sábado, 15 de novembro de 2014

CAPÍTULO 23 - O NASCIMENTO DE UM PESADELO

UNIVERSIDADE GALILEU, PORTO ALEGRE, BRASIL, 2008.

Eliakim apontou para um estudante chamado Richardson e pediu:

- Você poderia vir até aqui e escrever um número qualquer formado por 15 algarismos?

Richardson hesitou, mas pressionado pelos olhares atentos de todos, atendeu. Ele aproximou-se do quadro e escreveu:

245.783.852.491.123

- De onde você tirou tal número?

- Escrevi o que me veio na cabeça.

- Ok. Agora some grupo com grupo.

245 + 783 + 852 + 491 + 123 = 2494

- Muito bem. Agora inverta os números de cada grupo, e some novamente.

542 + 387 + 258 + 194 + 321 = 1702

- Pegue todos os algarismos que estão no centro e os coloque na frente de cada grupo.

452 + 837 + 528 + 914 + 231 = 2962

- O que você pretende com esses cálculos sem sentido? – Perguntou Miranda.


- Por que os resultados das três operações não foram iguais? – Indagou Eliakim, olhando para Miranda.

- E como poderia ser? Os algarismos foram mudados de posição nas três operações. O resultado tinha que ser diferente. A não ser que fossem algarismos iguais, tipo 333.333.333.333.333...

- O senhor quer dizer que, qualquer operação (mesmo que sejam usados os mesmos algarismos), se mudarmos a posição deles todas as vezes que executarmos uma nova operação, o resultado sempre dará diferente?

- Claro! O resultado de 123 + 789 sempre será diferente de 321 + 987! – Sentenciou Miranda.

- O senhor estaria disposto a apostar a vida nessa afirmativa?

- Claro que não! Talvez exista algum número capaz de realizar essa proeza imaginada por você. Os números são infinitos e eu não tenho tempo e nem paciência de ficar procurando essas artimanhas numéricas que não servem praticamente para nada.

- Será que não servem mesmo? – Eliakim sorriu novamente - Se existir um número formado por 15 algarismos capaz de realizar a proeza que estamos procurando, quanto tempo você acha que alguém levaria para descobrir?

- Bom, partindo do número 100.000.000.000.000 (que é o menor número formado por 15 algarismos), até o número 999.999.999.999.999 (o maior), teremos 899.999.999.999.999 números diferentes. Para encontrarmos um número formado por 15 algarismos (5 grupos de 3), cujo resultado seja igual à soma dos números invertidos, precisaríamos tentar inúmeras vezes, ou no mínimo, MAIS DE 800 TRILHÕES DE VEZES! Quem seria doido para gastar sua vida numa tarefa tão inútil e estúpida?

- Mas eu conheço alguém que encontrou.

- Teve sorte. Igual a alguém que acerta sozinho a mega sena. Veja bem. Mesmo que você gaste apenas um minuto fazendo uma operação simples (somando os 5 grupos de 3 algarismos de cada operação), durante um dia inteiro você só seria capaz de fazer 1440 operações diferentes, totalizando 525.600 no ano todo. Para analisar todas as 800 trilhões de possibilidades, você (trabalhando dia e noite sem parar) precisaria de aproximadamente 2.191.780.821.917 de anos para executar tal loucura e descobrir se existe esse número encantado.

- Ou seja, é impossível!

- A não ser que você crie um programa de computador que faça esse cálculo. Não sei quanto tempo levaria, mas acredito que em bem pouco tempo o computador faria todas as operações.

- Muito bem, mestre. Estou satisfeito com suas explicações. Mas não precisarei fazer nenhum sacrifício. Eu conheço o tal número encantado.

- Como?

- Observe o senhor mesmo e se surpreenda.

Eliakim escreveu no quadro o número 913.203.086.401.395.

- Estão lembrados deste número, senhores? As 5 primeiras palavras da Bíblia. Agora vejam isso.

913 + 203 + 086 + 401 + 395 = 1998

Invertendo os valores:

319 + 302 + 680 + 104 + 593 = 1998

Agora, colocando em 1.º lugar (em cada grupo) todos os algarismos que estão no centro, e depois somando...

193 + 023 + 806 + 041 + 935 = 1998

O que aconteceu? Nas três operações que fizemos (mesmo com as alterações sofridas) o resultado foi sempre 1998. Por que será, hein?

Sabemos que todo número formado por 3 algarismos diferentes pode formar 6 outros números. Se fizermos as 6 alterações possíveis com os valores das 5 primeiras palavras da Bíblia, e somarmos, o resultado continuará o mesmo. Querem ver?

PROVA

913       203       086       401       395       1998
931       230       068       410       359       1998
319       302       680       104       593       1998
391       320       608       140       539       1998
193       023       806       041       935       1998
139       032       860       014       953       1998

Algo a acrescentar, professor?

- Só queria saber quando vai acabar essa palhaçada!

             Eliakim tornou a sorrir.

- Misturando os algarismos entre si, encontrei mais de 30 combinações diferentes, e todas possuem o mesmo resultado: 1998! – Ele mostrou um slide. - Observem vocês mesmos! Como é que Moisés conseguiu escolher as palavras certas, cujas letras produziriam um resultado tão incrível? E isso sem contar com os outros esquemas que já observamos.

PROVA

039       060       153       832       914       1998
089       900       363       112       534       1998
093       006       135       823       941       1998
113       003       886       001       995       1998
123       003       846       031       995       1998
131       030       868       010       959       1998
132       030       864       013       959       1998
139       032       860       014       953       1998
193       023       806       041       935       1998
195       023       803       046       931       1998
213       003       486       301       995       1998
231       030       468       310       959       1998
309       600       513       382       194       1998
311       300       688       100       599       1998
319       302       680       104       593       1998
390       600       531       328       149       1998
391       320       608       140       539       1998
399       322       600       144       533       1998
519       302       380       604       193       1998
589       961       343       102       003       1998
591       320       308       640       139       1998
598       916       334       120       030       1998
809       090       633       112       354       1998
859       691       433       012       003       1998
895       619       433       021       030       1998
903       006       315       283       491       1998
913       203       086       401       395       1998
930       060       351       238       419       1998
931       230       068       410       359       1998
980       009       363       211       435       1998
985       169       343       201       300       1998
993       223       006       441       335       1998

De acordo com a matemática, um número formado por 15 algarismos pode ser alterado 1.307.674.368.000 vezes. Como não tenho paciência (e nem tempo) para alterar um número 1.307.674.368.000 vezes, não posso saber quantas outras variações conduzirão ao mesmo resultado 1998. MAS TENHO CERTEZA DE QUE NÃO SÃO SOMENTE 32. Se alguém quiser encontrar mais combinações, boa sorte.

A pergunta que não quer calar: Como Moisés foi capaz de fazer tudo isso, se não foi inspirado sobrenaturalmente? O que devemos ter em mente é que se Moisés inventou as 5 primeiras palavras da Bíblia, com seus respectivos valores e já sabia que esses valores iriam produzir uma coincidência incrível para resultarem sempre no mesmo total, mesmo quando alterados, esse Moisés deve ter sido um gênio extremamente paciente.

E se Moisés se deu ao trabalho de procurar (entre mais de UM TRILHÃO DE POSSIBILIDADES) um número que fosse capaz de realizar a proeza que mostramos anteriormente, certamente ele não fez outra coisa na vida.

Mas vocês estão lembrados do que falamos no inicio deste debate? Que quando Moisés escreveu o livro de Gênesis, as letras hebraicas ainda não possuíam valores? Que os hebreus só foram atribuir valores as letras do seu alfabeto por volta do ano 200 antes de Cristo, ou seja, mais de 1.200 anos depois de Moisés? Imaginem isso! Parece que o milagre é maior do que nós imaginávamos.  Para que vocês tenham uma idéia clara da grandiosidade da coisa, pensem no seguinte exemplo:

Imaginem que eu crio uma frase qualquer, hoje, sem atribuir nenhum valor às letras. Duzentos anos depois, alguém resolve dar um valor numérico a cada letra do alfabeto. Mais 200 anos depois e outro alguém resolve calcular o valor da frase que eu escrevi, já que percebeu que as letras possuem valores numéricos. Quais as chances de aparecer em minha frase uma estrutura numérica igual a que estamos vendo em Gênesis 1.1? IMPOSSIVEL! A não ser que eu, de alguma forma, me comunicasse com aquele que criou os valores numéricos - O que é um grande absurdo, já que haveria um intervalo de 200 anos entre ele e eu. Entenderam o mistério? Moisés escreve uma simples frase, 1.200 anos depois alguém numera as letras, atribuindo-lhes valores, obedecendo uma certa lógica: 1, 2, 3,...10, 20, 30,... 100, 200, 300... e com isso, surge um esquema matemático repleto de simetrias e propriedades interessantes. Isso é impossível!

Mas, por outro lado, se admitirmos a existência de uma poderosa Pessoa Divina, que detém todo o poder e conhecimento do Universo; se reconhecermos que Essa Pessoa, que conhece todos os mistérios da Matemática, inspirou as palavras certas para que Moisés escrevesse - já tendo visto com antecedência quais valores as pessoas haveriam de atribuir as letras do alfabeto hebraico - então tudo se torna muito claro.

Imagine a cena: Deus, com seu atributo conhecido como Presciência, olha adiante no tempo, e vê os homens atribuindo valores às letras do alfabeto, a fim de facilitar os cálculos matemáticos. Deus calcula em milésimos de segundos, todos os esquemas possíveis, escolhe um e dita a Moisés, que rapidamente escreve na pedra ou num pedaço de couro. Esta é a única explicação convincente, meus amigos. Se alguém tiver outra, que se manifeste.

Silêncio total. Miranda aproximou-se do centro do palco de debates e falou diretamente para a platéia.

- O que vocês estão vendo é apenas a demonstração da antiga verdade: QUEM PROCURA, SEMPRE ACHA. O que estamos vendo aqui é uma bela manipulação numérica, provando que nosso amado professor de História está na profissão errada. Seu lugar é nos palcos. O mundo do ilusionismo está perdendo um grande prestidigitador. Qualquer um que ficar obcecado com uma frase, que estudá-la de todas as formas, acabará encontrando padrões. Se converter letras em números, haverá centenas de possibilidades de encontrar um padrão. Se usar isso num circo não tem problema nenhum. Mas querer usar isso para provar a verdade de uma religião é demais. Se é apenas isso que nosso caro professor queria apresentar, agradecemos o show e pedimos que gaste suas energias intelectuais com coisas mais concretas.

As poucas palmas que se seguiram não agradaram Miranda nem um pouco. A platéia mostrou que gostou da apresentação do professor Eliakim. Este aproximou-se do centro do palco e falou:

- Pelas palavras do nosso amado professor Miranda dá pra pensar que acabei minha apresentação e que tentei ludibriar vocês com truques numéricos. Mas não terminei ainda. Olhando para o relógio, sei que ainda temos meia hora. Miranda fez acusações muito sérias. “Quem procura sempre acha”, disse ele. Palavras estranhas para um professor de Matemática, chamada a rainha das ciências. Quem procura sempre acha? O famoso Teorema de Pitágoras nos ensina que a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Ou seja:

a² + b² = c².

Bem, se trocarmos o número 2 dessa equação por qualquer número acima dele, encontraremos alguma solução? Por exemplo, existe solução para a equação a³ + b³ = c³?

- Claro que não. Fermat demonstrou que não existe – Respondeu Miranda.

- Na verdade, Fermat, famoso matemático francês, apenas afirmou que havia demonstrado, porém não deixou essa prova em lugar nenhum – explicou Eliakim - Durante mais de 300 anos, matemáticos do mundo todo, incluindo as mentes mais brilhantes que já pisaram neste planeta, tentaram encontrar a prova matemática que confirmasse a ousada afirmação de Fermat. Alguns matemáticos até o acusaram de estar blefando. Bem, mas o fato é que em 1993, um jovem matemático inglês, Andrew Wiles, conseguiu demonstrar que Fermat estava certo. Wiles passou sete anos, isolado do mundo, obcecado em descobrir aquilo que foi chamado por alguns de “Santo Graal da Matemática”.

Então, meu caro professor, se o senhor pudesse viver eternamente e eternamente procurasse entre os infinitos números um número que fizesse com que a equação a³ + b³ = c³ fosse verdadeira, jamais iria encontrar tal número?

- Exatamente. Já disse que foi provado matematicamente que...

- Então nem sempre quem procura sempre acha, certo?

Miranda engoliu em seco.

Eliakim continuou:

 - Desafio o senhor a encontrar um número que esteja entre um quadrado e um cubo... além do número 26.

- Isto é absurdo – Miranda respondeu com raiva - Fermat demonstrou que NÃO EXISTE nenhum outro número entre os infinitos números do Universo que esteja localizado entre um quadrado e um cubo. Nenhum a não ser o 26, que fica entre 25 (quadrado de 5) e 27 (cubo de 3).

- Portanto, o senhor está nos provando novamente que, matematicamente, é fácil provar que QUEM PROCURA, NEM SEMPRE ACHA. Correto?

- Matematicamente sim, mas nos tais livros sagrados, você pode encontrar o que quiser – insistiu Miranda.

- Bem, para concluir minha apresentação, irei usar de matemática mais avançada. E, pra variar, vou dividir minha última apresentação em 7 tópicos ou exemplos.

Exemplo 1 – A velocidade da luz.

*******
Nova York, 11 de Setembro de 2001.

Os alarmes de incêndio foram acionados. O prédio todo estava tremendo. A gritaria era estarrecedora. Dentro de poucos minutos aquela região foi assaltada pelo terror. As ruas estavam tomadas de pânico, correria e muita poeira.

Quando ouviu o estrondo e sentiu o chão tremer, Ziva encostou-se na parede, como se temesse o chão se abrir repentinamente.

“Senhor, o que é isso?”

O som da explosão foi logo abafado pela gritaria humana. De repente, os corredores encheram-se de pessoas, como um estouro de boiada. Ziva sabia que teria que sair dali depressa.

11 de setembro de 2001, Nova York, 8 horas e 45 minutos.

Um Boeing 767-200 da United Airlines - que decolara de Boston às 7 horas e 59 minutos para o vôo 175, rumo a Los Angeles, com 65 passageiros e nove tripulantes a bordo - foi desviado e se chocou contra a Torre Sul do World Trade Center, em Nova York.

Eliakim conseguiu chegar ao térreo. Estava quase cego diante da grande poeira espalhada nas ruas. Os gritos desesperados das pessoas eram de enlouquecer. E o pior era o movimento dos carros em meio à espessa fumaça e algumas pessoas sendo atropeladas. Naquele momento, ele lembrou da mensagem secreta. Não era possível que aquilo estivesse acontecendo.

Ziva conseguira sair do grande edifício em chamas. Agora não sabia o que fazer e para onde ir. Lá fora, o mundo estava se acabando. Poeira, gritos, desespero, fumaça, fogo, o inferno.

Ziva procurava um abrigo, um refúgio seguro. Sabia que ela estava na rua, em algum lugar, mas a confusão era tão grande, e a falta de informação também que ninguém se sentia seguro em lugar algum. Ela não sabia nem em que direção seguir. Era confusão por todos os lados, e a fumaça cegava a todos. Era gente atropelando gente.

Mil pensamentos invadiam a mente de Eliakim naquele momento dramático. Ele teve conhecimento de uma mensagem que poderia evitar aquela tragédia. Será que, se tivesse prosseguido em investigar mais profundamente teria impedido aquilo? Será que ele viajara a Nova York somente para morrer? Ele não se importava se sua vida fosse acabar ali, naquele momento. Mas não suportava a idéia de morrer sem ter conhecido a garota que abalou seu coração. Como é que o mundo podia ser tão cruel?

Enquanto pensava mil coisas, caminhava às cegas, tentando alcançar um porto seguro. Então, inesperadamente, esbarrou em alguém, pelas costas.

- Por favor, me perdoe. É que... JESUS CRISTO!!!

Nem a recente explosão foi capaz de provocar um choque tão grande. Em meio a tanta correria e desespero, Eliakim não conseguia sair do lugar. Suas pernas tremiam, seu coração agitava-se violentamente. Ele tentou abrir a boca para falar algo, mas parecia que sua língua estava presa.

A mesma coisa acontecia com Ziva. Em meio às ensurdecedoras gritarias desesperadas, Eliakim falou com grande esforço:


- Por favor, quem é você? Como é seu nome? Por favor, por favor! Eu... preciso de você! – Com grande dificuldade ele tentou se aproximar.

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