Ziva
não conseguia dormir. Uma multidão de números 3 estavam invadindo sua mente. Ao
seu lado, o homem continuava lendo. Ziva resolveu puxar conversa.
- O que o senhor acha
daquele artigo sobre o número 3?
Ele
virou-se, sorriu meio espantado e respondeu:
- O número 3 é mesmo muito
interessante.
- Mas os outros números
também não são? Se fôssemos prestar atenção, por exemplo, ao número 4,
poderíamos destacar muitas coisas: 4 estações, 4 pontos cardeais, 4 fases da
lua, 4...
- Sim? O que mais? O 3
continua na frente. Muito na frente.
- Ah, temos também o 5. Nós
possuímos 5 sentidos, 5 dedos em cada mão, 5...
- O 3 continua imbatível,
senhorita.
Ziva
sorriu como se tivesse descoberto a fórmula da coca-cola e disse:
- Os 7 dias da semana, as 7
notas musicais, as 7 colinas de Roma, as 7 camadas dos elementos químicos, os 7
anões da Branca de Neve...
- Muito bem. Agora você foi
longe. Citou o único número capaz de concorrer com o 3.
- O único? Como assim?
- Antes que eu responda, me
diga porque tomou um choque ao abrir a revista no artigo sobre o número 3?
Ziva
olhou desconfiada para ele.
- Eu não fiquei chocada. Só
achei interessante.
- Não finja que não
entendeu, senhorita. Percebi claramente que pareceu ter visto o diabo quando
abriu a revista.
- Se eu contasse o senhor
não acreditaria – na verdade, Ziva nunca contou pra ninguém sobre aquelas
estranhas coincidências. Nem para os poucos amigos.
- Se a senhorita já tivesse
visto o que eu já vi na vida não teria dito isso. Meu nome é Frank. Frank
Makanera.
Ela
respirou fundo, refletiu por alguns segundos, então se apresentou e abriu parte
do seu coração. Talvez tivesse mesmo chegado a hora de fazer aquilo. O senhor
Makanera a escutou atentamente durante uns 20 minutos.
Quando
Ziva concluiu sua história, ele ficou pensativo, olhou seriamente pra ela e
disse:
- E com uma história tão
interessante a senhorita ainda não acredita em Deus?
- Não vejo como Deus pode
estar envolvido nisso, senhor... o senhor é algum padre ou pastor?
- Não, senhorita. Apenas um
pesquisador dos mistérios da vida e do comportamento humano. A senhorita nunca
procurou uma pessoa religiosa para compartilhar isso?
- Como já disse, não
acredito em Deus e muito menos naqueles que dizem acreditar nele.
- Teve, algum dia na vida,
alguma decepção com Deus?
- Como poderia me
decepcionar com alguém que não existe? – O homem notou que ela ficou nervosa. A
pergunta dele devia ter reaberto alguma ferida dela.
- Bem, se Ele não existe,
por que existe alguma coisa ao invés de nada? – O homem perguntou.
O
coração dela bateu forte. A mesma pergunta que se fizera várias vezes na vida.
- Onde entra o número 3
nessa história de Deus?
Fingindo
ignorar que Ziva não respondera à sua pergunta anterior, o senhor sorriu e
disse:
- Para a maioria dos cristãos,
a Suprema Divindade do Universo é Um Deus em essência, mas Três em Pessoa.
- Nunca vi lógica nessa
doutrina da Santíssima Trindade.
- Senhorita, como a frágil
mente humana poderia compreender Aquele que criou todas as coisas?
- É a desculpa favorita dos
religiosos diante de questões como esta – ela sorriu ao dizer isso.
- Bem, permita-me continuar
– ele não se abalou - Por estar tão profundamente relacionado a Deus, o número
3 é citado abundantemente na Bíblia. Não vou citar exemplos, pois você acabou
de ler alguns nesta revista. Mas quero deter-me nos possíveis significados do
número 3.
*******
Universidade Galileu, Porto
Alegre, Brasil, 2001.
O
professor Eliakim respirou aliviado ao ouvir a sirene. Normalmente adorava
lecionar, mas naquela noite estava muito cansado. Era um ótimo professor de
História e Matemática. Mas era anti-social. Ninguém sabia nada de sua vida e
nem onde vivia. Quando não estava lecionando só podia ser encontrado na
Biblioteca da Universidade. Apesar de ser freqüentemente paquerado, não dava a
mínima para as paqueradoras. E nem para os paqueradores, já que alguns se
arriscavam em pensar que o cara era, como se costumava dizer, “do outro
partido”.
Naquele
dia recebeu uma boa noticia pela Internet. Havia sido sorteado para participar
de um intercâmbio cultural com professores de diversos países. O encontro seria
na cidade de Roma, na Itália. Ele bem que precisava mesmo respirar outros ares.
*******
Ziva
estava bastante concentrada nas explicações sobre o número 3.
- Nas Sagradas Escrituras
percebemos que existem três degraus na vida espiritual – disse o senhor
Makanera - Ou seja, três tipos de relacionamentos com Deus. Não somente a
Divindade está relacionada com o 3, mas o homem também. Segundo a Bíblia,
existem 3 trindades que estarão em conflito até o fim dos dias.
1 – A TRINDADE SANTA
2 – A TRINDADE HUMANA – O
homem tem três partes, segundo as Escrituras: “E o vosso espírito, e alma e
corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor
Jesus Cristo.” (I Tess 5.23).
3 – A TRINDADE SATÂNICA –
Como inimigo número 1 de Deus e do homem, e como grande imitador, Satanás
também criou uma trindade.
“E
da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta, vi saírem
três espíritos imundos, semelhantes a rãs.” (Apocalipse 16.13).
O
dragão é o próprio Satanás. A Besta representa um futuro líder mundial,
inspirado por Satanás para governar o mundo. Uma espécie de Jesus Cristo ao
contrário. E o falso profeta é o sacerdote desse falso Cristo.
O
conflito entre as 3 trindades envolve muitas coleções de 3 dentro da Bíblia.
Na
primeira tentação, lemos que – rapidamente, ele apanhou uma pequena Bíblia,
abriu num certo texto e leu:
“Então, vendo a mulher que
aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável
para dar entendimento...” (Gênesis 3.6).
Vemos
aqui os três aspectos clássicos da tentação, como o apóstolo João explica em
seu livro, ao falar do:
1 - DESEJO DA CARNE,
2 - DESEJO DOS OLHOS
3 - E SOBERBA DA VIDA – 1
João 2.16
Veja
só – e ele apontou novamente para o texto bíblico:
“Então, vendo a mulher que
aquela árvore era boa para se comer (= desejo da carne),
e agradável aos olhos (= desejo dos olhos),
e árvore desejável para dar entendimento (= soberba da vida),...” (Gênesis 3.6)
e agradável aos olhos (= desejo dos olhos),
e árvore desejável para dar entendimento (= soberba da vida),...” (Gênesis 3.6)
As
mesmas 3 características tentadoras foram apresentadas a Jesus no deserto, por
Satanás. Mas como eu disse antes, existem três degraus na vida de fé ou
relacionamento com Deus. No Antigo Testamento, por ordem divina, Moisés
construiu uma grande casa no deserto, chamada de Tabernáculo. Acredito que já
tenha ouvido falar a respeito.
Era
dividido em três partes, chamadas: Pátio, Lugar Santo e o Santo dos Santos.
Cada parte está relacionada a um nível de comunhão com Deus.
*******
UNIVERSIDADE GALILEU, PORTO
ALEGRE, BRASIL, 2008.
Não
havia outra coisa a fazer, senão chamar a polícia. Meia hora depois e todo o
campus estava tomado por policiais e investigadores. Os detetives interrogavam
todo mundo. Hank estava muito assustado. Ninguém o vira no pátio durante a
palestra e seu álibi não era capaz de convencer nem sua mãe: disse que passou a
noite trancado no quarto devido a uma forte dor de cabeça. Cá entre nós: Você
acreditaria nele?
Tudo
indicava que o alvo era mesmo a professora Zilandra. Disso ninguém tinha
dúvidas. E, é claro, todos relacionaram o quase trágico incidente com a
mensagem pregada no quadro. E quase todo mundo pensou em Hank. Eu não queria
estar no lugar dele.
Certamente,
a vida não estava sendo fácil para Hank, e nem para a professora Zilandra.
Ninguém gosta de andar por aí, com a sinistra sensação de estar sendo observado
e que, a qualquer momento, um tiro pode acabar com todos os seus sonhos. No dia
seguinte, as aulas voltaram ao normal. Quer dizer, não tão ao normal assim. Era
impossível evitar os comentários. Uma coisa estava ficando muito visível.
Notava-se um claro isolamento dos estudantes cristãos. Muita gente estava
evitando andar ao lado do chamado “grupo de risco”, pois as suspeitas eram que,
se não fosse Hank, certamente era um cristão fanático que estava ameaçando a
vida da professora Zilandra.
No
local de onde foi disparado o tiro – no alto do prédio da Universidade, do lado
do setor administrativo, a policia procurou pistas, mas não encontrou nada. O
tiro veio do alto. Aí me lembrei que na mensagem ameaçadora citava uma passagem
bíblica falando em “FOGO DO CÉU”. Parecia que o Justiceiro do Senhor dizia com
antecedência exatamente o que pretendia fazer.
Uma
semana depois da primeira mensagem. Exatamente na outra terça-feira, bem cedo
da manhã, a zeladora correu apavorada após sair da sala 14, a mesma onde foi
deixada a mensagem passada. Havia outra mensagem.
Vários
professores se aproximaram. Novamente outra folha de papel A4. Novamente três
textos bíblicos ameaçadores:
“Na
verdade, a luz do ímpio se apagará, e não resplandecerá a chama do seu fogo.”
Jo 18.5.
“Sobre
os ímpios fará chover brasas de fogo e enxofre; um vento abrasador será a
porção do seu copo.” (Salmos 11.6)
“Quando
ele fez menção da arca de Deus, Eli caiu da cadeira para trás, junto à porta, e
quebrou-se-lhe o pescoço, e morreu, porquanto era homem velho e pesado. Ele
tinha julgado a Israel quarenta anos.” (I Samuel 4.18)
Arrependa-se,
pecadora infame. Arrependa-se e o SENHOR a perdoará. Arrependa-se e a mão do
JUSTICEIRO DO SENHOR será recolhida.
- Meu Deus! Que absurdo!
- O que há no coração dessa
pessoa?
- Cristãos desgraçados!
No
meio de tantos comentários e exclamações perplexas, algumas frases começaram a
preocupar. Era o que muita gente temia. Se o culpado não fosse encontrado,
todos os cristãos iriam pagar o pato.
- Quem faz esse tipo de
coisa não é cristão – alguns tentavam apaziguar a coisa. Mas era difícil
ignorar que aquele tipo de ameaça estava vindo da parte de alguém ligado à
religião.
Ou
não? De repente me veio uma dúvida. E, se o JUSTICEIRO DO SENHOR não fosse um
cristão, ou seja, não fosse nenhum religioso? E se algum desafeto da professora
Zilandra estivesse aproveitando aquele momento infeliz para se vingar e jogar a
culpa nos cristãos? Eu estava doida pra brincar de detetive. Eu queria ser
justamente isso: uma jornalista que faz reportagens investigativas. Talvez essa
fosse a ocasião propícia para um bom treinamento.
A
mensagem foi arrancada do quadro e enviada para o setor administrativo. A
professora Zilandra pediu para que todos se assentassem, que a aula iria
prosseguir normalmente. Quando todos estavam em seus lugares, a professora
perguntou pelo trabalho que havia passado na aula anterior. Todos abriram os
cadernos e bolsas, mas uma das minhas colegas estava paralisada.
- Que foi, Leona? –
Perguntou Zilandra.
Leona
Stanley, uma loira que sentava perto de mim, e que havia chegado há pouco tempo
não sei de onde, pra estudar na Galileu, não gostava de conversar muito.
Algumas vezes tentei aproximação com ela, mas não deu muito certo.
- Professora, não consigo
deixar de pensar na mensagem.
- Já disse pra esquecerem
isso – respondeu Zilandra, irritada – deixem essas coisas pra policia.
- Dos três textos bíblicos,
dois falam em fogo, mas o terceiro não.
- E daí? Já disse pra
deixar isso pra policia. Vamos ao trabalho.
Mas
Leona insistia.
- Olha, eu sou cristã e não
estou nem um pouco tranqüila sendo alvo dos olhares suspeitos de vocês. Não
podem culpar os cristãos por causa dos fanáticos que existem em seu meio, da
mesma forma que não é legal achar que todos os ateus são assassinos apenas
porque alguns deles são.
As
palavras de Leona causaram um certo efeito.
- Existem frutas podres em
todas as árvores que produzem frutos – continuou ela.
- Mas ninguém aqui está
acusando os cristãos, querida – o tom de voz de Zilandra não ajudava em nada a
apaziguar as coisas. Enquanto falava, a professora aproximou-se da mesa, e
puxou a cadeira.
- Não estão acusando
formalmente, mas cada olhar de vocês é como uma seta envenenada, mortal.
- Ora, você está
enganada... – enquanto falava com Leona, Zilandra colocou os livros sobre a
mesa e não percebeu que eles ficaram na beirada, levando poucos segundos para
caírem. Mas, ao desabarem da mesa, caíram sobre a cadeira. E nesse momento, a
classe entrou em pânico.
Ouviu-se
uma pequena explosão e uma chama de fogo surgiu atrás da mesa.
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