Vendo o grande temporal se aproximando
e temendo ficar preso naquele lugar, numa hora daquelas, Scapelly resolveu sair
dali. Justamente naquele momento, ouviu o som de uma moto.
“Será que é ele? Não sei porque fui
aceitar essa missão.” Mas Scapelly era um SETE.
O motoqueiro pára a moto, desce e se
aproxima da ponte, onde durante alguns minutos parece procurar algo. Então,
encontra a caixa, abre-a e apanha um pequeno embrulho. Abre-o e constata ser o
que procurava. Próximo dali havia um poste com uma luz nem muito forte e nem
muito fraca. Scapelly podia ver o homem muito bem, mas era impossível
reconhecê-lo. Principalmente, porque ele não tirava o capacete. Mas a missão do
jovem SETE era mais audaciosa do que alguém poderia imaginar. Ele teria que se
aproximar da moto e lançar próximo a ela um pó de uma mistura especial, ótima
para deixar marcas, no asfalto, nas pedras e até na areia.
Como o lugar onde estava a caixa com o
objeto ficava a uma distância de uns vinte metros da pista, Scapelly teria um
tempo bem precioso para fazer o que tinha que fazer.
*******
- Ela está aqui! – Exclamou Sabrina, em voz baixa, no
ouvido de Magry – Vamos sair daqui.
- Como?
Sabrina puxou Magry para a cozinha,
enquanto Sophie abria a porta.
*******
No Hospital, Diego e Giovanna estavam
na expectativa de ver a jovem internada voltar a si. Ela continuava mexendo a
mão esquerda. Seus movimentos eram tão freqüentes, que Diego teve uma idéia.
- Yasmin, você pode nos ouvir? Cruze os dedos se isso
for possível.
Logo em seguida, a moça cruzou os
dedos. Diego e Giovanna sorriram.
- Você poderia nos dizer o que aconteceu? Alguém fez
alguma coisa com você? – Insistiu Diego.
Ela tornou a cruzar os dedos.
- Você poderia escrever num pedaço de papel?
Desta vez a mão dela não se moveu.
“Negativo – pensou Diego”. Ele andou
de um lado para o outro, tentando encontrar uma saída.
- Por favor, deixem ela em paz – pediu a enfermeira – a
pobre moça ainda não se recuperou.
- Só dois minutos – suplicou Diego – Me dê apenas dois
minutos e prometo que vamos embora. É muito importante.
- O que você pretende fazer? – Perguntou Giovanna – ela
não está em condições de falar e nem de escrever.
- Você já esqueceu de um dos nossos pensamentos que
diz: UM SETE CONSEGUE TRANSMITIR SUAS IDÉIAS, MESMO QUANDO FOR PROIBIDO DE
FALAR, ESCREVER, DESENHAR, OU USAR GESTOS?
Giovanna sorriu. Estava curiosa pra
saber o que Diego iria fazer.
*******
A habilidade de Sabrina para abrir
fechaduras era assombrosa. Usando certas ferramentas especiais, ela rapidamente
abriu a porta da cozinha de Sophie e, juntamente com Magry, pularam para fora.
Elas estavam se preparando para fugir, quando deram de cara com alguém que
estava lá fora, esperando.
*******
A ventania aumentava. Naquele momento,
as luzes piscaram várias vezes, dando a entender que a energia poderia faltar a
qualquer momento. As escolas despacharam seus alunos e funcionários (em cidades
do interior, isto é comum em épocas de tempestades). Scapelly resolveu procurar
Morganne e os outros. Dentro de pouco tempo, as ruas ficaram desertas. Não se
via nem um animal. Parecia que todos sentiam algo de tenebroso naquele
temporal, algo anormal, algo ... sobrenatural!
*******
No Hospital.
- Você conhece
Código Morse? – Perguntou Diego.
Yasmin cruzou os dedos. Diego se
aproximou dela e disse baixinho:
- Olha, querida, só mais um esforço e deixaremos você
em paz. O polegar representará o ponto e o indicador, o traço, certo? – Vendo
que ela tornou a cruzar os dedos, Diego sorriu e continuou – Diga somente uma
palavra que nos permita entender alguma coisa do que aconteceu com você. Apenas
uma palavra.
*******
Código Morse - Sistema
de sinais utilizado no mundo inteiro em radiotelegrafia. Este sistema é um
alfabeto telegráfico, idealizado pelo norte-americano Samuel F. B. Morse e
composto por diferentes combinações de pontos e traços para representar as
letras e os números.
Durante o século XIX e boa parte do século XX, foi a única
forma de comunicação rápida para as embarcações. Em 1899, foi utilizado pela
primeira vez para anunciar um naufrágio, no Canal da Mancha. Em 1912, o navio Titanic
utilizou-o para enviar a mensagem: “SOS. Chocamo-nos com um iceberg”. A
mensagem poderia ter salvado a vida de centenas de pessoas se o rádio do navio California,
que navegava a poucos quilômetros do local do naufrágio, não estivesse
desligado. Desde então, os navios de grande porte passaram a ser obrigados a
manter seu rádios ligados, com um operador de plantão, 24 horas por dia.
O
código internacional Morse é um sistema de pontos e traços que se pode utilizar
para enviar mensagens mediante uma lanterna, um comutador telegráfico, qualquer
outro dispositivo rítmico ou mesmo batendo com os dedos. À medida que o
comutador telegráfico sobe e desce, fecha ou abre um circuito elétrico e
transmite um sinal em forma de impulsos elétricos. No código internacional
Morse, cada letra ou número é representado por uma combinação de traços e
pontos: um traço tem uma duração equivalente a três pontos. O sinal do código
Morse mais conhecido é o pedido de socorro: ponto ponto ponto, traço traço traço,
ponto ponto ponto (SOS).
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Durante
pouco mais de um minuto e meio, os dedos indicador e polegar da mão esquerda de
Yasmin, bateram sobre a cama, de forma rítmica e coordenada. Ela estava
transmitindo uma palavra em Código Morse.
Logo que ela citou a primeira letra
(ponto, ponto, ponto), Diego e Giovanna sentiram um calafrio.
*******
Em meio à forte ventania, Morganne
saiu em direção à casa de Sophie. O vento gelado parece vir das profundezas do
além, parece que todos os demônios do mundo estão soltos e estão ali. Um medo
terrível invade a alma de Morganne, mas ele resolve prosseguir assim mesmo
(Magry e Sabrina podiam estar em grande perigo). Todos estão trancados em suas
casas. As ruas estão desertas. Mas a presença maligna pode ser sentida em todos
os lugares.
“Deus, me ajude” Ora Morganne,
caminhando a passos lentos. De repente, ele avista alguém. Há uma pessoa
atravessando a rua, em sua direção. É Sophie. Ela está ... nua, e toda suja de
sangue. Ela se aproxima, gargalhando feito uma louca. O coração de Morganne
está gelado de pavor. Ele não sabe o que deve fazer. Não tem idéia nenhuma de
como fazer diante daquela situação tão inédita e tão dramática.
“Senhor Jesus! O que devo fazer
agora?”
Ela se aproxima dele, chamando-o por
um nome desconhecido.
A mente de Morganne está confusa. Será
que aquilo tudo estava acontecendo? E se fosse uma ilusão, criada por sua
mente? E se ele tivesse ficado louco?
Ela continua se aproximando dele e
sempre chamando por um nome que ele nunca tinha ouvido antes.
Antes da conclusão deste drama,
voltaremos no tempo, há muitos anos atrás, no inicio do século XX.
*******
Abril
de 1912. O transatlântico inglês Titanic,
o maior objeto móvel já construído pelo homem até então, medindo cerca de
268,25m (quase 3 campos de futebol), por 28m de largura e uma altura aproximada
de um prédio de 10 andares, partiu de Southampton, Inglaterra, no dia 10 com destino a Nova York.
Transportava aproximadamente 2.223 pessoas a bordo entre passageiros e
tripulantes.
Ao mesmo tempo, na segunda classe
viajam juntos quatro egípcios (três homens e uma mulher, uma moça de 18 anos).
Um deles é Hakira, um sacerdote do culto de Anúbis, o deus egípcio dos mortos.
A moça chama-se Nefertiti (mesmo nome de uma famosa rainha egípcia). Ela é
filha do sacerdote. Eles querem implantar uma sociedade secreta egípcia na
América, pois tiveram que sair da Inglaterra às pressas devido a problemas com
a policia inglesa. Alguns anos antes tiveram que deixar o Egito devido a
crescentes conflitos com outras seitas religiosas.
*******
Os números ostentados
pelo Titanic inundavam a imprensa da época, voraz por informações sobre o
colosso dos mares: 268,25m de comprimento; 28,05m de largura; 4 chaminés com
19,81m de altura por 6,71m de diâmetro; 29 caldeiras para produzir vapor; uma
turbina a vapor de baixa pressão; 2 motores a vapor com inversão de giro; 20
botes salva-vidas; 3 hélices, um central no meio do leme e uma em cada lado do
casco; 3.560 coletes salva-vidas; 9 decks (andares); 1 piscina; 1 quadra de
squash; banhos turcos; biblioteca para 1ª e segunda classe; e 15 anteparas de
1/2 polegada de espessura que dividiam o casco do navio em 16 compartimentos
estanques.
Essa divisão do casco
em 16 compartimentos estanques, separados por anteparas hermeticamente fechadas
por portas a prova d´água, que eram fechadas com o acionamento de um botão na
cabine de comando do navio, deram ao Titanic o título de
"insubmergível". Jornais da época relataram que "Nem Deus
poderia afundar esse navio". Talvez um presságio para o que viria a
acontecer.
Depois que seu casco
foi lançado ao mar em uma enorme cerimônia em 1910, o Titanic passou mais 1,5
anos sendo aparelhado e equipado com o que havia de mais moderno e luxuoso para
a época. Os 735 passageiros da primeira classe poderia usufruir de cômodos e
suítes nunca vistas até então em um navio. Aos 674 passageiros da segunda
classe não faltou comodidade e conforto. E nem mesmo aos 1.024 passageiros da
terceira classe faltou conforto. As cabines da terceira classe eram equipadas
com beliches e lavatórios, algo inédito para navios da época.
*******
Nefertiti chama a atenção por sua
beleza exótica, mas devido a sua natureza estrangeira e oriental, evita
conversar com os passageiros. Nesse momento ela está passeando sozinha,
tentando conhecer as novidades daquele navio tão fantástico. Ela foi criada
pelo pai desde pequena (nunca conheceu a mãe, que morrera muito cedo). Seu pai
sempre teve um ciúme exagerado dela. Nunca permitiu que homem algum conversasse
com ela. Certa vez ele até cortou a língua de um jovem que se atreveu a chamar
Nefertiti de bonita.
Ele nunca permitiu que ela saísse
sozinha para lugar algum. Isso naturalmente fez com que aquela jovem sempre
desejasse conhecer o mundo. Agora eles estavam a caminho da América.
Naquele momento, a atenção de
Nefertiti é atraída para um dos salões luxuosos do Titanic. Parecia que alguém
estava discursando. Ela entrou no recinto e ficou perplexa diante do jovem que
discursava com toda eloqüência. Na verdade, era um discurso religioso.
- E digo a vocês, meus amigos: JESUS É A ÚNICA SAÍDA!
Sei que vocês têm mil planos para executarem quando chegarmos à América. Mas
nunca coloquem Deus em segundo lugar. Deixem que Ele seja o centro de suas
vidas, de seus negócios, de todos os setores de suas vidas. A Sagrada Escritura
diz: “BUSCAI EM PRIMEIRO LUGAR O REINO DE DEUS E A SUA JUSTIÇA E AS DEMAIS
COISAS SERÃO ACRESCENTADAS”.
Aquilo não queria dizer nada para a
jovem egípcia. Ela certamente não demoraria mais nenhum segundo ouvindo aquela
pregação, se não fosse um detalhe... o olhar daquele pregador fez seu coração
bater de uma forma estranha. Havia umas trinta pessoas ouvindo a pregação, mas
parece que ele só olhava pra ela. Nefertiti tentou sair dali, aquele olhar
estava lhe perturbando muito. Tentou, mas não conseguiu. Ficou como que
hipnotizada, imóvel, inquieta.
Durante alguns minutos que pareciam
uma eternidade, a jovem permaneceu naquela situação, até que o pregador disse o
amém, dando a mensagem por encerrada. Após apertar as mãos de algumas pessoas,
aproximou-se de Nefertiti, que, pálida, tentava sair dali.
- Olá, você já é uma seguidora de Jesus?
O sorriso dele parecia uma lâmina
aguda, penetrando no mais profundo da alma dela. Notando que ela não era
inglesa, ele tornou a sorrir, e disse:
- Você fala a minha língua?
- Sim – ela conseguiu responder, fazendo o maior esforço
do mundo.
- Você é cristã?
- Não.
- Não parece inglesa.
- Sou... sou egípcia.
- Que maravilha. O país das terras bíblicas. Eu sempre
tive vontade de conversar com alguém daqueles mundos.
De repente, ela correu. O jovem
pregador ficou perplexo. “O que deu nela?”.
*******
- Onde você estava? Já disse para não andar sozinha
neste navio!
Hakira era um homem de uns 50 e poucos
anos, magro, rosto comprido, uma barba mal cultivada e comprida. Ele estava
segurando o braço de Nefertiti e apertava com força.
- Desculpe, pai. Eu só estava andando por ai.
- Não faça mais isso!
*******
Mayron Morgan, o jovem pregador,
estava pensativo. Sozinho, olhando para o grande e assustador Oceano Atlântico,
pensava na misteriosa mulher que fugiu dele, como quem fugia de um fantasma.
“Que coisa estranha. Aquela jovem
parece presa a alguma coisa ruim. Gostaria de conhecê-la melhor. Notei coisas
estranhas em seu olhar. Deve ser mais uma pobre alma, perturbada por demônios.”
Durante todo o restante do dia, ele
não conseguiu se concentrar mais. Era filho de um reverendo canadense, e estava
indo ao seu encontro, depois de passar alguns anos estudando na Inglaterra.
Quando chegasse ao Canadá iria se tornar um reverendo também. Era o seu sonho.
Achava que tinha nascido pra isso. Era um verdadeiro milagre aquele jovem ser
diferente dos outros. Enquanto muitos (até mesmos seus próprios amigos)
preferiam viver uma vida dominada pela libertinagem, abraçando todos os
prazeres do mundo, ele havia escolhido o caminho da renúncia, o caminho do Reino
dos Céus.
Mayron dedicou-se tanto aos estudos
que nunca teve uma namorada. Mas sabia que, quando retornasse à sua terra,
deveria procurar uma boa moça e se casar, pois sua denominação religiosa dava
mais valor a um reverendo que fosse casado e tivesse muitos filhos. Muitos
filhos educados para servir ao Senhor.
*******
Anoiteceu. Com todas aquelas luzes,
movimentos e músicas, ninguém conseguia acreditar que estava dentro de um
grande navio, isolados da civilização, navegando nas escuras e misteriosas águas
do Oceano.
Mayron queria aproveitar todas as
oportunidades para pregar o Evangelho. Sabia que ali havia muitas pessoas que
olhavam a religião com desprezo. Havia muitos milionários, madames, gente da
elite, pessoas que não gostavam de ouvir falar que um dia este mundo seria
destruído, para dar lugar a um mundo novo, governado pelo Próprio Filho de
Deus. Para essas pessoas, Deus nem mesmo existia. Portanto, Mayron não era
muito popular entre os cidadãos da primeira classe. Alguém já o tinha até ameaçado
de morte, se ele continuasse a insistir naquela história de “DEUS, PECADORES,
CÉU, INFERNO, SALVAÇÃO, etc.”.
*******
Nefertiti nunca tinha sentido aquelas
emoções antes. O jovem pregador não saia de sua cabeça. Tão ansiosa estava para
encontrá-lo novamente que resolveu arriscar-se a levar uma grande surra de seu
pai. Num momento em que seu pai estava tratando de coisas relacionadas à seita,
ela conseguiu sair. Durante alguns minutos passeou pelos luxuosos corredores do
Titanic, à procura do jovem que nem mesmo sabia o nome. E o encontrou durante
outra pregação. Mas desta vez o clima estava muito pesado.
- Você está perdendo o seu tempo aqui, pregador! Vá
procurar os analfabetos, os fanáticos! Deixe-nos em paz!
- Deus não existe! E se existe, não precisamos dEle
agora!
- Vocês estão autoconfiantes demais, meus amigos –
clamou Mayron – nenhum de vocês é capaz de saber se estará vivo amanhã. Todo
fôlego de vida pertence ao SENHOR! É pela sua grande e infinita Misericórdia
que estamos aqui agora! Se Ele quiser, pode até afundar este navio.
- Ora, ora, meu rapaz - disse sorrindo, um homem muito
gordo, enquanto tragava um charuto de luxo – nem Deus é capaz de afundar este
navio.
- É verdade! – Gritaram os outros – saia daqui ou te
lançaremos no Oceano.
Mayron ficou em silêncio alguns
segundos. Depois, resolveu sair dali, dizendo:
- Deus abra a mente de vocês.
Ao ver Mayron avançar na direção em
que ela estava, Nefertiti resolveu sair depressa.
- Ei, moça. Não vá. Preciso falar com você.
Ela pára subitamente. Seu coração está
novamente aos pulos. Ela tenta sair dali, mas suas pernas estão paralisadas.
- O que houve com você hoje de tarde? Por que correu de
mim?
Ele olha nos olhos dela e percebe sua
respiração ofegante.
- Oi, meu nome é Mayron Morgan, e o seu?
- Nefertiti ... – A voz dela saiu com enorme esforço.
- Ah, o nome da famosa rainha egípcia. Muito bonito. Eu
gostaria muito de conversar com você. Podemos sentar em algum lugar?
Ela responde apenas com um aceno de
cabeça e o segue durante alguns minutos. Eles param diante de uma lanchonete.
- O que você acha da fé cristã?
- Não conheço muito... não sei o que dizer – ela estava
começando a ficar mais a vontade, embora estivesse preocupada com a possível
chegada súbita do seu pai.
- Seus olhos são lindos, Nefertiti, mas cheios de
mistérios. O que pretende fazer na América?
*******
Uma hora mais tarde. Mayron e
Nefertiti estão passeando. Ela estava muito diferente. Conseguira sorrir diante
dele. Conseguia se sentir muito bem perto dele. Estava tão feliz, que nem se
lembrava mais que não devia estar ali.
- Apesar de ter dado sinais de vida, você ainda parece
tensa – disse ele, olhando nos olhos dela – de que tem medo? Conversamos sobre
tantas coisas durante uma hora. Estou muito feliz de estar ao seu lado. Tenho
certeza de que O SENHOR a fez se aproximar de mim com algum propósito.
- Sua fé é mesmo interessante – disse ela – nunca, na
minha terra, vi alguém com tamanha confiança em seu deus.
- Você não viu nada, Nefertiti. Meu Deus faz coisas
extraordinárias. E acabou de fazer mais uma.
- O que?
- Me fez conhecer você.
Ela sorriu timidamente. Começava a
acreditar que aquilo era mesmo verdade.
*******
12 de Abril de 1912. A viagem
prossegue. As festas também. Todas as classes fazem festas (cada uma a seu
modo). Há centenas de tramas acontecendo; há centenas de namoros,
infidelidades, conflitos familiares, tudo que geralmente acontece em ambientes
festivos, com gente de todos os tipos. Mas há algo inédito acontecendo: Mayron
Morgan e a bela e exótica Nefertiti estavam vivendo os momentos mais lindos de
suas vidas. Ele estava tão apaixonado que já pensava em levá-la para sua terra,
a fim de casar com ela. Ela, por sua vez, desejava isso mais do que ninguém,
porém sabia que era impossível. Se seu pai ao menos sonhasse que aquele
relacionamento estava acontecendo, seria capaz de provocar uma tragédia.
- Ele terá que entender isso – disse Mayron, tentando
animar Nefertiti – ainda hoje irei falar com ele e ...
- Não, você não pode fazer isso! Se meu pai descobrir o
que está acontecendo ... você não tem a mínima idéia de como ele é ...
- Se foi Deus quem a colocou em minha vida, Ele tem um
plano para nós dois e ninguém irá impedir isso.
*******
13 de Abril de 1912.
Mayron seguia muito feliz, pois iria
novamente se encontrar com Nefertiti, no local combinado, que eles chamavam de
“refúgio secreto”. E lá estava ela. Tão linda, tão fascinante e tão misteriosa.
Eles se abraçaram e se beijaram com todo o ardor da paixão. Então, subitamente,
Mayron sentiu um choque na cabeça e seu mundo escureceu.
- Não! – Nefertiti gritou, vendo o sangue escorrer da
cabeça do amado, que parecia morto em seus braços. Dois homens se aproximaram
(os dois servos do pai dela), e um deles puxou Mayron violentamente.
- Não! Por que vocês estão fazendo isso?
- Ordem do seu pai, princesa. Ele está esperando você
agora.
- Não vou sair daqui. Deixem ele em paz.
- Não complique as coisas. Saia daqui!
- Não!!! Ela avança contra um dos homens, e é derrubada
com um violento soco.
- Seu pai me autorizou a fazer isso, caso resistisse –
disse ele, ao derrubar a moça.
*******
14 de abril de 1912.
A temperatura baixou muito e o Titanic recebeu 7 avisos
de iceberg em sua rota. Os avisos foram entregues ao capitão Smith mas não
surtiram muito efeito. Desviou a rota do navio um pouco mais para o sul mas
continuou a velocidade máxima de 22 nós cerca de 41km/h. O capitão Smith era um
renome entre os capitães da época. Seu curriculum era invejado por muitos. Só
aceitou comandar o Titanic nessa viagem, pois iria se aposentar e queria
encerrar sua carreira com chave de ouro. O capitão Smith era capitão do
Olympic, o primeiro irmão do Titanic. Muitos oficiais do Olympic foram
deslocados para a primeira viagem do Titanic. Junto nessa primeira viagem
seguiram o presidente da companhia White Star Line, o Sr. Bruce Ismay e também
o engenheiro chefe da construção do navio, o Sr. Thomas Andrews.
Ao anoitecer de 14 de abril o capitão Smith mandou
reforçar a vigia no mastro de proa (frente do navio), e fornecer a eles
binóculos. Esses equipamentos não foram encontrados e os vigias tiveram que
trabalhar apenas com a sua visão. O capitão Smith retirou-se para seus
aposentos e deixou no comando na cabine o oficial William Murdoch.
*******
Naquele momento, numa sala isolada, algo terrível, satânico,
estava acontecendo. Nefertiti estava amarrada numa coluna, enquanto assistia
impotente a um ritual horrendo. O jovem Mayron foi colocado, amarrado, dentro
de um caixão comprido (parecido com uma urna mortuária egípcia). Imediatamente
os diabólicos egípcios encheram o caixão de serpentes e escorpiões, fechando-o
em seguida, deixando o pobre rapaz nas mãos dos terríveis animais assassinos.
Nefertiti tentava gritar, mas não podia (estava
amordaçada).
- Vamos levá-lo daqui – disse o sacerdote Hakira, acrescentando – tragam
ela também. Assim irá aprender a nunca mais desafiar as ordens do pai.
Era noite. Enquanto todos estavam ocupados principalmente com o jantar, os
três homens diabólicos arrastaram o caixão com a pobre vítima, e o suspenderam
sobre uma espécie de parapeito do navio. Em seguida, Hakira pronunciou algumas
orações em língua egípcia, oferecendo aquele sacrifício ao deus Anúbis.
Nefertiti estava suando de tanto terror e desespero. Ela não podia gritar,
mas podia ouvir. E ouvia as desesperadas batidas no caixão, de alguém que
tentava, inutilmente, escapar. Em pensamentos, ela clamou:
“Ó Deus do meu amado. Se tu existes e se o amas, salva-o!” Ao terminar de
fazer a oração, viu, chocada, o caixão sendo lançado nas escuras águas do
oceano.
“NÃO! NÃO! NÃO!”
- Estás vendo, minha filha? – Hakira falava como que possuído por muitos
demônios – o Deus dele não o salvou.
Nefertiti chorou. Desesperadamente. E amaldiçoou o Deus de Mayron Morgan.
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