A
tristeza era grande. O incêndio não chegou a destruir a casa, mas queimou
muitas coisas e, infelizmente, havia uma vítima: O professor Pike. Uma parte do
seu corpo (inclusive seu rosto) estava queimada.
Alguns dos SETES estavam no local da
tragédia, inclusive Morganne. Ele tentava esconder dos outros que não estava
normal. Mas sabia que isso era quase impossível, pois aqueles jovens espertos
eram especialistas em descobrir a verdade dos fatos.
- Mas como é que
aconteceu isso? – Diego, assim como os demais, estava chocado.
- Uma coisa está
clara: o incêndio foi criminoso – disse Sabrina, aproximando-se.
- Que teoria é
essa? – Morganne virou-se e olhou para ela.
- Eu e Scapelly
descobrimos marcas de álcool em vários pontos estratégicos da casa.
- Mas não
comentaram com ninguém estranho, certo? – Morganne falou bem baixinho, dando a
entender que aquela informação era perigosa.
- Não comentamos
com ninguém – assegurou Sabrina, logo acrescentando – mas será que não devemos
informar à policia?
- Talvez seja
melhor deixar que descubram sozinho. Isso não está me cheirando bem – disse
Diego.
- Não é possível
que o professor Pike esteja morto! – Exclamou Giovanna – como é que uma
tragédia dessa foi acontecer? Por que ele não estava no aniversário de Sophie?
Ao ouvir o nome Sophie, Morganne se
agitou interiormente. Como era possível que ele tivesse se metido em tamanha
enrascada?
*******
O
professor Pike não tinha nenhum parente conhecido. Era apenas um antigo amigo
de Dona Stefânia, um ex-colega universitário. Ele estava em Igarapé Grande, à
convite dela. No dia seguinte, foi grande a comoção durante o funeral, pois o
professor de História era muito querido pelos alunos, apesar de ser um tipo
silencioso e misterioso. Todos davam o ocorrido como uma tragédia, mas os SETES
estavam preocupados com a possibilidade de ter sido um incêndio criminoso, e
por conseqüência, um homicídio.
Enquanto o caixão estava sendo baixado
à sepultura, os olhares de Sophie e Morganne se cruzaram. Dizem que às vezes um
olhar diz mais do que mil palavras. E aqueles olhares pareciam dizer milhões.
Morganne estava ao lado de Magry e esta apertou sua mão, bem forte.
Aparentemente, somente Sabrina percebeu a misteriosa troca de olhares. Ela
adorava analisar as pessoas pelo olhar. E naquele momento, olhando para Dona
Stefânia, notou algo que a perturbou. Apesar dos olhos de Stefânia Seller
estarem vermelhos de tanto chorar, Sabrina sentia que havia algo de errado
naquelas lágrimas. Sua observação era forte, mas sua intuição era mais ainda.
Morganne tentava tirar os olhos de
Sophie, mas não podia. Sabrina estava inquieta. As pessoas estavam jogando
terra sobre o caixão, mas parecia que havia muitas pessoas por ali cujos
pensamentos estavam muito, muito longe. Havia muitos corações tristes naquela
hora tão dramática. Mas também havia corações em chamas.
*******
No dia
seguinte, Morganne, Diego e Sabrina estão na biblioteca do professor Pike. Morganne
fez questão de ir até lá, porque queria espairecer um pouco, queria parar de
pensar nos acontecimentos do dia anterior, na casa de Sophie. A Biblioteca do professor Albert Pike tinha
sido atingida também. O incêndio tinha destruído grande parte, mas felizmente
alguns dos livros estavam intactos.
- Meu Deus! Quantos
livros preciosos foram destruídos! – Exclamou Diego.
- Mas era
preferível mil vezes que os livros fossem destruídos do que a vida de um ser
humano - disse Sabrina, melancolicamente, com o olhar perdido em algum lugar da
casa.
- É verdade – disse
Diego, engolindo em seco.
- O que vocês fazem
aqui?
Eles se
assustaram com a entrada súbita do delegado Jonas.
- Desculpe,
delegado – Morganne apressou-se em falar – queríamos apenas ver o estado das
coisas. Já descobriram como aconteceu o incêndio?
- Bem, pouco antes
do incêndio começar, algumas pessoas ouviram o som de uma explosão, como que de
um botijão de gás explodindo. Acho que devia haver algum vazamento de gás.
- Então foi mesmo
uma tragédia – disse Morganne.
- O que você queria
que tivesse sido? – Perguntou o delegado, desconfiado.
- Não, nada não. É
que às vezes a gente costuma imaginar coisas demais. Vamos sair daqui amigos.
Os três
jovens saíram apressadamente, e o delegado andou de um lado para o outro,
olhando com cuidado, como se procurasse alguma coisa.
Lá
fora, Sabrina levou Morganne e Diego até um local deserto da rua e mostrou
algo.
- Que negócio é
esse?! – Espantou-se Morganne, diante de um medalhão dourado, com a figura de
um escorpião no meio.
- Encontrei no
canto da parede da biblioteca, atrás de uma mesa queimada, enquanto você
conversava com o delegado.
- Que interessante
– disse Diego pegando o medalhão – era só o que faltava: um escorpião.
- Será que o
professor tinha algo a ver com aquelas mensagens? – Perguntou Sabrina.
- É muita
coincidência – respondeu Morganne – mas eu nunca vi o professor Pike com esse
medalhão.
- Talvez ficasse
guardado na biblioteca o tempo todo – sugeriu Diego.
- Mas o que é que
estamos fazendo? – Perguntou Sabrina – nosso professor está morto, e a gente
pensando em mistérios.
- Mas a própria
morte dele não foi misteriosa? – Disse Diego.
Naquele
momento, Brigitte se aproximou e ao ver o medalhão na mão de Diego, disse:
- É igualzinho ao
que Magry viu recentemente.
- Magry? Conte essa
história direito – falou Morganne, em tom de preocupação.
*******
Magry
apareceu e confirmou que o medalhão era igualzinho ao que ela tinha visto no
pescoço do homem que havia chegado recentemente à cidade.
- E onde ele está
agora? – Perguntou Morganne.
- Certamente
hospedado naquele projeto de hotel – sugeriu Diego, com ironia.
- Sabe que estou
com a maior vontade de ir lá agora? – Falou Morganne, logo acrescentando – Não
sei o porque, mas algo está me dizendo que a morte do professor não foi um
acidente.
- Será que não
estamos imaginando coisas? – Perguntou Brigitte – Gostamos de enigmas,
mistérios, mas isso aí é coisa séria, gente.
- E por acaso o que
nós estudamos nos Arquivos 7 não é? – Perguntou Diego, demonstrando certa
irritação.
- Não quis dizer
isso – desculpou-se Brigitte – mas esse negócio de se envolver com coisas que
diz respeito à policia não me cheira bem.
- Olha, nós só queremos
esclarecer umas coisinhas – disse Morganne – ninguém mais precisa ficar
sabendo. Se esse medalhão não tivesse aparecido, eu não estaria tão intrigado
com o que aconteceu. Mas vocês não acham que é coincidência demais, um medalhão
com a figura de um escorpião?
- Tá bom –
concordou Brigitte – vamos ao hotel então.
- Não, nada disso –
cortou Morganne – pra que tanta gente? Bastam duas pessoas, senão vai chamar
atenção demais e...
- Tá certo, chefe.
Quem vai então? – Perguntou Brigitte.
- Eu e o Diego. Sem
problemas?
As
meninas concordaram, embora contra a vontade e os dois rapazes saíram. Logo em
seguida, Brigitte virou-se para Sabrina e Magry e falou:
- E aquelas
misteriosas mensagens do Escorpião? O que será que elas querem dizer mesmo?
*******
- Olha, o único
hóspede que temos chegou recentemente, mas é um sujeito esquisito – informou o
dono do hotel – O nome dele é Ubiratan, vendedor de livros. Disse que é do Rio
de Janeiro.
- E onde ele está
agora? – Perguntou Morganne.
- Eu também
gostaria de saber. Ele saiu ontem, de manhã cedo, e até agora não voltou.
- Verdade? Que
estranho.
- Talvez esteja
bêbado por aí.
- Mas será que ele
não foi embora?
- Impossível. As
coisas dele estão no quarto.
- O senhor poderia
nos falar mais desse hóspede?
- Por que esse
interesse?
- É que... –
Morganne não poderia dizer a verdade,
mas também não poderia mentir – Bem, estamos procurando o dono de uma coisa que
encontramos, e um amigo nosso garantiu que é desse moço que chegou agora...
O hoteleiro olhou para os dois rapazes
de forma desconfiada, mas depois sorriu e respondeu:
- Bem, a única
pessoa por quem ele perguntou, e até me mostrou a foto, foi pelo... pelo finado
professor Pike.
Morganne
estremeceu e olhou para Diego. Depois olhou novamente para o hoteleiro e agradeceu
pelas informações:
- Bem, vamos ver se
encontramos ele por aí. Obrigado, seu Paulo.
*******
Minutos
depois, longe dali.
- Cara, que negócio
esquisito – Morganne falava com Diego – Um sujeito chega na cidade, procurando
pelo professor Pike, e usando um estranho medalhão no pescoço. Acontece algo
inusitado, a casa do professor pega fogo, ele morre tentando salvar alguns
documentos, e perto do seu corpo é encontrado um medalhão igual ao do
desconhecido. Coincidências?
- É esquisito
mesmo. E o que faremos com essas informações? Vamos passar para o delegado?
- Não sei. Isso só
iria complicar a vida da gente. Primeiro, ele perguntaria como descobrimos
isso, depois... sei não. É muito complicado. E tem o tal Escorpião que vem nos
enviando mensagens enigmáticas.
- Mas eu acho que o
Escorpião das mensagens não tem nada a ver com o sujeito recém chegado, pois as
mensagens começaram a ser enviadas desde a semana passada.
- Você está certo.
Que tal reunirmos o pessoal hoje?
- Na Biblioteca 7?
- E onde mais, seu
cabeçudo?
*******
Todos
estavam na Biblioteca 7. Após a chegada do último, Morganne começa a falar.
- Bem, gente, há
algo muito sério para discutimos hoje. É sobre a morte do professor Pike.
- Um momento,
Morganne – Sabrina se levanta, aproxima-se do centro e continua – antes de
começarmos a discutir sobre essa tragédia estranha, tenho algo pra falar. Ou
melhor, eu, Magry, Vanessa, Brigitte, Giovanna e Melissa, temos algo pra falar.
Já sabemos quem é o Escorpião.
Todos
os rapazes tomaram um susto.
- Como? – Perguntou
Morganne.
- Antes mesmo da
tragédia recente, já tínhamos uma certa idéia sobre esse personagem misterioso.
*******
Alguns
dias antes...
- Se nós fomos
capazes de desvendar aqueles seis enigmas, acho que não teremos muitas
dificuldades com estes - disse Brigitte, mostrando a Melissa cópias das
primeiras mensagens enviadas pelo Escorpião.
- Com certeza –
concordou Melissa - Os rapazes talvez já tenham desvendado o código, mas com
certeza estão se aproveitando disso para nos desafiar também.
- Por isso não acho
certo esperarmos até a próxima reunião. Vamos tentar resolver isso de uma vez
por todas e dar uma lição não somente no Escorpião, mas nos nossos amigos
SETES.
Então,
elas usaram de todo seu potencial mental para decifrar as duas primeiras
mensagens.
A
primeira mensagem enviada pelo Escorpião.
“ESTA É A 8.ª PALAVRA-CHAVE.
HELMUT KOHL - BENAZIR BHUTTO – LECH WALESA – MUAMMAR AL-KADAFI –
ANWAR AL SADAT”.
- Quando Magry
identificou todos esses nomes estranhos, facilitou muito nosso trabalho – disse
Brigitte – você está lembrada das palavras dela?
- Sim, pelo que ela
disse esse Helmut Kohl é um político importante na Alemanha; Benazir Bhutto, do
Paquistão; Lech Walesa, da Polônia; Muammar Al-Kadafi, da Líbia e Anwar
Al-Sadat, do Egito.
- Eu também já sabia
disso. Acho que o esquema está no nome dos países.
- Então façamos
assim – Melissa escreveu da seguinte forma:
·
HELMUT KOHL – ALEMANHA
·
BENAZIR BHUTTO – PAQUISTÃO
·
LECH WALESA – POLONIA
·
MUAMMAR
AL-KADAFI – LIBIA
·
ANWAR
AL SADAT - EGITO
- Agora, vamos
destacar as letras iniciais dos paises – Brigitte soletrou letra por letra,
cada vez mais excitada – A, P, P, L, E, APPLE! É a palavra MAÇÃ, em inglês!
- Beleza! Vamos ao
outro enigma.
A
segunda mensagem do Escorpião.
“A 7.ª PALAVRA CHAVE ESTÁ AQUI: 149 – 197 –
859 – 357”.
- Esse parece ser
mais complicado – disse Melissa.
- Tenho a impressão
de já ter visto esse número 357 em algum lugar relacionado à coisas
interessantes.
- Algum valor de
palavra?
- Talvez. Deixe-me
procurar aqui – alguns minutos depois, Brigitte voltou com um grande bloco de
papel – Tenho aqui a relação de muitos valores de palavras, do número 30 ao
número 500. Não, não existe esse número aqui.
- Poderia ser um
número bíblico – sugeriu Melissa.
- Talvez. Mas como
faremos pra encontrá-lo? Só se tivéssemos uma relação que... – os olhos de
Brigitte brilharam de repente – ah! Temos sim – ela voltou logo depois com mais
papéis – achei tão interessante quando vi isso aqui na Biblioteca 7 que tirei
uma cópia pra mim.
Elas
examinaram uma grande lista, com todos os números que aparecem na Bíblia, do
número 1 até o número 200.000.000 (que é o maior a aparecer). Mas não havia o
número 357.
- É, parece que
esse número não aparece na Bíblia – disse Brigitte, desanimada.
- Capítulo não é –
falou Melissa, olhando para o telhado, e andando de um lado para o outro –
versículo muito menos. O maior capítulo da Bíblia (Salmo 119) tem 176
versículos somente. Mas se esse Escorpião colocou esse número aí é porque tem
certeza de que ele nos é familiar.
- Espera ai. Você
falou em número de versículos, certo? E se fosse a quantidade de versículos por
livros da Bíblia?
- É, amiga. Pode
ser. Nesse caso, temos dois livros não muito grandes, pois temos aqui os
números 197 e 149, e há livros na Bíblia com mais de 2000 versículos. Isso vai
dar trabalho, pois teremos de somar todos os versículos que...
- Não, não precisa.
Tenho aqui uma cópia de uma tabela que também encontrei na Biblioteca 7 –
Brigitte apanhou umas pastas e dois minutos depois, encontrou o que queria.
- Vamos ver aqui –
Melissa correu os olhos rapidamente e soltou um grito – Está aqui! Está aqui!
Veja o livro de Levitico tem 859 versículos... vejamos o próximo. Está aqui.
Daniel tem 357 versículos...
- Ah, agora
lembrei. Certa vez ouvi alguém pregando sobre o livro de Daniel e falou que
esse livro tinha 357 versículos. Por isso que eu tinha certeza de já tê-lo
visto antes.
- O próximo é
Oséias com 197 versículos e por último temos... vejamos... deve ser no Novo
Testamento... Mateus, Marcos, Lucas, João,... Atos,...Romanos, I Corintios, II
Corintios, Gálatas,...Gálatas? Sim, Gálatas tem 149 versículos. Os rapazes vão
morrer de inveja!
Elas
montaram a seguinte tabela:
·
149 – GÁLATAS
·
197 – OSÉIAS
·
859 – LEVITICO
·
357 – DANIEL
- Destacando-se as
primeiras letras, teremos: G – O – L – D. GOLD?
- Sim, OURO, em
inglês – disse Melissa.
- Ah, então a
palavra chave é OURO. Maravilha. Vamos procurar as outras meninas. A identidade
do Escorpião está prestes a ser revelada.
*******
Voltando
ao tempo presente.
- E com todas as
oito palavras chave em nossas mãos, tínhamos agora a chance de decifrar toda a
charada – disse Sabrina. Ela anotou no quadro todas as oito palavras
encontradas.
- OURO
- MAÇÃ
- ESCORPIÃO
- ÁGUIA
- NAVIO
- NEVE
- GALO
- REI
- Aparentemente
essas palavras não querem dizer nada, não possuem nenhuma ligação entre si. Mas
ficamos imaginando o que o Escorpião quis dizer ao enviar a primeira mensagem,
dizendo que era a 8.ª palavra. Então, tivemos a inspiração de que, talvez cada
palavra indicasse uma letra, para assim formar um nome. Então, destacamos a
primeira letra das 8 palavras e descobrimos a verdade. Quem diria, hein? –
Observando a curiosidade expressa no olhar de cada um dos rapazes, Sabrina
sorriu e concluiu: - Tudo leva a uma só direção. Senhoras e senhores, o
Escorpião é...
Ela suspendeu a frase, e se divertiu
com a extrema ansiedade expressa nos rostos dos rapazes do Arquivo 7.
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