quinta-feira, 18 de setembro de 2014

CAPÍTULO 4 - O JUSTICEIRO DO SENHOR VOLTA A ATACAR

Ziva não conseguia dormir. Uma multidão de números 3 estavam invadindo sua mente. Ao seu lado, o homem continuava lendo. Ziva resolveu puxar conversa.

- O que o senhor acha daquele artigo sobre o número 3?

Ele virou-se, sorriu meio espantado e respondeu:

- O número 3 é mesmo muito interessante.

- Mas os outros números também não são? Se fôssemos prestar atenção, por exemplo, ao número 4, poderíamos destacar muitas coisas: 4 estações, 4 pontos cardeais, 4 fases da lua, 4...

- Sim? O que mais? O 3 continua na frente. Muito na frente.

- Ah, temos também o 5. Nós possuímos 5 sentidos, 5 dedos em cada mão, 5...

- O 3 continua imbatível, senhorita.

Ziva sorriu como se tivesse descoberto a fórmula da coca-cola e disse:

- Os 7 dias da semana, as 7 notas musicais, as 7 colinas de Roma, as 7 camadas dos elementos químicos, os 7 anões da Branca de Neve...

- Muito bem. Agora você foi longe. Citou o único número capaz de concorrer com o 3.

- O único? Como assim?


- Antes que eu responda, me diga porque tomou um choque ao abrir a revista no artigo sobre o número 3?

Ziva olhou desconfiada para ele.

- Eu não fiquei chocada. Só achei interessante.

- Não finja que não entendeu, senhorita. Percebi claramente que pareceu ter visto o diabo quando abriu a revista.

- Se eu contasse o senhor não acreditaria – na verdade, Ziva nunca contou pra ninguém sobre aquelas estranhas coincidências. Nem para os poucos amigos.

- Se a senhorita já tivesse visto o que eu já vi na vida não teria dito isso. Meu nome é Frank. Frank Makanera.

Ela respirou fundo, refletiu por alguns segundos, então se apresentou e abriu parte do seu coração. Talvez tivesse mesmo chegado a hora de fazer aquilo. O senhor Makanera a escutou atentamente durante uns 20 minutos.

Quando Ziva concluiu sua história, ele ficou pensativo, olhou seriamente pra ela e disse:

- E com uma história tão interessante a senhorita ainda não acredita em Deus?

- Não vejo como Deus pode estar envolvido nisso, senhor... o senhor é algum padre ou pastor?

- Não, senhorita. Apenas um pesquisador dos mistérios da vida e do comportamento humano. A senhorita nunca procurou uma pessoa religiosa para compartilhar isso?

- Como já disse, não acredito em Deus e muito menos naqueles que dizem acreditar nele.

- Teve, algum dia na vida, alguma decepção com Deus?

- Como poderia me decepcionar com alguém que não existe? – O homem notou que ela ficou nervosa. A pergunta dele devia ter reaberto alguma ferida dela.

- Bem, se Ele não existe, por que existe alguma coisa ao invés de nada? – O homem perguntou.

O coração dela bateu forte. A mesma pergunta que se fizera várias vezes na vida.

- Onde entra o número 3 nessa história de Deus?

Fingindo ignorar que Ziva não respondera à sua pergunta anterior, o senhor sorriu e disse:

- Para a maioria dos cristãos, a Suprema Divindade do Universo é Um Deus em essência, mas Três em Pessoa.

- Nunca vi lógica nessa doutrina da Santíssima Trindade.

- Senhorita, como a frágil mente humana poderia compreender Aquele que criou todas as coisas?

- É a desculpa favorita dos religiosos diante de questões como esta – ela sorriu ao dizer isso.

- Bem, permita-me continuar – ele não se abalou - Por estar tão profundamente relacionado a Deus, o número 3 é citado abundantemente na Bíblia. Não vou citar exemplos, pois você acabou de ler alguns nesta revista. Mas quero deter-me nos possíveis significados do número 3.

*******

Universidade Galileu, Porto Alegre, Brasil, 2001.

O professor Eliakim respirou aliviado ao ouvir a sirene. Normalmente adorava lecionar, mas naquela noite estava muito cansado. Era um ótimo professor de História e Matemática. Mas era anti-social. Ninguém sabia nada de sua vida e nem onde vivia. Quando não estava lecionando só podia ser encontrado na Biblioteca da Universidade. Apesar de ser freqüentemente paquerado, não dava a mínima para as paqueradoras. E nem para os paqueradores, já que alguns se arriscavam em pensar que o cara era, como se costumava dizer, “do outro partido”.

Naquele dia recebeu uma boa noticia pela Internet. Havia sido sorteado para participar de um intercâmbio cultural com professores de diversos países. O encontro seria na cidade de Roma, na Itália. Ele bem que precisava mesmo respirar outros ares.

*******
Ziva estava bastante concentrada nas explicações sobre o número 3.

- Nas Sagradas Escrituras percebemos que existem três degraus na vida espiritual – disse o senhor Makanera - Ou seja, três tipos de relacionamentos com Deus. Não somente a Divindade está relacionada com o 3, mas o homem também. Segundo a Bíblia, existem 3 trindades que estarão em conflito até o fim dos dias.

1 – A TRINDADE SANTA

2 – A TRINDADE HUMANA – O homem tem três partes, segundo as Escrituras: “E o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (I Tess 5.23).

3 – A TRINDADE SATÂNICA – Como inimigo número 1 de Deus e do homem, e como grande imitador, Satanás também criou uma trindade.

“E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta, vi saírem três espíritos imundos, semelhantes a rãs.” (Apocalipse 16.13).

O dragão é o próprio Satanás. A Besta representa um futuro líder mundial, inspirado por Satanás para governar o mundo. Uma espécie de Jesus Cristo ao contrário. E o falso profeta é o sacerdote desse falso Cristo.

O conflito entre as 3 trindades envolve muitas coleções de 3 dentro da Bíblia.

Na primeira tentação, lemos que – rapidamente, ele apanhou uma pequena Bíblia, abriu num certo texto e leu:

“Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento...” (Gênesis 3.6).

Vemos aqui os três aspectos clássicos da tentação, como o apóstolo João explica em seu livro, ao falar do:

1 - DESEJO DA CARNE,

2 - DESEJO DOS OLHOS

3 - E SOBERBA DA VIDA – 1 João 2.16

Veja só – e ele apontou novamente para o texto bíblico:

“Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer (= desejo da carne),
e agradável aos olhos (= desejo dos olhos),
e árvore desejável para dar entendimento (= soberba da vida),...” (Gênesis 3.6)

As mesmas 3 características tentadoras foram apresentadas a Jesus no deserto, por Satanás. Mas como eu disse antes, existem três degraus na vida de fé ou relacionamento com Deus. No Antigo Testamento, por ordem divina, Moisés construiu uma grande casa no deserto, chamada de Tabernáculo. Acredito que já tenha ouvido falar a respeito.

Era dividido em três partes, chamadas: Pátio, Lugar Santo e o Santo dos Santos. Cada parte está relacionada a um nível de comunhão com Deus.

*******

UNIVERSIDADE GALILEU, PORTO ALEGRE, BRASIL, 2008.

Não havia outra coisa a fazer, senão chamar a polícia. Meia hora depois e todo o campus estava tomado por policiais e investigadores. Os detetives interrogavam todo mundo. Hank estava muito assustado. Ninguém o vira no pátio durante a palestra e seu álibi não era capaz de convencer nem sua mãe: disse que passou a noite trancado no quarto devido a uma forte dor de cabeça. Cá entre nós: Você acreditaria nele?

Tudo indicava que o alvo era mesmo a professora Zilandra. Disso ninguém tinha dúvidas. E, é claro, todos relacionaram o quase trágico incidente com a mensagem pregada no quadro. E quase todo mundo pensou em Hank. Eu não queria estar no lugar dele.

Certamente, a vida não estava sendo fácil para Hank, e nem para a professora Zilandra. Ninguém gosta de andar por aí, com a sinistra sensação de estar sendo observado e que, a qualquer momento, um tiro pode acabar com todos os seus sonhos. No dia seguinte, as aulas voltaram ao normal. Quer dizer, não tão ao normal assim. Era impossível evitar os comentários. Uma coisa estava ficando muito visível. Notava-se um claro isolamento dos estudantes cristãos. Muita gente estava evitando andar ao lado do chamado “grupo de risco”, pois as suspeitas eram que, se não fosse Hank, certamente era um cristão fanático que estava ameaçando a vida da professora Zilandra.

No local de onde foi disparado o tiro – no alto do prédio da Universidade, do lado do setor administrativo, a policia procurou pistas, mas não encontrou nada. O tiro veio do alto. Aí me lembrei que na mensagem ameaçadora citava uma passagem bíblica falando em “FOGO DO CÉU”. Parecia que o Justiceiro do Senhor dizia com antecedência exatamente o que pretendia fazer.

Uma semana depois da primeira mensagem. Exatamente na outra terça-feira, bem cedo da manhã, a zeladora correu apavorada após sair da sala 14, a mesma onde foi deixada a mensagem passada. Havia outra mensagem.

Vários professores se aproximaram. Novamente outra folha de papel A4. Novamente três textos bíblicos ameaçadores:

“Na verdade, a luz do ímpio se apagará, e não resplandecerá a chama do seu fogo.” Jo 18.5.

“Sobre os ímpios fará chover brasas de fogo e enxofre; um vento abrasador será a porção do seu copo.” (Salmos 11.6)

“Quando ele fez menção da arca de Deus, Eli caiu da cadeira para trás, junto à porta, e quebrou-se-lhe o pescoço, e morreu, porquanto era homem velho e pesado. Ele tinha julgado a Israel quarenta anos.” (I Samuel 4.18)

Arrependa-se, pecadora infame. Arrependa-se e o SENHOR a perdoará. Arrependa-se e a mão do JUSTICEIRO DO SENHOR será recolhida.

- Meu Deus! Que absurdo!

- O que há no coração dessa pessoa?

- Cristãos desgraçados!

No meio de tantos comentários e exclamações perplexas, algumas frases começaram a preocupar. Era o que muita gente temia. Se o culpado não fosse encontrado, todos os cristãos iriam pagar o pato.

- Quem faz esse tipo de coisa não é cristão – alguns tentavam apaziguar a coisa. Mas era difícil ignorar que aquele tipo de ameaça estava vindo da parte de alguém ligado à religião.

Ou não? De repente me veio uma dúvida. E, se o JUSTICEIRO DO SENHOR não fosse um cristão, ou seja, não fosse nenhum religioso? E se algum desafeto da professora Zilandra estivesse aproveitando aquele momento infeliz para se vingar e jogar a culpa nos cristãos? Eu estava doida pra brincar de detetive. Eu queria ser justamente isso: uma jornalista que faz reportagens investigativas. Talvez essa fosse a ocasião propícia para um bom treinamento.

A mensagem foi arrancada do quadro e enviada para o setor administrativo. A professora Zilandra pediu para que todos se assentassem, que a aula iria prosseguir normalmente. Quando todos estavam em seus lugares, a professora perguntou pelo trabalho que havia passado na aula anterior. Todos abriram os cadernos e bolsas, mas uma das minhas colegas estava paralisada.

- Que foi, Leona? – Perguntou Zilandra.

Leona Stanley, uma loira que sentava perto de mim, e que havia chegado há pouco tempo não sei de onde, pra estudar na Galileu, não gostava de conversar muito. Algumas vezes tentei aproximação com ela, mas não deu muito certo.

- Professora, não consigo deixar de pensar na mensagem.

- Já disse pra esquecerem isso – respondeu Zilandra, irritada – deixem essas coisas pra policia.

- Dos três textos bíblicos, dois falam em fogo, mas o terceiro não.

- E daí? Já disse pra deixar isso pra policia. Vamos ao trabalho.

Mas Leona insistia.

- Olha, eu sou cristã e não estou nem um pouco tranqüila sendo alvo dos olhares suspeitos de vocês. Não podem culpar os cristãos por causa dos fanáticos que existem em seu meio, da mesma forma que não é legal achar que todos os ateus são assassinos apenas porque alguns deles são.

As palavras de Leona causaram um certo efeito.

- Existem frutas podres em todas as árvores que produzem frutos – continuou ela.

- Mas ninguém aqui está acusando os cristãos, querida – o tom de voz de Zilandra não ajudava em nada a apaziguar as coisas. Enquanto falava, a professora aproximou-se da mesa, e puxou a cadeira.

- Não estão acusando formalmente, mas cada olhar de vocês é como uma seta envenenada, mortal.

- Ora, você está enganada... – enquanto falava com Leona, Zilandra colocou os livros sobre a mesa e não percebeu que eles ficaram na beirada, levando poucos segundos para caírem. Mas, ao desabarem da mesa, caíram sobre a cadeira. E nesse momento, a classe entrou em pânico.


Ouviu-se uma pequena explosão e uma chama de fogo surgiu atrás da mesa. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário