terça-feira, 3 de março de 2015

CAPÍTULO 10 - ACONTECEU NUMA NOITE GELADA DE ABRIL...

Vendo o grande temporal se aproximando e temendo ficar preso naquele lugar, numa hora daquelas, Scapelly resolveu sair dali. Justamente naquele momento, ouviu o som de uma moto.
“Será que é ele? Não sei porque fui aceitar essa missão.” Mas Scapelly era um SETE.
O motoqueiro pára a moto, desce e se aproxima da ponte, onde durante alguns minutos parece procurar algo. Então, encontra a caixa, abre-a e apanha um pequeno embrulho. Abre-o e constata ser o que procurava. Próximo dali havia um poste com uma luz nem muito forte e nem muito fraca. Scapelly podia ver o homem muito bem, mas era impossível reconhecê-lo. Principalmente, porque ele não tirava o capacete. Mas a missão do jovem SETE era mais audaciosa do que alguém poderia imaginar. Ele teria que se aproximar da moto e lançar próximo a ela um pó de uma mistura especial, ótima para deixar marcas, no asfalto, nas pedras e até na areia.
Como o lugar onde estava a caixa com o objeto ficava a uma distância de uns vinte metros da pista, Scapelly teria um tempo bem precioso para fazer o que tinha que fazer.
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- Ela está aqui! – Exclamou Sabrina, em voz baixa, no ouvido de Magry – Vamos sair daqui.
- Como?
Sabrina puxou Magry para a cozinha, enquanto Sophie abria a porta.
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No Hospital, Diego e Giovanna estavam na expectativa de ver a jovem internada voltar a si. Ela continuava mexendo a mão esquerda. Seus movimentos eram tão freqüentes, que Diego teve uma idéia.
- Yasmin, você pode nos ouvir? Cruze os dedos se isso for possível.
Logo em seguida, a moça cruzou os dedos. Diego e Giovanna sorriram.
- Você poderia nos dizer o que aconteceu? Alguém fez alguma coisa com você? – Insistiu Diego.
Ela tornou a cruzar os dedos.
- Você poderia escrever num pedaço de papel?
Desta vez a mão dela não se moveu.
“Negativo – pensou Diego”. Ele andou de um lado para o outro, tentando encontrar uma saída.
- Por favor, deixem ela em paz – pediu a enfermeira – a pobre moça ainda não se recuperou.
- Só dois minutos – suplicou Diego – Me dê apenas dois minutos e prometo que vamos embora. É muito importante.
- O que você pretende fazer? – Perguntou Giovanna – ela não está em condições de falar e nem de escrever.
- Você já esqueceu de um dos nossos pensamentos que diz: UM SETE CONSEGUE TRANSMITIR SUAS IDÉIAS, MESMO QUANDO FOR PROIBIDO DE FALAR, ESCREVER, DESENHAR, OU USAR GESTOS?
Giovanna sorriu. Estava curiosa pra saber o que Diego iria fazer.
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A habilidade de Sabrina para abrir fechaduras era assombrosa. Usando certas ferramentas especiais, ela rapidamente abriu a porta da cozinha de Sophie e, juntamente com Magry, pularam para fora. Elas estavam se preparando para fugir, quando deram de cara com alguém que estava lá fora, esperando.
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A ventania aumentava. Naquele momento, as luzes piscaram várias vezes, dando a entender que a energia poderia faltar a qualquer momento. As escolas despacharam seus alunos e funcionários (em cidades do interior, isto é comum em épocas de tempestades). Scapelly resolveu procurar Morganne e os outros. Dentro de pouco tempo, as ruas ficaram desertas. Não se via nem um animal. Parecia que todos sentiam algo de tenebroso naquele temporal, algo anormal, algo ... sobrenatural!
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No Hospital.
- Você conhece  Código Morse? – Perguntou Diego. 
Yasmin cruzou os dedos. Diego se aproximou dela e disse baixinho:
- Olha, querida, só mais um esforço e deixaremos você em paz. O polegar representará o ponto e o indicador, o traço, certo? – Vendo que ela tornou a cruzar os dedos, Diego sorriu e continuou – Diga somente uma palavra que nos permita entender alguma coisa do que aconteceu com você. Apenas uma palavra.
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Código Morse - Sistema de sinais utilizado no mundo inteiro em radiotelegrafia. Este sistema é um alfabeto telegráfico, idealizado pelo norte-americano Samuel F. B. Morse e composto por diferentes combinações de pontos e traços para representar as letras e os números.
Durante o século XIX e boa parte do século XX, foi a única forma de comunicação rápida para as embarcações. Em 1899, foi utilizado pela primeira vez para anunciar um naufrágio, no Canal da Mancha. Em 1912, o navio Titanic utilizou-o para enviar a mensagem: “SOS. Chocamo-nos com um iceberg”. A mensagem poderia ter salvado a vida de centenas de pessoas se o rádio do navio California, que navegava a poucos quilômetros do local do naufrágio, não estivesse desligado. Desde então, os navios de grande porte passaram a ser obrigados a manter seu rádios ligados, com um operador de plantão, 24 horas por dia.
O código internacional Morse é um sistema de pontos e traços que se pode utilizar para enviar mensagens mediante uma lanterna, um comutador telegráfico, qualquer outro dispositivo rítmico ou mesmo batendo com os dedos. À medida que o comutador telegráfico sobe e desce, fecha ou abre um circuito elétrico e transmite um sinal em forma de impulsos elétricos. No código internacional Morse, cada letra ou número é representado por uma combinação de traços e pontos: um traço tem uma duração equivalente a três pontos. O sinal do código Morse mais conhecido é o pedido de socorro: ponto ponto ponto, traço traço traço, ponto ponto ponto (SOS).
a
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l
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x
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1
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b
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k
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ü
• • — —



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Durante pouco mais de um minuto e meio, os dedos indicador e polegar da mão esquerda de Yasmin, bateram sobre a cama, de forma rítmica e coordenada. Ela estava transmitindo uma palavra em Código Morse.
Logo que ela citou a primeira letra (ponto, ponto, ponto), Diego e Giovanna sentiram um calafrio.
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Em meio à forte ventania, Morganne saiu em direção à casa de Sophie. O vento gelado parece vir das profundezas do além, parece que todos os demônios do mundo estão soltos e estão ali. Um medo terrível invade a alma de Morganne, mas ele resolve prosseguir assim mesmo (Magry e Sabrina podiam estar em grande perigo). Todos estão trancados em suas casas. As ruas estão desertas. Mas a presença maligna pode ser sentida em todos os lugares.
“Deus, me ajude” Ora Morganne, caminhando a passos lentos. De repente, ele avista alguém. Há uma pessoa atravessando a rua, em sua direção. É Sophie. Ela está ... nua, e toda suja de sangue. Ela se aproxima, gargalhando feito uma louca. O coração de Morganne está gelado de pavor. Ele não sabe o que deve fazer. Não tem idéia nenhuma de como fazer diante daquela situação tão inédita e tão dramática.
“Senhor Jesus! O que devo fazer agora?”
Ela se aproxima dele, chamando-o por um nome desconhecido.

A mente de Morganne está confusa. Será que aquilo tudo estava acontecendo? E se fosse uma ilusão, criada por sua mente? E se ele tivesse ficado louco?
Ela continua se aproximando dele e sempre chamando por um nome que ele nunca tinha ouvido antes.
Antes da conclusão deste drama, voltaremos no tempo, há muitos anos atrás, no inicio do século XX.
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Abril de 1912. O transatlântico inglês Titanic, o maior objeto móvel já construído pelo homem até então, medindo cerca de 268,25m (quase 3 campos de futebol), por 28m de largura e uma altura aproximada de um prédio de 10 andares, partiu de Southampton, Inglaterra,  no dia 10 com destino a Nova York. Transportava aproximadamente 2.223 pessoas a bordo entre passageiros e tripulantes.
Ao mesmo tempo, na segunda classe viajam juntos quatro egípcios (três homens e uma mulher, uma moça de 18 anos). Um deles é Hakira, um sacerdote do culto de Anúbis, o deus egípcio dos mortos. A moça chama-se Nefertiti (mesmo nome de uma famosa rainha egípcia). Ela é filha do sacerdote. Eles querem implantar uma sociedade secreta egípcia na América, pois tiveram que sair da Inglaterra às pressas devido a problemas com a policia inglesa. Alguns anos antes tiveram que deixar o Egito devido a crescentes conflitos com outras seitas religiosas.
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Os números ostentados pelo Titanic inundavam a imprensa da época, voraz por informações sobre o colosso dos mares: 268,25m de comprimento; 28,05m de largura; 4 chaminés com 19,81m de altura por 6,71m de diâmetro; 29 caldeiras para produzir vapor; uma turbina a vapor de baixa pressão; 2 motores a vapor com inversão de giro; 20 botes salva-vidas; 3 hélices, um central no meio do leme e uma em cada lado do casco; 3.560 coletes salva-vidas; 9 decks (andares); 1 piscina; 1 quadra de squash; banhos turcos; biblioteca para 1ª e segunda classe; e 15 anteparas de 1/2 polegada de espessura que dividiam o casco do navio em 16 compartimentos estanques.

Essa divisão do casco em 16 compartimentos estanques, separados por anteparas hermeticamente fechadas por portas a prova d´água, que eram fechadas com o acionamento de um botão na cabine de comando do navio, deram ao Titanic o título de "insubmergível". Jornais da época relataram que "Nem Deus poderia afundar esse navio". Talvez um presságio para o que viria a acontecer.
Depois que seu casco foi lançado ao mar em uma enorme cerimônia em 1910, o Titanic passou mais 1,5 anos sendo aparelhado e equipado com o que havia de mais moderno e luxuoso para a época. Os 735 passageiros da primeira classe poderia usufruir de cômodos e suítes nunca vistas até então em um navio. Aos 674 passageiros da segunda classe não faltou comodidade e conforto. E nem mesmo aos 1.024 passageiros da terceira classe faltou conforto. As cabines da terceira classe eram equipadas com beliches e lavatórios, algo inédito para navios da época.
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Nefertiti chama a atenção por sua beleza exótica, mas devido a sua natureza estrangeira e oriental, evita conversar com os passageiros. Nesse momento ela está passeando sozinha, tentando conhecer as novidades daquele navio tão fantástico. Ela foi criada pelo pai desde pequena (nunca conheceu a mãe, que morrera muito cedo). Seu pai sempre teve um ciúme exagerado dela. Nunca permitiu que homem algum conversasse com ela. Certa vez ele até cortou a língua de um jovem que se atreveu a chamar Nefertiti de bonita.
Ele nunca permitiu que ela saísse sozinha para lugar algum. Isso naturalmente fez com que aquela jovem sempre desejasse conhecer o mundo. Agora eles estavam a caminho da América.
Naquele momento, a atenção de Nefertiti é atraída para um dos salões luxuosos do Titanic. Parecia que alguém estava discursando. Ela entrou no recinto e ficou perplexa diante do jovem que discursava com toda eloqüência. Na verdade, era um discurso religioso.
- E digo a vocês, meus amigos: JESUS É A ÚNICA SAÍDA! Sei que vocês têm mil planos para executarem quando chegarmos à América. Mas nunca coloquem Deus em segundo lugar. Deixem que Ele seja o centro de suas vidas, de seus negócios, de todos os setores de suas vidas. A Sagrada Escritura diz: “BUSCAI EM PRIMEIRO LUGAR O REINO DE DEUS E A SUA JUSTIÇA E AS DEMAIS COISAS SERÃO ACRESCENTADAS”. 
Aquilo não queria dizer nada para a jovem egípcia. Ela certamente não demoraria mais nenhum segundo ouvindo aquela pregação, se não fosse um detalhe... o olhar daquele pregador fez seu coração bater de uma forma estranha. Havia umas trinta pessoas ouvindo a pregação, mas parece que ele só olhava pra ela. Nefertiti tentou sair dali, aquele olhar estava lhe perturbando muito. Tentou, mas não conseguiu. Ficou como que hipnotizada, imóvel, inquieta.
Durante alguns minutos que pareciam uma eternidade, a jovem permaneceu naquela situação, até que o pregador disse o amém, dando a mensagem por encerrada. Após apertar as mãos de algumas pessoas, aproximou-se de Nefertiti, que, pálida, tentava sair dali.
- Olá, você já é uma seguidora de Jesus?
O sorriso dele parecia uma lâmina aguda, penetrando no mais profundo da alma dela. Notando que ela não era inglesa, ele tornou a sorrir, e disse:
- Você fala a minha língua?
- Sim – ela conseguiu responder, fazendo o maior esforço do mundo.
- Você é cristã?
- Não.
- Não parece inglesa.
- Sou... sou egípcia.
- Que maravilha. O país das terras bíblicas. Eu sempre tive vontade de conversar com alguém daqueles mundos.
De repente, ela correu. O jovem pregador ficou perplexo. “O que deu nela?”.
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- Onde você estava? Já disse para não andar sozinha neste navio!
Hakira era um homem de uns 50 e poucos anos, magro, rosto comprido, uma barba mal cultivada e comprida. Ele estava segurando o braço de Nefertiti e apertava com força.
- Desculpe, pai. Eu só estava andando por ai.
- Não faça mais isso!
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Mayron Morgan, o jovem pregador, estava pensativo. Sozinho, olhando para o grande e assustador Oceano Atlântico, pensava na misteriosa mulher que fugiu dele, como quem fugia de um fantasma.
“Que coisa estranha. Aquela jovem parece presa a alguma coisa ruim. Gostaria de conhecê-la melhor. Notei coisas estranhas em seu olhar. Deve ser mais uma pobre alma, perturbada por demônios.”
Durante todo o restante do dia, ele não conseguiu se concentrar mais. Era filho de um reverendo canadense, e estava indo ao seu encontro, depois de passar alguns anos estudando na Inglaterra. Quando chegasse ao Canadá iria se tornar um reverendo também. Era o seu sonho. Achava que tinha nascido pra isso. Era um verdadeiro milagre aquele jovem ser diferente dos outros. Enquanto muitos (até mesmos seus próprios amigos) preferiam viver uma vida dominada pela libertinagem, abraçando todos os prazeres do mundo, ele havia escolhido o caminho da renúncia, o caminho do Reino dos Céus.
Mayron dedicou-se tanto aos estudos que nunca teve uma namorada. Mas sabia que, quando retornasse à sua terra, deveria procurar uma boa moça e se casar, pois sua denominação religiosa dava mais valor a um reverendo que fosse casado e tivesse muitos filhos. Muitos filhos educados para servir ao Senhor.
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Anoiteceu. Com todas aquelas luzes, movimentos e músicas, ninguém conseguia acreditar que estava dentro de um grande navio, isolados da civilização, navegando nas escuras e misteriosas águas do Oceano. 
Mayron queria aproveitar todas as oportunidades para pregar o Evangelho. Sabia que ali havia muitas pessoas que olhavam a religião com desprezo. Havia muitos milionários, madames, gente da elite, pessoas que não gostavam de ouvir falar que um dia este mundo seria destruído, para dar lugar a um mundo novo, governado pelo Próprio Filho de Deus. Para essas pessoas, Deus nem mesmo existia. Portanto, Mayron não era muito popular entre os cidadãos da primeira classe. Alguém já o tinha até ameaçado de morte, se ele continuasse a insistir naquela história de “DEUS, PECADORES, CÉU, INFERNO, SALVAÇÃO, etc.”.
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Nefertiti nunca tinha sentido aquelas emoções antes. O jovem pregador não saia de sua cabeça. Tão ansiosa estava para encontrá-lo novamente que resolveu arriscar-se a levar uma grande surra de seu pai. Num momento em que seu pai estava tratando de coisas relacionadas à seita, ela conseguiu sair. Durante alguns minutos passeou pelos luxuosos corredores do Titanic, à procura do jovem que nem mesmo sabia o nome. E o encontrou durante outra pregação. Mas desta vez o clima estava muito pesado.
- Você está perdendo o seu tempo aqui, pregador! Vá procurar os analfabetos, os fanáticos! Deixe-nos em paz!
- Deus não existe! E se existe, não precisamos dEle agora!
- Vocês estão autoconfiantes demais, meus amigos – clamou Mayron – nenhum de vocês é capaz de saber se estará vivo amanhã. Todo fôlego de vida pertence ao SENHOR! É pela sua grande e infinita Misericórdia que estamos aqui agora! Se Ele quiser, pode até afundar este navio.
- Ora, ora, meu rapaz - disse sorrindo, um homem muito gordo, enquanto tragava um charuto de luxo – nem Deus é capaz de afundar este navio.
- É verdade! – Gritaram os outros – saia daqui ou te lançaremos no Oceano.
Mayron ficou em silêncio alguns segundos. Depois, resolveu sair dali, dizendo:
- Deus abra a mente de vocês.
Ao ver Mayron avançar na direção em que ela estava, Nefertiti resolveu sair depressa.
- Ei, moça. Não vá. Preciso falar com você.
Ela pára subitamente. Seu coração está novamente aos pulos. Ela tenta sair dali, mas suas pernas estão paralisadas.
- O que houve com você hoje de tarde? Por que correu de mim?
Ele olha nos olhos dela e percebe sua respiração ofegante.
- Oi, meu nome é Mayron Morgan, e o seu?
- Nefertiti ... – A voz dela saiu com enorme esforço.
- Ah, o nome da famosa rainha egípcia. Muito bonito. Eu gostaria muito de conversar com você. Podemos sentar em algum lugar?
Ela responde apenas com um aceno de cabeça e o segue durante alguns minutos. Eles param diante de uma lanchonete.
- O que você acha da fé cristã?
- Não conheço muito... não sei o que dizer – ela estava começando a ficar mais a vontade, embora estivesse preocupada com a possível chegada súbita do seu pai.
- Seus olhos são lindos, Nefertiti, mas cheios de mistérios. O que pretende fazer na América?
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Uma hora mais tarde. Mayron e Nefertiti estão passeando. Ela estava muito diferente. Conseguira sorrir diante dele. Conseguia se sentir muito bem perto dele. Estava tão feliz, que nem se lembrava mais que não devia estar ali.
- Apesar de ter dado sinais de vida, você ainda parece tensa – disse ele, olhando nos olhos dela – de que tem medo? Conversamos sobre tantas coisas durante uma hora. Estou muito feliz de estar ao seu lado. Tenho certeza de que O SENHOR a fez se aproximar de mim com algum propósito.
- Sua fé é mesmo interessante – disse ela – nunca, na minha terra, vi alguém com tamanha confiança em seu deus.
- Você não viu nada, Nefertiti. Meu Deus faz coisas extraordinárias. E acabou de fazer mais uma.
- O que?
- Me fez conhecer você.
Ela sorriu timidamente. Começava a acreditar que aquilo era mesmo verdade.
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12 de Abril de 1912. A viagem prossegue. As festas também. Todas as classes fazem festas (cada uma a seu modo). Há centenas de tramas acontecendo; há centenas de namoros, infidelidades, conflitos familiares, tudo que geralmente acontece em ambientes festivos, com gente de todos os tipos. Mas há algo inédito acontecendo: Mayron Morgan e a bela e exótica Nefertiti estavam vivendo os momentos mais lindos de suas vidas. Ele estava tão apaixonado que já pensava em levá-la para sua terra, a fim de casar com ela. Ela, por sua vez, desejava isso mais do que ninguém, porém sabia que era impossível. Se seu pai ao menos sonhasse que aquele relacionamento estava acontecendo, seria capaz de provocar uma tragédia.
- Ele terá que entender isso – disse Mayron, tentando animar Nefertiti – ainda hoje irei falar com ele e ...
- Não, você não pode fazer isso! Se meu pai descobrir o que está acontecendo ... você não tem a mínima idéia de como ele é ...
- Se foi Deus quem a colocou em minha vida, Ele tem um plano para nós dois e ninguém irá impedir isso.
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13 de Abril de 1912.
Mayron seguia muito feliz, pois iria novamente se encontrar com Nefertiti, no local combinado, que eles chamavam de “refúgio secreto”. E lá estava ela. Tão linda, tão fascinante e tão misteriosa. Eles se abraçaram e se beijaram com todo o ardor da paixão. Então, subitamente, Mayron sentiu um choque na cabeça e seu mundo escureceu.
- Não! – Nefertiti gritou, vendo o sangue escorrer da cabeça do amado, que parecia morto em seus braços. Dois homens se aproximaram (os dois servos do pai dela), e um deles puxou Mayron violentamente.
- Não! Por que vocês estão fazendo isso?
- Ordem do seu pai, princesa. Ele está esperando você agora.
- Não vou sair daqui. Deixem ele em paz.
- Não complique as coisas. Saia daqui!
- Não!!! Ela avança contra um dos homens, e é derrubada com um violento soco.
- Seu pai me autorizou a fazer isso, caso resistisse – disse ele, ao derrubar a moça.
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14 de abril de 1912.
A temperatura baixou muito e o Titanic recebeu 7 avisos de iceberg em sua rota. Os avisos foram entregues ao capitão Smith mas não surtiram muito efeito. Desviou a rota do navio um pouco mais para o sul mas continuou a velocidade máxima de 22 nós cerca de 41km/h. O capitão Smith era um renome entre os capitães da época. Seu curriculum era invejado por muitos. Só aceitou comandar o Titanic nessa viagem, pois iria se aposentar e queria encerrar sua carreira com chave de ouro. O capitão Smith era capitão do Olympic, o primeiro irmão do Titanic. Muitos oficiais do Olympic foram deslocados para a primeira viagem do Titanic. Junto nessa primeira viagem seguiram o presidente da companhia White Star Line, o Sr. Bruce Ismay e também o engenheiro chefe da construção do navio, o Sr. Thomas Andrews.

Ao anoitecer de 14 de abril o capitão Smith mandou reforçar a vigia no mastro de proa (frente do navio), e fornecer a eles binóculos. Esses equipamentos não foram encontrados e os vigias tiveram que trabalhar apenas com a sua visão. O capitão Smith retirou-se para seus aposentos e deixou no comando na cabine o oficial William Murdoch.
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Naquele momento, numa sala isolada, algo terrível, satânico, estava acontecendo. Nefertiti estava amarrada numa coluna, enquanto assistia impotente a um ritual horrendo. O jovem Mayron foi colocado, amarrado, dentro de um caixão comprido (parecido com uma urna mortuária egípcia). Imediatamente os diabólicos egípcios encheram o caixão de serpentes e escorpiões, fechando-o em seguida, deixando o pobre rapaz nas mãos dos terríveis animais assassinos.

Nefertiti tentava gritar, mas não podia (estava amordaçada).
- Vamos levá-lo daqui – disse o sacerdote Hakira, acrescentando – tragam ela também. Assim irá aprender a nunca mais desafiar as ordens do pai.
Era noite. Enquanto todos estavam ocupados principalmente com o jantar, os três homens diabólicos arrastaram o caixão com a pobre vítima, e o suspenderam sobre uma espécie de parapeito do navio. Em seguida, Hakira pronunciou algumas orações em língua egípcia, oferecendo aquele sacrifício ao deus Anúbis.
Nefertiti estava suando de tanto terror e desespero. Ela não podia gritar, mas podia ouvir. E ouvia as desesperadas batidas no caixão, de alguém que tentava, inutilmente, escapar. Em pensamentos, ela clamou:
“Ó Deus do meu amado. Se tu existes e se o amas, salva-o!” Ao terminar de fazer a oração, viu, chocada, o caixão sendo lançado nas escuras águas do oceano.
“NÃO! NÃO! NÃO!”
- Estás vendo, minha filha? – Hakira falava como que possuído por muitos demônios – o Deus dele não o salvou.

Nefertiti chorou. Desesperadamente. E amaldiçoou o Deus de Mayron Morgan. 

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