Michele e Frei
Ângelo foram visitar uma Comunidade do interior. Ela precisava fazer uma
reunião com os jovens daquele povoado, enquanto que Frei Ângelo aproveitaria
para visitar alguns fiéis. A estrada era bastante acidentada, mas Michele não
ligava pra isso. O importante era que ela gostava de falar da Palavra de Deus
para as pessoas, especialmente para os jovens. Subitamente, o carro parou.
Parecia que alguma coisa na estrada provocou aquilo. Frei Ângelo saiu do carro
com vontade de xingar, mas se conteve. Com aquele sol escaldante (entre 14:00 e
15:00 horas) qualquer um era capaz de perder a paciência. Alguns minutos e um
misterioso silêncio reinou. Michele olhou para todos os lados, mas não viu
sinal de Frei Ângelo. Com um pressentimento estranho, ela saiu do carro e
chamou o nome do seu chefe religioso. Não obteve respostas. Caminhou um pouco,
seguindo os rastros dele. Alguns metros adiante o viu, caído, parecendo
desmaiado. Ao se abaixar para examiná-lo, foi agarrada por trás. Alguém colocou
em seu nariz um lenço com alguma substância embriagante. Michele viu o mundo
escurecer.
*******
Alanna
estava imóvel. De terror. À sua frente havia uma pessoa vestida com um manto
negro, cheio de símbolos misteriosos e segurando uma gigantesca foice. Era
Rashira, com um sorriso diabólico, tal como Alanna nunca vira antes.
-
Surpresa, amiguinha? Sinta-se privilegiada! Você vai ser oferecida a um ser
muito especial hoje. Às 18:00 horas de hoje dois dos nossos sacrificarão duas
jovens vidas em oferenda ao verdadeiro rei do Universo, no mesmo horário em que
eu farei o mesmo com você. Serão três sacrifícios, três jovens que possuem uma
ligação em comum. Não se mova, ou não esperarei as 18:00 horas.
- Mas o
que significa tudo isso? – Alanna conseguiu falar.
- Simples,
minha querida. Estamos no Brasil desde algum tempo, e tomamos conhecimento de
uma organização de jovens que investigam coisas sobrenaturais e seitas
satânicas. Achamos interessante, e descobrimos que eles estavam perto demais de
descobrir nossa rede espiritual no Brasil. Como um importante ritual deveria
ser realizado num certo dia do ano – exatamente hoje – e como o sacrifício de
três pessoas é bastante propício para o sucesso da nossa causa, achamos que
seria o máximo que essas pessoas (de preferências mulheres, jovens garotas)
fossem tiradas exatamente do meio dos “SETES”, o grupo que ameaça os nossos
segredos.
*******
Michele
abriu os olhos. Estava amarrada, em forma de X, dentro de um círculo, sobre uma
mesa, e estava nua. Diante dela havia um homem vestindo umas estranhas roupas
negras e sorrindo. Ela não conseguia acreditar em seus olhos. Era Frei Ângelo!
*******
Rashira
continuava falando:
- Raizar,
um dos três do Círculo Maior, assumiu o lugar de um certo Frei que estava indo
para uma cidade do Maranhão – a cidade natal dos “SETES”, e ninguém da
comunidade imagina que o verdadeiro Frei Ângelo foi jogado de cima de uma ponte
para afundar nas águas escuras de um rio. Na mesma época, Leafar, outro dos
líderes, passou um certo tempo naquela cidade, a fim de acompanhar de perto a
adaptação de Raizar. Foi aí que Leafar se envolveu com uma certa garota chamada
Elaine, que mais tarde se tornaria uma “SETE”. Agora ele retornou para lá a fim
de usá-la como oferenda.
- Meu
Deus! Vocês são uns loucos! Como é que Marcos se deixou enganar por você?
- Esse foi
meu golpe de mestre, queridinha. Por meio de um certo jornal soube que você
estava se destacando aqui em Porto Alegre devido a certas reportagens polêmicas
envolvendo seitas satânicas. Fiquei interessada e procurei saber tudo a seu
respeito. Imagina minha surpresa ao descobrir sua ligação com os “SETES”.
Descobri sobre o tal de Rogers Town, que trabalha no exterior. Então tive a
idéia de me aproximar de você usando um disfarce perfeito. Viajei ao Egito,
seguindo de perto seu namoradinho. Na hora certa, me apresentei a ele e lhe
falei da minha vontade de conhecer o Brasil. Passei três anos em Israel, e por
isso pareço perfeitamente uma israelense.
- E o que
vai fazer comigo agora? Ainda não são 16:00 horas – Alanna começava a recuperar
suas forças.
- Vou
trancá-la naquela cabana até a hora do ritual. Afinal não sou eu quem irá
sacrificá-la. Eu teria o maior prazer em fazer isso, mas há alguém que precisa
ser batizado no ocultismo hoje. Alguém que precisa fazer o seu primeiro grande
sacrifício a fim de alcançar uma grande fonte de poder. Vamos! Entre!
*******
Samantha
continuava de olhos fechados, pois sabia que não tinha mais esperanças. Então
tudo aconteceu de forma rápida. O encapuzado virou-se de repente para Leafar e
disparou uma arma no peito do sacerdote de Satã. Ao ouvir o disparo, Samantha
abriu os olhos a tempo de ver os outros 5 encapuzados recém chegados disparando
contra o restante dos adoradores de Satanás.
*******
Michele
estava paralisada. Não apenas de medo, mas porque não conseguia acreditar que
aquele homem que parecia um servo de Deus era um servo de Satan. Aquilo era
absurdo demais. Ela devia estar sonhando.
- Querida
– o falso líder cristão começou a sorrir – não se torture tanto. Você não é a
única. Você é uma das três jovens que deverão ser oferecidas hoje ao verdadeiro
senhor do Universo.
“Meu Deus!
– pensou Michele – há mais garotas nesta mesma situação?”
O falso
Frei Ângelo tinha um cúmplice. Um sujeito alto, magro e rosto cicatrizado.
Certamente foi ele quem agarrou Michele por trás. Ela tinha acabado de ouvir de
Raizar quase a mesma história que Rashira contara a Alanna. Michele estava em
estado de pânico.
*******
Diante da
afiada foice Alanna achou melhor obedecer. Mas ela era uma “SETE”, e “Ser
‘SETE’ é saber surpreender!”. Com o método tradicional do ilusionista em chamar
a atenção para uma mão enquanto trabalha com a outra, Alanna virou-se e deu a
entender que iria entrar na cabana, obedecendo à diabólica Rashira. A garota
“SETE” balançava a mão esquerda misteriosamente, atraindo a atenção de Rashira,
por alguns segundos (que era o suficiente para que Alanna pegasse, com a mão
direita, um pequeno frasco de perfume tipo “Spray”, escondido numa parte do seu
cinto).
*******
Michele
tentou esquecer por um momento a triste sorte que a aguardava, e procurou uma
saída. Ela estava totalmente imobilizada. Era aparentemente impossível escapar
dali. Sim, aparentemente, pois “Um ‘SETE’ nunca desiste de resolver um
problema, mesmo que o tal pareça ser impossível”.
*******
Samantha chorava bastante. Estava
perplexa. Perplexa, mas super feliz. Estava entre amigos. Os 6 encapuzados eram
na verdade os jovens SETES Stanville, Scapelly e quatro rapazes desconhecidos,
amigos deles.
*******
Raizar
saiu. O ritual só deveria começar próximo às 18:00 horas, e ele precisava
continuar representando seu papel de “homem de Deus”. Portanto, seguiria até à
comunidade do povoado que o esperava, e inventaria uma desculpa qualquer sobre
a ausência da garota. Porém Michele não ficou sozinha. O cúmplice de Raizar
ficaria de vigília. E ele não parecia ser um tipo inteligente.
*******
Alanna
fingiu tropeçar em alguma coisa, mas antes que tocasse o chão, voltou-se de
repente, lançando o perfume nos olhos de Rashira. A satanista soltou a foice, e
colocou as mãos sobre os olhos, soltando um grito. Alanna passou uma rasteira
na adversária, lançando-a no chão. Num relance, tirou seu cinto e amarrou as
pernas de Rashira, que continuava apertando os olhos. Alanna levantou-se,
respirando de alivio, mas ainda sentindo um tremor na espinha, por causa das
surpresas daquele dia. Escutou o som de um carro chegando. Seu coração bateu
forte. O que será que aconteceria agora?
*******
- Você
gosta de garotas? – Perguntou Michele, com um tom sedutor.
O cúmplice
de Raizar, chamado Silas, não se moveu, e continuou a olhar para a direção
tomada por seu chefe.
- Ou você
prefere os garotos? – Insistiu Michele, usando um tom mais irônico e
desafiador.
Silas
voltou-se, olhando seriamente para a garota, sem dizer nada. Rapidamente, ele
correu os olhos para o belo corpo nu amarrado sobre a mesa.
- Você já transou
com alguma garota? Já dormiu com alguma menina que tivesse um corpo como este?
– Ela mesma se surpreendia ao dizer aquelas palavras provocantes.
Silas não
falava nada. Mas tremia. Ele sabia que tocar naquela garota seria uma violação
ao ritual e que seu chefe o puniria de forma terrível. Mas ela era
irresistível.
- Eu sei
que morrerei hoje – disse Michele – Por que não aproveitar a vida mais um
pouco? Você vai desperdiçar uma chance dessa?
Silas
suou. Dentro dele um conflito de emoções, desejos, medo e ansiedade. Era o que
Michele queria que ele sentisse.
*******
Alanna
estava nos braços de Marcos Moran. Tinha acabado de narrar todos os recentes
acontecimentos. Rashira foi entregue a Policia Federal. Alanna tentava entrar
em contato com vários amigos, especialmente os do Maranhão. Ela queria
alertá-los sobre a seita satânica que estava se espalhando pelo Brasil. Não
imaginava que os outros “SETES” já estavam em luta com aqueles satanistas.
*******
Silas
aproximou-se de Michele. Deitou sobre ela e começou beijá-la. Ao tentar beijar
os lábios da garota especial teve uma amarga surpresa. Michele cravou os dentes
no pescoço dele de uma forma mortal. Mesmo com a boca ocupada, ela conseguiu
sussurrar:
- Liberte
meu pulso direito ou corto sua jugular e você morre em questão de segundos.
Silas
estava em pânico. Ele tinha os nervos fracos. Michele havia percebido isto,
pois de outra forma não faria o que fez. Ela continuou apertando. Silas
estendeu sua mão esquerda e destravou uma peça que prendia o pulso direito de
Michele. Mais do que rapidamente, ela conseguiu arrancar um punhal que ele
trazia na cintura, e encostou na garganta dele, ordenando que ele libertasse o
outro pulso dela. Ela raciocinava depressa. No momento em que sentiu seu pulso
esquerdo solto, empurrou Silas violentamente, e antes que ele se recuperasse da
queda, ela já tinha destravado as peças que prendiam seus pés. Ela correu para
a liberdade. Mas parou subitamente diante daquele homem em pé, na porta,
sorrindo para ela.
*******
- Meu Deus! Ainda estou confusa –
disse Samantha, olhando os corpos estirados ao redor – eles estão mortos?
- Não, querida – disse Scapelly – não foram usadas balas de verdade, mas
um sonífero especial. Nosso amigo aqui – e apontou para um negro, alto e forte
– é Paulo Miranda, da Policia Federal e amigo dos “SETES”. Há algum tempo Rogers
Town, nosso amigo estrangeiro, nos enviou uma mensagem urgente, falando da
chegada de perigosos líderes satanistas em Igarapé Grande. Ao mesmo tempo ele
nos pediu para entrar em contato com o Paulo, da Polícia Federal (que já estava
a par do grave problema). Graças a eles conseguimos pegar um dos satanistas –
Scapelly apontou para um dos homens no chão - Este aqui é Charles Leafar, de
nacionalidade desconhecida. Está no Brasil há 15 anos e veio ao nosso país
exatamente para organizar várias sociedades satanistas. Desde que o Paulo
recebeu o alerta de Rogers passou a vigiar alguns suspeitos que possuíam
ligações com Leafar. Sim, Leafar era vigiado há bastante tempo, porém não havia
provas contra ele.
Mas o Paulo e sua equipe conseguiram, recentemente, interceptar uma
mensagem, revelando o que iria acontecer aqui, inclusive a chegada dos 6
misteriosos chefes da hierarquia superior. Nós nos antecipamos e prendemos os 6
satanistas. Então, tomamos o lugar deles e conseguimos surpreender esses aqui
antes que o pior acontecesse. Você foi escolhida de última hora para o ritual
satânico, porque a candidata seria Elaine e, graças a Deus, ela conseguiu
escapar. Quando ela alertou Morganne sobre a tatuagem diabólica de Leafar,
rapidamente fechamos o cerco. E tem mais uma coisa: nosso amigo Diego acabou de
me ligar, confirmando que chegou a tempo de impedir outro sacrifício satânico.
- Como assim? – Perguntou Samantha.
*******
Michele
abraçou Diego e chorou. Ele procurou um meio de vesti-la e a levou para casa.
Os policiais que o acompanhavam levaram Silas preso, mas Raizar conseguiu
fugir.
*******
Três semanas depois.
- Um amigo
me informou que Raizar foi encontrado morto, com as mãos queimadas e amarrado
numa estaca, no Estado de Santa Catarina. A policia suspeita de algum ritual
satânico, devido ao tipo de morte e por ter sido realizada dentro de um
pentagrama.
Michele
estremeceu ao ouvir as palavras de Diego. Ao seu lado estavam alguns dos SETES
e Samantha. Ela, que tinha vivido os momentos mais horríveis de sua vida.
- Leafar
foi levado para o Rio de Janeiro, e logo que descubram a nacionalidade
verdadeira dele, irão deportá-lo – informou Scapelly.
- E o que
aconteceu com a tal de Rashira, que tentou assassinar nossa amiga Alanna? –
Perguntou Sabrina, uma das inteligentes meninas do Grupo7.
- Giovanna
e James Anderson me informaram que Rashira conseguiu fugir do país – disse
Stanville.
- Ainda
não me explicaram como descobriram o falso padre e que Michele estava em perigo
– Samantha quis saber.
- Eu
estava de olho no falso frei Ângelo há três meses – explicou Diego.
- E por
que? – Insistiu Samantha.
- Foi
somente uma cena, uma ceninha aparentemente insignificante – continuou Diego –
num certo dia eu estava conversando com Michele sentado na última fila de banco
da igreja dela. Parece-me que eram 16 ou 17 horas. Michele tinha acabado de
sair de uma reunião com os seus jovens e eu precisava falar com ela. Sentei-me
ao lado dela e, enquanto conversava, vi ao longe, o tal frei Ângelo saindo de
uma sala e atravessando para o outro lado do templo, até entrar noutra sala.
- E? –
Samantha olhava para os olhos de Diego, sem piscar.
- O que
vocês achariam de um padre que atravessa na frente do altar e não se ajoelha ou
não se benze?
-
Distraído ou apressado.
- Um
católico comum pode até ser, mas é quase imperdoável para um sacerdote. O fato
é que achei muito estranho e pensei bastante a respeito. Mas eu poderia estar
exagerando. Eu poderia estar vendo elefante no meio do oceano. Só que ele
retornou para a primeira sala, perfazendo o mesmo caminho e do mesmo jeito de
antes: nem olhou para o altar.
Mesmo
assim, poderia ser apenas um momento de distração. Por incrível que pareça, não
consegui dormir à noite. Tive vários pesadelos. E em todos eles, o tal frei
Ângelo aparecia como um adorador de Satanás.
- Mas
poderia ser apenas o reflexo de suas preocupações – disse Michele – nós sabemos
muito bem que, se algo mexe bastante com o nosso espírito durante o dia, é bem
provável que tenhamos sonhos ou pesadelos sobre o assunto.
- Sim, mas
eu jamais havia pensado no frei Ângelo como um satanista. Somente achei
estranho a atitude dele diante do altar. Nada mais. Porém, vi o sonho como um
alerta de Deus.
Apesar de não ser católico e nem comungar com
algumas das doutrinas católicas, resolvi assistir a algumas missas de vez em
quando. Ninguém poderia desconfiar, pois eu tinha uma desculpa perfeita:
Michele – ao dizer isso, Diego olhou para Michele e sorriu.
- Como
jamais passaria pela cabeça de um fiel católico que aquele sacerdote poderia
ser uma fraude, ninguém prestava muita atenção a forma dele rezar a missa. E
ele fazia isso com muita perfeição, ou quase. Enquanto todo mundo se entregava
aos rituais da liturgia católica, eu estava atento, sem piscar. Nos momentos em
que todo mundo fechava os olhos para orar, eu permanecia de olhos discretamente
abertos e percebi, várias vezes, o falso frei Ângelo demonstrar expressões de
aborrecimentos. Um dia eu o flagrei olhando com desprezo para a cruz de Cristo.
Aquilo não era normal.
Para resumir:
quando um dos nossos amigos (ligado à polícia federal) me confidenciou que eles
estavam suspeitando de atividades de seitas satânicas em Igarapé Grande, aquilo
foi demais para mim. Então, recentemente, quando eu atravessava a cidade de
moto, vi ao longe, o carro do frei saindo em direção à zona rural. Ao ver
Michele ao lado dele, senti um peso no coração. Segui-os de longe. Vi Michele
sendo levada à força para um casebre abandonado. Então liguei rapidamente para
meu amigo policial. O resto vocês já sabem.
- Espero
nunca mais encontrar pessoas desse tipo – disse Michele, apertando a mão de
Diego.
- Deus que
nos proteja desses satanistas – disse Diego - mas temos que continuar. Nos dias
de hoje é perigoso saber demais e mais perigoso ainda tentar fazer a coisa
certa. Mas há muitos jovens à beira do abismo e faz parte de nossa missão
tentar salvá-los da perdição eterna.
- Eu farei
isto com todas as minhas forças. Sei que para a sociedade as coisas morais e as
coisas sagradas não têm mais valor. Sei que as Igrejas chamadas cristãs estão
muito afastadas do padrão bíblico original. Mas serei mais uma jovem a tentar
despertar as pessoas para buscarem a Deus da maneira correta. Afinal, eu também
sou uma “SETE”.
Samantha
falou com muita firmeza. E aqueles jovens espertos sentiram um novo ânimo para
continuarem a luta.
*******
IDADE
MÉDIA, ano 1422.
Diante
de uma praça pública, um jovem ousado pregava:
- A
Inquisição é uma das maiores desgraças na história da humanidade. Em nome de
Jesus Cristo, sacerdotes estão montando um esquema enorme para matar todos os
chamados "hereges" na Europa.
Deus nunca
ordenou que se fizesse tais coisas. Durante a primeira parte de seu ministério,
Jesus Cristo foi abordado por dois de seus discípulos - Tiago e João - que
tinham acabado de voltar da pregação do evangelho por todo o Israel. Esses dois
discípulos estavam aborrecidos, porque algumas cidades inteiras tinham recusado
ouvir sua mensagem; eles perguntaram ao Senhor:
"Senhor,
queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também
fez?" (Lucas 9:54)
Jesus
Cristo respondeu:
"Vós
não sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir
as almas dos homens, mas para salvá-las." (Lucas 9:55-56)
Vou
repetir essa frase maravilhosa: "o Filho do homem não veio para destruir
as almas dos homens".
Em nenhum
lugar nas Sagradas Escrituras Jesus matou alguém que discordasse dele, tampouco
ensinou que seus seguidores fizessem isso. Nenhum dos apóstolos deu essa
instrução à Igreja no Novo Testamento.
Em outra
passagem, Jesus Cristo anuncia o tipo de espírito suave que oferece ao mundo. Ouçam este versículo:
"Tomai
sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e
encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu
fardo é leve." [Mateus 11:29-30].
Jesus
nunca ordenou que alguém fosse morto por qualquer razão, especialmente por
dureza de coração contra sua mensagem, ou por discordar dele em questões
espirituais. Mas é o que os sacerdotes estão fazendo.
As pessoas
ouviam atentamente, com bastante interesse. Mas no meio da multidão dois homens
trocavam umas palavras em voz baixa:
- O estilo
dele parece com alguém da Ordem dos SETE.
- Se ele
está aqui, certamente seus amigos estão por perto.
- A chance
de pegarmos todos eles pode ser agora. Se o capturarmos certamente
conseguiremos a lista com os nomes de todos os outros hereges e destruiremos
essa maldita Ordem o mais rápido possível.
E, sem
notar o grande perigo que estava correndo, o jovem continuou a pregar. O nome
dele era Samuel Shamir.
Dentro de
pouco tempo, ele se viu cercado por seis homens.
*******
-
Acreditar em Deus, em milagres, no sobrenatural, é bobagem, é uma grande
estupidez.
Vandevil,
um jovem professor de Matemática, não perdia a chance de zombar da fé de seus
estudantes. Ele adorava criticar as crenças religiosas de quem quer que fosse,
quaisquer que fossem elas.
Ninguém
entendia o porque de alguém tão jovem ser tão cético, tão arrogante. Ele tinha
uma mente brilhante, e era muito admirado pelos colegas, e até pelos inimigos.
Estava há seis anos no Rio de Janeiro, onde, após concluir sua formação em
Matemática, foi convidado a lecionar num Colégio de Ensino Médio. E lecionava
com brilhantismo. Ele era bastante simpático, mas costumava causar irritação ao
zombar das coisas sobrenaturais. Há alguns anos teve uma série de confrontos
com uns jovens que viviam de investigar as coisas sobrenaturais – OS SETES.
Na
verdade, Vandevil nasceu na mesma pequena cidade natal dos SETES, Igarapé
Grande, no interior do Maranhão.
Vandevil e
Morganne se conheciam desde a adolescência, e cada um seguiu destino diferente.
Morganne se tornou um Cristão convicto e o principal investigador dos SETES,
enquanto que, Vandevil – por razões desconhecidas – se tornou um cético de
carteirinha.
Quando
Vandevil saiu de Igarapé Grande, os SETES já eram conhecidos – embora não muito
– e o jovem cético se envolveu em muitos debates sobre Deus, a Bíblia e o
Universo.
Era
difícil – quase impossível – se contestar as teses dos SETES, mas Vandevil era
uma mente difícil de se convencer – quase impenetrável.
Mas agora
Vandevil estava prestes a encontrar alguém que mudaria radicalmente seu modo de
pensar. Tudo começou com a chegada de uma nova aluna, uma linda loira chamada
Leona Stanley.
O primeiro
encontro deles foi constrangedor. Após uma explicação sobre complexos cálculos
matemáticos, Vandevil ouviu uma aluna dizer em voz baixa:
- A
matemática é uma bela prova da perfeição de Deus.
- Como
assim? – Vandevil voltou-se à procura da autora da frase, e ficou paralisado ao
olhar - pela primeira vez – os belos olhos verdes de Leona Stanley.
- Ah, você
é a nova aluna, não? A senhorita Leona Stanley.
Ela sorriu
e o arrogante professor de Matemática sentiu seu coração bater de forma
anormal. Meio constrangido, procurou desviar o olhar de forma discreta.
- Muito
bem, senhorita Stanley. Seja bem vinda. Espero que aprendamos muitas coisas
durante este ano – ele tentou se manter em pé, sério e altivo, mas teve que
desviar os olhos dela. Percebendo que a classe estava notando seu nervosismo
diante da bela Leona, resolveu manter a pose e falou:
- Em que
sentido a senhorita afirmou que a matemática é uma bela prova da perfeição de
Deus? – Ele mantinha os olhos fixos em algum lugar da sala, evitando olhar para
ela, embora no íntimo desejasse isso.
- Quando
vemos tantos cálculos complexos se encaixando de forma harmônica, gerando um
único resultado, extremamente exato, é difícil não pensar na formação e
funcionamento do Universo, com suas leis eternas, exatas e complexas. Sendo
assim, é impossível deixar de se impressionar com a maravilhosa inteligência e
providência divina.
-
Perdoe-me, mas Deus não tem nada a ver com isso. Ele não existe, é pura e
simplesmente o nome que damos a uma ilusão que nos traz algum conforto.
-
Desculpe-me, professor, mas você precisa ampliar seu conhecimento. O que sabe é
limitado demais. Continue sua aula.
O tom seco
de Leona causou sensação. Vandevil sentiu-se humilhado.
- Tudo
bem. Falar é fácil, provar as teses é que é a coisa. É fácil dizer que Deus fez
isso, fez aquilo, agora demonstrar... quando digo que o quadrado de 6 é 36,
demonstro, usando a matemática. Provo que isso é verdade e não há quem possa
contestar.
- Você
acha impossível se aprofundar no conhecimento matemático e passar a crer em
Deus ainda com mais força?
- O que
você quer dizer? Quem se aprofunda nos segredos da matemática, descobre que
essa história de Deus é para mentes fracas, ignorantes, fechadas.
- Você percebe
que está ofendendo muita gente com essas palavras?
- Mas não
é melhor ofender com a verdade do que consolar com mentiras, falsas esperanças
e ilusões?
- Bem, se
é assim, eu gostaria de pedir algo. Somente uma coisa e prometo não falar mais
sobre isso, a não ser que alguém me questione.
- O que é?
- Dê-me
trinta minutos do seu tempo de aula, qualquer dia desses, e eu darei a
demonstração que exige. Somente trinta minutos.
A forma de
Leona falar surpreendeu Vandevil. Ela estava fazendo um desafio a ele diante de
toda a classe. Se ele aceitasse, estaria correndo o risco de encorajar outros a
fazerem aquilo. Se rejeitasse seria visto por muito tempo como um covarde.
Depois de ponderar alguns segundos, aceitou o desafio e notou que a classe
estava eufórica, claramente demonstrando simpatia por Leona. Ele passou o resto
da semana tão inquieto e ansioso que resolveu apressar o dia da demonstração de
Leona. Ficou mais irritado ao notar que alunos de outras salas estavam ali para
assistir à demonstração – havia até mesmo alguns professores entre eles.
“Fiz
besteira em aceitar isso” – Pensou Vandevil.
*******
IDADE MÉDIA, ANO 1422.
Samuel Shamir foi
capturado pelos inquisidores e levado para uma outra cidade. Os inquisidores
tinham um plano bem elaborado para calar a boca daquele pregador.
Algum tempo depois e
Samuel se encontrava diante de uma praça, onde uma pequena multidão o
aguardava.
Um dos inquisidores
levantou a voz diante do povo:
- Irmãos, este
estrangeiro foi capturado enquanto perambulava por aqui. Ele pode ser um ladrão
ou apenas um aventureiro. Ele será submetido ao julgamento das duas folhas.
Elas dirão se ele é inocente ou culpado.
“Duas folhas? – pensou
Samuel – o que esses indivíduos estão planejando?”
Samuel sabia que aqueles
homens estavam armando alguma arapuca. Diante da multidão, um homem alto e
carrancudo se aproximou do aventureiro e mostrou a ele duas folhas dobradas.
- Estrangeiro, aqui
temos duas folhas abençoadas pelo nosso bispo. Em uma está escrita a palavra
INOCENTE e na outra, a palavra CULPADO. Você terá que escolher uma. A folha
escolhida dirá sua sentença, pois Deus é justo.
“Parece fácil” – Pensou Samuel,
mas o sorriso irônico de dois homens e os olhares de cumplicidade o fizeram
ficar alerta.
Dentre a multidão, alguém
se aproximou e conseguiu cochichar no ouvido de Samuel:
- Você não tem como
escapar. Nas duas folhas estão escritas as palavras CULPADO. A multidão não
sabe disso e você não tem como provar nada.
- Escolha a folha! -
Gritou o inquisidor chefe.
- E se eu não quiser
escolher?
- Uma mente culpada tem
sempre algo a temer. Se você não escolher, todos saberão que é culpado e será
executado imediatamente. Você tem um minuto para decidir. Contando: 59, 58, 57,
...
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