quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Capítulo 11 – QUANDO PESQUISAR A VERDADE É NAMORAR A MORTE... O ALVO É MOYRA STANLEY!

Moyra Stanley está na região do Mar Morto. Tenta espairecer um pouco, passeando na região onde antigamente existiram as famosas cidades pecaminosas de Sodoma e Gomorra, citadas na Bíblia. Não consegue esquecer o sonho da noite anterior. Seria uma espécie de premonição, ou melhor, uma profecia, uma revelação de Deus? Naquele momento, ela fala com Deus, pedindo uma confirmação do sonho. Então tem uma idéia. Apanha uma pedra e lança ao longe. Segue até o local onde a pedra caiu e tem uma surpresa.
 
Várias formigas vermelhas devoravam uma abelha. A pedra tinha caído a uns dois palmos. E havia três grupos. Pela ordem, a partir do inseto, o terceiro grupo tinha apenas três formigas, que carregavam uma perna da abelha. O grupo do meio estava carregando a cabeça e o terceiro grupo cuidava do resto do inseto morto.

“Três grupos – reflete Moyra – será que isto significa algo?” Repentinamente, um pensamento ilumina a inteligente moça. Contando cuidadosamente, ela descobre que o primeiro grupo tem 23 formigas; o segundo, tem 20 e o terceiro, somente três.


“23, 20 e 3. Devo estar imaginando coisas... 23, 20 e 3...se fossem letras do alfabeto, poderiam ser Z, U e C, ZUC? Calma ai, menina. Sua imaginação não tem limites. Tenha paciência. Por um momento, imaginei que...mas...essa não! O alfabeto inglês tem 26 letras, e sendo assim, 23 é W, 20 é T e 3 é C! WTC! World Trade Center!???”

Por uns momentos, Ela fica quieta. E se aquilo fosse apenas uma simples coincidência, sem significado algum? Não! Muitas coisas estranhas tinham acontecido em sua vida recentemente. Aliás, desde que conhecera o Grupo7 há alguns anos que estava acostumada com o sobrenatural e os fatos sem explicação. E desde que fizera as pazes com Deus (na mesma época em que conheceu o Arquivo7) havia uma sintonia muito linda entre ela e o Criador de todas as coisas.

Portanto, naquela manhã, nas terras bíblicas, acreditava que Deus continuava a falar com ela. E por que em forma de enigmas? Da última vez em que ela esteve com Morganne (meados da década de 90), ele havia falado algo interessante sobre enigmas:

- Um “SETE” é um caçador de enigmas, especialmente enigmas bíblicos; é um estudioso desse tipo de coisa; é um especialista nisso. Por que esse gosto por enigmas? Na verdade, isto é mais bíblico do que imaginamos. Na verdade, o inventor dos enigmas foi o próprio Deus. Quantos enigmas Ele não usou em Sua Palavra para ensinar verdades eternas aos homens? Por que chamamos de “SETE” aquele que estuda e cultiva a cultura dos enigmas? Porque a maioria dos enigmas bíblicos está relacionada com o número 7 (= por exemplo, o Apocalipse, o livro mais enigmático da Bíblia, está cheio de setes). Além do mais, há uma curiosidade interessante em nossa língua portuguesa. Pelo Sistema 7 (= calcular as palavras pelo seu número de ordem das letras), as palavras ENIGMA, DEUS e SETE tem o mesmo valor. Observe (= e ele escreveu num papel):

¨      E     N     I     G     M    A
       5 + 14 + 9 + 7 +  13 + 1 = 49

¨      D    E    U      S
     4 + 5 + 21 + 19 = 49

¨      S     E     T     E
     19 + 5 + 20 + 5 = 49

Que coincidência interessante, não? E exatamente 49, 7 x 7.

A palavra “ENIGMA” aparece 18 vezes na Bíblia, numa versão moderna, nos seguintes livros:

¨      Números – uma vez;
¨      Juízes – 8 vezes;
¨      I Reis – uma vez;
¨      II Crônicas – uma vez;
¨      Salmos – 2 vezes;
¨      Provérbios – uma vez;
¨      Ezequiel – uma vez;
¨      Daniel  - 2 vezes;
¨      I Coríntios – uma vez.

O que chama atenção aí? É que o único livro onde mais aparece a palavra “ENIGMA” é justamente em Juízes, o 7.º livro da Bíblia.

A palavra “ENIGMA” aparece pela 7.ª vez justamente no 7.º livro da Bíblia, e ao lado das palavras “SETE DIAS” e “SÉTIMO DIA”. Veja isso (Morganne abriu a Bíblia e mostrou aos jovens que, naquela tarde, conversavam sobre as pesquisas do Arquivo 7):

“ASSIM ELA CHORAVA DIANTE DELE OS SETE DIAS EM QUE CELEBRAVAM AS BODAS. SUCEDEU, POIS, QUE AO SÉTIMO DIA LHO DECLAROU, PORQUANTO O IMPORTUNAVA; ENTÃO ELA DECLAROU O ENIGMA AOS FILHOS DO SEU POVO.” (Juizes 14.17).

Vejam só! Sansão foi um personagem enigmático, e um dos fatos marcantes de sua vida foi quando ele propôs um enigma para os convidados de sua festa de casamento. O enigma era o seguinte:

“DO QUE COME SAIU COMIDA, E DO FORTE SAIU DOÇURA”

É bem significativo que este enigma esteja registrado no 14.º versículo (2 x 7), do 14.º capítulo, do 7.º livro bíblico.

- E o que significa mesmo? – Perguntou Moyra.

- Sansão havia matado um leão há pouco tempo – respondeu Morganne – ao retornar de uma viagem, viu a carcaça do animal, e observou que dentro dela as abelhas tinha fabricado mel. Por isso, DO QUE COME SAIU COMIDA (= do leão saiu o alimento), E DO FORTE SAIU DOÇURA (= do forte rei da floresta veio o mel). Os inimigos de Sansão jogaram sujo, ameaçaram a noiva dele e ela revelou o segredo. Exatamente no 7.º dia da festa, se aproximaram de Sansão e responderam:

“QUE COISA HÁ MAIS DOCE DO QUE O MEL? E QUE COISA HÁ MAIS FORTE DO QUE O LEÃO?” Isso provocou uma briga que só lendo no texto bíblico para sabermos os detalhes.

- Outro tipo de enigma bíblico são as parábolas – continuou Morganne - Existem até mesmos alguns versículos onde as duas palavras (enigmas e parábolas) aparecem juntas.

“INCLINAREI OS MEUS OUVIDOS A UMA PARÁBOLA; DECIFRAREI O MEU ENIGMA AO SOM DA HARPA.”  (SALMOS 49.4).

“ABRIREI A MINHA BOCA NUMA PARÁBOLA; PROPOREI ENIGMAS DA ANTIGÜIDADE...” (SALMOS 78.2)

“...PARA ENTENDER PROVÉRBIOS E PARÁBOLAS, AS PALAVRAS DOS SÁBIOS, E SEUS ENIGMAS. “ (PROVÉRBIOS 1.6)

 “TAMBÉM FALEI AOS PROFETAS, E MULTIPLIQUEI AS VISÕES; E PELO MINISTÉRIO DOS PROFETAS USEI DE PARÁBOLAS.” (OSÉIAS 12.10).

No ministério de Jesus na terra, Ele usou muitas parábolas (e muitas delas só serão plenamente entendidas no fim dos tempos – em nossos dias).

Naquele momento em Jerusalém, Moyra Stanley retorna mentalmente ao presente.

“É. Deus tem mesmo uma predileção especial por enigmas – ela tornou a refletir – mas o que de tão grave poderá acontecer com o World Trade Center. E quando?”

Ela lembrou do livro de profecias na biblioteca de Jerusalém, e daquela estranha tese, que apontava Setembro de 2001, como um período propício para acontecimentos apocalípticos. Como ela gostaria de estar agora ao lado daqueles jovens brasileiros espertos. Como ela gostaria de conversar com Morganne.

*******
         A história de Markus e Malena.

Um homem e uma mulher desmaiados e uma jovem desesperada sem entender nada. Alguns minutos mais tarde, o casal estava sentado, mas ainda atônitos e choravam sem parar, abraçados. Karina continuava sem entender nada:

- Mãe, professor, o que está acontecendo? Por favor, eu preciso saber.

Então, Markus – ainda tentando controlar as lágrimas – aproximou-se de Karina e deu-lhe um longo abraço, dizendo:

- Querida, vai ser difícil acreditar. Vai ser muito difícil acreditar, mas ... – ele olhou para Malena, como que suplicando ajuda – sua mãe vai contar uma história...uma história inacreditável.

E ela contou. E começou com uma revelação surpreendente:

- Querido, olhe bem nos olhos dessa linda menina. Ela é sua filha.

- O quê?!!! – Exclamaram quase ao mesmo tempo Karina e Markus.

*******
Num restaurante em Jerusalém, Moyra continuava pensativa. Ela apanha um guardanapo e rabisca algumas coisas. Desenha rapidamente as torres gêmeas e reflete durante alguns minutos. Lembra-se das teses estranhas encontradas naquela Biblioteca, e escreve no papel as datas 11, 12, 24 e 25 de setembro de 2001. Por que ela estava até sonhando com aquilo? E as coincidências relacionadas ao número de formigas? Tudo apontando para o World Trade Center. Então ela amassa o papel e deixa no canto da mesa.

Ela continuava pensativa. Mas, de repente, o noticiário israelense, que passava na televisão naquele momento, chamou sua atenção. A reportagem falava de um importante religioso católico que havia chegado em Jerusalém naquele dia.

Moyra levantou-se e aproximou-se da televisão para escutar melhor. E, no momento em que um repórter contava detalhes do célebre religioso, a linda jornalista levou um choque.

A reportagem informava que o tal religioso era um respeitado cardeal francês, de origem judaica. E que era considerado por muitos como um forte candidato ao chamado trono de São Pedro.

“Francês! Judeu! Candidato ao papado! Meu Deus!!!” – Ela lembrou do que havia lido recentemente no disquete deixado pelo misterioso ancião antes de morrer.

Ela saiu rapidamente do restaurante. Naquele dia um vento forte soprava sobre Jerusalém, e uma coisa esquisita aconteceu. Enquanto o vento soprava, o pedaço de papel que Moyra jogara fora saiu rolando até esbarrar nos sapatos de um jovem universitário que também estava ali almoçando, ao lado de mais três amigos. Ele havia se abaixado para pegar um cartão que caiu de sua carteira. Ao ver o papel amassado, apanha-o e faz menção de deixá-lo no canto da mesa, mas ao ver algo escrito, sua curiosidade é maior.

Abre o papel e lê as anotações de Moyra.

- Grande Allah – solta uma exclamação em voz baixa, mas que é ouvida pelos seus amigos.

- Que foi, Nassib? – Pergunta um deles.

- Algum de vocês escreveu isto? – O jovem estava tremendo e sua voz quase que não saia.

Um a um os outros rapazes olham o papel e fazem sinal negativo.

- Pelo profeta, quem pode ter escrito isso? Quem ousou divulgar isso?

Então, um dos jovens, chamado Hassan, disse:

Havia uma moça loira sentada ali há pouco tempo.

- Por Allah – tornou a exclamar o que parecia ser o líder – descubram quem é ela, o que faz aqui e como está por dentro dessa data.

- E se for somente uma coincidência, Nassib?

- Que coincidência, Salim? Aqui tem a data 11 de Setembro e um desenho, com as letras WTC. Somente dez pessoas sabem desse Plano e dessa data. Ou melhor, somente dez pessoas SABIAM...

- Que faremos agora?

- Temos que entrar em contato com o “Mullah”... e rápido.

*******

Porto Alegre, 2010.

Mais uns minutos para o professor e a jovem estudante se refazerem da nova revelação e Malena continuou:

- Lembra-se daquele dia de despedida, antes de você partir para a guerra? Lembra como nos amamos ardentemente, como nunca tinha acontecido? Sabíamos que aquilo não era correto, pois estávamos apenas noivos, mas era como se nunca mais fôssemos nos ver. Você estava indo para a guerra, uma guerra louca, e me entreguei a você em profundo desespero.  E aquela única sessão de amor me fez ficar grávida. Três meses depois de sua partida recebi uma noticia dizendo que você havia morrido no campo de batalha. Ao sair pelo campo a cavalo, meu coração estava profundamente amargurado. Na verdade o cavalo não enlouqueceu. Eu o impeli em direção ao abismo. Queria morrer! MAS DEUS É GRANDE E NÃO PERMITIU QUE ISTO ACONTECESSE!

No hospital, ferida e com algumas fraturas eu gritava: ME DEIXEM MORRER! Um tio estava nos visitando naqueles dias – ele era muito rico – e vendo meu desespero, mandou que me aplicassem uns calmantes. Enquanto eu estava inconsciente meu tio convenceu meus pais a irem embora para bem longe dali. Por que o falso túmulo? Por que espalharam a noticia de que eu morri? Na verdade, isso foi idéia do meu tio. E por que? Para quebrar todos os laços que eu poderia ter com a tua família, e para evitar que você – se retornasse da guerra – pudesse me procurar. Mais tarde, ao saber dessa trama, passei muito tempo odiando meu tio – principalmente ao descobrir que ele fora o autor da falsa noticia de que você tinha morrido. Na verdade, meu tio era apaixonado por mim há muito tempo e queria que eu fosse morar com ele. Ao saber que eu estava noiva de você, ele armou toda a comédia – trágica demais para nós dois.

Quando – seis meses depois - recuperei plenamente a consciência e a memória (que tinha ficado abalada, por causa dos fortes medicamentos) compreendi toda a trama. Tratei de arrumar minhas coisas e cai no mundo, com destino a Porto Alegre, onde tinha uma prima, Anna Max Mister (mãe de Alanna). Aqui Karina nasceu, e com a ajuda de Deus fiz minha faculdade de Filosofia. Karina cresceu, entrou para a Universidade, e se apaixonou por um professor simpático e lindo – seu próprio pai.

Markus estava extasiado.

*******

Jerusalém, 1999.

Moyra estava decidida: Iria entrevistar David Lived, o cardeal francês, de origem judaica, que estava visitando Jerusalém. Ela não perderia uma oportunidade dessa por nada. E acreditava que aquela oportunidade foi dada por Deus.

Fazia algum tempo que David Lived estava chamando a atenção dos líderes do Oriente Médio, pois ele defendia ardentemente a paz entre árabes e israelenses. 

Moyra sabia que Lived era uma importante peça do jogo político entre o Vaticano e Israel. E havia algo mais nele que chamava atenção. Era o mais jovem cardeal de Roma (36 anos) e muitos queriam saber o porquê. Será que teria alguma coisa a ver com o influente cardeal Ângelo Rosselini, que era nada mais e nada menos do que seu tio? Claro! Com certeza!

- O senhor acredita numa paz segura entre árabes e judeus?

- Sim – sorriu o cardeal, diante de Moyra – Acredito que a paz é possível. O problema é que até o presente momento, nenhum negociador esteve à altura. Por mais carismáticos e inteligentes que os líderes americanos sejam, não tem sido fácil fazer sentar à mesma mesa, israelenses e árabes. Carter conseguiu unir Israel e o Egito em 1979. Clinton fez Arafat apertar as mãos de Rabin em 1993, mas como sabemos, esta lua de mel durou pouco.

- E quais seriam as características de um bom negociador?

- Bem, teria de ser simpático para os dois lados. Teria de inspirar confiança aos dois grupos. Teria de ter não somente talento, mas, sobretudo, quem sabe, um dom divino.

- Uma espécie de Messias? – Moyra percebeu que aquela conversa estava se direcionando para algo não previsto no programa. Mas, afinal, estava conversando com um religioso e, portanto, não seria surpresa nenhuma tocarem temas messiânicos. Além do mais, David tinha sangue judeu.

- Pode ser. Sim, um Messias poderia resolver a questão que ninguém conseguiu até agora.

- O senhor acredita na esperança judaica sobre a vinda do Messias?

- Bem, fui criado na tradição judaica, e meus pais me falavam muito sobre o Messias que um dia virá para libertar Israel dos seus opressores e implantar o fabuloso reino messiânico na terra.

- Sim, e o senhor acredita que as coisas acontecerão assim? – Ela percebeu que a resposta dele não tinha sido convincente, mas vaga demais.

- Olha, sou judeu, mas hoje não sigo a religião judaica. Meu credo é um pouquinho diferente.

- Ah, claro. A religião Cristã tem um pensamento diferente sobre O Messias. E quanto à Segunda Vinda do Messias, os dois principais ramos do Cristianismo (Católicos e Protestantes) possuem pontos de vistas diferentes, certo?

- Sim, nós católicos acreditamos que, quando a Bíblia fala da Volta de Cristo, está se referindo à morte de um Cristão, quando então, nos encontraremos com Ele.

- Mas nos dias de hoje nem todo católico crê assim...

- É verdade, mas de maneira geral, a Igreja Católica não dá muita importância aos temas relacionados à Segunda Vinda. Acreditamos que é mais importante pregarmos a caridade...

- Voltando à questão árabe-israelense. Quanto tempo essa crise pode durar?

- Mais breve do que você imagina haverá paz no Oriente Médio e no mundo – o cardeal falou com tanta segurança, que Moyra não deixou de sentir um leve arrepio.

- Falando assim, parece que você sabe algo que eu e o resto do mundo ignoramos...

- Eu sou apenas um otimista. Nós cristãos, temos que ser otimistas.

- Passando para a parte final desta entrevista, você aspira alcançar o cargo máximo na religião católica?

Aquela pergunta provocou um brilho estranho nos olhos de David Lived.

- Bem, minha querida. Creio que todos os cardeais sonham – pelo menos uma vez na vida – em se sentar na Cadeira de São Pedro. Por que eu seria diferente?

- Mas alguns especialistas em questões “vaticanistas” especulam que, como você é o mais jovem cardeal, teve uma ascensão rápida demais – estranhamente rápida – possui grande influência na comunidade judaica – e por incrível que pareça, também na comunidade árabe – tem grandes chances de ser o Papa mais jovem dos anos recentes.

Aquela frase de Moyra mexeu com David. Ela notou que havia causado impacto. Mas sentiu que falou demais.

- Por que você acha que tive uma ascensão “estranhamente rápida”?

- E não é mesmo estranha? – Disse ela, forçando um sorriso, procurando consertar o inconsertável.

- Bem, o futuro dirá. Às vezes o futuro não é imprevisível, minha querida.

Então a entrevista foi encerrada. Moyra agradeceu a atenção, mas saiu dali com centenas de pensamentos estranhos. “Por que ele disse que às vezes o futuro não é imprevisível? Oh, Rogers, onde você está? Preciso entrar em contato com Morganne. Há muitas coisas esquisitas no ar.”

*******

Roma, final da década de 80.

Arthur e Zoe se conheciam desde criança. Foram criados quase que como irmãos. Cresceram como bons amigos, e aquela amizade profunda e verdadeira transformou-se pouco a pouco em amor. Um amor baseado em muito respeito e sinceridade. Esse amor foi despertado na adolescência. Eles estavam juntos quase que constantemente, e assim entraram na Universidade (= muito jovens ainda), onde, pela primeira vez seguiram caminhos diferentes (ele passou a cursar Jornalismo e ela Psicologia). Mas a paixão deles aumentava a cada dia de tal forma que já havia se tornado proverbial naquela região. As pessoas costumavam dizer: “NÃO HÁ AMOR COMO O DE ARTHUR E ZOE”.

Dentro de pouco tempo eles irão se formar, e depois de se casarem irão à Europa (um antigo sonho dos dois).

Naquele final de semana o belo casal estava – como era tradicional – sentado em uma pracinha simples, mas encantadora, localizada a poucos metros do campus universitário.

- Sabe que ultimamente não tenho dormido direito com medo de perder você?

Ele sorriu, fixou aqueles olhos negros, profundos e maravilhosos e disse:

- Você sabe que isto jamais acontecerá, querida. Nosso amor é eterno. Eu nunca deixarei de te amar.

- Mas nós somos mortais. Um dia iremos envelhecer e morrer. E ai? O que será de nosso amor? Apenas uma doce lembrança para os que ficaram?

- Por que você está se preocupando com isso?

- Sabe, quando nós somos adolescentes pensamos que tudo será para sempre, temos sonhos utópicos e vemos tudo colorido. Mas quando chegamos à maturidade intelectual, que passamos a compreender melhor o mundo, é inevitável chegarmos a certas conclusões desesperadoras.

- Eu ouvi certa vez não sei onde que “quem ama sofre”. Por quê? Será que isto tem a ver com o que você está passando?

- Quem ama, sofre – repetiu Zoe, de forma melancólica – É, deve ser isto. Quem não ama, não se preocupa com ninguém, e, portanto, não pode sofrer. Mas será que o amor está condenado para sempre a andar lado a lado com o sofrimento? Nascemos somente para sofrer? Eu não posso e não quero acreditar nisso – e acabando de dizer estas palavras, Zoe abraçou Arthur e chorou silenciosamente.

Arthur não sabia o que dizer. E começou a ficar preocupado. Ele lembra da educação religiosa que recebeu dos pais ainda criança. Mas nunca viu sentido naquela série infindável de devoções, rituais e penitências. Seus pais seguiam um cristianismo parecido com o da Idade Média (= repleto de práticas supersticiosas que mais confundiam os seres humanos do que ajudavam). E assim, logo que alcançou a maioridade, abandonou aquela crença religiosa por completo. Portanto, agora ele era uma pessoa sem crença nenhuma. Isto significava: SEM NENHUMA ESPERANÇA NA VIDA APÓS A MORTE. Para ele, a morte acabava com tudo, e a vida humana era apenas uma ilusão, doce e amarga. Assim sendo, naquele estado espiritual, ele não tinha nenhuma palavra de consolo para sua amada. Na verdade, aquelas preocupações também já vinham perturbando seu coração há bastante tempo.

Zoe foi criada pelos tios, vizinhos dos pais de Arthur. Ela nunca soube o que realmente aconteceu com seus pais, pois os tios desconversavam sempre que ela os interrogava a respeito. Eles diziam que os pais dela haviam viajado para bem longe – forçados pelas circunstâncias – e sem poderem criar a menina, a deixaram com os tios, que seguiam os mesmos ensinamentos religiosos dos pais de Arthur.

- Olha – disse Arthur, após alguns minutos – procure não pensar nessas coisas. Vamos viver o momento, o hoje, o agora. Nós nos amamos e isso é suficiente. Se existe uma razão para a nossa existência na terra deveremos saber um dia. Se existe um Criador de todas as coisas, e se Ele realmente nos ama (como muitas pessoas gostam de dizer), então ele abençoará nosso amor e nos revelará a verdade.

Naquele momento, uma folha caiu no colo de Zoe. Ela sorriu e guardou a folha dentro do caderno.

- Talvez isso tenha algum significado – ela limpou as lágrimas e convidou Arthur para darem um passeio.

*******

Jerusalém, 1999.

De volta ao hotel, Moyra Stanley aproximou-se do quarto, e, como de costume, examinou o trinco da porta antes de tocá-lo (ela não perdia aquela mania, pois fez aquilo durante muitos anos, quando estava a serviço da CIA). O trinco estava limpo demais. Não tinha nenhuma marca de impressão digital, nenhuma – nem mesmo as delas. “Talvez o zelador tenha feito uma limpeza geral – pensou ela, enquanto introduzia a chave na fechadura”. Entrou no quarto, mas repentinamente alguém a segurou por trás e a imobilizou, com um saco de pano. Antes que ela reagisse, sentiu uma forte picada no braço direito – uma seringa, com algum líquido atordoante. Alguns segundos depois e tudo escureceu para Moyra Stanley.

Quando Moyra Stanley abriu os olhos, levou um grande susto. Estava amarrada no centro de uma sala – uma típica sala de interrogatório no modelo ocidental, com fortes luzes ofuscando o rosto do prisioneiro. Então ela escuta uma voz masculina e jovem:

- Sabemos quem é você. Moyra Jenny Stanley, ex-agente da CIA, tem uma ficha extraordinária de trabalhos prestados para vários serviços de espionagem e contra-espionagem, e atualmente trabalha como jornalista especial do New York Times. Sabemos que está em Jerusalém preparando uma matéria sobre a crise entre judeus e palestinos. Mas agora queremos saber o seguinte: Encontramos um escrito seu com as datas 11, 12, 24 e 25 de setembro de 2001, e as letras WTC, ao lado de um desenho das torres gêmeas americanas. Por quê?
        
*******
Zoe não consegue mais se concentrar em seus estudos. Seu estado emocional piora a cada dia e ela começa a mergulhar em profunda depressão. Passa a escrever compulsivamente cartas e mais cartas para Arthur (= apesar de vê-lo quase todos os dias), num tom apaixonado (e angustiado).

Arthur não sabe o que dizer ou fazer. Então, naquela que tinha tudo para ser mais uma bela manhã de Sábado, aconteceu a tragédia. Zoe não estava bem. Vinha de bicicleta e não viu quando o caminhão dava marcha a ré, a fim de fazer uma curva. O corpo da jovem foi lançado longe.

Arthur tinha viajado a fim de resolver uns negócios da família. Iria ficar umas duas semanas longe de Zoe. Ao retornar, cheio de saudades (apesar de não Ter ficado nem um mês fora), procurou Zoe. Os tios da infeliz moça não sabiam como dar a noticia. Ela agonizou durante dois dias no hospital, mas então faleceu. Eles disseram ao jovem que Zoe havia viajado, e deveria ficar algumas semanas fora. Mas Arthur percebeu que eles não estavam falando a verdade. Então, a horrível verdade veio à tona. E Arthur chorou durante dois dias, sem parar.

*******

Jerusalém, 1999.

Moyra sentiu que estava pisando em terreno perigoso. Precisava ser prudente. Quem falava com ela tinha um forte sotaque árabe (ela tinha muita experiência com os sotaques orientais). Provavelmente seria um jovem (talvez um desses jovens árabes que estudam na América, a julgar pelo típico linguajar americano e pelas palavras escolhidas). Ela falou com todo o cuidado:

- Eu estava lendo um livro judaico sobre profecias e fiquei impressionada com umas datas que encontrei lá. (Ela conta detalhadamente o que havia lido na Biblioteca de Jerusalém, pois não via a necessidade de ocultar nada).

- E por que as letras WTC? E por que o desenho das torres gêmeas?

Aquela pergunta era um pouco mais difícil de se responder, pois a respeito das torres Moyra tinha sonhado e também recebido uma espécie de mensagem divina codificada (o caso das formigas), e certamente aqueles misteriosos personagens não dariam o menor crédito a esse tipo de revelações. Como fazer? Havia 99% de chance deles serem muçulmanos (talvez até radicais islâmicos, e quem sabe, terroristas?).

- Eu...eu sou Cristã, e como tal acredito que Deus fala diretamente ao ser humano por meio de sonhos, visões, circunstâncias e coisas semelhantes. Quando cheguei em Jerusalém, comecei a ter certas, como dizer, certas premonições relacionadas ao World Trade Center.

Se eles fossem especialistas em interrogatório saberiam que ela estava dizendo a verdade. Mas acontece que o passado dela era conhecido. Quem iria se convencer de que ela havia mesmo abandonado o serviço de espionagem? Principalmente porque, à serviço da CIA, ela se disfarçou muitas vezes de jornalista. Moyra sabia que tinha entrado numa grande encrenca.

- Você falou com mais alguém a respeito dessas datas e do WTC?

- Não.

- O que você pensa sobre isso?

- Sobre o que?

- Qual a sua interpretação dessas, como disse, visões e sonhos?

- Talvez Deus esteja nos alertando sobre algo que poderá acontecer com o World Trade Center.

- O que, por exemplo, poderia acontecer com o WTC?

- Não sei. Catástrofes acontecem todo os dias... as estatísticas têm mostrado o aumento dos terremotos, ciclones, etc. – Moyra dá uma pausa e pergunta – o que vai acontecer comigo?

O silêncio que se segue é inquietante.  Alguns minutos depois e Moyra mergulha novamente na escuridão.

Passado algum tempo ela abre os olhos. Está dentro de um lotado ônibus que segue por uma das ruas de Jerusalém. Ela olha ao redor, mas não reconhece ninguém. Os seus misteriosos raptores poderiam estar também no ônibus. Ela procura olhar nos olhos de cada um dos passageiros, pois tinha uma habilidade espantosa de penetrar na alma humana pelos olhos.      Por mais inteligentes que aqueles misteriosos inimigos fossem, seria muito difícil esconder algo dos treinados (e belos) olhos de Moyra Stanley.

Durante alguns minutos ela sonda cada um dos passageiros (especialmente os jovens). Então um jovem sério, carrancudo, olhos fundos e assustados, chama a atenção dela. Embora o tempo estivesse muito quente, aquele rapaz vestia uma grande jaqueta e ainda se encontrava de braços cruzados como quem estivesse com frio. Aquilo era suspeito demais.

*******

Marcos segurou fortemente no braço esquerdo de Alanna e a empurrou discretamente em direção aos três mal encarados que saíram da limusine preta.

Então algo surpreendente aconteceu. Marcos cambaleou e foi ao chão.

Os três homens correram para ajudá-lo.

- Não se movam ou será pior para vocês!!!

A voz firme, que veio de perto da limusine, paralisou os três homens. De repente, de dentro de um táxi estacionado ali próximo, cinco homens saíram, fortemente armados. Um negro forte e alto, que parecia ser o chefe da operação, aproximou-se de Alanna.

- Você está bem?

- Estou sim, Paulo. Obrigada.

Ele a abraçou e disse:

- Eu sinto muito.

*******
Jerusalém, 1999.

Moyra sente um calafrio. Lembrou-se de onde estava, a terra dos fanáticos religiosos e dos homens-bomba. Naquele momento um pensamento varou sua mente como uma flecha: DE CERTA FORMA O CONHECIMENTO QUE ELA POSSUIA SOBRE O WORLD TRADE CENTER NÃO ERA DO AGRADO DOS MISTERIOSOS RAPTORES. DURANTE O INTERROGATÓRIO HAVIA SENTIDO QUE UMA AMEAÇA DE MORTE PAIRAVA SOBRE ELA. E AGORA ENTENDIA O PLANO DAQUELES PERSONAGENS SINISTROS: ELA NÃO ESTAVA NAQUELE ÔNIBUS À TOA. ESTAVA SIM CONDENADA A MORRER, JUNTAMENTE COM DEZENAS DE INOCENTES, E AQUELE RAPAZ CARRANCUDO ERA O MENSAGEIRO DA MORTE!

Ela levantou-se e aproximou-se do rapaz candidato à carrasco. Como se já tivesse percebido as intenções dela, o jovem se levantou repentinamente, e levou a mão direita ao bolso direito da calça. O que se seguiu foi arrepiante, terrível e sangrento.


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