Stanville ia saindo, quando algo lhe inquietou. Sem
saber explicar o porque, resolveu entrar no pequeno e antigo cemitério. Durante
alguns minutos passeou por entre os túmulos, sentindo sempre aquela sensação
estranha.
“Deus, o que queres me dizer?”. Cerca de quinze minutos
depois ele parou. Estava diante de um túmulo, cuja lápide dizia:
SOPHIE SORAN
1958 – 1980
|
Naquele momento sentiu um arrepio tão forte, que todo
seu corpo tremeu. “Que é isso?”. Imediatamente lembrou-se de um versículo
bíblico do livro de Jó:
“ENTÃO UM ESPÍRITO
PASSOU POR DIANTE DE MIM; ARREPIARAM-SE OS CABELOS DO MEU CORPO.” (Jó 4.15).
Sobre a lápide havia também uma foto um pouco antiga,
mais ainda nítida. Mostrava uma bela moça, aparentando ter entre 18 e 20 anos.
Conforme a data na lápide, ela tinha morrido com a idade de 22 anos. Stanville
ficou ainda mais intrigado. “Por que será que Morganne quer informações sobre
uma morta? Será alguma investigação do Arquivo 7? E por que estou todo
arrepiado? Acho melhor sair daqui.”
*******
Yasmin conversou bastante com Morganne e Sabrina, a
respeito de muitas coisas, mas sempre evitando detalhes sobre a misteriosa
mulher da foto. Mas Morganne arriscou-se a perguntar:
- Vocês são amigas há muito tempo?
- Sim, na verdade estudamos todo o colegial juntas. Perdemos o contato
há muito tempo, mas recentemente tive noticias dela.
- Como é mesmo o nome dela?
A moça empalideceu, e tentou disfarçar com um sorriso
amarelo.
- Nossa, falamos sobre tantas coisas, e me esqueci justamente de dizer o
nome da mulher que estou procurando. O nome dela é... Madeleine Magry.
- O quê?! Você está brincando!
*******
Na casa de Sophie.
- Uma das coisas que sempre gostei de estudar foi sobre a beleza,
especialmente a beleza feminina. Sabe, eu fico depressiva ao refletir sobre a
brevidade da beleza. Nascemos belos, crescemos belos, mas morremos velhos,
enrugados, doentes, estragados,...
Magry ouvia com atenção, enquanto Sophie falava.
- Por que não vivemos para sempre? Muitos acham essa vida bela, mas eu
acho um fardo muito pesado, uma droga
mesmo. Não dá pra viver sabendo que daqui a pouco iremos morrer.
As palavras de Sophie estavam carregadas de pessimismo
e melancolia. Magry começava a não se sentir bem.
- Será que não há alguma fórmula de juventude eterna? Já descobrimos a
cura para tantas doenças, e por que não para a velhice, a morte?
- De acordo com a Bíblia a morte é conseqüência do pecado e...
- Já sei o resto. Jesus morreu para nos salvar e agora só precisamos
acreditar nele e aguardar o dia da nossa morte para irmos para o céu, não é
isso? – Ela falava com muito desprezo.
- Não é bem assim. Infelizmente a religião Cristã fez um grande estrago
com a mensagem do Evangelho de Jesus, mas felizmente Deus não permitiu que Sua
Palavra fosse destruída, e por isso, hoje sabemos a verdade. O Evangelho não é
nada disso que nossos avós nos ensinaram, mas é uma mensagem viva e real, que
pode solucionar todos os problemas espirituais da Humanidade.
- Invejo a sua fé, Magry. Eu não consigo ser assim.
- Por que você quer fundar essa Sociedade Feminina e para quê?
- Ah, me desculpe. Bom, creio que há muitas mulheres por aqui que
gostariam de ter um lugar agradável e discreto para desabafar, contar seus
problemas, repartir seus problemas e, principalmente, discutir assuntos
relacionados à beleza feminina.
- Você já fez parte de alguma sociedade assim?
- Sim, e foi muito bom – Sophie tremeu ao dizer isto e Magry percebeu.
- Acho uma boa idéia. A gente poderia até patrocinar alguns eventos,
tais como convidar alguém importante para falar sobre assuntos relacionados a
mulher e coisa parecida – disse Magry.
Os olhos de Sophie brilharam novamente, só que de uma
forma que fez Magry sentir um forte calafrio.
*******
Yasmin se despedia dos dois SETES.
- Adorei conhecer vocês. Onde poderemos nos encontrar novamente,
conversar mais, trocar idéias?
- Pretende ficar muito tempo por aqui? – Perguntou Morganne.
- Não sei. Depende do resultado de minha busca. Se eu encontrar Magry
logo... É estranho vocês não conhecerem ela. Pelo que notei esta é uma cidade
tão pequena e...
- Onde todos se conhecem, não é? Mas ela está crescendo. Talvez sua
amiga seja daquele tipo que vive mais trancada em casa, ou sai somente nos
finais de semana, para a igreja...
- Parece que você se espantou quando revelei o nome dela...
- Ah, é que pareceu ser o nome de alguém que a gente conhece, mas ela
não tem nada a ver com essa senhora da foto, pode ter certeza.
Alguns minutos depois.
- Ainda estou boquiaberta – disse Sabrina.
- E eu você nem imagina. Se Magry souber disso... Você já parou para
pensar em quantas coisas esquisitas tem acontecido em Igarapé Grande
ultimamente?
- Desde que você começou com aquela história do Escorpião...
- Falando nisso, você tem alguma idéia por que a biblioteca do professor
estava infestada desses bichos
repugnantes?
- Tenho me esforçado, mas não sai nada. Nunca vi escorpião aqui em
Igarapé Grande, mas lá na biblioteca parecia ser um criadouro.
- Estranho, muito estranho – Morganne virou-se - O que é, garoto?
Um menino se aproximou e entregou algo para Morganne.
- Aquele moço disse pra entregar isso pro senhor.
O jovem SETE recebeu o papel e olhou para um motoqueiro
distante, cujo rosto estava escondido pelo capacete. Abriu o papel e arregalou
os olhos. Estava escrito:
“ESQUEÇAM ESSA
HISTÓRIA. ESQUEÇAM A BIBLIOTECA. VOCÊS E SEUS AMIGOS ESTÃO NUMA TRILHA MUITO
PERIGOSA. DEVOLVAM O MEDALHÃO COM O ESCORPIÃO DOURADO O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL.
DEIXEM O MEDALHÃO DENTRO DE UMA CAIXA DE SAPATOS DEBAIXO DA VELHA PONTE.”
- Era só o que faltava – Quando
ele olhou novamente, o motoqueiro tinha desaparecido.
- Que foi desta vez, Morganne?
- Leia você mesma. A coisa se complica.
*******
Morganne estava diante de alguns SETES, mostrando o
bilhete que recebera do misterioso motoqueiro.
- Ao que parece o
caso “escorpião dourado” está esquentando.
- Será que esse
motoqueiro é o mesmo hóspede desaparecido? – Perguntou Scapelly.
- Ao que tudo
indica – respondeu Diego – ele é quem estava usando um medalhão parecido.
Portanto...
- E ontem na
biblioteca do professor? Será que a sombra que vi atravessando o corredor não
poderia ser do nosso “hóspede desaparecido”? – Perguntou Sabrina.
- Vocês estiveram
lá? Que audácia, hein? – Admirou-se Vanessa.
- Qual o plano de
guerra agora, Morganne? – Perguntou Brigitte.
- Como se não
bastasse este bilhete, hoje eu e Sabrina conhecemos uma pessoa recém chegada em
nossa cidade.
E Morganne conta do encontro com Yasmin. Depois
resolveu contar também do sonho.
- Que esquisito –
exclamou Brigitte – Você é perturbado por uma série de pesadelos relacionados
ao Titanic e no dia seguinte a professora Sophie toca no assunto; como se não
bastasse chega alguém na cidade que é igualzinha à mulher que você viu no
sonho; como se tudo isso fosse pouco, essa tal de Yasmin mostra a foto de um
velho que se parece com você – e é justamente parente do tal Reverendo do
sonho; e finalizando, Yasmin diz que a tal mulher da foto tem o nome igualzinho
ao de nossa amiga Magry. Não acham que há uma relação entre todos esses fatos?
- Parece que
estamos envolvidos numa teia de mistérios da forma como sempre sonhamos no
Arquivo 7 – disse Vanessa sorrindo.
- E quem terá as
respostas dessas charadas? – Perguntou Scapelly.
- Pra mim, há uma
pessoa que deve ser a chave de muitos mistérios: NOSSA QUERIDA PROFESSORA
SOPHIE – disse Sabrina.
- Sophie? É, também
acho – concordou Morganne.
- Sempre achei essa
professorinha bonita e misteriosa ao mesmo tempo – falou Diego, sorrindo.
*******
- Você poderia
responder uma curiosidade indiscreta?
- Sim, não tenho
medo de perguntas indiscretas – respondeu Magry – primeiro: não sou obrigada a
responder; segundo: gosto de responder qualquer pergunta que alguém me faça, a
fim de ganhar sua confiança; e terceiro: gosto de ver a reação das pessoas
diante das minhas respostas.
Sophie
sorriu e perguntou:
- Sei que a
Filosofia 7 zela também pelas questões morais. Assim sendo, com certeza vocês
consideram a virgindade uma coisa sagrada – Sophie fez silêncio por alguns
segundos, e depois de dar alguns passos, olhou nos olhos de Magry e perguntou –
As meninas do Arquivo 7 são virgens?
*******
Stanville estava muito preocupado. Tentou ligar para
Morganne várias vezes, mas não conseguiu. Resolveu investigar a fundo a
história da pessoa que estava enterrada naquele pequeno cemitério e usava o
nome de Sophie Soran.
*******
Dois dias depois.
Era uma noite de grande tempestade. Os ventos e os
raios eram tão fortes que parecia o fim do mundo. Morganne desceu às escadas
com muita pressa. O coração estava aos saltos. Tinha grande medo de chegar
tarde demais. No final do comprido corredor havia mais uma porta. Ao
escancará-la, se segurou para não desmaiar de tanto terror. Sobre uma mesa
comprida havia uma pessoa amarrada pelos pés e pulsos. Sangue estava sendo
derramado da mesa para o chão como se fosse água. Morganne se aproximou
tremendo e ficou chocado. Toda a pele de Magry (dos dois braços, e das duas
pernas) estava arrancada. Ela parecia desmaiada ou morta. Talvez não tivesse
suportado tanta dor.
Sem saber o que fazer, ele fica paralisado durante
alguns segundos. Ouve passos de alguém se aproximando.
- Oi, querido.
Estava esperando você.
Vestida
numas roupas negras estava Sophie, segurando na mão direita algo como um
bisturi. Suas vestes e o bisturi estavam manchados de sangue.
- Ela... ela
está... ela está ... morta? – Morganne fez toda a força possível para
pronunciar algumas palavras.
- Está – respondeu
Sophie, sem pestanejar – ela perdeu muito sangue e era fraca, muito fraca.
- Não acredito que
isto esteja acontecendo.
- Mas está.
- Por quê? Por quê?
Por quê? – Ele colocou as duas mãos na cabeça, desesperado.
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