quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Capítulo 6 – OS FILHOS DA NOITE ETERNA

Michele e Frei Ângelo foram visitar uma Comunidade do interior. Ela precisava fazer uma reunião com os jovens daquele povoado, enquanto que Frei Ângelo aproveitaria para visitar alguns fiéis. A estrada era bastante acidentada, mas Michele não ligava pra isso. O importante era que ela gostava de falar da Palavra de Deus para as pessoas, especialmente para os jovens. Subitamente, o carro parou. Parecia que alguma coisa na estrada provocou aquilo. Frei Ângelo saiu do carro com vontade de xingar, mas se conteve. Com aquele sol escaldante (entre 14:00 e 15:00 horas) qualquer um era capaz de perder a paciência. Alguns minutos e um misterioso silêncio reinou. Michele olhou para todos os lados, mas não viu sinal de Frei Ângelo. Com um pressentimento estranho, ela saiu do carro e chamou o nome do seu chefe religioso. Não obteve respostas. Caminhou um pouco, seguindo os rastros dele. Alguns metros adiante o viu, caído, parecendo desmaiado. Ao se abaixar para examiná-lo, foi agarrada por trás. Alguém colocou em seu nariz um lenço com alguma substância embriagante. Michele viu o mundo escurecer.

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Alanna estava imóvel. De terror. À sua frente havia uma pessoa vestida com um manto negro, cheio de símbolos misteriosos e segurando uma gigantesca foice. Era Rashira, com um sorriso diabólico, tal como Alanna nunca vira antes.

- Surpresa, amiguinha? Sinta-se privilegiada! Você vai ser oferecida a um ser muito especial hoje. Às 18:00 horas de hoje dois dos nossos sacrificarão duas jovens vidas em oferenda ao verdadeiro rei do Universo, no mesmo horário em que eu farei o mesmo com você. Serão três sacrifícios, três jovens que possuem uma ligação em comum. Não se mova, ou não esperarei as 18:00 horas.

- Mas o que significa tudo isso? – Alanna conseguiu falar.

- Simples, minha querida. Estamos no Brasil desde algum tempo, e tomamos conhecimento de uma organização de jovens que investigam coisas sobrenaturais e seitas satânicas. Achamos interessante, e descobrimos que eles estavam perto demais de descobrir nossa rede espiritual no Brasil. Como um importante ritual deveria ser realizado num certo dia do ano – exatamente hoje – e como o sacrifício de três pessoas é bastante propício para o sucesso da nossa causa, achamos que seria o máximo que essas pessoas (de preferências mulheres, jovens garotas) fossem tiradas exatamente do meio dos “SETES”, o grupo que ameaça os nossos segredos.

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Michele abriu os olhos. Estava amarrada, em forma de X, dentro de um círculo, sobre uma mesa, e estava nua. Diante dela havia um homem vestindo umas estranhas roupas negras e sorrindo. Ela não conseguia acreditar em seus olhos. Era Frei Ângelo!

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Rashira continuava falando:

- Raizar, um dos três do Círculo Maior, assumiu o lugar de um certo Frei que estava indo para uma cidade do Maranhão – a cidade natal dos “SETES”, e ninguém da comunidade imagina que o verdadeiro Frei Ângelo foi jogado de cima de uma ponte para afundar nas águas escuras de um rio. Na mesma época, Leafar, outro dos líderes, passou um certo tempo naquela cidade, a fim de acompanhar de perto a adaptação de Raizar. Foi aí que Leafar se envolveu com uma certa garota chamada Elaine, que mais tarde se tornaria uma “SETE”. Agora ele retornou para lá a fim de usá-la como oferenda.

- Meu Deus! Vocês são uns loucos! Como é que Marcos se deixou enganar por você?

- Esse foi meu golpe de mestre, queridinha. Por meio de um certo jornal soube que você estava se destacando aqui em Porto Alegre devido a certas reportagens polêmicas envolvendo seitas satânicas. Fiquei interessada e procurei saber tudo a seu respeito. Imagina minha surpresa ao descobrir sua ligação com os “SETES”. Descobri sobre o tal de Rogers Town, que trabalha no exterior. Então tive a idéia de me aproximar de você usando um disfarce perfeito. Viajei ao Egito, seguindo de perto seu namoradinho. Na hora certa, me apresentei a ele e lhe falei da minha vontade de conhecer o Brasil. Passei três anos em Israel, e por isso pareço perfeitamente uma israelense.

- E o que vai fazer comigo agora? Ainda não são 16:00 horas – Alanna começava a recuperar suas forças. 

- Vou trancá-la naquela cabana até a hora do ritual. Afinal não sou eu quem irá sacrificá-la. Eu teria o maior prazer em fazer isso, mas há alguém que precisa ser batizado no ocultismo hoje. Alguém que precisa fazer o seu primeiro grande sacrifício a fim de alcançar uma grande fonte de poder. Vamos! Entre!

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Samantha continuava de olhos fechados, pois sabia que não tinha mais esperanças. Então tudo aconteceu de forma rápida. O encapuzado virou-se de repente para Leafar e disparou uma arma no peito do sacerdote de Satã. Ao ouvir o disparo, Samantha abriu os olhos a tempo de ver os outros 5 encapuzados recém chegados disparando contra o restante dos adoradores de Satanás.

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Michele estava paralisada. Não apenas de medo, mas porque não conseguia acreditar que aquele homem que parecia um servo de Deus era um servo de Satan. Aquilo era absurdo demais. Ela devia estar sonhando.

- Querida – o falso líder cristão começou a sorrir – não se torture tanto. Você não é a única. Você é uma das três jovens que deverão ser oferecidas hoje ao verdadeiro senhor do Universo.

“Meu Deus! – pensou Michele – há mais garotas nesta mesma situação?”

O falso Frei Ângelo tinha um cúmplice. Um sujeito alto, magro e rosto cicatrizado. Certamente foi ele quem agarrou Michele por trás. Ela tinha acabado de ouvir de Raizar quase a mesma história que Rashira contara a Alanna. Michele estava em estado de pânico.

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Diante da afiada foice Alanna achou melhor obedecer. Mas ela era uma “SETE”, e “Ser ‘SETE’ é saber surpreender!”. Com o método tradicional do ilusionista em chamar a atenção para uma mão enquanto trabalha com a outra, Alanna virou-se e deu a entender que iria entrar na cabana, obedecendo à diabólica Rashira. A garota “SETE” balançava a mão esquerda misteriosamente, atraindo a atenção de Rashira, por alguns segundos (que era o suficiente para que Alanna pegasse, com a mão direita, um pequeno frasco de perfume tipo “Spray”, escondido numa parte do seu cinto).

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Michele tentou esquecer por um momento a triste sorte que a aguardava, e procurou uma saída. Ela estava totalmente imobilizada. Era aparentemente impossível escapar dali. Sim, aparentemente, pois “Um ‘SETE’ nunca desiste de resolver um problema, mesmo que o tal pareça ser impossível”.

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Samantha chorava bastante. Estava perplexa. Perplexa, mas super feliz. Estava entre amigos. Os 6 encapuzados eram na verdade os jovens SETES Stanville, Scapelly e quatro rapazes desconhecidos, amigos deles.

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Raizar saiu. O ritual só deveria começar próximo às 18:00 horas, e ele precisava continuar representando seu papel de “homem de Deus”. Portanto, seguiria até à comunidade do povoado que o esperava, e inventaria uma desculpa qualquer sobre a ausência da garota. Porém Michele não ficou sozinha. O cúmplice de Raizar ficaria de vigília. E ele não parecia ser um tipo inteligente.

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Alanna fingiu tropeçar em alguma coisa, mas antes que tocasse o chão, voltou-se de repente, lançando o perfume nos olhos de Rashira. A satanista soltou a foice, e colocou as mãos sobre os olhos, soltando um grito. Alanna passou uma rasteira na adversária, lançando-a no chão. Num relance, tirou seu cinto e amarrou as pernas de Rashira, que continuava apertando os olhos. Alanna levantou-se, respirando de alivio, mas ainda sentindo um tremor na espinha, por causa das surpresas daquele dia. Escutou o som de um carro chegando. Seu coração bateu forte. O que será que aconteceria agora?

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- Você gosta de garotas? – Perguntou Michele, com um tom sedutor.

O cúmplice de Raizar, chamado Silas, não se moveu, e continuou a olhar para a direção tomada por seu chefe.

- Ou você prefere os garotos? – Insistiu Michele, usando um tom mais irônico e desafiador.

Silas voltou-se, olhando seriamente para a garota, sem dizer nada. Rapidamente, ele correu os olhos para o belo corpo nu amarrado sobre a mesa.

- Você já transou com alguma garota? Já dormiu com alguma menina que tivesse um corpo como este? – Ela mesma se surpreendia ao dizer aquelas palavras provocantes.

Silas não falava nada. Mas tremia. Ele sabia que tocar naquela garota seria uma violação ao ritual e que seu chefe o puniria de forma terrível. Mas ela era irresistível.

- Eu sei que morrerei hoje – disse Michele – Por que não aproveitar a vida mais um pouco? Você vai desperdiçar uma chance dessa?

Silas suou. Dentro dele um conflito de emoções, desejos, medo e ansiedade. Era o que Michele queria que ele sentisse.

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Alanna estava nos braços de Marcos Moran. Tinha acabado de narrar todos os recentes acontecimentos. Rashira foi entregue a Policia Federal. Alanna tentava entrar em contato com vários amigos, especialmente os do Maranhão. Ela queria alertá-los sobre a seita satânica que estava se espalhando pelo Brasil. Não imaginava que os outros “SETES” já estavam em luta com aqueles satanistas.

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Silas aproximou-se de Michele. Deitou sobre ela e começou beijá-la. Ao tentar beijar os lábios da garota especial teve uma amarga surpresa. Michele cravou os dentes no pescoço dele de uma forma mortal. Mesmo com a boca ocupada, ela conseguiu sussurrar:

- Liberte meu pulso direito ou corto sua jugular e você morre em questão de segundos.

Silas estava em pânico. Ele tinha os nervos fracos. Michele havia percebido isto, pois de outra forma não faria o que fez. Ela continuou apertando. Silas estendeu sua mão esquerda e destravou uma peça que prendia o pulso direito de Michele. Mais do que rapidamente, ela conseguiu arrancar um punhal que ele trazia na cintura, e encostou na garganta dele, ordenando que ele libertasse o outro pulso dela. Ela raciocinava depressa. No momento em que sentiu seu pulso esquerdo solto, empurrou Silas violentamente, e antes que ele se recuperasse da queda, ela já tinha destravado as peças que prendiam seus pés. Ela correu para a liberdade. Mas parou subitamente diante daquele homem em pé, na porta, sorrindo para ela.

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- Meu Deus! Ainda estou confusa – disse Samantha, olhando os corpos estirados ao redor – eles estão mortos?
- Não, querida – disse Scapelly – não foram usadas balas de verdade, mas um sonífero especial. Nosso amigo aqui – e apontou para um negro, alto e forte – é Paulo Miranda, da Policia Federal e amigo dos “SETES”. Há algum tempo Rogers Town, nosso amigo estrangeiro, nos enviou uma mensagem urgente, falando da chegada de perigosos líderes satanistas em Igarapé Grande. Ao mesmo tempo ele nos pediu para entrar em contato com o Paulo, da Polícia Federal (que já estava a par do grave problema). Graças a eles conseguimos pegar um dos satanistas – Scapelly apontou para um dos homens no chão - Este aqui é Charles Leafar, de nacionalidade desconhecida. Está no Brasil há 15 anos e veio ao nosso país exatamente para organizar várias sociedades satanistas. Desde que o Paulo recebeu o alerta de Rogers passou a vigiar alguns suspeitos que possuíam ligações com Leafar. Sim, Leafar era vigiado há bastante tempo, porém não havia provas contra ele.

Mas o Paulo e sua equipe conseguiram, recentemente, interceptar uma mensagem, revelando o que iria acontecer aqui, inclusive a chegada dos 6 misteriosos chefes da hierarquia superior. Nós nos antecipamos e prendemos os 6 satanistas. Então, tomamos o lugar deles e conseguimos surpreender esses aqui antes que o pior acontecesse. Você foi escolhida de última hora para o ritual satânico, porque a candidata seria Elaine e, graças a Deus, ela conseguiu escapar. Quando ela alertou Morganne sobre a tatuagem diabólica de Leafar, rapidamente fechamos o cerco. E tem mais uma coisa: nosso amigo Diego acabou de me ligar, confirmando que chegou a tempo de impedir outro sacrifício satânico.

- Como assim? – Perguntou Samantha.

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Michele abraçou Diego e chorou. Ele procurou um meio de vesti-la e a levou para casa. Os policiais que o acompanhavam levaram Silas preso, mas Raizar conseguiu fugir.

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Três semanas depois.

- Um amigo me informou que Raizar foi encontrado morto, com as mãos queimadas e amarrado numa estaca, no Estado de Santa Catarina. A policia suspeita de algum ritual satânico, devido ao tipo de morte e por ter sido realizada dentro de um pentagrama.

Michele estremeceu ao ouvir as palavras de Diego. Ao seu lado estavam alguns dos SETES e Samantha. Ela, que tinha vivido os momentos mais horríveis de sua vida.

- Leafar foi levado para o Rio de Janeiro, e logo que descubram a nacionalidade verdadeira dele, irão deportá-lo – informou Scapelly.

- E o que aconteceu com a tal de Rashira, que tentou assassinar nossa amiga Alanna? – Perguntou Sabrina, uma das inteligentes meninas do Grupo7.

- Giovanna e James Anderson me informaram que Rashira conseguiu fugir do país – disse Stanville.

- Ainda não me explicaram como descobriram o falso padre e que Michele estava em perigo – Samantha quis saber.

- Eu estava de olho no falso frei Ângelo há três meses – explicou Diego.

- E por que? – Insistiu Samantha.

- Foi somente uma cena, uma ceninha aparentemente insignificante – continuou Diego – num certo dia eu estava conversando com Michele sentado na última fila de banco da igreja dela. Parece-me que eram 16 ou 17 horas. Michele tinha acabado de sair de uma reunião com os seus jovens e eu precisava falar com ela. Sentei-me ao lado dela e, enquanto conversava, vi ao longe, o tal frei Ângelo saindo de uma sala e atravessando para o outro lado do templo, até entrar noutra sala.

- E? – Samantha olhava para os olhos de Diego, sem piscar.

- O que vocês achariam de um padre que atravessa na frente do altar e não se ajoelha ou não se benze?

- Distraído ou apressado.

- Um católico comum pode até ser, mas é quase imperdoável para um sacerdote. O fato é que achei muito estranho e pensei bastante a respeito. Mas eu poderia estar exagerando. Eu poderia estar vendo elefante no meio do oceano. Só que ele retornou para a primeira sala, perfazendo o mesmo caminho e do mesmo jeito de antes: nem olhou para o altar.

Mesmo assim, poderia ser apenas um momento de distração. Por incrível que pareça, não consegui dormir à noite. Tive vários pesadelos. E em todos eles, o tal frei Ângelo aparecia como um adorador de Satanás.

- Mas poderia ser apenas o reflexo de suas preocupações – disse Michele – nós sabemos muito bem que, se algo mexe bastante com o nosso espírito durante o dia, é bem provável que tenhamos sonhos ou pesadelos sobre o assunto.

- Sim, mas eu jamais havia pensado no frei Ângelo como um satanista. Somente achei estranho a atitude dele diante do altar. Nada mais. Porém, vi o sonho como um alerta de Deus.

 Apesar de não ser católico e nem comungar com algumas das doutrinas católicas, resolvi assistir a algumas missas de vez em quando. Ninguém poderia desconfiar, pois eu tinha uma desculpa perfeita: Michele – ao dizer isso, Diego olhou para Michele e sorriu.

- Como jamais passaria pela cabeça de um fiel católico que aquele sacerdote poderia ser uma fraude, ninguém prestava muita atenção a forma dele rezar a missa. E ele fazia isso com muita perfeição, ou quase. Enquanto todo mundo se entregava aos rituais da liturgia católica, eu estava atento, sem piscar. Nos momentos em que todo mundo fechava os olhos para orar, eu permanecia de olhos discretamente abertos e percebi, várias vezes, o falso frei Ângelo demonstrar expressões de aborrecimentos. Um dia eu o flagrei olhando com desprezo para a cruz de Cristo. Aquilo não era normal.

Para resumir: quando um dos nossos amigos (ligado à polícia federal) me confidenciou que eles estavam suspeitando de atividades de seitas satânicas em Igarapé Grande, aquilo foi demais para mim. Então, recentemente, quando eu atravessava a cidade de moto, vi ao longe, o carro do frei saindo em direção à zona rural. Ao ver Michele ao lado dele, senti um peso no coração. Segui-os de longe. Vi Michele sendo levada à força para um casebre abandonado. Então liguei rapidamente para meu amigo policial. O resto vocês já sabem.

- Espero nunca mais encontrar pessoas desse tipo – disse Michele, apertando a mão de Diego.

- Deus que nos proteja desses satanistas – disse Diego - mas temos que continuar. Nos dias de hoje é perigoso saber demais e mais perigoso ainda tentar fazer a coisa certa. Mas há muitos jovens à beira do abismo e faz parte de nossa missão tentar salvá-los da perdição eterna.

- Eu farei isto com todas as minhas forças. Sei que para a sociedade as coisas morais e as coisas sagradas não têm mais valor. Sei que as Igrejas chamadas cristãs estão muito afastadas do padrão bíblico original. Mas serei mais uma jovem a tentar despertar as pessoas para buscarem a Deus da maneira correta. Afinal, eu também sou uma “SETE”.

Samantha falou com muita firmeza. E aqueles jovens espertos sentiram um novo ânimo para continuarem a luta.

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IDADE MÉDIA, ano 1422.

         Diante de uma praça pública, um jovem ousado pregava:

- A Inquisição é uma das maiores desgraças na história da humanidade. Em nome de Jesus Cristo, sacerdotes estão montando um esquema enorme para matar todos os chamados "hereges" na Europa.

Deus nunca ordenou que se fizesse tais coisas. Durante a primeira parte de seu ministério, Jesus Cristo foi abordado por dois de seus discípulos - Tiago e João - que tinham acabado de voltar da pregação do evangelho por todo o Israel. Esses dois discípulos estavam aborrecidos, porque algumas cidades inteiras tinham recusado ouvir sua mensagem; eles perguntaram ao Senhor:

"Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?" (Lucas 9:54)

Jesus Cristo respondeu:

"Vós não sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las." (Lucas 9:55-56)

Vou repetir essa frase maravilhosa: "o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens".

Em nenhum lugar nas Sagradas Escrituras Jesus matou alguém que discordasse dele, tampouco ensinou que seus seguidores fizessem isso. Nenhum dos apóstolos deu essa instrução à Igreja no Novo Testamento.

Em outra passagem, Jesus Cristo anuncia o tipo de espírito suave que oferece ao mundo. Ouçam este versículo:

"Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve." [Mateus 11:29-30].

Jesus nunca ordenou que alguém fosse morto por qualquer razão, especialmente por dureza de coração contra sua mensagem, ou por discordar dele em questões espirituais. Mas é o que os sacerdotes estão fazendo.

As pessoas ouviam atentamente, com bastante interesse. Mas no meio da multidão dois homens trocavam umas palavras em voz baixa:

- O estilo dele parece com alguém da Ordem dos SETE.

- Se ele está aqui, certamente seus amigos estão por perto.

- A chance de pegarmos todos eles pode ser agora. Se o capturarmos certamente conseguiremos a lista com os nomes de todos os outros hereges e destruiremos essa maldita Ordem o mais rápido possível.

E, sem notar o grande perigo que estava correndo, o jovem continuou a pregar. O nome dele era Samuel Shamir.

Dentro de pouco tempo, ele se viu cercado por seis homens.

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- Acreditar em Deus, em milagres, no sobrenatural, é bobagem, é uma grande estupidez.

Vandevil, um jovem professor de Matemática, não perdia a chance de zombar da fé de seus estudantes. Ele adorava criticar as crenças religiosas de quem quer que fosse, quaisquer que fossem elas.

Ninguém entendia o porque de alguém tão jovem ser tão cético, tão arrogante. Ele tinha uma mente brilhante, e era muito admirado pelos colegas, e até pelos inimigos. Estava há seis anos no Rio de Janeiro, onde, após concluir sua formação em Matemática, foi convidado a lecionar num Colégio de Ensino Médio. E lecionava com brilhantismo. Ele era bastante simpático, mas costumava causar irritação ao zombar das coisas sobrenaturais. Há alguns anos teve uma série de confrontos com uns jovens que viviam de investigar as coisas sobrenaturais – OS SETES.

Na verdade, Vandevil nasceu na mesma pequena cidade natal dos SETES, Igarapé Grande, no interior do Maranhão.

Vandevil e Morganne se conheciam desde a adolescência, e cada um seguiu destino diferente. Morganne se tornou um Cristão convicto e o principal investigador dos SETES, enquanto que, Vandevil – por razões desconhecidas – se tornou um cético de carteirinha.

Quando Vandevil saiu de Igarapé Grande, os SETES já eram conhecidos – embora não muito – e o jovem cético se envolveu em muitos debates sobre Deus, a Bíblia e o Universo.

Era difícil – quase impossível – se contestar as teses dos SETES, mas Vandevil era uma mente difícil de se convencer – quase impenetrável.

Mas agora Vandevil estava prestes a encontrar alguém que mudaria radicalmente seu modo de pensar. Tudo começou com a chegada de uma nova aluna, uma linda loira chamada Leona Stanley.

O primeiro encontro deles foi constrangedor. Após uma explicação sobre complexos cálculos matemáticos, Vandevil ouviu uma aluna dizer em voz baixa:

- A matemática é uma bela prova da perfeição de Deus.

- Como assim? – Vandevil voltou-se à procura da autora da frase, e ficou paralisado ao olhar - pela primeira vez – os belos olhos verdes de Leona Stanley.

- Ah, você é a nova aluna, não? A senhorita Leona Stanley.

Ela sorriu e o arrogante professor de Matemática sentiu seu coração bater de forma anormal. Meio constrangido, procurou desviar o olhar de forma discreta.

- Muito bem, senhorita Stanley. Seja bem vinda. Espero que aprendamos muitas coisas durante este ano – ele tentou se manter em pé, sério e altivo, mas teve que desviar os olhos dela. Percebendo que a classe estava notando seu nervosismo diante da bela Leona, resolveu manter a pose e falou:

- Em que sentido a senhorita afirmou que a matemática é uma bela prova da perfeição de Deus? – Ele mantinha os olhos fixos em algum lugar da sala, evitando olhar para ela, embora no íntimo desejasse isso.

- Quando vemos tantos cálculos complexos se encaixando de forma harmônica, gerando um único resultado, extremamente exato, é difícil não pensar na formação e funcionamento do Universo, com suas leis eternas, exatas e complexas. Sendo assim, é impossível deixar de se impressionar com a maravilhosa inteligência e providência divina.

- Perdoe-me, mas Deus não tem nada a ver com isso. Ele não existe, é pura e simplesmente o nome que damos a uma ilusão que nos traz algum conforto.

- Desculpe-me, professor, mas você precisa ampliar seu conhecimento. O que sabe é limitado demais. Continue sua aula.

O tom seco de Leona causou sensação. Vandevil sentiu-se humilhado.

- Tudo bem. Falar é fácil, provar as teses é que é a coisa. É fácil dizer que Deus fez isso, fez aquilo, agora demonstrar... quando digo que o quadrado de 6 é 36, demonstro, usando a matemática. Provo que isso é verdade e não há quem possa contestar.

- Você acha impossível se aprofundar no conhecimento matemático e passar a crer em Deus ainda com mais força?

- O que você quer dizer? Quem se aprofunda nos segredos da matemática, descobre que essa história de Deus é para mentes fracas, ignorantes, fechadas.

- Você percebe que está ofendendo muita gente com essas palavras?

- Mas não é melhor ofender com a verdade do que consolar com mentiras, falsas esperanças e ilusões?

- Bem, se é assim, eu gostaria de pedir algo. Somente uma coisa e prometo não falar mais sobre isso, a não ser que alguém me questione.

- O que é?

- Dê-me trinta minutos do seu tempo de aula, qualquer dia desses, e eu darei a demonstração que exige. Somente trinta minutos.

A forma de Leona falar surpreendeu Vandevil. Ela estava fazendo um desafio a ele diante de toda a classe. Se ele aceitasse, estaria correndo o risco de encorajar outros a fazerem aquilo. Se rejeitasse seria visto por muito tempo como um covarde. Depois de ponderar alguns segundos, aceitou o desafio e notou que a classe estava eufórica, claramente demonstrando simpatia por Leona. Ele passou o resto da semana tão inquieto e ansioso que resolveu apressar o dia da demonstração de Leona. Ficou mais irritado ao notar que alunos de outras salas estavam ali para assistir à demonstração – havia até mesmo alguns professores entre eles.

“Fiz besteira em aceitar isso” – Pensou Vandevil.

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IDADE MÉDIA, ANO 1422.

Samuel Shamir foi capturado pelos inquisidores e levado para uma outra cidade. Os inquisidores tinham um plano bem elaborado para calar a boca daquele pregador.

Algum tempo depois e Samuel se encontrava diante de uma praça, onde uma pequena multidão o aguardava.

Um dos inquisidores levantou a voz diante do povo:

- Irmãos, este estrangeiro foi capturado enquanto perambulava por aqui. Ele pode ser um ladrão ou apenas um aventureiro. Ele será submetido ao julgamento das duas folhas. Elas dirão se ele é inocente ou culpado.

“Duas folhas? – pensou Samuel – o que esses indivíduos estão planejando?”

Samuel sabia que aqueles homens estavam armando alguma arapuca. Diante da multidão, um homem alto e carrancudo se aproximou do aventureiro e mostrou a ele duas folhas dobradas.

- Estrangeiro, aqui temos duas folhas abençoadas pelo nosso bispo. Em uma está escrita a palavra INOCENTE e na outra, a palavra CULPADO. Você terá que escolher uma. A folha escolhida dirá sua sentença, pois Deus é justo.

“Parece fácil” – Pensou Samuel, mas o sorriso irônico de dois homens e os olhares de cumplicidade o fizeram ficar alerta.

Dentre a multidão, alguém se aproximou e conseguiu cochichar no ouvido de Samuel:

- Você não tem como escapar. Nas duas folhas estão escritas as palavras CULPADO. A multidão não sabe disso e você não tem como provar nada.

- Escolha a folha! - Gritou o inquisidor chefe.

- E se eu não quiser escolher?

- Uma mente culpada tem sempre algo a temer. Se você não escolher, todos saberão que é culpado e será executado imediatamente. Você tem um minuto para decidir. Contando: 59, 58, 57, ...



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