terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

CAPÍTULO 8 - UM SOPRO GELADO QUE VEM DAS PROFUNDEZAS

Stanville ia saindo, quando algo lhe inquietou. Sem saber explicar o porque, resolveu entrar no pequeno e antigo cemitério. Durante alguns minutos passeou por entre os túmulos, sentindo sempre aquela sensação estranha.

“Deus, o que queres me dizer?”. Cerca de quinze minutos depois ele parou. Estava diante de um túmulo, cuja lápide dizia:

SOPHIE SORAN
1958 – 1980

Naquele momento sentiu um arrepio tão forte, que todo seu corpo tremeu. “Que é isso?”. Imediatamente lembrou-se de um versículo bíblico do livro de Jó:

“ENTÃO UM ESPÍRITO PASSOU POR DIANTE DE MIM; ARREPIARAM-SE OS CABELOS DO MEU CORPO.” (Jó 4.15).

Sobre a lápide havia também uma foto um pouco antiga, mais ainda nítida. Mostrava uma bela moça, aparentando ter entre 18 e 20 anos. Conforme a data na lápide, ela tinha morrido com a idade de 22 anos. Stanville ficou ainda mais intrigado. “Por que será que Morganne quer informações sobre uma morta? Será alguma investigação do Arquivo 7? E por que estou todo arrepiado? Acho melhor sair daqui.”


*******

Yasmin conversou bastante com Morganne e Sabrina, a respeito de muitas coisas, mas sempre evitando detalhes sobre a misteriosa mulher da foto. Mas Morganne arriscou-se a perguntar:

- Vocês são amigas há muito tempo?

- Sim, na verdade estudamos todo o colegial juntas. Perdemos o contato há muito tempo, mas recentemente tive noticias dela.

- Como é mesmo o nome dela?

A moça empalideceu, e tentou disfarçar com um sorriso amarelo.

- Nossa, falamos sobre tantas coisas, e me esqueci justamente de dizer o nome da mulher que estou procurando. O nome dela é... Madeleine Magry.

- O quê?! Você está brincando!

*******

Na casa de Sophie.

- Uma das coisas que sempre gostei de estudar foi sobre a beleza, especialmente a beleza feminina. Sabe, eu fico depressiva ao refletir sobre a brevidade da beleza. Nascemos belos, crescemos belos, mas morremos velhos, enrugados, doentes, estragados,...

Magry ouvia com atenção, enquanto Sophie falava.

- Por que não vivemos para sempre? Muitos acham essa vida bela, mas eu acho um  fardo muito pesado, uma droga mesmo. Não dá pra viver sabendo que daqui a pouco iremos morrer.

As palavras de Sophie estavam carregadas de pessimismo e melancolia. Magry começava a não se sentir bem.

- Será que não há alguma fórmula de juventude eterna? Já descobrimos a cura para tantas doenças, e por que não para a velhice, a morte?

- De acordo com a Bíblia a morte é conseqüência do pecado e...

- Já sei o resto. Jesus morreu para nos salvar e agora só precisamos acreditar nele e aguardar o dia da nossa morte para irmos para o céu, não é isso? – Ela falava com muito desprezo.

- Não é bem assim. Infelizmente a religião Cristã fez um grande estrago com a mensagem do Evangelho de Jesus, mas felizmente Deus não permitiu que Sua Palavra fosse destruída, e por isso, hoje sabemos a verdade. O Evangelho não é nada disso que nossos avós nos ensinaram, mas é uma mensagem viva e real, que pode solucionar todos os problemas espirituais da Humanidade.

- Invejo a sua fé, Magry. Eu não consigo ser assim.

- Por que você quer fundar essa Sociedade Feminina e para quê?

- Ah, me desculpe. Bom, creio que há muitas mulheres por aqui que gostariam de ter um lugar agradável e discreto para desabafar, contar seus problemas, repartir seus problemas e, principalmente, discutir assuntos relacionados à beleza feminina.

- Você já fez parte de alguma sociedade assim?

- Sim, e foi muito bom – Sophie tremeu ao dizer isto e Magry percebeu.

- Acho uma boa idéia. A gente poderia até patrocinar alguns eventos, tais como convidar alguém importante para falar sobre assuntos relacionados a mulher e coisa parecida – disse Magry.

Os olhos de Sophie brilharam novamente, só que de uma forma que fez Magry sentir um forte calafrio.

*******

Yasmin se despedia dos dois SETES.

- Adorei conhecer vocês. Onde poderemos nos encontrar novamente, conversar mais, trocar idéias?

- Pretende ficar muito tempo por aqui? – Perguntou Morganne.

- Não sei. Depende do resultado de minha busca. Se eu encontrar Magry logo... É estranho vocês não conhecerem ela. Pelo que notei esta é uma cidade tão pequena e...

- Onde todos se conhecem, não é? Mas ela está crescendo. Talvez sua amiga seja daquele tipo que vive mais trancada em casa, ou sai somente nos finais de semana, para a igreja...

- Parece que você se espantou quando revelei o nome dela...

- Ah, é que pareceu ser o nome de alguém que a gente conhece, mas ela não tem nada a ver com essa senhora da foto, pode ter certeza.

Alguns minutos depois.

- Ainda estou boquiaberta – disse Sabrina.

- E eu você nem imagina. Se Magry souber disso... Você já parou para pensar em quantas coisas esquisitas tem acontecido em Igarapé Grande ultimamente?

- Desde que você começou com aquela história do Escorpião...

- Falando nisso, você tem alguma idéia por que a biblioteca do professor estava infestada desses  bichos repugnantes?

- Tenho me esforçado, mas não sai nada. Nunca vi escorpião aqui em Igarapé Grande, mas lá na biblioteca parecia ser um criadouro.

- Estranho, muito estranho – Morganne virou-se - O que é, garoto?

Um menino se aproximou e entregou algo para Morganne.

- Aquele moço disse pra entregar isso pro senhor.

O jovem SETE recebeu o papel e olhou para um motoqueiro distante, cujo rosto estava escondido pelo capacete. Abriu o papel e arregalou os olhos. Estava escrito:

“ESQUEÇAM ESSA HISTÓRIA. ESQUEÇAM A BIBLIOTECA. VOCÊS E SEUS AMIGOS ESTÃO NUMA TRILHA MUITO PERIGOSA. DEVOLVAM O MEDALHÃO COM O ESCORPIÃO DOURADO O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL. DEIXEM O MEDALHÃO DENTRO DE UMA CAIXA DE SAPATOS DEBAIXO DA VELHA PONTE.”

- Era  só o que faltava – Quando ele olhou novamente, o motoqueiro tinha desaparecido.

- Que foi desta vez, Morganne?

- Leia você mesma. A coisa se complica.

*******

Morganne estava diante de alguns SETES, mostrando o bilhete que recebera do misterioso motoqueiro.
- Ao que parece o caso “escorpião dourado” está esquentando.
- Será que esse motoqueiro é o mesmo hóspede desaparecido? – Perguntou Scapelly.
- Ao que tudo indica – respondeu Diego – ele é quem estava usando um medalhão parecido. Portanto...
- E ontem na biblioteca do professor? Será que a sombra que vi atravessando o corredor não poderia ser do nosso “hóspede desaparecido”? – Perguntou Sabrina.
- Vocês estiveram lá? Que audácia, hein? – Admirou-se Vanessa.
- Qual o plano de guerra agora, Morganne? – Perguntou Brigitte.
- Como se não bastasse este bilhete, hoje eu e Sabrina conhecemos uma pessoa recém chegada em nossa cidade.

E Morganne conta do encontro com Yasmin. Depois resolveu contar também do sonho.
- Que esquisito – exclamou Brigitte – Você é perturbado por uma série de pesadelos relacionados ao Titanic e no dia seguinte a professora Sophie toca no assunto; como se não bastasse chega alguém na cidade que é igualzinha à mulher que você viu no sonho; como se tudo isso fosse pouco, essa tal de Yasmin mostra a foto de um velho que se parece com você – e é justamente parente do tal Reverendo do sonho; e finalizando, Yasmin diz que a tal mulher da foto tem o nome igualzinho ao de nossa amiga Magry. Não acham que há uma relação entre todos esses fatos?
- Parece que estamos envolvidos numa teia de mistérios da forma como sempre sonhamos no Arquivo 7 – disse Vanessa sorrindo.
- E quem terá as respostas dessas charadas? – Perguntou Scapelly.
- Pra mim, há uma pessoa que deve ser a chave de muitos mistérios: NOSSA QUERIDA PROFESSORA SOPHIE – disse Sabrina.
- Sophie? É, também acho – concordou Morganne.
- Sempre achei essa professorinha bonita e misteriosa ao mesmo tempo – falou Diego, sorrindo.

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- Você poderia responder uma curiosidade indiscreta?
- Sim, não tenho medo de perguntas indiscretas – respondeu Magry – primeiro: não sou obrigada a responder; segundo: gosto de responder qualquer pergunta que alguém me faça, a fim de ganhar sua confiança; e terceiro: gosto de ver a reação das pessoas diante das minhas respostas.
Sophie sorriu e perguntou:
- Sei que a Filosofia 7 zela também pelas questões morais. Assim sendo, com certeza vocês consideram a virgindade uma coisa sagrada – Sophie fez silêncio por alguns segundos, e depois de dar alguns passos, olhou nos olhos de Magry e perguntou – As meninas do Arquivo 7 são virgens?
*******

Stanville estava muito preocupado. Tentou ligar para Morganne várias vezes, mas não conseguiu. Resolveu investigar a fundo a história da pessoa que estava enterrada naquele pequeno cemitério e usava o nome de Sophie Soran.

*******

Dois dias depois.

Era uma noite de grande tempestade. Os ventos e os raios eram tão fortes que parecia o fim do mundo. Morganne desceu às escadas com muita pressa. O coração estava aos saltos. Tinha grande medo de chegar tarde demais. No final do comprido corredor havia mais uma porta. Ao escancará-la, se segurou para não desmaiar de tanto terror. Sobre uma mesa comprida havia uma pessoa amarrada pelos pés e pulsos. Sangue estava sendo derramado da mesa para o chão como se fosse água. Morganne se aproximou tremendo e ficou chocado. Toda a pele de Magry (dos dois braços, e das duas pernas) estava arrancada. Ela parecia desmaiada ou morta. Talvez não tivesse suportado tanta dor. 

Sem saber o que fazer, ele fica paralisado durante alguns segundos. Ouve passos de alguém se aproximando.
- Oi, querido. Estava esperando você.
Vestida numas roupas negras estava Sophie, segurando na mão direita algo como um bisturi. Suas vestes e o bisturi estavam manchados de sangue.
- Ela... ela está... ela está ... morta? – Morganne fez toda a força possível para pronunciar algumas palavras.
- Está – respondeu Sophie, sem pestanejar – ela perdeu muito sangue e era fraca, muito fraca.
- Não acredito que isto esteja acontecendo.
- Mas está.

- Por quê? Por quê? Por quê? – Ele colocou as duas mãos na cabeça, desesperado.

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