terça-feira, 12 de novembro de 2013

Capítulo 10 – O FUNDO DO POÇO

           Jerusalém, 1999.

“A humanidade deve tomar cuidado com setembro de 2001. As profecias começarão a ficar mais claras. 2001 é o primeiro ano do novo milênio (que é o sétimo desde Adão), e em setembro é realizada a Festa das Trombetas em Israel, inaugurando o Ano Novo Judaico. Em setembro de 2001, a lua nova será no dia 17, quando acontecerá a festa que simboliza o Apocalipse”.

Moyra Stanley está muito impressionada. Ela ainda está em Jerusalém. Continua tentando se comunicar com Rogers Town, mas não está conseguindo nem por celular e nem pela Internet.

Para espairecer um pouco, resolveu visitar uma antiga biblioteca. Depois de algum tempo, um livro sobre as profecias de Daniel chamou sua atenção. Quando ela abriu o livro, uma folha dobrada caiu. Nela estava escrito o texto citado anteriormente, em letras manuscritas.

“Setembro de 2001? – Ela estava perplexa – De onde esse autor anônimo retirou tal idéia?”


Ela continua a leitura.

“O ano perigoso é 2001, que é o primeiro do 7.º Milênio desde Adão, na contagem humana oficial. O mês perigoso é Setembro, quando são realizadas as Festas das Trombetas e o Dia da Expiação (claramente relacionadas aos acontecimentos finais antes do Retorno do Messias). Será possível sabermos o dia em que poderão ocorrer coisas especiais relacionadas às profecias? Talvez, se considerarmos as seguintes informações:

Em 2001, a Festa das Trombetas ou o Rosh Hashanah (= Inicio do Ano Novo Judaico) acontecerá entre os dias 17 e 18 de Setembro (= no calendário ocidental oficial). Se algo relacionado às profecias tiver de acontecer em Setembro de 2001, será nos dias 17 e 18 ou próximo deles.”

“Incrível – pensou Moyra – O que pode haver de verdade numa afirmação tão ousada? Será que Morganne sabe disso? Se eu não estivesse tão distante dele agora...”

2001... festas judaicas... sétimo milênio... ela lembra de ter lido sobre isso há algum tempo, quando Morganne publicou um livro sobre o Arquivo7.

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        QUANDO DEUS MEDE O TEMPO NA BÍBLIA SEMPRE USA O PADRÃO 7 – É o sistema de maior predominância na Bíblia – qualquer análise da Bíblia (por mais superficial que seja) é capaz de notar essa “predominância incrível de setes”. Ao observarmos os cuidados de Deus com Israel, notamos que:

a) A cada 7.º dia, os judeus guardavam um dia de descanso (= O Sábado);
b) A cada 7 anos, havia o ano sabático, quando a terra ficava de descanso. Nenhuma semeadura, nem colheita ou poda de vinhedos. Deus prometia dar bastante no 6.º ano, que sobrava para o 7.º, e todos descansavam durante um ano.
c) A cada 49 anos (7 x 7), havia o ano do Jubileu, após o 7.º ano sabático. Isto significava dois anos seguidos de descanso.
d) 7 semanas após a festa da Páscoa, havia a festa de Pentecostes (= ou festa das semanas), e mais um descanso. A palavra “Pentecostes” significa “QUINQUAGÉSIMO”, ou 50.º.
e) O 7.º mês do Calendário Judaico é especialmente sagrado, tendo 3 festas, e novamente um período de descanso.
f) Deus estabeleceu exatamente 7 Festas para serem comemoradas anualmente por Israel: 3 no primeiro mês (= Páscoa, Pães Asmos e Primícias); 3 no 7.º mês (=Trombetas, Dia da Expiação e Tabernáculos) e uma no meio (= Pentecostes).
g) As duas primeiras festas (= Páscoa junto com os Pães Asmos) duravam 7 dias e a última (= dos Tabernáculos), também durava 7 dias.
h) Nas duas primeiras festas eram sacrificados 14 cordeiros (7 + 7) diariamente; no Pentecostes 7 cordeiros eram sacrificados; na 7.ª festa (= dos Tabernáculos), eram sacrificados 98 cordeiros (7 + 7 x 7), 70 novilhos (10 x 7), 14 carneiros (7 + 7) e 7 bodes. Observe que tudo segue o padrão 7.
i) De todas as festas, a dos Tabernáculos mais se destacava, pelo fato de ser a festa do descanso sabático. Observem bem: Essa festa era a 7.ª, durava 7 dias e acontecia no 7.º mês.

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Giovanna estava assombrada com a revelação do ancião.

- Sei que parece loucura, mas a verdade é essa. Mas espere um pouco. Se você está perplexa com essa revelação, com certeza ficará mais ainda quando eu explicar porque fiz aquilo.

Giovanna tornou a sentar-se, mas estava completamente perturbada. Olha para o lado de uma gigantesca árvore ao longe e vê um jovem distraído lendo um jornal. Era James Anderson.

- Você conhece bem Marcos Moran? – Perguntou o ancião.

Giovanna hesitou alguns segundos antes de começar a responder.

- Na verdade não. Sei apenas que Alanna namora ele há algum tempo. Sei que ele é administrador de uma empresa de turismo em Porto Alegre.

- Mas ele é muito mais do que isso. Lembra-se que a vida de Alanna esteve por um fio por causa de uma moça chamada Rashira? Você sabia que foi Marcos quem trouxe Rashira do Egito para o Brasil?

- Foi o que Alanna me contou.

- Mas todos pensavam que Rashira havia enganado ele, enganado você, enfim, enganado todo mundo com aquele disfarce de arqueóloga israelense. Na verdade, Marcos sabia muito bem quem era Rashira. Na verdade, Marcos faz parte dessa organização mundial que aguarda o Anticristo. Na verdade, Marcos era o escolhido para sacrificar Alanna naquele velho cemitério.

- Meu Deus!

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Igarapé Grande, Brasil. 1999.

Morganne está excitado diante de uma estranha descoberta. Estudando os profetas hebreus, juntamente com a Cronologia Bíblica, sua atenção foi despertada pelo fato de Jesus Cristo ter vindo ao mundo cerca de 4000 anos depois de Adão. Como 2000 anos desde a 1.ª Vinda de Cristo estavam se completando, ele ficou atônito. O 3.º milênio desde Cristo seria também o 7.º desde Adão (não exato, mas aproximado). De Adão até a 1.ª vinda de Jesus passaram-se aproximadamente 4000 anos. O 7.º milênio estava para começar. Repetindo: Conforme a cronologia bíblica, de Adão a Cristo, se passaram aproximadamente 4000 anos.  De Cristo até os dias atuais foram exatos 2000 anos.  São Seis milênios.  Agora estava começando o Sétimo. Isso teria algum significado especial? Morganne se perguntava: QUE FORTES EMOÇÕES DEUS ESTÁ NOS PREPARANDO PARA QUANDO CHEGAR O AMANHÃ?

Ele andava preocupado com mais uma coisa. Estudando numerologia bíblica, descobriu que o Plano de Deus envolvia outros números (tais como 30, 40, 42, 50, 75, 120, etc.). Observando a vida de alguns heróis bíblicos, descobriu uma coincidência interessante. Muitos deles começaram algum trabalho importante para Deus aos 30 anos de idade. José tornou-se governador do Egito aos 30 anos; Davi tornou-se o segundo rei de Israel com a idade de 30 anos; O evangelho de Lucas diz que Jesus era da idade de quase 30 anos quando começou a pregar; O profeta Ezequiel recebeu grandes revelações de Deus no 30.º ano de sua vida; os sacerdotes e levitas entravam para o ministério das coisas sagradas aos 30 anos.

Morganne então começou a imaginar coisas: Será que algo especial aconteceria em sua vida ou no mundo quando ele completasse 30 anos? Durante alguns anos (desde 1997), ele viveu com aquela sensação estranha de que nos seus 30 anos, aconteceria alguma coisa espantosa relacionada às coisas que ele investigava. Não era imaginação demais?

*******

Em Jerusalém, Moyra Stanley continuava fascinada com aquela tese estranha.

“Como o número 7 está tão relacionados às profecias, podemos supor algumas datas perigosamente prováveis. O Rosh Hashanah será nos dias 17 e 18. Se contarmos 7 dias antes, teremos os dias 11 e 12 de Setembro. 7 dias depois teremos os dias 24 e 25. A matemática da profecia é excitante e impressionante. Com base nisso, as datas proféticas mais dramáticas do inicio oficial do 7.º Milênio desde Adão poderão ser:

-         11 de setembro;
-         12 de setembro;
-         24 de setembro; e
-         25 de setembro.

As profecias indicam claramente que não podemos saber de data nenhuma relacionada ao Retorno do Messias, mas é possível conhecermos algumas datas relacionadas a eventos proféticos importantes, sem, contudo, sabermos que eventos acontecerão na data determinada. Por exemplo, temos a impressão de que algo profético extraordinário poderá acontecer nos dias 11,12,24 e 25 de setembro de 2001, mas não temos idéia nenhuma do que poderá ser.” 

“Esse negócio de profecia é muito interessante – disse Moyra para si mesma – e está faltando pouco tempo para ser confirmado ou não o que este autor diz. Mas afinal quem é ele?”.

Ela examina o papel minuciosamente, procurando alguma pista, e nota alguns pontinhos estranhos na extremidade esquerda.

“O que pode ser isto?”

Os pontinhos estavam dispostos numa forma esquisita. Resolve tirar uma cópia e enviar para seus curiosos amigos do Brasil.

Ela nem de longe imaginava que naquele momento Morganne estava preocupado com uma idéia parecida.

*******

Montanhas do Afeganistão. Um homem de uns quarenta anos, com uma comprida e mal arrumada barba, falava para um grupo de dez homens:

- O mundo precisa despertar para a causa palestina. Esses atentados individuais não têm despertado atenção de ninguém. Os americanos não estão nem um pouco preocupados com esses homens-bombas. É preciso algo grandioso, inédito, capaz de mudar a História. Já temos uma data, falta somente escolher o alvo.

- A estátua da liberdade? – Sugeriu um dos homens presentes, um sujeito magro, olhos fundos e barba assanhada.

- Não – respondeu o que parecia o líder – apesar de ser importante, não acho que causaria impacto. Além do mais, precisa haver muito sangue derramado. A simples queda de um monumento pode causar pesar no próprio país onde isso aconteceu, mas para abalar o mundo todo precisa haver milhares e milhares de vítimas, muito sangue. É disso que precisamos.

- Então o ataque poderia ser um grande centro habitado... uma embaixada.

- Não. Embaixada é muito comum.

- Um edifício importante...um grande templo religioso...

- Não. Isso já aconteceu antes. Quero algo inédito, repito.

- E precisa ser no centro da América?

- Sim. Aquela nação de infiéis precisa saber que Allah é grande e não há quem possa com seus filhos. Na verdade, Allah já me revelou onde deverá acontecer o sinal da vingança – e o estranho líder mostrou uma foto, onde aparecia de forma bem grandiosa, um dos maiores monumentos americanos, o mais movimentado, o mais freqüentado: O EXTRAORDINÁRIO CENTRO COMERCIAL DA AMÉRICA, WORLD TRADE CENTER, COM SUAS DESLUMBRANTES TORRES, CONHECIDAS COMO TORRES GÊMEAS!

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Moyra acordou sobressaltada. Acabara de ter um pesadelo. Uma catástrofe de proporções gigantescas. Um grande incêndio. Milhares de pessoas correndo desesperadas. Então ela vê as torres gêmeas envoltas num grande incêndio. Uma outra cena aparece. As duas torres ainda estão de pé e intactas. Tudo parece normal. Milhares de pessoas sobem e descem pelos elevadores, outras estão ocupadas com muitos papéis. Algumas sorriem, outras conversam de maneira séria, certamente resolvendo importantes negócios. Entre elas há um rosto conhecido, um homem, alguém que Moyra conhecia há muito tempo, um grande amigo: ROGERS TOWN!

- Deus do céu! O que isto pode significar? – Exclamou Moyra, com a cabeça entre as mãos.

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Giovanna continuava pasma diante das revelações trazidas pelo misterioso ancião. Ele continuava desmascarando Marcos Moran.

- Mas como Alanna conseguiu dominar Rashira a tempo, Marcos foi obrigado a mudar de tática, deixando para cumprir sua missão mais tarde.

- E aquele amuleto misterioso que achamos no quarto?

- Sutilmente Marcos Moran o jogou no canto assim que entrou no quarto, para levar vocês a pensarem que o atirador misterioso fosse membro de uma sociedade satânica.

- Inacreditável! E por que você tentou eliminá-lo daquela forma, arriscando nossas vidas?

- Na verdade eu salvei a vida de vocês. A sua, a de Anderson e a de Alanna.

- Como assim?

- Eu observava vocês de longe, na lanchonete. E minha atenção estava justamente na mão esquerda de Marcos. Principalmente em seu dedo mindinho, que é falso. Num juramento satânico ele cortou propositadamente seu dedo mindinho. Isso aconteceu no Egito. Mas no lugar do dedo decepado colocou um falso dedo e nesse “dedo” ele esconde uma arma perigosa, um veneno mortal capaz de abater uma dezena de touros.

- O que é que o senhor está dizendo?

- Que Marcos tinha planejado matar os três hoje, na lanchonete. Ele estava prestes a colocar seu veneno mortal no suco de vocês e não pude perder tempo. Não pensei duas vezes. E não pense que atirei para matá-lo. Embora ele mereça isso, meu objetivo era apenas atingir seu braço esquerdo, a fim de impedir sua ação assassina.

- Deus meu! Mas você já esperava isso? Por que estava armado com uma arma tão potente?

- Eu tinha certeza de que ele seria capaz de tentar qualquer coisa, e não podia perdê-lo de vista. Uma arma com uma mira telescópica seria um instrumento ideal.

- Mas então não podemos perder tempo – Giovanna levantou-se novamente – o senhor não sabe, mas Marcos e Alanna viajarão ainda hoje para os Estados Unidos. Meu Deus! Alanna está em perigo!

- Calma, moça! Deus não vai permitir que Marcos realize seu perverso intento. Principalmente, porque Alanna já sabe com quem está lidando.

- Como? Alanna sabe?

- Eu sei da viagem dela para os Estados Unidos. E ontem, disfarçado de mendigo e simulando pedir esmolas, aproximei-me dela, que estava acompanhada por Marcos na saída de um restaurante. Não foi difícil entregar um disquete pra ela e Marcos não percebeu nada.

- Puxa vida! E o que há no disquete?

- A verdade.

- E como o senhor tem tanta certeza de que ela não falará nada para Marcos?

- Em primeiro lugar, porque ela é uma “SETE”; em segundo lugar, porque ela está de olho em Marcos desde que ele retornou do Egito trazendo Rashira. Ela não engoliu aquela história de que ele também foi enganado. Principalmente, porque desde o momento em que Alanna imobilizou Rashira no cemitério, passaram-se poucos minutos e logo Marcos chegou até lá.

- Mas ela tinha avisado a ele que iria ao cemitério com Rashira.

- Sim, mas quando retornavam para casa, Alanna notou marcas de lama nos sapatos de Marcos, e nos poucos minutos que ele passara no cemitério, na verdade, não tinha nem atravessado o portão. Alanna o abraçou fora do cemitério, onde o chão estava seco. Mas ela sabia que ao redor da velha cabana tinha bastante lama – uma lama característica, igualzinha a lama encontrada nos sapatos de Marcos.

- Mas ele poderia ter pisado em lama em outros lugares – contestou Giovanna.

- É, poderia. Mas havia na calça dele algumas folhas de um mato típico daquelas regiões, que costuma se fixar na pele da gente. De modo que, tudo indicava que Marcos havia estado no mato. E além do mais, qual justificativa você imagina que ele deu para aparecer no cemitério naquele exato momento? Como ele poderia saber que Alanna estava em perigo?

- É verdade. Eu não havia pensado nisso.

- Ele disse que ficou preocupado por causa da demora delas. Alanna, que já estava com um pé atrás, fingiu que engoliu a explicação e o abraçou. Ela sabia muito bem que naquele dia ele tinha dito a ela que precisava resolver uns negócios na empresa e ficaria fora o dia inteiro. Portanto, não poderia acompanhá-la ao cemitério. E de repente aparece lá.

- Sim. A história está cheia de furos. E me lembro que quando conversávamos na lanchonete notei tensão nos olhos de Alanna. Notei que ela olhava para Marcos de uma forma não natural, ou seja, não natural de namorados que se amam e confiam um no outro. Mas afinal, como é que o senhor sabe de tudo isso?

- É simples. Eu estava lá. Venho acompanhando Marcos e Rashira desde que eles saíram do Egito. Alanna não corria nenhum perigo. Eu sabia que ela encontraria um jeito de escapar se aparecesse alguma armadilha, mas de qualquer forma eu estava pronto para intervir. Mas de maneira nenhuma podia me dar ao luxo de me revelar a ela, pois Marcos poderia me reconhecer.

- Reconhecer como?

- Toda a organização anda à nossa procura. Sabe quem somos. Três amigos meu foram assassinados. Éramos apenas quatro. Agora estou sozinho. Ah! Ia me esquecendo: Não foi Rogers Town quem enviou aquela mensagem alertando a respeito de Leafar e sua seita satânica para os SETES do Maranhão. Fui eu. Rogers não sabia nada disso. No mesmo período ele havia viajado para a África, onde deve estar até hoje.

- E por que usar o nome de Rogers?

- E como eu iria me apresentar diante de um caso tão grave e urgente? E de que outra forma os “SETES” me dariam crédito?

- Deus do céu! Como é que o senhor sabe tanto sobre o Grupo 7?

- Querida, a Ordem dos “SETE” sabe de coisas que você nem imagina. Mas infelizmente esse conhecimento se tornou uma ameaça mortal. A ironia sinistra disso tudo é que vocês estão em perigo justamente porque os satanistas pensam que há alguma ligação entre a Ordem dos “SETES” e o Grupo 7, enquanto que o Grupo 7 nunca nem ouviu falar da Ordem dos “SETE”. Até agora.

- Jesus de Nazaré! Que história! Pobre Alanna. Precisamos fazer alguma coisa – Giovanna olhou para James Anderson ao longe e acenou para ele – espero que o senhor não se zangue, mas pedi a meu amigo Anderson que nos vigiasse. Eu estava temendo alguma coisa.

- Não se preocupe – o ancião sorriu pela primeira vez, pois sua fisionomia sempre era tensa – desde o momento em que começamos a conversar que sei que seu amigo nos vigia de longe.

- O quê?!

*******

Rio de Janeiro, em algum momento da década de 90.

Juliana, uma jovem estudante (Faculdade de Direito) está desesperada. Sua depressão chegou ao limite. Ela sente o mundo desaparecer aos seus pés. Nada mais faz sentido. Agora nada mais interessa. Ela se aproxima daquela bela ponte (= um lugar de grandes contrastes: encontros românticos, namoros arrebatadores e dezenas de suicídios por ano). Por um momento, ela olha para trás, como se tentasse vislumbrar uma gotinha de esperança. Então, seus belos olhos castanhos se voltam para as escuras águas daquele rio assustadoramente encantador. Ela começa chorar, e suas lágrimas de desespero se misturam às águas daquele rio misterioso.

Juliana sobe ao parapeito da ponte, prepara-se para saltar. E faz isso sem hesitação.

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Rio Grande do Sul, 1999.

Alanna e Marcos Moran estão no aeroporto principal de Porto Alegre. Destino: Nova York.

Durante toda a viagem até o aeroporto Alanna esteve em silêncio. Logo que o táxi parou, ela olhou nos olhos dele e fez somente uma pergunta:

- Marcos, por que?

         Ele não demonstrou nenhuma surpresa. Durante alguns segundos não disse nada. Então sorriu e respondeu:

- Há algo melhor do que o amor. O poder.

Sua resposta fez o coração de Alanna gelar.

- Como você se deixou seduzir por eles?

- Querida, estava no meu destino.

- Por que pretende me acompanhar até os Estados Unidos?

- E quem disse que vamos para os Estados Unidos? – ele olhou para o outro lado, em tom de desprezo. Alanna estava muito abalada. Amava Marcos com todas as suas forças. Desejava estar tendo um pesadelo. Mas, infelizmente, sabia que era tudo real.

Naquele momento uma limusine preta parou perto deles. Três homens de aspecto sinistro se aproximaram de Alanna e Marcos. O coração dela estava cheio de amargura e tristeza.

Por que ela se arriscou a viajar com Marcos, mesmo sabendo que ele estava ligado aos satanistas?

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Rio de Janeiro, em algum momento da década de 90.

O coração batia além do normal. Max Lorenzo suava sem parar. Ele se encontrava à beira de um precipício, com uma corda no pescoço, um frasco de veneno na mão esquerda e um revólver na mão direita. Ele havia chegado ao fundo do poço em matéria de desespero. Estava a ponto de enlouquecer, pois não via nenhum sentido para a vida. Por isso queria morrer. E morrer de uma vez. Para não correr nenhum risco de escapar (e sofrer mais ainda, doente e abandonado em algum hospital deste vale de lágrimas), Max Lorenzo tomou todas as medidas para uma morte certa e imediata. Ele beberia o veneno (= um dos mais poderosos e mortais), daria um tiro na cabeça e ficaria pendente, enforcado naquela árvore. Sua mente criativa havia concebido mais uma idéia sinistra.

Ele havia amarrado a corda num galho que não seria capaz de suportar seu peso durante muito tempo. Para que isso? Para que se não morresse do tiro, do veneno e do enforcamento, ainda tivesse a chance de morrer afogado no rio que corria alguns metros próximo daquele precipício.

Mas por que aquele jovem queria morrer? Após alguns minutos de hesitação, quando uma parte de sua vida passou velozmente diante dele, Max decide colocar seu medonho plano em ação. Toma o veneno, aponta a arma para a cabeça e dispara.

Naquela tarde melancólica, os poucos pássaros que buscavam refúgio na árvore, voaram para todos os lados, assustados com o disparo.

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Porto Alegre, janeiro de 2010.

Markus Stanley estava a caminho da casa de Karina. Era um belo Sábado de sol, e ele havia prometido que iria almoçar com ela e sua família. Não era justo ele viver trancado daquele jeito, quando ainda havia quem o amasse.

- Professor Markus! – Karina não resistiu e deu um grande abraço naquele homem de coração enlutado – vamos entrando. Mamãe saiu para fazer umas compras, mas já deve estar voltando.

Sentados na sala, o professor e sua aluna apaixonada conversavam.

- Puxa! Mamãe está demorando hoje. Sabe que vocês possuem alguma coisa em comum?

Markus ficou pensativo.

- Por quê?

- Você sabia que não somos brasileiras? Eu e mamãe viemos pra cá quando eu tinha somente cinco anos.

- E quem é seu pai? – Imediatamente Markus se arrependeu de ter feito tal pergunta.

- Eu ... não sei – respondeu ela, meio constrangida.

- Desculpe-me, querida – ele tentou consertar a situação – desculpe-me. Perdoe-me se a magoei.

- Está tudo bem, professor – Ela não conseguia olhar para ele – está tudo bem. Afinal, não sou a única garota órfã por aqui, não é mesmo?

Ele ia dizer mais alguma coisa quando a porta se abre e uma firme voz feminina chama:

- Karina! Seu convidado misterioso chegou?

Naquele momento, uma mulher de uns 30 anos, longos cabelos negros, morena e muito bonita, entrou na sala e ficou frente a frente com Markus.

O atormentado professor teve o maior choque de sua vida. A mulher que acabara de chegar era Malena.

- Deus! – Markus sentiu o mundo rodando e logo depois tudo ficou escuro para ele.

A mulher permaneceu alguns segundos paralisada, como quem tinha visto um fantasma. Então desmaiou sobre aquele exótico tapete rosa.


- Mamãe! – Karina estava atônita, diante daquele casal desmaiado.

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