez também estava
sentindo algo por aquele jovem egípcio. Mas ao mesmo tempo, uma força sinistra
o impelia a cumprir a missão que o trouxera ao Brasil. Em seu quarto, ele abre
uma maleta e apanha uma pequena garrafa de vidro. Olha bastante tempo para o
pequeno escorpião preso. O que fazer agora? Não tinha tempo a perder. A
sociedade não tolerava falhas ou hesitação.
Cheio
de conflitos, Jamal consegue entrar no quarto do professor Santinni, enquanto
este começava sua palestra. Calmamente, retira o escorpião da garrafa e o
esconde dentro da mala do velho professor. Sai rapidamente do quarto e vai
assistir o restante da palestra.
Procura
Agnes com o olhar e sorri ao vê-la bem na frente, bastante atenta às palavras
do professor. Tenta se aproximar dela, mas todas as cadeiras da frente já
estavam ocupadas. Algum tempo depois, Victor Santinni pede desculpas aos
conferencistas e, olhando para Agnes, faz um pedido:
- Filha, você
poderia apanhar aquele documento sobre Hieróglifos que digitei ontem à noite?
Infelizmente esqueci de trazê-los hoje. Está na minha maleta, no lugar de
sempre.
Agnes
se levanta, e Jamal tem um choque.
“Filha?
Não é possível!” – Pensa ele, bastante atônito. Ele corre desesperado para
impedir uma tragédia. Dentro do seu coração há um turbilhão de emoções,
dominadas pelo desespero. Agnes estava muito mais próxima do quarto do que ele.
Inocentemente, ela entra no quarto e abre a maleta do pai. Lá dentro, o pequeno
assassino preparava seu aguilhão mortal.
*******
Jamal
escancara a porta. Há um silêncio de morte dentro do quarto. Agnes Hannah está
estendida no chão, enquanto o pequeno e diabólico escorpião passeia sobre seu
braço direito, como se nada tivesse acontecido. Jamal joga-se ao chão, em
prantos, desesperado.
-
Não!!! Não!!!
Ele levanta-se, e com grande raiva, apanha o escorpião e o lança
por terra, esmagando-o em seguida. Abraça o corpo de Agnes e tem outra
surpresa, a melhor das surpresas. Agnes está viva.
-
Agnes! Agnes, você está bem? Agnes, me perdoa, me perdoa!
*******
Desde criança Agnes Hannah tinha pesadelos envolvendo escorpiões.
Ela tinha pavor só em ver a figura de um daqueles pequenos assassinos. Quando
abriu a maleta do pai, e viu o escorpião, o choque foi tão grande, que ela
desmaiou. Alguma força sobrenatural impediu que o escorpião fizesse mais uma
vítima, pois o terrível aracnídeo ficou apenas passeando sobre o corpo
desmaiado da bela jovem.
Quando Agnes voltou a si, Jamal contou toda a sua triste história.
Por fim, pediu a ela que o denunciasse às autoridades policiais local, pela
tentativa de homicídio. Mas ela apenas o abraçou, dizendo:
- Se
Deus colocou você em meu caminho, e se Ele me poupou de uma morte tão trágica,
é porque tem algo importante a realizar em nossas vidas.
Agnes era Cristã Fundamentalista e mais tarde conseguiu
transformar Jamal em um ardoroso seguidor de Jesus Cristo.
*******
CRISTÃO FUNDAMENTALISTA – O Congresso Mundial
dos Fundamentalistas, que se reuniu em 1976, no Usher
Hall, Edinburgh, Escócia deu a seguinte definição de
um Cristão Fundamentalista: Um fundamentalista é um Cristão
nascido de novo no Senhor Jesus Cristo que:
1. Mantém uma inarredável lealdade à Bíblia, como sendo
inerrante, infalível e verbalmente inspirada.
2. Crê
que tudo que a Bíblia diz, assim é.
3.
Julga todas as coisas pela Bíblia e somente dela aceita julgamento.
4.
Afirma as verdades fundamentais da fé cristã histórica: a doutrina da Trindade,
a Encarnação de Jesus, Seu nascimento por meio de uma virgem, Sua morte como
expiação dos pecados da humanidade, Sua Ressurreição corporal em glória, Sua
ascensão, Sua Segunda Vinda, o novo nascimento através da regeneração pelo
Espírito Santo, a ressurreição dos santos para a vida eterna, a ressurreição
dos perdidos para o julgamento final e a condenação eterna e consciente, a
comunhão dos santos, os quais são o corpo de Cristo.
5.
Pratica fidelidade àquela fé e empenha-se por pregá-la a toda criatura.
6.
Expõe e se separa de toda negação eclesiástica àquela fé, acomodação com o erro
e apostasia da verdade.
7.
Ardentemente guerreia pela fé que, de uma vez para sempre, foi entregue aos
santos.
*******
Jamal cortou todo laço com o passado e tentou viver como um novo
homem em um novo mundo, com novos propósitos e uma nova visão das coisas. Mas
pairava sobre ele a sombra da Sociedade dos Escorpiões. Algum tempo depois e
Jamal se casou com Agnes. Durante algum tempo eles viveram muito felizes e
estavam no auge de suas realizações profissionais quando repentinamente se
viram ameaçados por um misterioso inimigo sem rosto.
Jamal lembrou que, uma das regras da Sociedade dos Escorpiões era
que, todo membro que fosse realizar uma missão pela primeira vez, teria um
outro membro, mais experiente, como uma espécie de guardião, caso as coisas
saíssem erradas. Se o iniciante falhasse em sua missão, ou fizesse algo que
ameaçasse os segredos da Sociedade, deveria ser eliminado. Quando Jamal
resolveu abandonar sua “meteórica carreira de assassino” (que não chegou a se
consumar), seu guardião resolveu matá-lo.
Mas o Novo Guardião de Jamal era muito mais forte, e o livrou dos
perigos dezenas de vezes.
*******
“O Senhor é quem te guarda; o
Senhor é a tua sombra à tua mão direita. O Senhor te guardará de todo o mal;
ele guardará a tua vida. O Senhor guardará a tua saída e a tua entrada, desde
agora e para sempre.” (Salmo 121.5,7,8)
“Aquele que habita no
esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará. Direi do
Senhor: Ele é o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio.
Porque ele te livra do laço do
passarinho, e da peste perniciosa. Ele te cobre com as suas penas, e debaixo
das suas asas encontras refúgio; a sua verdade é escudo e broquel.
Não temerás os terrores da
noite, nem a seta que voe de dia, nem peste que anda na escuridão, nem
mortandade que assole ao meio-dia. Mil poderão cair ao teu lado, e dez mil à
tua direita; mas tu não serás atingido.”
(Salmo 91.1-7)
*******
Quando o professor Victor Santinni, pai de Agnes, veio a falecer
(de causas naturais), os dois jovens resolveram procurar um lugar seguro e
viajaram por várias partes do Brasil. De cidade em cidade, chegaram a São Luís,
onde, durante algum tempo, conseguiram trabalho numa Universidade particular.
Muito tempo depois, mais tranqüilos e achando-se livres da ameaça mortal,
resolveram aumentar a segurança, e Agnes, que já tinha firmado amizade com
muitas pessoas, viajou até uma pacata, pequena e desconhecida cidade do
interior do Maranhão, Igarapé Grande, onde comprou um Colégio de Ensino Médio,
que estava ameaçado de fechar, devido as condições de saúde de sua
proprietária.
Desde
algum tempo, Agnes passara a usar outra identidade, e agora se chamava Stefânia
Seller.
*******
Igarapé
Grande, 1991.
Os
jovens SETES ouviam com atenção a espantosa narrativa de Albert Pike. Naquele
momento, todos olharam para dona Stefânia.
- A senhora é ...
esposa dele? – Perguntou Magry, bastante admirada. Na verdade, todos estavam
surpresos.
- É bom saber que
consegui esconder isso muito bem, até dos famosos SETES – respondeu Stefânia,
sorrindo.
- É, muito bem
mesmo – disse Diego – Nunca passou pela minha mente nada parecido. Agora,
relembrando de algumas coisas, e com esse novo conhecimento, muitos detalhes
começam a se encaixar.
- Começo a entender
o que realmente aconteceu na noite daquele incêndio – disse Morganne.
- Talvez eu nem
precise explicar esse ponto – disse Albert Pike.
*******
Mais tarde, quando Stefânia já estava bastante
conhecida e respeitada na região, convidou três novos professores da capital:
seu marido Jamal (agora com a identidade de Albert Pike); Cibele Santos e
Sophie Soran. Os três novos professores eram tão brilhantes, que tornaram
aquele Colégio ainda mais requisitado.
Sophie era um amor de pessoa (ninguém nunca teve a mais
leve idéia da maldição que aquela mulher carregava, nem sua melhor amiga,
Cibele). Alguns casos estranhos na região jamais foram esclarecidos. Nas
cidades vizinhas, durante um período de três anos (o mesmo período em que
Sophie esteve em Igarapé Grande), várias jovens desapareceram. Algumas foram
encontradas vivas, mas com grande falta de sangue. Outras foram encontradas
mortas, e as causas diagnosticadas apontavam principalmente para uma enorme
perda de sangue.
Se algum desses casos tivessem ocorrido em Igarapé
Grande, teria despertado o interesse dos SETES – e a astuciosa Sophie sabia
muito bem disso – por essa razão executava seus crimes o mais longe possível
dali. Mas um dia aquilo haveria de acabar.
Ao mesmo tempo, uma outra ameaça chegava em Igarapé
Grande, especialmente para Albert Pike e sua querida esposa Stefânia. Eles já
estavam se sentindo tão seguros que pensavam em tornar público que eram
casados. Justamente nesse período de tempo chega o guardião, encarregado de
eliminar o Escorpião dissidente.
À noite, enquanto todos festejavam o aniversário da
professora Sophie, Pike teve um encontro com o seu perseguidor. O encontro foi
na biblioteca do professor.
- Você fugiu pra muito longe, irmão – disse o misterioso guardião –
quase que eu desistia de procurá-lo, mas nós, escorpiões, somos pacientes e
perseverantes.
- Caro amigo – Pike levantou-se devagar – estou nas mãos de um Deus
Verdadeiro e não de uma ilusão. Se Ele quiser, escaparei mais uma vez. Ele é
maior do que a Sociedade dos Escorpiões.
- Não devo perder tempo com você – o homem arrancou um punhal do bolso e
preparava-se para lançá-lo, mas Pike, com uma agilidade surpreendente, lançou
sobre o perseguidor um livro que estava lendo, e tentou desarmá-lo.
Os dois homens se envolveram numa luta perigosa. Durante
alguns minutos parecia que ninguém iria vencer – ambos eram bem treinados.
Então, com um violento chute, Pike empurrou seu oponente contra a parede. Ele
jamais imaginou que a pancada fosse tão violenta, pois o homem ficou imóvel,
como se estivesse desmaiado. Pike tocou no pulso do perseguidor e descobriu que
ele estava morto. Sentiu um grande alivio, mas ficou preocupado ao mesmo tempo.
O que faria agora? É claro que ele matou aquele homem em legítima defesa, mas
como explicar para as autoridades?
E se aquele homem não estivesse naquela cidade sozinho?
Fazia tantos anos que ele perseguia Pike, que poderia muito bem ter entrado em
contato com outros assassinos. Pike lembrou-se de Stefãnia. Será que ela estava
em perigo? Será que havia algum “escorpião” ameaçando ela? Naquele momento de
tensão e desespero, Pike teve uma idéia estranha. Relutou bastante, pois era
uma idéia ilegal, era uma mentira, uma mentira que iria entristecer muitas
pessoas. Mas ele não via outra saída. Se ele, de alguma forma “morresse”
poderia ficar livre para investigar se havia outros daqueles assassinos em
Igarapé Grande, e teria mais liberdade para proteger sua amada.
Examinou os bolsos do morto, e encontrou uma pequena
caixa. Ele sabia muito bem o que era. Uma caixa cheia de escorpiões perigosos.
Era a arma secreta daqueles assassinos. Pike sentiu um tremor na espinha,
apanhou a caixa e, após pensar alguns segundos, abriu sua gaveta e jogou a
caixa lá. Arrastou a mesa para longe dos livros e apanhou o isqueiro.
Lembrou-se de Stefânia, que naquele momento estava no
aniversário de Sophie. Ele tinha que avisá-la de alguma forma, antes que ela
fosse iludida também. Pensou alguns minutos, e resolveu sair. Sua casa ficava
um pouco afastada das outras, e naquela rua a maior parte do tempo era deserta.
Talvez ninguém tivesse visto o perseguidor entrar ali. Mas quem garantiria
isso?
Rapidamente, ele escreveu um bilhete, explicando tudo a
Stefânia e foi até ao clube. Chegando lá pediu para alguém entregar o bilhete e
voltou apressado para casa. A grande encenação iria começar.
Correu até a cozinha. Sabia que aquilo era arriscado
demais, mas tinha que fazer um serviço perfeito. Derramou álcool em torno do
botijão de gás e foi derramando até a biblioteca. Afastou alguns livros e
organizou tudo de modo que, mesmo que o incêndio destruísse uma parte da casa,
a biblioteca ficasse intacta.
Depois de tudo pronto, acendeu um pequeno pavio, que,
dentro de alguns minutos (o tempo suficiente para ele sair dali), iria atingir
o botijão de gás, causando uma tremenda explosão e chamando a atenção da cidade
inteira.
E assim
aconteceu. A explosão foi ouvida e o incêndio começou. Alguns minutos depois, o
professor Pike chegou e parou atônito. Então, após alguns segundos de
hesitação, teve uma reação surpreendente. Correu em direção à casa em chamas,
gritando:
- Há
documentos importantes lá! Preciso salvá-los!
- Não
faça isso, professor! – Gritou um dos homens que tentava apagar o incêndio.
Mas o
professor sumiu casa adentro, apesar de várias pessoas tentarem segurá-lo. No
exato momento em que ele entra, uma parte da parede da frente cai, provocando
gritos e grande alvoroço. Os homens continuam desesperados carregando baldes
d’água, enquanto o incêndio prossegue. Passam-se os minutos, como se fossem horas,
e o professor não retorna. Cerca de vinte minutos depois, o incêndio é
controlado. A primeira coisa que vem à mente de todos é procurar o professor, e
é com grande terror que o mestre é encontrado minutos depois. Na sala da
biblioteca, com grande parte destruída, havia um corpo queimado, agarrado à uma
pasta de documentos.
E assim todos pensaram que o professor havia morrido no
incêndio. Mas a verdade era outra, uma que ninguém ali era capaz de imaginar.
Ao chegar na biblioteca, Pike rapidamente trocou de roupa com o morto, e após
lançar um livro em chamas sobre o rosto do perseguidor morto, correu, saindo
escondido, pelo quintal, e sumindo dentro da noite.
Com o rosto desfigurado pelo incêndio, e usando as
roupas do professor, o homem morto foi rapidamente confundido e mais tarde
enterrado como Albert Pike. O plano saiu perfeito. É claro que Pike correu para
se esconder na casa de sua amada Stefãnia, e entrou lá por um caminho que
somente os dois conheciam, já que viviam naquela cidade como dois amigos e não
como dois cônjuges.
No dia seguinte, foi grande a comoção no funeral do
“professor”. Ninguém, exceto Stefânia, sabia a verdade.
*******
- Por isso naquele dia eu achei suas lágrimas muito estranhas – disse
Sabrina – achei superficial demais. Alguma coisa me dizia que a senhora não
estava sendo sincera ao chorar diante do enterro do professor.
- Essa não! E eu que me esforcei tanto para chorar lágrimas de
crocodilos – disse Stefânia, sorrindo -
mas pelo menos, ninguém nunca desconfiou de nada.
- É, vocês enganaram os SETES direitinho - disse Diego, sorrindo.
Morganne sorriu discretamente, mas preferiu não fazer nenhum comentário.
- Bom, deixem-me
concluir essa história – disse Albert Pike, tossindo um pouco.
*******
Algum tempo depois, e Pike
retornou à sua casa, secretamente. Foi então que se lembrou do medalhão que
tirara do morto, no dia da tragédia. Lembra-se de ter jogado o medalhão com o
escorpião dourado para trás de uma pequena mesa, mas depois ficou se
torturando, imaginando mil coisas: E SE ALGUÉM ENCONTRASSE AQUELE MEDALHÃO?
TALVEZ FOSSEM SURGIR ALGUNS CURIOSOS E...
E é claro que os curiosos
surgiram, e muito rapidamente: OS SETES. E eles encontraram o medalhão, e com
isso começaram a suspeitar que havia algo errado naquela história. Somente não
imaginavam que o morto não era o professor. Na noite em que Morganne, Diego e
Sabrina visitaram a biblioteca do professor, este também estava lá e por pouco
não se encontraram. Após investigar a possível existência de outros assassinos
da seita dos Escorpiões em Igarapé Grande, e não encontrar vestígios de nenhum,
Pike resolveu forçar os SETES a devolverem o medalhão, a fim de que jamais
tomassem conhecimento da famosa sociedade secreta e despertassem a fúria
daqueles assassinos.
Mas os SETES estavam mesmo
dispostos a tirar tudo aquilo a limpo.
*******
- E, de repente, os acontecimentos se
precipitaram, nos envolvemos na mais estranha aventura de nossas vidas e grande
parte dos mistérios foram esclarecidos – disse Diego Draconne.
- Quando, naquela noite fatídica, o misterioso
motoqueiro foi apanhar o medalhão, lançamos aquele pó especial nos pneus de sua
moto e seguimos os rastros até aqui, descobrindo toda a verdade – esclareceu
Scapelly.
- Foi um lindo golpe, SETES – disse Pike, sorrindo.
- E se nunca tivéssemos chegado a essa
descoberta? Vocês esconderiam essa verdade para sempre? – Perguntou Sabrina.
- Não sei – respondeu Pike – Stefânia relutou
muito em aceitar que eu continuasse oficialmente morto. De qualquer forma,
estava difícil demais viver escondido. Qualquer hora, um erro fatal e eu seria
descoberto. Depois de muito pensar, só encontramos uma saída.
- Que vocês se mudassem daqui – sugeriu
Brigitte.
- Exatamente – respondeu Stefânia – e é isso
que iremos fazer ainda nesta semana.
- Mas não acham que esse lugar ainda é o mais
seguro pra vocês? – Perguntou Morganne, quebrando seu misterioso silêncio.
- Pode ser, mas não se esqueçam que fui
responsável por uma morte – disse Pike.
- Em legítima defesa – completou Morganne.
- Mas teria que explicar muitas coisas para as
autoridades, e, francamente, acham que alguém iria acreditar nessa história de
Sociedade dos Escorpiões?
- O senhor está certo – concordou Diego.
Naquele momento, Morganne
olhou para Yasmin e perguntou:
- E você? Onde se encaixa nessa história toda?
Quem é você afinal? O que a trouxe até Igarapé Grande? – Ele parou um pouco,
pegou na mão dela e olhou em seus olhos – me desculpe. Desculpe meu jeito
brutal de interrogador, mas é que os acontecimentos recentes ainda estão
perturbando minha alma. Já ouvimos a história do professor, mas acho que é a
sua que nos trará a verdade sobre Sophie.
- É verdade – Yasmin olhou para o chão durante
alguns segundos. Então levantou a cabeça e começou sua narrativa – Pra começar,
meu verdadeiro nome é Mary-Sandra. Eu sou ... eu sou ... – Ela esforçou-se para
concluir – eu sou ... eu sou a filha de Sophie – Yasmin chora, enquanto fala –
eu sou filha da mulher que vocês conheceram como professora Sophie.
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