sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

CAPÍTULO 9 - A NOITE DAS ALMAS PERDIDAS

Vestida numas roupas negras estava Sophie, segurando na mão direita algo como um bisturi. Suas vestes e o bisturi estavam manchados de sangue.
- Ela... ela está... ela está ... morta? – Morganne fez toda a força possível para pronunciar algumas palavras.
- Está – respondeu Sophie, sem pestanejar – ela perdeu muito sangue e era fraca, muito fraca.
- Não acredito que isto esteja acontecendo.
- Mas está.
- Por quê? Por quê? Por quê? – Ele colocou as duas mãos na cabeça, desesperado.
De repente, uma grande ventania derruba tudo e Morganne é lançado longe, mergulhando em seguida numa grande escuridão. Alguns minutos depois, abre os olhos e percebe que está caído ao lado de sua cama. Está em casa, suando frio. É noite. Levanta-se, ainda tremendo. Acabara de ter um horrível pesadelo.

“Meu Deus! Era apenas um pesadelo... um pesadelo... um pesadelo ou uma premonição?” – Ele aproxima-se da geladeira, para tomar um copo d’água. Um grande medo estava invadindo seu coração.

- Deus, o que está acontecendo? Que graves perigos estamos correndo? O Senhor quer nos dizer alguma coisa? Faça-nos entender a verdade.


*******

         Magry estava contando para Sabrina e Giovanna sua conversa com Sophie.

- Eu gostaria de saber o que essa professorinha tem na cabeça – disse Sabrina.

- E eu o que ela tem no coração – falou Giovanna lentamente.

- Vocês acham que ela possui alguma ligação com a morte do professor? – Perguntou Magry.

- Tudo o que sei até agora é que ela não é quem aparenta ser -  disse novamente Giovanna, naquele tom calmo e inquietante. De todas as garotas do Arquivo, Giovanna era a mais calada e a mais misteriosa. Antes do se converter ao Evangelho de Jesus Cristo, era envolvida com alta feitiçaria, devido a ligações com seus pais (que ela nunca conheceu).

Foi criada num orfanato. Quando completou 15 anos pressionou a coordenadora para que contasse o que sabia sobre seus pais. Ela lhe dissera que alguém havia deixado uma garotinha na porta do orfanato. Talvez sua mãe, mas ninguém viu nada. Tânia Lister, a coordenadora, gostava tanto de Giovanna que custeou meus estudos universitários. Alguns anos depois, pesquisando em jornais, ela encontrou pistas que a levaram à Itália. Aprofundando-se mais ainda descobriu que seus antepassados pertenceram a uma estirpe de feiticeiros. Isso explicava porque ela sempre tivera pesadelos e visões de espíritos e demônios. Essas coisas somente cessaram quando ela se entregou de corpo e alma a Jesus Cristo. Um dia descobriu parte da horrenda verdade: sua mãe era bruxa e quando conheceu seu pai tiveram uma grande paixão. Algum tempo depois Giovanna nasceu e sua mãe a levou à uma cerimônia pagã para que a garota fosse batizada por um sacerdote de Satanás e recebesse parte dos dons mediúnicos dela.

- Quando estive na casa dela – disse Magry, referindo-se a Sophie – senti uma atmosfera muito pesada, e, em várias ocasiões, notei em seus olhos um brilho sinistro.

- De onde ela veio? – Perguntou Giovanna.

- Pelo que sei, veio de São Luis, a convite de Dona Stefânia – informou Sabrina.

- Então Dona Stefãnia deve conhecê-la muito bem.

-  O que devemos fazer para tirar tudo isso a limpo? – Perguntou Magry.

*******

- E ai, cara, você tá difícil, hein? Tudo na santa paz?

- Por um lado sim, por outro lado não  - respondeu Morganne – pra falar a verdade, nunca estive antes tão perturbado.

- Pois agora ficou mais difícil ainda pra mim te contar as novidades – disse Stanville. Eles estavam conversando por telefone.

-  É sobre aquilo que te pedi na semana passada, sobre Sophie Soran?

- Isso mesmo. Cara, faz mais de dois dias que tento falar com você. O que está acontecendo por aí?

- Infelizmente não posso dar tanto detalhes por telefone agora. Mas fale você primeiro. Encontrou algo sobre Sophie?

- E como. Parece-me que encontrei a própria.

- Como assim?

- Encontrei Sophie Soran aqui em São Luis, só que... bem, ela está... olha, cara, vou contar calmamente o que aconteceu.

Morganne sentiu novamente aquele frio na espinha.

*******
         Yasmin entrou no Colégio. Pediu para falar com Dona Stefânia, com o pretexto de que estava fazendo uma reportagem sobre o Ensino Médio (mas a realidade era outra: ESTAVA PROCURANDO UMA PESSOA!).
- Seria bom se o governo investisse mais no Ensino Médio, pelo menos da mesma forma que tem investido no Fundamental – disse Stefânia Seller, procurando ser o mais prestativa possível. Naquele momento, a sirene tocou, indicando que um horário estava terminando e outro iria começar. Enquanto Yasmin entrevistava a diretora, vários professores entraram na sala. Sophie ficou muito curiosa observando a jornalista, que estava de costas.
- Sophie, faça favor – chamou Dona Stefânia – quero lhe apresentar uma pessoa.
Ela se aproximou, sorrindo. Yasmin virou-se e sorriu. Sophie arregalou os olhos e sua pele ficou quase que, da cor de um pedaço de papel branco.
- O que você tem? – Stefãnia levantou-se, preocupada.
Sophie sentou-se, numa cadeira próxima e pediu um copo d’água.
- Tudo bem, gente – desculpou-se – ultimamente tenho trabalhado demais à noite, e tenho estado gripada desde a semana passada. São coisas que acontecem.
- Espero que você fique bem – disse Yasmin, aproximando-se dela, procurando parecer tranqüila, embora estivesse bastante constrangida.
- Esta é Yasmin, jornalista – disse Dona Stefânia, alguns minutos depois – ela anda fazendo uma reportagem sobre o Ensino Médio nesta região.
Sophie apertou a mão de Yasmin, tentando parecer natural, mas não conseguia disfarçar o nervosismo. Levantou-se, desculpando-se, pois teria que voltar à sala de aula. Yasmin despediu-se dela e ficou observando enquanto a professorinha se afastava. 
“Tenho certeza de que fui eu que a fiz ficar daquele jeito – pensou Yasmin – mas por quê?”
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Sabrina estava passando diante da secretaria do Colégio, quando percebeu Yasmin conversando com a Diretora. Parou um pouco e ficou observando de longe. Testemunhou toda a cena do encontro entre Yasmin e Sophie. Ficou ainda mais curiosa.
“O que será que Sophie viu em Yasmin? Afinal, quem realmente serão as duas? Mas Yasmin parece não conhecê-la.” – Enquanto retornava para a classe, Sabrina ia refletindo, tentando chegar a alguma conclusão. Naquela noite Morganne tinha faltado às aulas. Ele só fazia isto quando adoecia. Ou então quando uma coisa mais grave estivesse acontecendo.
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A verdade é que Morganne estava muito perturbado com a conversa que tivera com Stanville. Ficou ainda mais obcecado em descobrir a verdade sobre Sophie, ou sobre a mulher que estava usando o nome de Sophie, já que, ao que parece, a verdadeira Sophie estava morta e enterrada num velho cemitério em São Luis.
Também estava muito preocupado com o sonho da noite anterior. Sempre sentia um estremecimento na alma ao lembrar do sonho.
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“SEI QUEM VOCÊ ESTÁ PROCURANDO, MAS NÃO POSSO REVELAR AQUI. SE ESTIVER INTERESSADA, VENHA ENCONTRAR-ME, PERTO DO PORTÃO DO CEMITÉRIO LOCAL, ÀS 23 HORAS EM PONTO. É O ÚNICO LUGAR DISCRETO, ONDE PODEREMOS CONVERSAR À VONTADE”.
SABRINA.”
Yasmin guardou o bilhete (que alguém deixara não se sabe como, dentro de sua bolsa, talvez enquanto ela esteve andando pelos corredores do Colégio). Bastante excitada, ela aguardou a hora certa.
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Tão preocupado estava com os acontecimentos recentes, que Morganne se esqueceu do bilhete enviado pelo motoqueiro desconhecido. Eram quase 23:00 horas quando ouviu alguém batendo na porta.
“Deve ser algum dos SETES, querendo saber por que não fui ao Colégio hoje” – Morganne se aproximou da porta, abriu-a, mas não viu ninguém. Então, algo passou a poucos centímetros da sua cabeça e atingiu a porta. Era uma flecha. Ouviu o som de uma moto e viu do outro lado da rua, um motoqueiro saindo a toda pressa.
Arrancou a flecha, irritado, e notou que havia uma mensagem.
“ESPEREI DOIS DIAS. DEVOLVAM O MEDALHÃO. NÃO VOU PEDIR DE NOVO.”
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23 HORAS. Yasmin estava com medo. Já tinha vivido muitas aventuras, mas de repente, sentiu um medo muito grande invadir sua alma. Aproximou-se do cemitério. Olhou ao redor. Não havia um só ser humano nas redondezas. 
“Acho que sou louca, para estar num local desses numa hora dessas. Mas Sabrina deve ter bons motivos para marcar um encontro aqui.”
Aproximou-se do portão, e lembrou-se de muitas histórias que ouvia quando era criança. Tentou pensar em coisas boas, mas seu coração estava pesado. Sentiu algo picando em seu pescoço. Sabia que havia muitos insetos por ali. Mas de repente, sua vista começou a escurecer, e viu todas as coisas rodando. No último momento, antes de perder totalmente os sentidos, notou alguém se aproximando lentamente, e ainda pôde ouvir suas palavras:
- Seja bem vinda, Mary-Sandra. Você chegou no tempo propício para alimentar a FILHA DA NOITE ETERNA.
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Morganne estava orando, buscando uma resposta de Deus. Ao mesmo tempo, intercedia por seus amigos, pois sentia uma grande ameaça pairando sobre suas cabeças. Enquanto orava, uma forte ventania invadiu seu quarto, derrubando várias coisas. Ele abriu os olhos e sentiu um frio muito forte, um frio anormal, sobrenatural, sinistro.
Tornou a fechar os olhos e continuou orando. Sabia e sentia que havia demônios ali perto. Nunca pensou que um dia fosse travar uma batalha espiritual de verdade. Sempre ouvira na Igreja alguém falando a respeito. Enquanto orava, segurava-se na cama, pois a ventania aumentava. Começou ouvir vozes, muitos clamores, pedidos de socorros, igualzinhos aos do sonho de dias atrás.
- DEUS! – gritou bem alto – SERÁ QUE CHEGOU O FIM DE TODAS AS COISAS? DEUS ABRA NOSSOS OLHOS! MOSTRA-NOS O QUE DEVEMOS FAZER?
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O vento continuava soprando forte em toda a cidade. Ninguém se atrevia a sair de casa numa hora daquelas. Magry também estava orando. E Vanessa, e Sabrina, e Scapelly ... na verdade, todos os SETES estavam sentindo algo de sobrenatural naquela ventania. Todos estavam sentindo um peso no coração e lutavam em oração, intercedendo pela cidade e por todos os seus amigos e familiares.
Sabrina ouviu um grito vindo diretamente do meio da rua principal. Ela morava na avenida. Continuou a orar, mas os gritos aumentavam cada vez mais. Ela levantou-se e se aproximou da janela. Abriu-a devagar, segurando-se, pois a ventania continuava. Então viu um cavaleiro atravessando a rua. Era um cavaleiro muito esquisito. Na verdade, era uma mulher. Estava nua. Enquanto cavalgava, ela gritava palavras numa língua desconhecida. Então, de repente, virou-se para Sabrina, e esta ficou perplexa: A MULHER ERA SOPHIE! Ela começou a gargalhar, uma gargalhada sinistra, capaz de gelar qualquer coração, por mais corajoso que fosse.
Sabrina estava paralisada de terror. Tentava fechar a janela, mas suas forças tinham desaparecido. Então ela consegue gritar:
- JESUS! JESUS! LANÇA ESSE ESPIRITO MALIGNO POR TERRA!
Então Sophie se cala de repente. Na sua face há a marca do medo. Ela agita o cavalo e desaparece na noite. Sabrina consegue fechar a janela. Mas todo o seu corpo estava tremendo. 
“Satanás está passeando em Igarapé Grande hoje” – Disse ela, jogando-se ao chão, e pedindo misericórdia a Deus.
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Enquanto Magry estava orando, sentiu algo lhe puxando pelos cabelos e lançando-a contra a parede. Ainda atordoada, tentou levantar-se mas ficou paralisada ao ver, no chão, a sombra de algo se aproximando. Não havia ninguém, somente uma sombra, que avançava de forma ameaçadora. Magry gritou:
- O NOME DE JESUS É MAIOR! EM NOME DE JESUS EU REPREENDO TODA FORÇA CONTRÁRIA A ELE!
A sombra parou de repente, e evaporou-se no ar. De repente, a ventania cessou em seu quarto, e Magry sentou-se, embora todo seu corpo estivesse tremendo.
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Coisas parecidas aconteceram com vários SETES. Parecia que todos os demônios do inferno estivessem naquela cidade. Com certeza, aquela noite nunca mais seria esquecida. Mas ela passou.
Amanheceu. Havia uma inquietação muito grande. O forte temporal fez um grande estrago e as pessoas se perguntavam a razão. Não caiu uma só gota d’água, não choveu em parte nenhuma. Somente vento, muito vento.
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Seu Antonio Gomes estava organizando o pequeno cercado, onde criava alguns porcos, quando tomou um grande susto ao ver um corpo coberto de lama. Aproximou-se, temeroso, e ficou ainda mais chocado ao perceber que era o corpo de uma mulher.
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- Meu Deus! Que noite! – Sabrina estava quase sem fôlego. Ela não sabia como contar que viu Sophie de forma esquisita, no meio daquele temporal.
- Alguém tem alguma idéia, alguma razão dessa noite de terror? – Perguntou Diego.
- Eu tenho – disse Giovanna, aproximando-se – Há uma força diabólica muito forte neste lugar. Vocês sabem que tenho muita experiência com espíritos demoníacos, e ontem à noite, enquanto lutava em oração, o Senhor Jesus falou ao meu coração que Satanás tinha estabelecido um trono aqui. Há alguém que carrega consigo espíritos assassinos e cruéis, e esse alguém chegou recentemente em Igarapé Grande.
Todos estremeceram.
- Tem certeza? – Perguntou Brigitte.
- Tanta que estou disposta a apostar a vida.
- Quem seria esse alguém? – Perguntou Diego – Sabe, gente. Achei que o mundo fosse acabar ontem. Mas me lembrei de que as coisas não acontecerão assim. A Bíblia diz que devemos aguardar é o Arrebatamento, e não o fim.
- Sabemos de duas pessoas que chegaram aqui recentemente – disse Sabrina – o tal sujeito do medalhão e ... e... e Yasmin.
- Quem é essa Yasmin? – Perguntou Diego.
- Ah, Morganne não lhe contou?
- Aquele sujeito anda muito esquisito ultimamente.
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Magry aproximou-se bastante apreensiva e abraçou Morganne, fortemente, desesperadamente, como se fosse o último dia da vida deles.
- Morganne, há algo grave nesta cidade. Algo demoníaco.
- Tenho certeza de que Deus não nos abandonou e que irá nos iluminar.
- Estou preocupada com os SETES. Será que estão todos bem? Você viu algum dos rapazes hoje? Falou com alguma das meninas?
- Eu estava justamente me preparando para sair. Precisamos conversar com todo mundo.
- Na Biblioteca 7?
- Exatamente.
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- Como está o estado dela, doutor?
- Vai sobreviver, mas perdeu muito sangue.
- Quem é ela?
- Não encontramos nenhum documento. Com certeza foi alguma vítima da terrível noite de ontem.
- Mas não acredito que foi aquela ventania que fez isso nela.
- É, eu também não.
O médico e a enfermeira estavam diante de uma mulher, toda enfaixada, parecendo uma múmia. Ela estava em estado de choque. Tentava falar alguma coisa, mas apenas balbuciava, dizia palavras sem sentido.
- Quem é você? – Perguntou o médico, aproximando-se do seu ouvido.
A infeliz moça parecia fazer todo o esforço do mundo para falar, mas não conseguia. 
- Por enquanto, não podemos entender nada – disse o médico, olhando para a enfermeira – quero que fique perto dela todo o tempo possível. Conheço quase todas as pessoas desta cidade, mas nunca vi esta moça. Talvez fosse alguém de fora que viajava justamente naquela hora terrível e foi barrado pela ventania.
- Bom, se ela tivesse sido encontrada na avenida, dava pra entender – disse a enfermeira, franzindo a testa, preocupada – mas foi encontrada dentro de um chiqueiro, do outro lado da cidade, perto de um... – ela hesitou antes de falar – perto de um cemitério.
*******
Na Biblioteca 7.
- Orei toda a noite, pedindo uma orientação da parte de Deus e tudo que consegui saber é que há alguém nesta cidade que parece carregar uma grande maldição – disse Morganne.
- Senti a mesma coisa – disse Giovanna e mais alguns SETES.
- Ainda sinto minha pele se arrepiar quando me lembro da professora Sophie nua, montada naquele cavalo numa hora daquelas – Sabrina falava como se todos já soubessem...
- Sophie?! – Espantou-se Morganne – conte essa história direito.
Após contar todos os detalhes, Sabrina escuta os comentários dos SETES.
- Tem mesmo certeza de que era ela? – Perguntou Diego – Essa professorinha tem muitos segredos... e já estou ficando impaciente... dá vontade de ir até lá e...
- Talvez não fosse ela – disse Brigitte – talvez fosse um demônio.
- Mas por que um demônio se apresentaria daquela forma? – Perguntou Sabrina.
Morganne respirou fundo e falou:
- Tenho sonhado muitas coisas perturbadoras desde a semana passada. Tenho certeza que há uma relação entre todos esses sonhos. Ontem, antes da noite de terror, conversei com Stanville a respeito de uma pessoa. O que ele me contou conseguiu me perturbar muito mais.
- Deixe-me tentar adivinhar – disse Diego – foi sobre Sophie.
- Isso mesmo. Sophie. Sophie Soran. Que segredos terríveis essa mulher guarda?
- O que Stanville descobriu? – Perguntou Scapelly.
- Que Sophie Soran está morta.
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Anoiteceu novamente. E os SETES sentiam que estava chegando a hora da verdade. Durante todo o dia eles armaram um plano de guerra, um plano destinado a desmascarar de uma vez por todas a verdade por trás de Sophie.
Alguns daqueles jovens espertos iriam faltar às aulas naquela noite. Magry e Sabrina foram escaladas para entrar clandestinamente na casa de Sophie, logo que esta e sua amiga Cibele saíssem para o Colégio. Diego e Giovanna ficaram encarregados de procurar Yasmin e tentar convencê-la a revelar as verdadeiras razões de estar em Igarapé Grande (Giovanna conhecia Yasmin de fisionomia, pois a tinha visto no hotel, logo que a desconhecida chegou à cidade). Scapelly iria vigiar a ponte, onde Morganne deixou uma caixa de sapato, com o escorpião dourado dentro, conforme a mensagem do misterioso motoqueiro. Morganne e os outros SETES foram para o Colégio.
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Quando Sophie e Cibele saíram, Magry e Sabrina deram “um jeito” e entraram na casa. Diego e Giovanna visitaram o hotel, mas nenhum sinal de Yasmin. Foram informados de que ela estava sumida desde a noite anterior.
Sabrina amarrou uma linha em um ponto da calçada, de modo a ser tocada por qualquer pessoa que passasse por ali. Depois amarrou a outra ponta em alguns fios do seu próprio cabelo.
- Que arapuca é essa? – Perguntou Magry, sorrindo.
- Se alguém se aproximar dessa calçada, seremos avisadas a tempo.
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Sophie entrou na sala de aula. Morganne tentava olhar pra ela com naturalidade, mas não conseguia. E tinha certeza de que ela estava percebendo sua desconfiança. A aula prosseguiu de forma normal. Até um determinado momento. Repentinamente, Sophie ficou séria. Quem não estava olhando firmemente para ela, não percebeu nada. Mas Morganne e outros SETES que estavam na mesma sala perceberam quando ela ficou como que em transe, durante quase meio minuto. Então, ela olhou para Morganne de uma forma que fez o coração dele gelar.
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Quando estavam quase desistindo da procura por Yasmin, Diego e Giovanna tiveram uma brusca idéia. Resolveram ir até o hospital. Ficaram muitos surpresos quando souberam que havia uma moça desconhecida ali, desde cedo da manhã, e que seu estado não era muito bom. Pediram para vê-la, e como tinham alguns amigos entre os funcionários da rede hospitalar, conseguiram entrar no quarto onde a pobre moça estava internada.
- É ela! – Disse Giovanna.
- O que é que pode ter acontecido?
A moça estava toda imobilizada e havia marcas por todo o seu corpo. Marcas de alguma forma de violência. Ela estava dormindo.
- Vocês a conhecem? – Perguntou a enfermeira que cuidava da desconhecida.
- Em parte – respondeu Diego - O nome dela é Yasmin. Estávamos justamente à procura dela.
- Quem é ela, afinal?
- Você pode não acreditar – disse Giovanna – mas nós também estamos curiosos pra saber.
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- Nossa! Aqui tem mais livros estranhos do que no Arquivo 7 – disse Sabrina, diante da biblioteca de Sophie.
- Bote estranho nisso – concordou Magry – veja este aqui. THE HISTORY OF ELIZABETH BATHORY. Totalmente em inglês.
- Parece que nossa professorinha sabe mais línguas do que o Papa – Sabrina apanhou dois livros bem volumosos, escritos numa língua estrangeira não popular – Você conhece esse idioma aqui? Parece russo, mas esta palavra aqui indica outra origem.
- Parece eslavo. Deixe-me dar uma olhada – logo que Magry folheou algumas páginas, exclamou – veja aqui! Esta mulher é igualzinha àquela daquele livro ali – apontou para o livro que tinha apanhado anteriormente.
Elas compararam as figuras e constataram que era verdade.
- Quem é essa Elizabeth Bathory? – Perguntou Magry.
- Não faço a mínima idéia, mas nossa Sophie deve ser fã dela, já que tem vários livros a respeito, inclusive em línguas que não conhecemos.
- Veja essa palavra aqui – apontou Magry – não parece Transilvânia? Ah, essa língua é romena.
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Novamente Sophie entra em transe por alguns segundos.
“O que será que ela tem?” – Pensa Morganne.
Alguns minutos depois, e a sirene toca. Sophie sai depressa da sala, causando ainda mais inquietação em Morganne, pois geralmente ela era a última pessoa a sair, pois sempre ficava conversando com os alunos.
Mas ainda haveriam outros horários de aula, e Sophie retornaria no 4.º horário para a aula de História. Morganne sabia que, naquele momento, as meninas estavam na casa da professorinha, e tinha um pressentimento de que talvez Sophie voltasse pra casa antes do tempo tradicional.
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Depois de examinarem minuciosamente a biblioteca de Sophie, Magry e Sabrina resolveram fazer uma busca mais profunda e entraram no quarto.
- É muito estranho para mim invadir o quarto de alguém sem autorização – disse Magry.
- Onde está o seu espírito de aventura, queridinha? – Disse Sabrina, sorrindo e ajeitando a linha amarrada em seu cabelo.
Alguns minutos depois, e Sabrina solta um grito de satisfação:
- Encontrei algo! Encontrei algo – ela levanta um caderno cheio de anotações, parecendo um diário. Mas era estranhamente velho.
- Uma moça normal nunca usaria um caderno tão antigo para fazer anotações – observou Magry.
- É mesmo, e apesar de parecer anotações antigas ... – enquanto falava, Sabrina folheava o estranho diário, e então seus olhos fizeram uma expressão de terror, fazendo com que ela interrompesse a própria fala.
- O que houve, Sabrina?
- Meu Deus! Será que isso é mesmo verdade? Veja aqui, Magry!
Magry sabia que Sabrina não era de se impressionar com qualquer coisa. Que revelações terríveis se ocultavam naquele caderno?
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Diego olhava para Yasmin imóvel e orava em pensamentos: “Por favor, Senhor, restaura a saúde desta moça. Revela-nos o que de tão maligno aconteceu com ela. Em nome de Jesus.”
Naquele momento, eles notam um leve movimento na mão esquerda da moça.
- Diego! – Exclama Giovanna - Ela se mexeu.
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Scapelly começava a se impacientar. Fazia mais de quatro horas que ele estava ali, numa posição incômoda, escondido dentro do mato, observando se alguém viria até a ponte, buscar a “encomenda”. Silenciosamente, apertou um botão em seu relógio, a fim de acender a luz e saber das horas. 
“Puxa vida! Já são mais de 21:00 horas”.
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Antes de retornar à sala de aula, Morganne olhou para o céu e notou grandes nuvens escuras se aproximando.
“Deus Eterno! Será que teremos outro temporal?” Logo que acabou de pensar, uma forte ventania o empurrou contra a parede. Ele entrou na sala apressadamente. Iria começar o quarto horário. Mais uma vez Sophie iria ensinar. Mas naquele momento quem estava na sala era Cibele, professora de Literatura, a amiga de Sophie.
“Mas hoje a aula de Cibele é somente no 5.º horário” Pensou Morganne, surpreso.
- Gente, Sophie não estava se sentindo bem e foi pra casa – explicava Cibele – por isso cedeu seu horário pra mim.
“Essa não” – Morganne, que estava entrando na sala, deu meia volta e saiu apressado.
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A ventania aumentava cada vez mais. A lua já tinha se escondido. A grande maioria das pessoas imaginava simplesmente que um forte temporal estava vindo por aí. Porém os jovens SETES sabiam que aquele temporal não era normal, mas tinha a ver com algo sinistro, algo muito terrível  que estava circulando por Igarapé Grande.
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Sabrina e Magry estavam atônitas com as revelações do estranho diário de Sophie. Então, naquele momento, Sabrina sentiu um forte puxão em seus cabelos. 

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