quinta-feira, 27 de novembro de 2014

CAPÍTULO 27 - ... E NADA ALÉM DA VERDADE!

UNIVERSIDADE GALILEU, PORTO ALEGRE, BRASIL, 2008.

É inacreditável! É incrível! Estarrecedor! Não sei nem por onde começar. Não vou esquecer aquela cena nunca.

Antes de mais nada, permitam-me começar com uma importante reunião no auditório da Universidade. O Reitor convocou todo mundo para uma reunião extraordinária. Depois de apresentar Sabrina Torres, entregou a palavra a ela.

Em poucos minutos ela começou a revelar uma história tão incrível, mostrando conexões com tantas coisas inacreditáveis que o mais craque dos profetas nem ousaria em sonhar.

- Recentemente esta Universidade passou por momentos tensos devido as ameaças de um misterioso inimigo que se auto-intitulava “O Justiceiro do Senhor”. Apesar do seu alvo ser inicialmente a professora Zilandra, depois se desviou para outras pessoas, coincidentemente membros do mesmo grupo do qual a professora de Filosofia participava. Em meio a tudo isso uma pessoa foi assassinada. A coisa ficou muito séria. O teor das ameaças escritas provocou uma onda de campanhas difamatórias contra os cristãos, como se a culpa de tudo que estivesse acontecendo fosse deles.

Alguns dias depois, por meio de uma denúncia anônima, aquele que já era considerado o principal suspeito ficou num beco sem saída. Evidências fortíssimas levaram o senhor Hank Stones à prisão. Fim. Ponto final. Não foi tudo tão óbvio, tão previsível? Sim, previsível até demais.

Nessa história toda, além de Hank, quem mais se deu mal? A professora Flora. Sim, Flora foi a única vítima fatal nessa história toda.

Foi aí que entrei na história. Talvez ninguém aqui soubesse, mas Flora era minha amiga. Ela era uma mulher alegre e divertida. Mas, de uns tempos pra cá havia mudado de humor de uma forma que chamaria a atenção de qualquer um. A mulher festiva deu lugar a uma mulher triste, solitária e anti-social. O caminho dela era somente de casa para a Universidade e vice-versa.


Tentei entender o que estava acontecendo. Como disse, ela era minha amiga, mas o que a atormentava era algo tão complicado que ela não teve coragem de compartilhar comigo.

Ela não tinha namorado há um bom tempo. Não tinha nenhuma ligação com possíveis familiares. Seja qual fosse o problema, não envolvia namorado e nem parentes. O que poderia ser, então?

Pensei em doença. Claro, alguém que vive sozinho, de repente descobre que está com alguma doença, não é fácil. Mas, investigando discretamente, não encontrei nenhuma ligação entre ela e algum médico, hospital, farmácia, etc. Aparentemente, Flora era uma pessoa muito saudável.

Depois que notei seu olhar de medo ao perguntá-la sobre o que estava acontecendo e recebendo apenas um “nada, nada, só estresse no trabalho” como resposta, resolvi deixá-la em paz e continuar minha investigação silenciosa.

O estresse pode provocar um olhar de cansaço, mas não de pavor. E, na verdade, não vi medo no olhar de Flora, vi pavor. A coisa devia ser bem séria. Como tenho certa experiência com investigação, mesmo sem ser detetive (fruto da convivência com certos amigos malucos de minha terra natal), descobri que o “estresse” de Flora começara alguns dias após o inicio das aulas na Universidade. Mas Flora era veterana, estava acostumada com todo tipo de pressão em sala de aula. Não, não era isso que a perturbava.

Então houve o assassinato. Levei um grande choque. E me senti muito culpada, pois sabia que isso possuía alguma ligação com o estado emocional de Flora nos últimos dias.

Depois do funeral dela, fui até sua casa, revirei quase tudo, e, à principio, não encontrei nada, nem uma escrita, nada que me desse uma luz. Pensei mil vezes porque ela não confiara em mim, pois éramos amigas há muito tempo. Então imaginei algo: E se, com seu silêncio, ela quisesse me proteger de alguma coisa?

Bem, resolvi começar do único indicio que eu tinha no momento. Na verdade, não sei se posso chamar isso de indicio. Mas o fato é que, o misterioso isolamento de Flora começou no mesmo período do reinicio das aulas deste ano. Eu comecei a investigar as relações de Flora com seus colegas e alunos. Alguém poderia me perguntar: Como você fez essa investigação já que não freqüenta esta Universidade e só apareceu aqui recentemente? Bem, acontece que eu tenho uma amiga aqui que servia como meus olhos: Leona Stanley.

Ao citar o nome de Leona, Sabrina acenou para ela. Então prosseguiu:

- Por meio de Leona soube que Flora e a professora Zilandra evitavam se falar ou estar nos mesmos lugares ao mesmo tempo. Havia alguma coisa estranha entre as duas. Toda a Universidade sabia dessa aparente inimizade entre elas. Certo dia Leona notou, por alguns segundos, um estranho olhar entre Zilandra e Flora. O olhar de Zilandra transmitia ódio e o de Flora, pavor.

Com base nessa observação, mudei o foco da investigação e descobri que Zilandra era o único professor recém contratado desta Universidade neste ano. E que, no primeiro dia em que pisou aqui foi na mesma semana em que notei a súbita mudança de Flora. Se havia alguém apavorando Flora, tinha a ver com a professora Zilandra.

Antes de descrever o restante das palavras de Sabrina, permitam-me passar para outra cena, pois nessa altura da conversa vocês já sabem que Zilandra não é flor que se cheire. Meia hora antes, eu estava na sala de aula. Quando aconteceu o seguinte:

Estávamos na aula de Filosofia. A professora Zilandra estava muito inspirada e ensinava como uma verdadeira autoridade no assunto. Eu ainda lamentava o fato dela ter desaparecido durante o debate entre Eliakim e os Racionalistas. Não sei o que aconteceu, mas ela só apareceu no outro dia. E estava muito esquisita. Parecia desconfiar de todo mundo. Nem quando o tal Justiceiro do Senhor estava enviando aquelas mensagens ameaçadoras ela demonstrou tanto medo. Algo estava apavorando Zilandra.

Naquela manhã, por um momento, ela voltou a ser a inteligente e destemida professora de Filosofia.

Enquanto ministrava a aula daquele dia...

- Professora Zilandra, perdoe-me a interferência, mas o reitor precisa conversar com a senhora, agora – disse Stefânia, a secretária.  

- Um momento, diga a ele que estou indo – ela se desculpou com a classe e pediu para lermos uma certa página de um livro sobre Filosofia. Prometeu retornar logo.

Não era a primeira vez que alguém interrompia uma aula dela. Mas foi a primeira vez que observei sinais de medo em seus olhos. Do que ela tinha tanto medo?

Eu poderia abrir o livro e fazer a tarefa que a professora pediu. Mas, levantei-me e disse a uma colega do lado que iria aproveitar para ir ao banheiro. Porém, meu destino foi outro. Enquanto a professora Zilandra acompanhava a secretária em direção à sala do Reitor, que ficava no segundo andar, eu a seguia de longe. Elas pegaram o elevador e eu fui obrigada a seguir pelas escadas. Demoraria um pouco, mas eu chegaria lá.

A coisa aconteceu rápido demais. Ao chegar no corredor da sala do Reitor fiquei chocada ao ver a professora Zilandra sair algemada, acompanhada por dois homens elegantes.

Em seguida, entre as pessoas que saiam da sala estavam o professor Eliakim e a misteriosa Sabrina Torres. Não tive coragem de me aproximar e perguntar o que estava acontecendo, mas Sabrina olhou para mim e disse:

- Pode se aproximar, Alanna. Você merece saber o que está acontecendo. Em poucas palavras, Sabrina me contou uma história incrível.

Agora que estou ciente de todos os fatos, tentarei reportá-los da melhor forma possível. Permitam-me começar com uma cena dramática.

Logo que a professora Zilandra entrou na sala do Reitor, seu semblante empalideceu. Ela viu alguém que não gostaria de ter visto. Havia alguém na sala cuja simples presença fez a altiva professora gelar. Era Ziva Sanders, a esposa do professor Eliakim.

- Olá, Eva Lorena – Disse Ziva, num tom frio e decidido.

- Ou podemos chamá-la de Dália Yassir? – Perguntou Sabrina, no mesmo tom de Ziva.

- Quem sabe quantos outros nomes ela não deve possuir? – Perguntou Eliakim.

Aquela que conhecíamos como professora Zilandra estava lívida. Seu olhar tanto transmitia ódio quanto frustração.

- Não vai falar nada em sua defesa? – Perguntou o Reitor, com o olhar de quem desejava que aquilo tudo não passasse de um lamentável engano.

- O que pode fazer o rato diante de um bando de gatunos que estão com a faca e o queijo nas mãos? – respondeu Zilandra.

- Tem razão – Sabrina virou-se para os dois homens elegantes e disse – ela é toda de vocês agora.

Então os dois homens a algemaram e a levaram dali.

Agora voltaremos para o auditório da Universidade Galileu, para o desenrolar dessa história absurda.

Sabrina respirou fundo e continuou:

- Foi por aí que comecei minha investigação. Quem era Zilandra? De onde veio? O que houve entre ela e Flora? Enquanto tentava rastrear os rastros de Zilandra, Flora foi assassinada. E tudo foi atribuído a um pretenso fanático cristão, um tal Justiceiro do Senhor.

Mas, aparentemente, o alvo desse Justiceiro era a professora Zilandra. Como é que a vítima acabou sendo Flora? Aí pensei. Se eu tivesse uma razão particular para matar a professora Flora, mas todo mundo fosse conhecedor da inimizade entre nós duas, o que iria acontecer se eu a executasse?

- Você estaria na lista dos principais suspeitos – disse Leona.

- Exatamente. E nesse caso, o que fazer?

- Torcer para alguém fazer o trabalho sujo por você ou se aproveitar numa série de eventos em que alguém estivesse sendo ameaçado – explicou Leona.

- Muito bem, amiga. É este o ponto. Senhores, com a experiência em intrigas que Zilandra tinha, não foi difícil encontrar um bom pretexto para calar uma testemunha terrível.

- Testemunha terrível? – Perguntou Miranda.

- Sim, meu caro professor – respondeu Sabrina – Flora era uma terrível testemunha contra Zilandra. Flora foi testemunha de uma trama que acabou com a vida de centenas de pessoas.

*******
São Paulo, capital. 11 de setembro de 2001.

Flora Fernandes havia chegado a poucos minutos ao hotel onde, mais tarde, participaria de um encontro de jovens universitários estudantes de Filosofia. Ela estava no último ano do seu curso e dentro de poucos dias apresentaria sua monografia.

Era uma mulher quase na casa dos 30 anos, bonita, inteligente, mas de pouca sorte nas relações amorosas. Seus casos não duravam três meses. O problema talvez fosse seu gênio forte. Mas talvez a verdade era que Flora gostava demais de viajar. Aproveitava qualquer folga para conhecer novos ares. Por isso, não dava para estar amarrada em alguém por muito tempo.

Ela estava entrando no hotel, quando percebeu a agitação. Todos correndo para perto da televisão.

“Parece que alguma coisa ruim aconteceu em algum lugar”. Ela se aproximou e ficou horrorizada ao ver as cenas do World Trade Center em chamas.

- Como é que isso aconteceu? Alguma bomba, míssil, o que? – Perguntou.

- Nada disso. Parece que lançaram um avião contra uma das torres – informou alguém.

- Lançaram um avião? Não tripulado, imagino.

- Não, senhora. Um avião cheio de gente foi lançado contra uma das torres. Quer dizer, na verdade, foram dois aviões. Veja a outra torre em chamas. E parece que existem outros rondando Nova York.

- Meu Deus!!!

A exclamação de Flora não foi somente pelas cenas de horror mostradas na tela, mas devido a algo que lembrara naquele momento. Sim, há pouco mais de um mês, ela esteve em Paris, numa biblioteca. E escutou uma conversa muito estranha. Mas a frase que a impactou de tal forma que nunca mais conseguiu esquecer foi:

“Já passou pela cabeça de alguém aqui assumir o controle de um avião e lançá-lo contra um desses arranha-céus americanos, tipo as torres do World Trade Center?”

“Meu Deus! Será que foram eles?” Um calafrio percorreu todo o ser de Flora. Ela sentou-se e ficou pensando no que fazer com aquela informação.

*******

UNIVERSIDADE GALILEU, PORTO ALEGRE, BRASIL, 2008.

Sabrina continuava sua explicação.

- Eu já tinha colocado Zilandra na minha lista negra e voltei à casa de Flora, para uma segunda caçada. Continuei revirando a casa atrás de algo. Meus amigos costumam dizer que tenho uma paciência paranormal, pois abri quase todas os livros de Flora, página por página, até que encontrei justamente um livro que ela havia comprado em setembro de 2001. Nas páginas finais do livro, escrito à lápis, ela contava que havia testemunhado um estranho encontro em Paris. Então, as coisas começaram a ficar muito claras. Outra anotação revelava a surpresa que Flora teve no dia do atentado terrorista.

Quando esteve em Paris em 1999, Flora ouviu uma conversa que, à principio, parecia mais coisa de estudante sonhador e revoltado. Mas, quando as Torres Gêmeas foram derrubadas, exatamente da forma como um dos tais “estudantes” tinha imaginado anos antes, Flora teve a certeza de que eles estavam envolvidos de alguma forma.

E, numa dessas esquisitas brincadeiras do destino, Flora haveria de cruzar novamente o caminho de alguém ligado ao grupo terrorista, e exatamente um dos principais líderes, uma mulher perigosa, caçada pela Interpol há anos: Dália Yassir, conhecida entre nós por Zilandra Zambelli.

A reação de surpresa entre as pessoas presentes no auditório foi bem interessante.  Sabrina continuou:

- Quando Dália, em sua nova identidade, se apresentou no primeiro dia, como professora nesta Universidade, Flora levou um choque. Tentou disfarçar, mas Dália, mais astuciosa que uma serpente, percebeu a surpresa. Geralmente, todo fugitivo vive desconfiando de tudo e de todos. E quando percebe que alguém não foi com sua cara, fica mais desconfiado do que o normal. Foi o que aconteceu. Zilandra, com a consciência pesada e também como boa fisionomista, não demorou em lembrar que já tinha visto Flora em algum lugar.

Precisamente, em Paris, numa biblioteca. Pouco a pouco ela passou a ameaçar Flora. E Flora sabia que a terrível professora de Filosofia era capaz de tudo. Alguém que estivesse envolvido com os arquitetos do horrendo atentado contra o World Trade Center, era capaz de tudo mesmo.

Flora se sentia vigiada dia e noite. Tinha certeza que, se falasse do que sabia com mais alguém, estaria condenando esse alguém. Por isso ela não contou nada, nem para mim, sua única amiga.

Mas Zilandra também se sentia ameaçada. Não dormia direito sabendo que, mesmo escondida no Sul do Brasil, alguém mais sabia da presença dela ali, e esse alguém poderia abrir a boca qualquer dia desses. Então, começou arquitetar um plano para eliminar Flora.

Durante o debate com Hank teve a idéia. Iria provocá-lo tanto a ponto de deixá-lo com raiva. Depois arquitetaria uma série de atentados contra ela mesma, mas fazendo com que tudo fosse atribuído a um fanático cristão. Assim, com uma só paulada eliminaria uma ameaça perigosa, Flora, e ainda colocaria a opinião pública contra os cristãos, que ela tanto odiava.

Como muitas pessoas começaram a estranhar a antipatia entre as duas, Zilandra pressionou para que Flora agisse com a máxima naturalidade. Por isso que no dia do seu assassinato, Flora e Zilandra estavam sentadas, na lanchonete, parecendo duas amigas.

- Então ela planejou todos os atentados contra si mesma? – Perguntou Semaris, a esposa do Reitor - Como? Deveria ter algum cúmplice, pois na noite do seminário de Filosofia ela quase foi atingida por um tiro disparado do alto de um dos prédios.

- Ela é mais inteligente do que nós imaginamos – respondeu Sabrina – O rifle usado contra ela, foi disparado por ela mesma, usando uma espécie de controle remoto.

- Mas, sendo assim, deveríamos ter encontrado a arma lá, pois depois do atentado, rapidamente muitas pessoas correram para o local do disparo e não encontraram nada lá – falou Semaris.

- E não deu tempo dela correr lá e esconder a arma, certo? – Sabrina sorriu – mas quando eu digo que a mulher é astuciosa, é porque é mesmo. O rifle estava amarrado a um forte barbante, que por sua vez, estava ligado a um pequeno carro-robô (desses que podemos comprar em qualquer loja de brinquedos), escondido do outro lado do prédio. Após o disparo, o rifle foi puxado pelo robô, e despencou para o outro lado do muro. É claro que, enquanto muitos procuravam alguma coisa no local de onde saiu o disparo, a astuciosa Zilandra estava em outra parte, escondendo tudo.

Não foi difícil depois esconder o rifle no fundo do poço da casa de Hank. Tudo bem feito e planejado. Hank não tinha como escapar.

E todos os outros atentados foram fáceis de executar. A bomba armada na sala de aula, debaixo do carro, a mina no jardim, etc. Assim como foi moleza esconder provas comprometedoras na casa de Hank, além de comprometer seu computador. Pra alguém acostumada a lidar com terrorismo internacional, disfarces e espionagem, isso não era nada. Outra coisa: A principal idéia do atentado (lançar os aviões tripulados contra as torres) saiu da mente dela, mas todo o planejamento e dinheiro vieram de seu tio... Osama Bin Laden.

- Puxa! – Exclamou Miranda – tudo isso é inacreditável.

- Vivemos uma época recheada de fatos inacreditáveis, meu caro – disse Sabrina, perguntando em seguida – Pessoal, alguma dúvida a mais?

- Sim – disse eu – explique para o pessoal aqui porque, durante o debate com o professor Eliakim, Zilandra não apareceu? Ou melhor, ela estava lá, mas sumiu repentinamente.

- Vocês precisam saber que outra pessoa recém chegada aqui também conhecia o passado de Zilandra: a senhora Ziva, esposa do professor Eliakim. Durante um intercâmbio entre professores, na cidade de Roma, em 2001, Zilandra, ou seja, Dália, estava usando a identidade de uma professora alemã, Eva Lorena, e dormiu no mesmo quarto de Ziva.

Certamente nunca imaginou que um dia iria reencontrar Ziva num lugar tão distante e tão improvável. Por isso, quando Ziva apareceu aqui, para acompanhar a apresentação do seu esposo, Zilandra teve um choque. A sorte dela, inicialmente, é que Ziva não a viu.

- Zilandra estava em Roma, disfarçada de professora, para assassinar um jovem professor árabe, Mohamed, que havia, acidentalmente, descoberto a trama sobre o atentado de 11 de setembro – Explicou Eliakim - Usando uma moto, Zilandra o atropelou e depois, tentou fazer o mesmo comigo. Graças a Deus, consegui escapar e logo voltei para o Brasil.

- Toda vez que eu saia com minha outra colega de quarto, Jenna, para dar uma volta pela cidade, Eva, como Zilandra se chamava lá, se desculpava dizendo que estava trabalhando numa tese universitária e precisava aproveitar todo o tempo para estudar – Explicou Ziva - Na verdade, ela ficava em casa comandando o terrorismo lá fora. E, muitas vezes, ela mesma saia para executar as missões. Por exemplo, assassinar o jovem Mohamed e tentar matar Eliakim.

- Que história inacreditável – Disse Yamara, com o olhar sério – quer dizer que Zilandra era tudo isso?

- E muito mais, pode apostar – respondeu Sabrina – Planejava tudo com extrema frieza e conhecia bem as pessoas ao seu redor. Quando, por exemplo, colocou uma bomba debaixo do próprio carro, e passou perto de Leona, com a mensagem colada nas costas, tinha certeza que Leona decifraria o código.

- Como podia ter tanta certeza? – Perguntou Miranda.

- Simples. Antes do atentado da bomba sobre a cadeira, Zilandra teve uma pequena conversa, quase uma discussão, com Leona, na sala de aula. A partir daquele dia resolveu investigar a vida pessoal de Leona. Certamente encontrou conexão com um certo Grupo 7, um grupo de amigos, que apreciam enigmas e coisas semelhantes.

- Também acho que foi por aí – concordou Leona, sorrindo.
*******
- Olha, preciso conhecer melhor vocês, pois pretendo escrever sobre essa história tão estranha – eu disse uma semana depois, enquanto participava de um jantar com Sabrina, Leona, Eliakim, Ziva e ... adivinhem só! O professor Miranda e a professora Yamara. Apesar do ácido debate entre eles recentemente, Eliakim e Miranda se tornaram amigos. Suas idéias eram divergentes, mas os dois eram muito inteligentes. Como eu já observei antes, Yamara estava mais pra agnóstica do que pra cética, e essa posição aumentou ainda mais depois da apresentação de Eliakim.

Eliakim e Ziva nos contaram sua maravilhosa e muito estranha história de amor.

- ... E enquanto eu perambulava de um lado para o outro, achando que ela estava morta, o mesmo acontecia com ela. É incrível demais. Fui acolhido por uma pequena igreja cristã em Nova York e Ziva também. Ao mesmo tempo em que O Senhor me preparava para ser um palestrante sobre profecias bíblicas, Ziva, morou alguns meses com um casal de cristãos, e esse casal tem um ministério que mistura profecias bíblicas e aconselhamento para casais. Ziva se interessou tanto pelas profecias como pelo livro de Cantares. Quando encontrou relações entre os dois temas, ministrou alguns estudos e sua fama logo se espalhou. Tudo isso em menos de um ano.

- Assim, o Senhor nos confiou um ministério de palestras em igrejas e universidades sobre temas que envolvem profecias e matemática bíblica – completou Ziva.

- Impressionante – Yamara estava muito admirada – mas vocês não explicaram de que modo esse negócio de matemática bíblica entrou na história.

- Ah, é mesmo – Eliakim deu uma risada – essa parte é muito difícil de se acreditar, mas juro que é verdade. Lembram-se quando, no dia do debate, falei que os números 3 e 7 eram almas gêmeas? – E Eliakim contou a história de sua obsessão pelo número 7, enquanto que Ziva era perseguida pelo número 3.

- Inacreditável! – Eu não consegui esconder a exclamação.

Depois de contar os detalhes envolvendo a palestra do tal Dr. Makanera, quando, pela primeira vez, ouviu a expressão “Alma Gêmea Matemática”, Eliakim concluiu:

- Sabem o dia do primeiro encontro entre mim e Ziva?

- Na biblioteca em Roma? – Perguntou Yamara.

- Sim. Era o dia 3 de julho de 2001.

- 3 de julho? – Eu perguntei, logo acrescentando – nossa! Julho é o 7.º mês. 3 de 7.

- Exatamente – confirmou Ziva – E o nosso terceiro encontro foi também num dia 3 de 7.

- 3 de julho de 2002, em Jerusalém – explicou Eliakim.

- Incrível! – Yamara estava realmente perplexa.

- O nosso segundo encontro, trágico e triste, ocorreu em 11 de setembro de 2001 – disse Eliakim num tom solene – mas não podemos esquecer que aquela era a 37.ª semana do nosso calendário.

- Sabe, se outra pessoa me contasse essa história eu não acreditaria – disse Miranda.

Eliakim olhou para Miranda e disse:

- É incrivelmente absurdo. Ziva passou parte da vida obcecada com o número 3 e eu com o 7, e, de repente, em meio às mais improváveis circunstâncias, nós nos encontramos, nos apaixonamos e hoje estamos aqui. Se não existe uma razão para tudo, se não existe um sentido na vida, por que tudo isto nos aconteceu?

- É, meu caro. Confesso que até conhecer vocês eu achava impossível que existisse um Algo Superior, uma razão da nossa existência neste vasto Universo – respondeu Miranda num tom totalmente diferente do que eu estava acostumada a ouvir - Isso não significa ainda que já estou convencido – ele riu – porém agora ficou mais difícil encontrar uma explicação alternativa.

- Não é fácil contestar algo matemático, hein? – Eliakim sorriu – Meu amigo, a perfeição e a matemática andam juntas, na verdade, nasceram juntas. Deus é perfeito e nada mais normal do que Ele usar a matemática para provar a perfeição de Suas obras.

- Isso me lembra os chamados números perfeitos – falou Miranda – o que você tem a dizer sobre eles nessa sua... como dizer, Matemática Teológica?

- Esse tema é inesgotável, meu caro. Os matemáticos consideram um número perfeito quando este é igual a soma dos seus divisores. Por exemplo, o número 6 é considerado o primeiro número perfeito, pois divide exatamente por 1, 2 e 3. E a soma desses três números é igual a 6.

- E o segundo é 28 – explicou Miranda – pois 28 é divisível por 1, 2, 4, 7 e 14. Somando-se 1 + 2 + 4 + 7 + 14, teremos 28.

- Está lembrado que Deus fez o mundo em 6 dias e que o primeiro versículo bíblico contém 28 letras? – Perguntou Eliakim.

- Bem, pode ser uma coincidência. Existe algo mais forte do que isso?

- As rajadas da semana passada não foram suficientes, meu caro? – Eliakim sorriu novamente – Muito bem. Observe isso.

Ele pegou uma caneta e rabiscou rapidamente alguns números.


- Temos aqui os 7 valores iniciais do Gênesis. Ainda lembra deles, não? Agora, pense no candelabro judaico. A primeira lâmpada está ligada à última, a segunda à penúltima, e assim por diante. Vamos usar o mesmo esquema aqui.
- Observe que o número 9 (o primeiro da lista) está ligado ao número 6 (o último). Com isso formamos um novo número, 96. Agora, faremos a mesma coisa com os demais e teremos os números seguintes:

96, 19, 32, 27, 00, 34, 05, 89, 63, 41 e 0.

Vamos somá-los:

96 + 19 + 32 + 27 + 00 + 34 + 05 + 89 + 63 + 41 + 0 = 406

O número 406 te lembra algo?

- Puxa! – Exclamou Miranda – O triangular de 7 é 28 e o triangular de 28 é 406. Muita coincidência, cara.

- E você ainda não viu nada. Vamos inverter os números, todos eles. Em vez de 96, ficará 69, etc.

69,91,23,72,00,43,50,98,36,14,0

Agora, somando:

69 + 91 + 23 + 72 + 00 + 43 + 50 + 98 + 36 + 14 + 0 = 496

O número 496 te lembra algo?

- Esse negócio é bem interessante. 496 é o 3.º número perfeito.

- Exatamente. Deus fez o mundo em 6 dias, a primeira palavra da Bíblia tem 6 letras, a frase completa tem 28 letras e, nesse esquema do candelabro encontramos o número 496. Temos aqui: 6, 28 e 496, os três primeiros números perfeitos. Acha que é somente coincidência?

- O mais interessante é que os mesmos números podem formar tanto o 406 (triangular de 28), como o 496 – disse Ziva – realmente, são coincidências demais para serem apenas coincidências.

- Antes eu achava impossível que Deus existisse – disse Yamara – mas agora passei a achar provável.

- Que explicação teríamos para essa força chamada AMOR? – Disse Leona – Se Deus não existe, por que existiria o amor? Pra que amar? Mas a Bíblia diz: “DEUS É AMOR”.

Nesse momento notei que Yamara olhara discretamente para Miranda. Aquele olhar mágico, inconfundível. De amor.

Ainda naquela noite, durante o jantar, Sabrina e Leona contaram a misteriosa história do Grupo 7, um grupo de pesquisadores, que fundaram um centro de pesquisas sobre profecias, numerologia e vários enigmas do Universo. Elas nos disseram que a obsessão de Eliakim pelo número 7 era muito parecida com a história do fundador do Grupo 7, um certo Morganne, e que, em 2005, quando resolveram morar um tempo no Brasil, Eliakim e Ziva conheceram alguns dos membros desse Grupo. Desde então, esse casal abençoado também faz parte dessa exótica organização de pesquisas.

A Filosofia 7 era extremamente contagiante. Por meio de Leona e Sabrina conheci vários “SETES” (como eles eram chamados), e, pouco a pouco, também fui seduzida por essa enigmática filosofia.

Dentro desse Grupo 7 conheci muitas histórias de amor, tão estranhas e encantadas quanto a linda história de Ziva e Eliakim. Mas, como costumam dizer por aí: Isso já é uma outra história.

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