domingo, 15 de fevereiro de 2015

CAPÍTULO 5 - CORAÇÕES EM CHAMAS

A tristeza era grande. O incêndio não chegou a destruir a casa, mas queimou muitas coisas e, infelizmente, havia uma vítima: O professor Pike. Uma parte do seu corpo (inclusive seu rosto) estava queimada.
         Alguns dos SETES estavam no local da tragédia, inclusive Morganne. Ele tentava esconder dos outros que não estava normal. Mas sabia que isso era quase impossível, pois aqueles jovens espertos eram especialistas em descobrir a verdade dos fatos.
- Mas como é que aconteceu isso? – Diego, assim como os demais, estava chocado.
- Uma coisa está clara: o incêndio foi criminoso – disse Sabrina, aproximando-se.
- Que teoria é essa? – Morganne virou-se e olhou para ela.
- Eu e Scapelly descobrimos marcas de álcool em vários pontos estratégicos da casa.
- Mas não comentaram com ninguém estranho, certo? – Morganne falou bem baixinho, dando a entender que aquela informação era perigosa.
- Não comentamos com ninguém – assegurou Sabrina, logo acrescentando – mas será que não devemos informar à policia?
- Talvez seja melhor deixar que descubram sozinho. Isso não está me cheirando bem – disse Diego.
- Não é possível que o professor Pike esteja morto! – Exclamou Giovanna – como é que uma tragédia dessa foi acontecer? Por que ele não estava no aniversário de Sophie?
         Ao ouvir o nome Sophie, Morganne se agitou interiormente. Como era possível que ele tivesse se metido em tamanha enrascada?


*******
O professor Pike não tinha nenhum parente conhecido. Era apenas um antigo amigo de Dona Stefânia, um ex-colega universitário. Ele estava em Igarapé Grande, à convite dela. No dia seguinte, foi grande a comoção durante o funeral, pois o professor de História era muito querido pelos alunos, apesar de ser um tipo silencioso e misterioso. Todos davam o ocorrido como uma tragédia, mas os SETES estavam preocupados com a possibilidade de ter sido um incêndio criminoso, e por conseqüência, um homicídio.
         Enquanto o caixão estava sendo baixado à sepultura, os olhares de Sophie e Morganne se cruzaram. Dizem que às vezes um olhar diz mais do que mil palavras. E aqueles olhares pareciam dizer milhões. Morganne estava ao lado de Magry e esta apertou sua mão, bem forte. Aparentemente, somente Sabrina percebeu a misteriosa troca de olhares. Ela adorava analisar as pessoas pelo olhar. E naquele momento, olhando para Dona Stefânia, notou algo que a perturbou. Apesar dos olhos de Stefânia Seller estarem vermelhos de tanto chorar, Sabrina sentia que havia algo de errado naquelas lágrimas. Sua observação era forte, mas sua intuição era mais ainda.
         Morganne tentava tirar os olhos de Sophie, mas não podia. Sabrina estava inquieta. As pessoas estavam jogando terra sobre o caixão, mas parecia que havia muitas pessoas por ali cujos pensamentos estavam muito, muito longe. Havia muitos corações tristes naquela hora tão dramática. Mas também havia corações em chamas.
*******
No dia seguinte, Morganne, Diego e Sabrina estão na biblioteca do professor Pike. Morganne fez questão de ir até lá, porque queria espairecer um pouco, queria parar de pensar nos acontecimentos do dia anterior, na casa de Sophie.  A Biblioteca do professor Albert Pike tinha sido atingida também. O incêndio tinha destruído grande parte, mas felizmente alguns dos livros estavam intactos.
- Meu Deus! Quantos livros preciosos foram destruídos! – Exclamou Diego.
- Mas era preferível mil vezes que os livros fossem destruídos do que a vida de um ser humano - disse Sabrina, melancolicamente, com o olhar perdido em algum lugar da casa.
- É verdade – disse Diego, engolindo em seco.
- O que vocês fazem aqui?
Eles se assustaram com a entrada súbita do delegado Jonas.
- Desculpe, delegado – Morganne apressou-se em falar – queríamos apenas ver o estado das coisas. Já descobriram como aconteceu o incêndio?
- Bem, pouco antes do incêndio começar, algumas pessoas ouviram o som de uma explosão, como que de um botijão de gás explodindo. Acho que devia haver algum vazamento de gás.
- Então foi mesmo uma tragédia – disse Morganne.
- O que você queria que tivesse sido? – Perguntou o delegado, desconfiado.
- Não, nada não. É que às vezes a gente costuma imaginar coisas demais. Vamos sair daqui amigos.
Os três jovens saíram apressadamente, e o delegado andou de um lado para o outro, olhando com cuidado, como se procurasse alguma coisa.
Lá fora, Sabrina levou Morganne e Diego até um local deserto da rua e mostrou algo.
- Que negócio é esse?! – Espantou-se Morganne, diante de um medalhão dourado, com a figura de um escorpião no meio.
- Encontrei no canto da parede da biblioteca, atrás de uma mesa queimada, enquanto você conversava com o delegado.
- Que interessante – disse Diego pegando o medalhão – era só o que faltava: um escorpião.
- Será que o professor tinha algo a ver com aquelas mensagens? – Perguntou Sabrina.
- É muita coincidência – respondeu Morganne – mas eu nunca vi o professor Pike com esse medalhão.
- Talvez ficasse guardado na biblioteca o tempo todo – sugeriu Diego.
- Mas o que é que estamos fazendo? – Perguntou Sabrina – nosso professor está morto, e a gente pensando em mistérios.
- Mas a própria morte dele não foi misteriosa? – Disse Diego.
Naquele momento, Brigitte se aproximou e ao ver o medalhão na mão de Diego, disse:
- É igualzinho ao que Magry viu recentemente.
- Magry? Conte essa história direito – falou Morganne, em tom de preocupação.
*******
Magry apareceu e confirmou que o medalhão era igualzinho ao que ela tinha visto no pescoço do homem que havia chegado recentemente à cidade.
- E onde ele está agora? – Perguntou Morganne.
- Certamente hospedado naquele projeto de hotel – sugeriu Diego, com ironia.
- Sabe que estou com a maior vontade de ir lá agora? – Falou Morganne, logo acrescentando – Não sei o porque, mas algo está me dizendo que a morte do professor não foi um acidente.
- Será que não estamos imaginando coisas? – Perguntou Brigitte – Gostamos de enigmas, mistérios, mas isso aí é coisa séria, gente.
- E por acaso o que nós estudamos nos Arquivos 7 não é? – Perguntou Diego, demonstrando certa irritação.
- Não quis dizer isso – desculpou-se Brigitte – mas esse negócio de se envolver com coisas que diz respeito à policia não me cheira bem.
- Olha, nós só queremos esclarecer umas coisinhas – disse Morganne – ninguém mais precisa ficar sabendo. Se esse medalhão não tivesse aparecido, eu não estaria tão intrigado com o que aconteceu. Mas vocês não acham que é coincidência demais, um medalhão com a figura de um escorpião?
- Tá bom – concordou Brigitte – vamos ao hotel então.
- Não, nada disso – cortou Morganne – pra que tanta gente? Bastam duas pessoas, senão vai chamar atenção demais e...
- Tá certo, chefe. Quem vai então? – Perguntou Brigitte.
- Eu e o Diego. Sem problemas?
As meninas concordaram, embora contra a vontade e os dois rapazes saíram. Logo em seguida, Brigitte virou-se para Sabrina e Magry e falou:
- E aquelas misteriosas mensagens do Escorpião? O que será que elas querem dizer mesmo?
*******
- Olha, o único hóspede que temos chegou recentemente, mas é um sujeito esquisito – informou o dono do hotel – O nome dele é Ubiratan, vendedor de livros. Disse que é do Rio de Janeiro.
- E onde ele está agora? – Perguntou Morganne.
- Eu também gostaria de saber. Ele saiu ontem, de manhã cedo, e até agora não voltou.
- Verdade? Que estranho.
- Talvez esteja bêbado por aí.
- Mas será que ele não foi embora?
- Impossível. As coisas dele estão no quarto.
- O senhor poderia nos falar mais desse hóspede?
- Por que esse interesse?
- É que... – Morganne não poderia dizer  a verdade, mas também não poderia mentir – Bem, estamos procurando o dono de uma coisa que encontramos, e um amigo nosso garantiu que é desse moço que chegou agora...
         O hoteleiro olhou para os dois rapazes de forma desconfiada, mas depois sorriu e respondeu:
- Bem, a única pessoa por quem ele perguntou, e até me mostrou a foto, foi pelo... pelo finado professor Pike.
Morganne estremeceu e olhou para Diego. Depois olhou novamente para o hoteleiro e agradeceu pelas informações:
- Bem, vamos ver se encontramos ele por aí. Obrigado, seu Paulo.
*******
Minutos depois, longe dali.
- Cara, que negócio esquisito – Morganne falava com Diego – Um sujeito chega na cidade, procurando pelo professor Pike, e usando um estranho medalhão no pescoço. Acontece algo inusitado, a casa do professor pega fogo, ele morre tentando salvar alguns documentos, e perto do seu corpo é encontrado um medalhão igual ao do desconhecido. Coincidências?
- É esquisito mesmo. E o que faremos com essas informações? Vamos passar para o delegado?
- Não sei. Isso só iria complicar a vida da gente. Primeiro, ele perguntaria como descobrimos isso, depois... sei não. É muito complicado. E tem o tal Escorpião que vem nos enviando mensagens enigmáticas.
- Mas eu acho que o Escorpião das mensagens não tem nada a ver com o sujeito recém chegado, pois as mensagens começaram a ser enviadas desde a semana passada.
- Você está certo. Que tal reunirmos o pessoal hoje?
- Na Biblioteca 7?
- E onde mais, seu cabeçudo?
*******
Todos estavam na Biblioteca 7. Após a chegada do último, Morganne começa a falar.
- Bem, gente, há algo muito sério para discutimos hoje. É sobre a morte do professor Pike.
- Um momento, Morganne – Sabrina se levanta, aproxima-se do centro e continua – antes de começarmos a discutir sobre essa tragédia estranha, tenho algo pra falar. Ou melhor, eu, Magry, Vanessa, Brigitte, Giovanna e Melissa, temos algo pra falar. Já sabemos quem é o Escorpião.
Todos os rapazes tomaram um susto.
- Como? – Perguntou Morganne.
- Antes mesmo da tragédia recente, já tínhamos uma certa idéia sobre esse personagem misterioso.
*******
Alguns dias antes...
- Se nós fomos capazes de desvendar aqueles seis enigmas, acho que não teremos muitas dificuldades com estes - disse Brigitte, mostrando a Melissa cópias das primeiras mensagens enviadas pelo Escorpião.
- Com certeza – concordou Melissa - Os rapazes talvez já tenham desvendado o código, mas com certeza estão se aproveitando disso para nos desafiar também.
- Por isso não acho certo esperarmos até a próxima reunião. Vamos tentar resolver isso de uma vez por todas e dar uma lição não somente no Escorpião, mas nos nossos amigos SETES.
Então, elas usaram de todo seu potencial mental para decifrar as duas primeiras mensagens.
A primeira mensagem enviada pelo Escorpião.
“ESTA É A 8.ª PALAVRA-CHAVE.
HELMUT KOHL - BENAZIR BHUTTO – LECH WALESA – MUAMMAR AL-KADAFI – ANWAR AL SADAT”.
- Quando Magry identificou todos esses nomes estranhos, facilitou muito nosso trabalho – disse Brigitte – você está lembrada das palavras dela?
- Sim, pelo que ela disse esse Helmut Kohl é um político importante na Alemanha; Benazir Bhutto, do Paquistão; Lech Walesa, da Polônia; Muammar Al-Kadafi, da Líbia e Anwar Al-Sadat, do Egito.
- Eu também já sabia disso. Acho que o esquema está no nome dos países.
- Então façamos assim – Melissa escreveu da seguinte forma:
·        HELMUT KOHL – ALEMANHA
·        BENAZIR BHUTTO – PAQUISTÃO
·        LECH WALESA – POLONIA
·        MUAMMAR AL-KADAFI – LIBIA
·        ANWAR AL SADAT - EGITO
- Agora, vamos destacar as letras iniciais dos paises – Brigitte soletrou letra por letra, cada vez mais excitada – A, P, P, L, E, APPLE! É a palavra MAÇÃ, em inglês!
- Beleza! Vamos ao outro enigma.
A segunda mensagem do Escorpião.
“A 7.ª PALAVRA CHAVE ESTÁ AQUI: 149 – 197 – 859 – 357”.
- Esse parece ser mais complicado – disse Melissa.
- Tenho a impressão de já ter visto esse número 357 em algum lugar relacionado à coisas interessantes.
- Algum valor de palavra?
- Talvez. Deixe-me procurar aqui – alguns minutos depois, Brigitte voltou com um grande bloco de papel – Tenho aqui a relação de muitos valores de palavras, do número 30 ao número 500. Não, não existe esse número aqui.
- Poderia ser um número bíblico – sugeriu Melissa.
- Talvez. Mas como faremos pra encontrá-lo? Só se tivéssemos uma relação que... – os olhos de Brigitte brilharam de repente – ah! Temos sim – ela voltou logo depois com mais papéis – achei tão interessante quando vi isso aqui na Biblioteca 7 que tirei uma cópia pra mim.
Elas examinaram uma grande lista, com todos os números que aparecem na Bíblia, do número 1 até o número 200.000.000 (que é o maior a aparecer). Mas não havia o número 357.
- É, parece que esse número não aparece na Bíblia – disse Brigitte, desanimada.
- Capítulo não é – falou Melissa, olhando para o telhado, e andando de um lado para o outro – versículo muito menos. O maior capítulo da Bíblia (Salmo 119) tem 176 versículos somente. Mas se esse Escorpião colocou esse número aí é porque tem certeza de que ele nos é familiar.
- Espera ai. Você falou em número de versículos, certo? E se fosse a quantidade de versículos por livros da Bíblia?
- É, amiga. Pode ser. Nesse caso, temos dois livros não muito grandes, pois temos aqui os números 197 e 149, e há livros na Bíblia com mais de 2000 versículos. Isso vai dar trabalho, pois teremos de somar todos os versículos que...
- Não, não precisa. Tenho aqui uma cópia de uma tabela que também encontrei na Biblioteca 7 – Brigitte apanhou umas pastas e dois minutos depois, encontrou o que queria.
- Vamos ver aqui – Melissa correu os olhos rapidamente e soltou um grito – Está aqui! Está aqui! Veja o livro de Levitico tem 859 versículos... vejamos o próximo. Está aqui. Daniel tem 357 versículos...
- Ah, agora lembrei. Certa vez ouvi alguém pregando sobre o livro de Daniel e falou que esse livro tinha 357 versículos. Por isso que eu tinha certeza de já tê-lo visto antes.
- O próximo é Oséias com 197 versículos e por último temos... vejamos... deve ser no Novo Testamento... Mateus, Marcos, Lucas, João,... Atos,...Romanos, I Corintios, II Corintios, Gálatas,...Gálatas? Sim, Gálatas tem 149 versículos. Os rapazes vão morrer de inveja!
Elas montaram a seguinte tabela:
·        149 – GÁLATAS
·        197 – OSÉIAS
·        859 – LEVITICO
·        357 – DANIEL
- Destacando-se as primeiras letras, teremos: G – O – L – D. GOLD?
- Sim, OURO, em inglês – disse Melissa.
- Ah, então a palavra chave é OURO. Maravilha. Vamos procurar as outras meninas. A identidade do Escorpião está prestes a ser revelada.
*******
Voltando ao tempo presente.
- E com todas as oito palavras chave em nossas mãos, tínhamos agora a chance de decifrar toda a charada – disse Sabrina. Ela anotou no quadro todas as oito palavras encontradas.
- OURO
- MAÇÃ
- ESCORPIÃO
- ÁGUIA
- NAVIO
- NEVE
- GALO
- REI
- Aparentemente essas palavras não querem dizer nada, não possuem nenhuma ligação entre si. Mas ficamos imaginando o que o Escorpião quis dizer ao enviar a primeira mensagem, dizendo que era a 8.ª palavra. Então, tivemos a inspiração de que, talvez cada palavra indicasse uma letra, para assim formar um nome. Então, destacamos a primeira letra das 8 palavras e descobrimos a verdade. Quem diria, hein? – Observando a curiosidade expressa no olhar de cada um dos rapazes, Sabrina sorriu e concluiu: - Tudo leva a uma só direção. Senhoras e senhores, o Escorpião é...

         Ela suspendeu a frase, e se divertiu com a extrema ansiedade expressa nos rostos dos rapazes do Arquivo 7.

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