Moyra
Stanley está na região do Mar Morto. Tenta espairecer um pouco, passeando na
região onde antigamente existiram as famosas cidades pecaminosas de Sodoma e
Gomorra, citadas na Bíblia. Não consegue esquecer o sonho da noite anterior.
Seria uma espécie de premonição, ou melhor, uma profecia, uma revelação de
Deus? Naquele momento, ela fala com Deus, pedindo uma confirmação do sonho.
Então tem uma idéia. Apanha uma pedra e lança ao longe. Segue até o local onde
a pedra caiu e tem uma surpresa.
Várias
formigas vermelhas devoravam uma abelha. A pedra tinha caído a uns dois palmos.
E havia três grupos. Pela ordem, a partir do inseto, o terceiro grupo tinha
apenas três formigas, que carregavam uma perna da abelha. O grupo do meio
estava carregando a cabeça e o terceiro grupo cuidava do resto do inseto morto.
“Três
grupos – reflete Moyra – será que isto significa algo?” Repentinamente, um
pensamento ilumina a inteligente moça. Contando cuidadosamente, ela descobre
que o primeiro grupo tem 23 formigas; o segundo, tem 20 e o terceiro, somente
três.
“23, 20 e
3. Devo estar imaginando coisas... 23, 20 e 3...se fossem letras do alfabeto,
poderiam ser Z, U e C, ZUC? Calma ai, menina. Sua imaginação não tem limites.
Tenha paciência. Por um momento, imaginei que...mas...essa não! O alfabeto
inglês tem 26 letras, e sendo assim, 23 é W, 20 é T e 3 é C! WTC! World Trade
Center!???”
Por uns
momentos, Ela fica quieta. E se aquilo fosse apenas uma simples coincidência,
sem significado algum? Não! Muitas coisas estranhas tinham acontecido em sua
vida recentemente. Aliás, desde que conhecera o Grupo7 há alguns anos que
estava acostumada com o sobrenatural e os fatos sem explicação. E desde que
fizera as pazes com Deus (na mesma época em que conheceu o Arquivo7) havia uma
sintonia muito linda entre ela e o Criador de todas as coisas.
Portanto,
naquela manhã, nas terras bíblicas, acreditava que Deus continuava a falar com
ela. E por que em forma de enigmas? Da última vez em que ela esteve com
Morganne (meados da década de 90), ele havia falado algo interessante sobre
enigmas:
- Um
“SETE” é um caçador de enigmas, especialmente enigmas bíblicos; é um estudioso
desse tipo de coisa; é um especialista nisso. Por que esse gosto por enigmas?
Na verdade, isto é mais bíblico do que imaginamos. Na verdade, o inventor dos
enigmas foi o próprio Deus. Quantos enigmas Ele não usou em
Sua Palavra para ensinar verdades eternas aos homens? Por que chamamos de “SETE”
aquele que estuda e cultiva a cultura dos enigmas? Porque a maioria dos enigmas
bíblicos está relacionada com o número 7 (= por exemplo, o Apocalipse, o livro
mais enigmático da Bíblia, está cheio de setes). Além do mais, há uma
curiosidade interessante em nossa língua portuguesa. Pelo Sistema 7 (= calcular
as palavras pelo seu número de ordem das letras), as palavras ENIGMA, DEUS e
SETE tem o mesmo valor. Observe (= e ele escreveu num papel):
¨ E N
I G M
A
5 + 14 + 9 + 7 + 13 + 1 = 49
¨ D E
U S
4 + 5 + 21 + 19 = 49
¨ S E
T E
19 + 5 + 20 + 5 = 49
Que
coincidência interessante, não? E exatamente 49, 7 x 7.
A palavra
“ENIGMA” aparece 18 vezes na Bíblia, numa versão moderna, nos seguintes livros:
¨ Números – uma vez;
¨ Juízes – 8 vezes;
¨ I Reis – uma vez;
¨ II Crônicas – uma vez;
¨ Salmos – 2 vezes;
¨ Provérbios – uma vez;
¨ Ezequiel – uma vez;
¨ Daniel - 2 vezes;
¨ I Coríntios – uma vez.
O que
chama atenção aí? É que o único livro onde mais aparece a palavra
“ENIGMA” é justamente em Juízes, o 7.º livro da Bíblia.
A palavra
“ENIGMA” aparece pela 7.ª vez justamente no 7.º livro da Bíblia, e ao lado das
palavras “SETE DIAS” e “SÉTIMO DIA”. Veja isso (Morganne abriu a Bíblia e
mostrou aos jovens que, naquela tarde, conversavam sobre as pesquisas do
Arquivo 7):
“ASSIM ELA
CHORAVA DIANTE DELE OS SETE DIAS EM QUE CELEBRAVAM AS BODAS. SUCEDEU, POIS, QUE AO SÉTIMO DIA LHO
DECLAROU, PORQUANTO O IMPORTUNAVA; ENTÃO ELA DECLAROU O ENIGMA AOS
FILHOS DO SEU POVO.” (Juizes 14.17).
Vejam só!
Sansão foi um personagem enigmático, e um dos fatos marcantes de sua vida foi
quando ele propôs um enigma para os convidados de sua festa de casamento. O
enigma era o seguinte:
“DO QUE COME SAIU COMIDA, E DO FORTE
SAIU DOÇURA”
É bem
significativo que este enigma esteja registrado no 14.º versículo (2 x 7), do
14.º capítulo, do 7.º livro bíblico.
- E o que
significa mesmo? – Perguntou Moyra.
- Sansão
havia matado um leão há pouco tempo – respondeu Morganne – ao retornar de uma
viagem, viu a carcaça do animal, e observou que dentro dela as abelhas tinha
fabricado mel. Por isso, DO QUE COME SAIU COMIDA (= do leão saiu o alimento), E
DO FORTE SAIU DOÇURA (= do forte rei da floresta veio o mel). Os inimigos de
Sansão jogaram sujo, ameaçaram a noiva dele e ela revelou o segredo. Exatamente
no 7.º dia da festa, se aproximaram de Sansão e responderam:
“QUE COISA
HÁ MAIS DOCE DO QUE O MEL? E QUE COISA HÁ MAIS FORTE DO QUE O LEÃO?” Isso
provocou uma briga que só lendo no texto bíblico para sabermos os detalhes.
- Outro
tipo de enigma bíblico são as parábolas – continuou Morganne - Existem até
mesmos alguns versículos onde as duas palavras (enigmas e parábolas) aparecem
juntas.
“INCLINAREI
OS MEUS OUVIDOS A UMA PARÁBOLA; DECIFRAREI O MEU ENIGMA AO SOM DA HARPA.” (SALMOS 49.4).
“ABRIREI A
MINHA BOCA NUMA PARÁBOLA; PROPOREI ENIGMAS DA ANTIGÜIDADE...” (SALMOS 78.2)
“...PARA
ENTENDER PROVÉRBIOS E PARÁBOLAS, AS PALAVRAS DOS SÁBIOS, E SEUS ENIGMAS. “
(PROVÉRBIOS 1.6)
“TAMBÉM FALEI AOS PROFETAS, E MULTIPLIQUEI AS
VISÕES; E PELO MINISTÉRIO DOS PROFETAS USEI DE PARÁBOLAS.” (OSÉIAS 12.10).
No ministério de Jesus na terra, Ele usou muitas parábolas
(e muitas delas só serão plenamente entendidas no fim dos tempos – em nossos
dias).
Naquele momento em Jerusalém, Moyra Stanley retorna
mentalmente ao presente.
“É. Deus tem mesmo uma predileção especial por enigmas – ela
tornou a refletir – mas o que de tão grave poderá acontecer com o World Trade
Center. E quando?”
Ela lembrou do livro de profecias na biblioteca de
Jerusalém, e daquela estranha tese, que apontava Setembro de 2001, como um
período propício para acontecimentos apocalípticos. Como ela gostaria de estar
agora ao lado daqueles jovens brasileiros espertos. Como ela gostaria de
conversar com Morganne.
*******
A
história de Markus e Malena.
Um homem e
uma mulher desmaiados e uma jovem desesperada sem entender nada. Alguns minutos
mais tarde, o casal estava sentado, mas ainda atônitos e choravam sem parar,
abraçados. Karina continuava sem entender nada:
- Mãe,
professor, o que está acontecendo? Por favor, eu preciso saber.
Então,
Markus – ainda tentando controlar as lágrimas – aproximou-se de Karina e
deu-lhe um longo abraço, dizendo:
- Querida,
vai ser difícil acreditar. Vai ser muito difícil acreditar, mas ... – ele olhou
para Malena, como que suplicando ajuda – sua mãe vai contar uma história...uma
história inacreditável.
E ela
contou. E começou com uma revelação surpreendente:
- Querido,
olhe bem nos olhos dessa linda menina. Ela é sua filha.
- O
quê?!!! – Exclamaram quase ao mesmo tempo Karina e Markus.
*******
Num
restaurante em Jerusalém, Moyra continuava pensativa. Ela apanha um guardanapo
e rabisca algumas coisas. Desenha rapidamente as torres gêmeas e reflete
durante alguns minutos. Lembra-se das teses estranhas encontradas naquela
Biblioteca, e escreve no papel as datas 11, 12, 24 e 25 de setembro de 2001.
Por que ela estava até sonhando com aquilo? E as coincidências relacionadas ao
número de formigas? Tudo apontando para o World Trade Center. Então ela amassa
o papel e deixa no canto da mesa.
Ela
continuava pensativa. Mas, de repente, o noticiário israelense, que passava na
televisão naquele momento, chamou sua atenção. A reportagem falava de um
importante religioso católico que havia chegado em Jerusalém naquele dia.
Moyra
levantou-se e aproximou-se da televisão para escutar melhor. E, no momento em
que um repórter contava detalhes do célebre religioso, a linda jornalista levou
um choque.
A
reportagem informava que o tal religioso era um respeitado cardeal francês, de
origem judaica. E que era considerado por muitos como um forte candidato ao
chamado trono de São Pedro.
“Francês!
Judeu! Candidato ao papado! Meu Deus!!!” – Ela lembrou do que havia lido
recentemente no disquete deixado pelo misterioso ancião antes de morrer.
Ela saiu
rapidamente do restaurante. Naquele dia um vento forte soprava sobre Jerusalém,
e uma coisa esquisita aconteceu. Enquanto o vento soprava, o pedaço de papel
que Moyra jogara fora saiu rolando até esbarrar nos sapatos de um jovem
universitário que também estava ali almoçando, ao lado de mais três amigos. Ele
havia se abaixado para pegar um cartão que caiu de sua carteira. Ao ver o papel
amassado, apanha-o e faz menção de deixá-lo no canto da mesa, mas ao ver algo
escrito, sua curiosidade é maior.
Abre o
papel e lê as anotações de Moyra.
- Grande
Allah – solta uma exclamação em voz baixa, mas que é ouvida pelos seus amigos.
- Que foi,
Nassib? – Pergunta um deles.
- Algum de
vocês escreveu isto? – O jovem estava tremendo e sua voz quase que não saia.
Um a um os
outros rapazes olham o papel e fazem sinal negativo.
- Pelo
profeta, quem pode ter escrito isso? Quem ousou divulgar isso?
Então, um
dos jovens, chamado Hassan, disse:
Havia uma
moça loira sentada ali há pouco tempo.
- Por
Allah – tornou a exclamar o que parecia ser o líder – descubram quem é ela, o
que faz aqui e como está por dentro dessa data.
- E se for
somente uma coincidência, Nassib?
- Que
coincidência, Salim? Aqui tem a data 11 de Setembro e um desenho, com as letras
WTC. Somente dez pessoas sabem desse Plano e dessa data. Ou melhor, somente dez
pessoas SABIAM...
- Que
faremos agora?
- Temos
que entrar em contato com o “Mullah”... e rápido.
*******
Porto
Alegre, 2010.
Mais uns
minutos para o professor e a jovem estudante se refazerem da nova revelação e
Malena continuou:
-
Lembra-se daquele dia de despedida, antes de você partir para a guerra? Lembra
como nos amamos ardentemente, como nunca tinha acontecido? Sabíamos que aquilo
não era correto, pois estávamos apenas noivos, mas era como se nunca mais
fôssemos nos ver. Você estava indo para a guerra, uma guerra louca, e me
entreguei a você em profundo desespero.
E aquela única sessão de amor me fez ficar grávida. Três meses depois de
sua partida recebi uma noticia dizendo que você havia morrido no campo de
batalha. Ao sair pelo campo a cavalo, meu coração estava profundamente
amargurado. Na verdade o cavalo não enlouqueceu. Eu o impeli em direção ao
abismo. Queria morrer! MAS DEUS É GRANDE E NÃO PERMITIU QUE ISTO ACONTECESSE!
No
hospital, ferida e com algumas fraturas eu gritava: ME DEIXEM MORRER! Um tio
estava nos visitando naqueles dias – ele era muito rico – e vendo meu
desespero, mandou que me aplicassem uns calmantes. Enquanto eu estava
inconsciente meu tio convenceu meus pais a irem embora para bem longe dali. Por
que o falso túmulo? Por que espalharam a noticia de que eu morri? Na verdade,
isso foi idéia do meu tio. E por que? Para quebrar todos os laços que eu poderia
ter com a tua família, e para evitar que você – se retornasse da guerra –
pudesse me procurar. Mais tarde, ao saber dessa trama, passei muito tempo
odiando meu tio – principalmente ao descobrir que ele fora o autor da falsa
noticia de que você tinha morrido. Na verdade, meu tio era apaixonado por mim
há muito tempo e queria que eu fosse morar com ele. Ao saber que eu estava
noiva de você, ele armou toda a comédia – trágica demais para nós dois.
Quando –
seis meses depois - recuperei plenamente a consciência e a memória (que tinha
ficado abalada, por causa dos fortes medicamentos) compreendi toda a trama.
Tratei de arrumar minhas coisas e cai no mundo, com destino a Porto Alegre,
onde tinha uma prima, Anna Max Mister (mãe de Alanna). Aqui Karina nasceu, e
com a ajuda de Deus fiz minha faculdade de Filosofia. Karina cresceu, entrou
para a Universidade, e se apaixonou por um professor simpático e lindo – seu
próprio pai.
Markus
estava extasiado.
*******
Jerusalém, 1999.
Moyra estava decidida: Iria entrevistar David Lived, o cardeal
francês, de origem judaica, que estava visitando Jerusalém. Ela não perderia
uma oportunidade dessa por nada. E acreditava que aquela oportunidade foi dada
por Deus.
Fazia algum tempo que David Lived estava chamando a atenção
dos líderes do Oriente Médio, pois ele defendia ardentemente a paz entre árabes
e israelenses.
Moyra sabia que Lived era uma importante peça do jogo
político entre o Vaticano e Israel. E havia algo mais nele que chamava atenção.
Era o mais jovem cardeal de Roma (36 anos) e muitos queriam saber o porquê.
Será que teria alguma coisa a ver com o influente cardeal Ângelo Rosselini, que
era nada mais e nada menos do que seu tio? Claro! Com certeza!
- O senhor acredita numa paz segura entre árabes e judeus?
- Sim – sorriu o cardeal, diante de Moyra – Acredito que a
paz é possível. O problema é que até o presente momento, nenhum negociador
esteve à altura. Por mais carismáticos e inteligentes que os líderes americanos
sejam, não tem sido fácil fazer sentar à mesma mesa, israelenses e árabes.
Carter conseguiu unir Israel e o Egito em 1979. Clinton fez Arafat apertar as
mãos de Rabin em 1993, mas como sabemos, esta lua de mel durou pouco.
- E quais seriam as características de um bom negociador?
- Bem, teria de ser simpático para os dois lados. Teria de
inspirar confiança aos dois grupos. Teria de ter não somente talento, mas,
sobretudo, quem sabe, um dom divino.
- Uma espécie de Messias? – Moyra percebeu que aquela
conversa estava se direcionando para algo não previsto no programa. Mas,
afinal, estava conversando com um religioso e, portanto, não seria surpresa
nenhuma tocarem temas messiânicos. Além do mais, David tinha sangue judeu.
- Pode ser. Sim, um Messias poderia resolver a questão que
ninguém conseguiu até agora.
- O senhor acredita na esperança judaica sobre a vinda do
Messias?
- Bem, fui criado na tradição judaica, e meus pais me
falavam muito sobre o Messias que um dia virá para libertar Israel dos seus
opressores e implantar o fabuloso reino messiânico na terra.
- Sim, e o senhor acredita que as coisas acontecerão assim?
– Ela percebeu que a resposta dele não tinha sido convincente, mas vaga demais.
- Olha, sou judeu, mas hoje não sigo a religião judaica. Meu
credo é um pouquinho diferente.
- Ah, claro. A religião Cristã tem um pensamento diferente
sobre O Messias. E quanto à Segunda Vinda do Messias, os dois principais ramos
do Cristianismo (Católicos e Protestantes) possuem pontos de vistas diferentes,
certo?
- Sim, nós católicos acreditamos que, quando a Bíblia fala
da Volta de Cristo, está se referindo à morte de um Cristão, quando então, nos
encontraremos com Ele.
- Mas nos dias de hoje nem todo católico crê assim...
- É verdade, mas de maneira geral, a Igreja Católica não dá
muita importância aos temas relacionados à Segunda Vinda. Acreditamos que é
mais importante pregarmos a caridade...
- Voltando à questão árabe-israelense. Quanto tempo essa
crise pode durar?
- Mais breve do que você imagina haverá paz no Oriente Médio
e no mundo – o cardeal falou com tanta segurança, que Moyra não deixou de
sentir um leve arrepio.
- Falando assim, parece que você sabe algo que eu e o resto
do mundo ignoramos...
- Eu sou apenas um otimista. Nós cristãos, temos que ser
otimistas.
- Passando para a parte final desta entrevista, você aspira
alcançar o cargo máximo na religião católica?
Aquela pergunta provocou um brilho estranho nos olhos de
David Lived.
- Bem, minha querida. Creio que todos os cardeais sonham –
pelo menos uma vez na vida – em se sentar na Cadeira de São Pedro. Por que eu
seria diferente?
- Mas alguns especialistas em questões “vaticanistas”
especulam que, como você é o mais jovem cardeal, teve uma ascensão rápida
demais – estranhamente rápida – possui grande influência na comunidade judaica
– e por incrível que pareça, também na comunidade árabe – tem grandes chances
de ser o Papa mais jovem dos anos recentes.
Aquela frase de Moyra mexeu com David. Ela notou que havia
causado impacto. Mas sentiu que falou demais.
- Por que você acha que tive uma ascensão “estranhamente
rápida”?
- E não é mesmo estranha? – Disse ela, forçando um sorriso,
procurando consertar o inconsertável.
- Bem, o futuro dirá. Às vezes o futuro não é imprevisível,
minha querida.
Então a entrevista foi encerrada. Moyra agradeceu a atenção,
mas saiu dali com centenas de pensamentos estranhos. “Por que ele disse que às
vezes o futuro não é imprevisível? Oh, Rogers, onde você está? Preciso entrar
em contato com Morganne. Há muitas coisas esquisitas no ar.”
*******
Roma, final
da década de 80.
Arthur e Zoe
se conheciam desde criança. Foram criados quase que como irmãos. Cresceram como
bons amigos, e aquela amizade profunda e verdadeira transformou-se pouco a
pouco em amor. Um amor baseado em muito respeito e sinceridade.
Esse amor foi despertado na adolescência. Eles estavam juntos quase que
constantemente, e assim entraram na Universidade (= muito jovens ainda), onde,
pela primeira vez seguiram caminhos diferentes (ele passou a cursar Jornalismo
e ela Psicologia). Mas a paixão deles aumentava a cada dia de tal forma que já
havia se tornado proverbial naquela região. As pessoas costumavam dizer: “NÃO
HÁ AMOR COMO O DE ARTHUR E ZOE”.
Dentro de
pouco tempo eles irão se formar, e depois de se casarem irão à Europa (um
antigo sonho dos dois).
Naquele
final de semana o belo casal estava – como era tradicional – sentado em uma
pracinha simples, mas encantadora, localizada a poucos metros do campus
universitário.
- Sabe que
ultimamente não tenho dormido direito com medo de perder você?
Ele
sorriu, fixou aqueles olhos negros, profundos e maravilhosos e disse:
- Você
sabe que isto jamais acontecerá, querida. Nosso amor é eterno. Eu nunca
deixarei de te amar.
- Mas nós
somos mortais. Um dia iremos envelhecer e morrer. E ai? O que será de nosso
amor? Apenas uma doce lembrança para os que ficaram?
- Por que
você está se preocupando com isso?
- Sabe,
quando nós somos adolescentes pensamos que tudo será para sempre, temos sonhos
utópicos e vemos tudo colorido. Mas quando chegamos à maturidade intelectual,
que passamos a compreender melhor o mundo, é inevitável chegarmos a certas
conclusões desesperadoras.
- Eu ouvi
certa vez não sei onde que “quem ama sofre”. Por quê? Será que isto tem a ver
com o que você está passando?
- Quem
ama, sofre – repetiu Zoe, de forma melancólica – É, deve ser isto. Quem não
ama, não se preocupa com ninguém, e, portanto, não pode sofrer. Mas será que o
amor está condenado para sempre a andar lado a lado com o sofrimento? Nascemos
somente para sofrer? Eu não posso e não quero acreditar nisso – e acabando de
dizer estas palavras, Zoe abraçou Arthur e chorou silenciosamente.
Arthur não
sabia o que dizer. E começou a ficar preocupado. Ele lembra da educação
religiosa que recebeu dos pais ainda criança. Mas nunca viu sentido naquela
série infindável de devoções, rituais e penitências. Seus pais seguiam um cristianismo
parecido com o da Idade Média (= repleto de práticas supersticiosas que mais
confundiam os seres humanos do que ajudavam). E assim, logo que alcançou a
maioridade, abandonou aquela crença religiosa por completo. Portanto, agora ele
era uma pessoa sem crença nenhuma. Isto significava: SEM NENHUMA ESPERANÇA NA
VIDA APÓS A MORTE. Para ele, a morte acabava com tudo, e a vida humana era apenas
uma ilusão, doce e amarga. Assim sendo, naquele estado espiritual, ele não
tinha nenhuma palavra de consolo para sua amada. Na verdade, aquelas
preocupações também já vinham perturbando seu coração há bastante tempo.
Zoe foi
criada pelos tios, vizinhos dos pais de Arthur. Ela nunca soube o que realmente
aconteceu com seus pais, pois os tios desconversavam sempre que ela os
interrogava a respeito. Eles diziam que os pais dela haviam viajado para bem
longe – forçados pelas circunstâncias – e sem poderem criar a menina, a
deixaram com os tios, que seguiam os mesmos ensinamentos religiosos dos pais de
Arthur.
- Olha –
disse Arthur, após alguns minutos – procure não pensar nessas coisas. Vamos
viver o momento, o hoje, o agora. Nós nos amamos e isso é suficiente. Se existe
uma razão para a nossa existência na terra deveremos saber um dia. Se existe um
Criador de todas as coisas, e se Ele realmente nos ama (como muitas pessoas
gostam de dizer), então ele abençoará nosso amor e nos revelará a verdade.
Naquele
momento, uma folha caiu no colo de Zoe. Ela sorriu e guardou a folha dentro do
caderno.
- Talvez
isso tenha algum significado – ela limpou as lágrimas e convidou Arthur para
darem um passeio.
*******
Jerusalém,
1999.
De volta
ao hotel, Moyra Stanley aproximou-se do quarto, e, como de costume, examinou o
trinco da porta antes de tocá-lo (ela não perdia aquela mania, pois fez aquilo
durante muitos anos, quando estava a serviço da CIA). O trinco estava limpo
demais. Não tinha nenhuma marca de impressão digital, nenhuma – nem mesmo as
delas. “Talvez o zelador tenha feito uma limpeza geral – pensou ela, enquanto
introduzia a chave na fechadura”. Entrou no quarto, mas repentinamente alguém a
segurou por trás e a imobilizou, com um saco de pano. Antes que ela reagisse,
sentiu uma forte picada no braço direito – uma seringa, com algum líquido
atordoante. Alguns segundos depois e tudo escureceu para Moyra Stanley.
Quando
Moyra Stanley abriu os olhos, levou um grande susto. Estava amarrada no centro
de uma sala – uma típica sala de interrogatório no modelo ocidental, com fortes
luzes ofuscando o rosto do prisioneiro. Então ela escuta uma voz masculina e
jovem:
- Sabemos
quem é você. Moyra Jenny Stanley, ex-agente da CIA, tem uma ficha
extraordinária de trabalhos prestados para vários serviços de espionagem e
contra-espionagem, e atualmente trabalha como jornalista especial do New York
Times. Sabemos que está em Jerusalém preparando uma matéria sobre a crise entre
judeus e palestinos. Mas agora queremos saber o seguinte: Encontramos um
escrito seu com as datas 11, 12, 24 e 25 de setembro de 2001, e as letras WTC,
ao lado de um desenho das torres gêmeas americanas. Por quê?
*******
Zoe não
consegue mais se concentrar em seus estudos. Seu estado emocional piora a cada
dia e ela começa a mergulhar em profunda depressão. Passa a escrever
compulsivamente cartas e mais cartas para Arthur (= apesar de vê-lo quase todos
os dias), num tom apaixonado (e angustiado).
Arthur não
sabe o que dizer ou fazer. Então, naquela que tinha tudo para ser mais uma bela
manhã de Sábado, aconteceu a tragédia. Zoe não estava bem. Vinha de bicicleta e
não viu quando o caminhão dava marcha a ré, a fim de fazer uma curva. O corpo
da jovem foi lançado longe.
Arthur
tinha viajado a fim de resolver uns negócios da família. Iria ficar umas duas
semanas longe de Zoe. Ao retornar, cheio de saudades (apesar de não Ter ficado
nem um mês fora), procurou Zoe. Os tios da infeliz moça não sabiam como dar a
noticia. Ela agonizou durante dois dias no hospital, mas então faleceu. Eles
disseram ao jovem que Zoe havia viajado, e deveria ficar algumas semanas fora.
Mas Arthur percebeu que eles não estavam falando a verdade. Então, a horrível
verdade veio à tona. E Arthur chorou durante dois dias, sem parar.
*******
Jerusalém,
1999.
Moyra
sentiu que estava pisando em terreno perigoso. Precisava ser prudente. Quem
falava com ela tinha um forte sotaque árabe (ela tinha muita experiência com os
sotaques orientais). Provavelmente seria um jovem (talvez um desses jovens
árabes que estudam na América, a julgar pelo típico linguajar americano e pelas
palavras escolhidas). Ela falou com todo o cuidado:
- Eu
estava lendo um livro judaico sobre profecias e fiquei impressionada com umas
datas que encontrei lá. (Ela conta detalhadamente o que havia lido na
Biblioteca de Jerusalém, pois não via a necessidade de ocultar nada).
- E por
que as letras WTC? E por que o desenho das torres gêmeas?
Aquela
pergunta era um pouco mais difícil de se responder, pois a respeito das torres
Moyra tinha sonhado e também recebido uma espécie de mensagem divina codificada
(o caso das formigas), e certamente aqueles misteriosos personagens não dariam
o menor crédito a esse tipo de revelações. Como fazer? Havia 99% de chance
deles serem muçulmanos (talvez até radicais islâmicos, e quem sabe,
terroristas?).
- Eu...eu
sou Cristã, e como tal acredito que Deus fala diretamente ao ser humano por
meio de sonhos, visões, circunstâncias e coisas semelhantes. Quando cheguei em
Jerusalém, comecei a ter certas, como dizer, certas premonições relacionadas ao
World Trade Center.
Se eles
fossem especialistas em interrogatório saberiam que ela estava dizendo a
verdade. Mas acontece que o passado dela era conhecido. Quem iria se convencer
de que ela havia mesmo abandonado o serviço de espionagem? Principalmente
porque, à serviço da CIA, ela se disfarçou muitas vezes de jornalista. Moyra
sabia que tinha entrado numa grande encrenca.
- Você
falou com mais alguém a respeito dessas datas e do WTC?
- Não.
- O que
você pensa sobre isso?
- Sobre o
que?
- Qual a
sua interpretação dessas, como disse, visões e sonhos?
- Talvez
Deus esteja nos alertando sobre algo que poderá acontecer com o World Trade
Center.
- O que,
por exemplo, poderia acontecer com o WTC?
- Não sei.
Catástrofes acontecem todo os dias... as estatísticas têm mostrado o aumento
dos terremotos, ciclones, etc. – Moyra dá uma pausa e pergunta – o que vai
acontecer comigo?
O silêncio
que se segue é inquietante. Alguns
minutos depois e Moyra mergulha novamente na escuridão.
Passado
algum tempo ela abre os olhos. Está dentro de um lotado ônibus que segue por
uma das ruas de Jerusalém. Ela olha ao redor, mas não reconhece ninguém. Os
seus misteriosos raptores poderiam estar também no ônibus. Ela procura olhar
nos olhos de cada um dos passageiros, pois tinha uma habilidade espantosa de
penetrar na alma humana pelos olhos. Por
mais inteligentes que aqueles misteriosos inimigos fossem, seria muito difícil
esconder algo dos treinados (e belos) olhos de Moyra Stanley.
Durante
alguns minutos ela sonda cada um dos passageiros (especialmente os jovens).
Então um jovem sério, carrancudo, olhos fundos e assustados, chama a atenção
dela. Embora o tempo estivesse muito quente, aquele rapaz vestia uma grande jaqueta
e ainda se encontrava de braços cruzados como quem estivesse com frio. Aquilo
era suspeito demais.
*******
Marcos
segurou fortemente no braço esquerdo de Alanna e a empurrou discretamente em
direção aos três mal encarados que saíram da limusine preta.
Então algo
surpreendente aconteceu. Marcos cambaleou e foi ao chão.
Os três
homens correram para ajudá-lo.
- Não se
movam ou será pior para vocês!!!
A voz
firme, que veio de perto da limusine, paralisou os três homens. De repente, de
dentro de um táxi estacionado ali próximo, cinco homens saíram, fortemente
armados. Um negro forte e alto, que parecia ser o chefe da operação,
aproximou-se de Alanna.
- Você
está bem?
- Estou
sim, Paulo. Obrigada.
Ele a
abraçou e disse:
- Eu sinto
muito.
*******
Jerusalém,
1999.
Moyra
sente um calafrio. Lembrou-se de onde estava, a terra dos fanáticos religiosos
e dos homens-bomba. Naquele momento um pensamento varou sua mente como uma
flecha: DE CERTA FORMA O CONHECIMENTO QUE ELA POSSUIA SOBRE O WORLD TRADE CENTER
NÃO ERA DO AGRADO DOS MISTERIOSOS RAPTORES. DURANTE O INTERROGATÓRIO HAVIA
SENTIDO QUE UMA AMEAÇA DE MORTE PAIRAVA SOBRE ELA. E AGORA ENTENDIA O PLANO
DAQUELES PERSONAGENS SINISTROS: ELA NÃO ESTAVA NAQUELE ÔNIBUS À TOA. ESTAVA SIM
CONDENADA A MORRER, JUNTAMENTE COM DEZENAS DE INOCENTES, E AQUELE RAPAZ
CARRANCUDO ERA O MENSAGEIRO DA MORTE!
Ela
levantou-se e aproximou-se do rapaz candidato à carrasco. Como se já tivesse
percebido as intenções dela, o jovem se levantou repentinamente, e levou a mão
direita ao bolso direito da calça. O que se seguiu foi arrepiante, terrível e
sangrento.
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