terça-feira, 5 de novembro de 2013

Capítulo 5 – NAMORANDO O DIABO

Elaine tentou conter sua surpresa. Em hipótese nenhuma Charles deveria desconfiar que ela sabia a verdade. Calmamente, tentando controlar suas emoções, a garota dos olhos de mel levantou-se, sempre olhando nos olhos de Charles. Ela sabia que os olhos são a janela da alma. Sabia que corria o risco de ter seus pensamentos lidos por Charles se fixasse muito os olhos nos olhos dele. Mas também queria sondá-lo. Queria ler o que se passava em sua mente naquele momento. Queria ter certeza de que ele não estava desconfiando de nada.

- Sinto muito, Charles. O que sinto por você não é forte o suficiente para me obrigar a segui-lo. Foi bom o tempo que passamos juntos, mas não nascemos um para o outro – ela usava as palavras com todo o cuidado, como se calculasse o valor de cada letra, pois sabia que uma das marcas mais especiais dos “SETES” era a capacidade de sempre falar a verdade. E como ela ainda sentia alguma coisa por ele, não poderia mentir dizendo o contrário. Mas também tinha aprendido bastante naqueles dois anos com os “SETES” e tinha certeza que Charles não podia ser o homem da sua vida. E principalmente agora, com a tremenda descoberta que ela fez... era inacreditável!

Ela saiu rapidamente, sem dar tempo de um Charles surpreso dizer alguma coisa. Ele a seguiu com o olhar até perdê-la de vista. Sem piscar.

*******
Deserto do Saara.

O jovem de cabelos ruivos estava sedento. Não havia possibilidade nenhuma de sair dali com vida, pois ele estava cercado de areia por todos os lados. Ele olhou para o céu. E procurou ver algum pássaro. Se houvesse algum oásis por perto – nem que fosse distante alguns quilômetros – ele ainda tinha um pouco de forças para chegar até lá. De repente, ele viu um bando de pássaros sobrevoando bem alto. Eles seguiam numa direção determinada. Ele resolveu apostar sua vida naquela direção e seguiu-a.

Cerca de quinze minutos depois avistou aquilo que parecia o paraíso. Uma dúzia de palmeiras indicava que a salvação do jovem aventureiro estava próxima. E se fosse uma miragem?

Ele se aproximou das águas. Não era miragem. Olhou ao redor procurando rastros de animais, pois a experiência lhe ensinara que se não houvesse nenhum rastro ao redor de um poço isolado seria perigoso, pois isso indicaria que até mesmos os animais haviam descoberto que a água era imprópria para consumo. Mas, para sua alegria, ele viu muitos rastros. Mesmo assim, continuava prudente, pois sabia que algumas espécies de animais podiam beber líquidos que, para um ser humano seria mortal. Mas um teste simples foi o suficiente para ele descobrir que a água não estava envenenada. Ele pegou um fio de cabelo e mergulhou na água. Como o fio não se enrolou – o que aconteceria se a água estivesse envenenada ou imprópria para consumo – então o jovem jogou-se nas águas.

Enquanto bebia do precioso líquido ouviu passos atrás de si. Voltou-se, preparado para a luta, mas o que viu o deixou completamente sem jeito.

*******
Morganne estava perplexo.

- Você tem certeza?

- Sim – disse Elaine – eu vi no pulso esquerdo de Charles a marca ocultista das três serpentes sobre o número 666. Ele é um satanista!

Um vento gelado soprou de repente. Ao longe se ouviu o cantar estranho de um pássaro desconhecido. Era noite.

Morganne levantou-se, andou de um lado para o outro e disse:

- Estou muito preocupado com nossos amigos. Já ouvi rumores de que cultos satânicos, envolvendo adolescentes, estão acontecendo nesta região. Nunca pensei que essas coisas um dia chegassem por aqui, mas sinto que fui muito ingênuo.  É sempre assim. Quando o movimento das drogas começa a progredir, logo atrás vem seu irmão mais próximo, o ocultismo e adoração aberta a Satanás.

- Você acha que já existe algum culto em nossa cidade? – Perguntou Elaine – não consigo crer que isto seja real. Não consigo acreditar que Charles seja um deles.

- Minha querida, você tem lido muito os arquivos e sabe que a maior dor de cabeça para a policia americana tem sido o aumento de jovens satanistas. Bob Larson, um ex-roqueiro, agora convertido ao Cristianismo, é um grande combatedor do ocultismo nos Estados Unidos. Seu programa de rádio “Fale e Escute com Bob Larson” tem alcançado milhões de pessoas em centenas de cidade dos Estados Unidos e Canadá, e também em diversos países da América do Sul, da Europa e da África. Há pouco tempo ele lançou mais um livro, “Satanismo, a sedução da juventude norte-americana”, e nele revela coisas difíceis de se acreditar. Ele é muito amigo de Rogers Town, e por isso temos uma certa ligação. Pois bem, diariamente dezenas de jovens envolvidos com satanismo (e até com assassinatos em rituais satânicos) telefonam para Bob Larson, procurando ajuda. Isto é mais sério do que imaginamos.

*******

Idade Média, ano 1421.

Jean Almazinni passeava ao redor de um jardim belíssimo, ao lado do jovem chamado Samuel Shamir.

- Como é que aqueles que deveriam ser exemplo de amor para o mundo têm cometido tantas atrocidades? – perguntou Samuel - Como é que a verdade é obrigada a se esconder enquanto que a mentira reina? Como é que os chamados cristãos se tornaram as pessoas mais cruéis do mundo? Eu tinha oito anos quando meus pais foram torturados e mortos na fogueira, por se recusarem a aceitar a religião cristã. Deus criou os homens livres – tão livres até para escolherem o caminho do mal, mas os chamados cristãos têm forçado as pessoas a aceitarem suas idéias.

- Mas você já deve ter entendido que essas pessoas são chamadas de cristãs, mas na verdade, são anticristãs e que ainda existem cristãos verdadeiros no mundo – respondeu Almazinni.

- Sim, eu sei. Mas preciso de um certo tempo para absorver melhor esse novo conhecimento.

Naquele momento, uma moça se aproximou.

- É Lilandra, uma jovem muito inteligente e bela, como você está observando – disse Jean – ela irá em breve fazer uma visita aos irmãos da Alemanha e aproveitará para levar algumas cópias das Escrituras Sagradas.

- Olá, rapazes – a moça tinha um sorriso que Samuel classificaria mais tarde como celestial e ao apertar a mão do ex-noviço, disse – Você não gostaria de visitar a Alemanha?

Samuel sentiu um leve estremecimento. O olhar daquela moça ruiva e de pele morena parecia esconder milhares de segredos, pois ele ficou como que hipnotizado, sentindo algo que nunca tinha sentido antes em toda a sua vida.

Jean observou a reação de Samuel e sorriu. “Paixões à vista” – pensou.

- É claro – Samuel conseguiu responder à pergunta de Lilandra após alguns segundos de hesitação – sim, é claro. Passei muito tempo de minha vida preso. Agora que conquistei a liberdade, quero vivê-la, e não há melhor maneira de vivê-la do que fazendo a vontade de Deus.

- Venha comigo – ela pegou na mão do rapaz que ficou ainda mais nervoso, e olhando para Jean continuou – se você não tiver nada em contrário, gostaria de mostrar a ele a sala dos tradutores.

- Claro, claro – respondeu Jean sorrindo – eu preciso analisar uns relatórios. Por enquanto ele é todo seu. Até logo, meu amigo.

Realmente, começava uma nova vida para Samuel.

- É verdade que você é judeu? – Perguntou Lilandra enquanto se dirigiam à sala dos tradutores.

- Sim, da tribo de Benjamin, mas no mosteiro tentaram me dar uma nova identidade e uma nova nacionalidade. Graças a vocês pude saber a verdade sobre minha história.

- É incrível. Então você é irmão de sangue de Jesus.

- Parece que sim, né? Mas Ele veio da tribo de Judá, se não me engano. Portanto, sou parente dele, mas não muito próximo.

- Considere-se um privilegiado, meu amigo. Você é judeu.

- Pelo que eu andei sabendo, não é muito bom ser judeu nos dias de hoje.

- Sim, a Inquisição tem perseguido os judeus mais do que os romanos fizeram. Isso é muito triste, e tem contribuído para que os judeus se afastem ainda mais de Jesus, pois aqueles que são considerados discípulos de Jesus tem feito coisas que até mesmo o diabo fica admirado.

- E quando é que isso irá acabar? – Perguntou Samuel.

- Não em nosso dias – respondeu Lilandra – mas vai acabar, pode ter certeza. Bem, chegamos. Deixe-me apresentar alguns dos tradutores.

Em uma sala bastante espaçosa, cerca de 27 homens e mulheres trabalhavam incessantemente na tradução de volumosas obras, sendo que a maioria era das Sagradas Escrituras nas versões gregas, hebraicas e latinas. As traduções eram feitas para a maioria das grandes línguas européias, tais como a Alemã e a Inglesa.

- Este aqui é Pietro Galbi, italiano, a nossa letra M.

- Muito prazer – disse Samuel apertando a mão do tradutor, que devia ter uns quarenta anos – por que ela o chamou de letra M?

O homem sorriu e apontando algumas pessoas na sala explicou:

- Eu sou a letra M, aquele ali é a letra S, aquela linda jovem é a letra P, aqueles dois mais na frente são as letras F e J, aqueles perto da janela são as letras T, B e A. E assim, todos os tradutores aqui são chamados por uma letra do alfabeto, sabes por que?
- Não faço a mínima idéia.

- Eles são nosso dicionário ambulante – disse Lilandra – cada um se especializou em conhecer o significado de todas as palavras de uma determinada letra do alfabeto. Assim, Pietro é chamado de letra M, porque sabe o significado de todas as palavras que começam com a letra M, em nossa língua.

- Era só o que faltava – disse Samuel, sorrindo – é uma idéia divertida.

- Só corrigindo uma coisa – disse Pietro – eu não sei o significado de todas as palavras começadas com M, como a Lilandra disse, mas quase todas. Sabe como é, cada dia alguém inventa uma palavra nova, e...

- Muito espertinho, nosso amigo – disse Lilandra, soltando uma gargalhada.

- Quer dizer que se eu quiser conhecer o significado de certa palavra, não preciso correr ao dicionário, é só conversar com a pessoa certa, ou melhor, com a letra certa? Essa é boa! – Disse Samuel, sorrindo.

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         Igarapé Grande, numa fria noite de lua cheia.

- Não estou gostando disso, Guilherme – A garota empurrou o rapaz para trás, enquanto procurava fechar a blusa.

- O que deu em você? – o rapaz estava nervoso – não estamos fazendo nada de mais. Somos adultos e sabemos o que queremos.

- Estamos juntos há três meses, e você está se revelando mais um daqueles interesseiros, que só vêem a mulher como um objeto de prazer.

- O que é isso agora? Por que esse ataque de santidade? Quando nos conhecemos fazia dois dias que você tinha terminado com o Carlos. Você sempre foi namoradeira. Não me diga que sempre ficou só nos beijinhos.

- Você é um canalha. Não quero mais saber de você! Espero que encontre uma idiota que satisfaça seus impulsos sexuais.

Aquela típica cena de briga entre namorados conduziria mais tarde a um rumo inimaginado. Samantha Huston era uma garota ruiva, bonita, mas paqueradora além da conta. Seu amigo Morganne bem que tentou, mas não conseguiu inspirar nela a mentalidade de um “SETE”. Mas ele continuava tentando, pois gostava muito dela. Eles se conheciam desde os tempos do ginásio.

Ainda bastante chateada, ela caminhou um pouco até chegar a um bar de esquina. Sentou numa mesa no canto da sala e pediu uma cerveja. Tinha vontade de ser uma pessoa diferente, mas era muito fraca. Talvez se encontrasse alguém que a amasse de verdade...

Enquanto pensava essas coisas notou um rapaz numa mesa do outro lado, sozinho. Ele parecia ter mais de 35 anos. Talvez uns 40. Seus olhares se cruzaram por alguns segundos. Ela desviou a vista, sorriu e pensou: “Acabei de sair de uma e já estou querendo me meter em outra”.

- Olá! Gostaria de conversar um pouco?

Ela virou-se e tentou não demonstrar surpresa. Era o “quarentão”.

- Claro! Senta ai.

- Obrigado. Meu nome é Charles. Charles Leafar. Como é o seu?

Antes que ela respondesse sentiu um calafrio, pois um lobo muito distante dali tinha começado a uivar.

*******

Deserto do Saara.

O jovem de cabelos ruivos estava perplexo. Duas lindas moças, com vestes árabes, o contemplavam, sorrindo.

- Seja bem vindo, senhor Rogers – disse uma delas em perfeito inglês.

O homem sorriu encabulado, e disse:

- Não vão me dizer que os salteadores eram um teste?

- Sim, meu caro. O sultão ficou muito preocupado quando soube que você viria até aqui e imaginou que fosse alguma armadilha. Então enviou aqueles falsos salteadores que o receberam calorosamente.

- Sim, eu sei como foram “calorosas” – disse ele, lembrando do que tinha acontecido recentemente.

Rogers Town era um homem muito importante. Depois de ter trabalhado 10 anos para a maior agência de espionagem do mundo – a CIA, sua vida sofreu uma grande reviravolta. Tão grande era seu ceticismo que foi um espanto para todos quando se tornou Cristão. Não via mais nenhum sentido continuar vivendo como espião, e não foi difícil encontrar um serviço adequado para um homem do seu nível. Passou a trabalhar na ONU como chefe do Departamento de Relações Internacionais no setor relacionado aos paises do Oriente Médio.

Ao participar de uma Conferência Cristã sobre Profecias, em Porto Alegre, Brasil, conheceu James Anderson, um jovem professor universitário envolvido com um grupo de pesquisadores conhecidos como SETES.

Em pouco tempo Rogers também se tornou um SETE e passou a se aprofundar no conhecimento das profecias. Devido à sua posição na ONU e anos de experiência na CIA, ele se tornou a maior fonte de informação para os SETES. Havia outra pessoa muito parecida com ele. Alguém que também trabalhou alguns anos na CIA, depois se tornou Cristã e passou a viver como jornalista: Moyra Stanley. Na verdade, foi ela quem conduziu o inteligente espião ao Evangelho de Jesus Cristo. Moyra era uma mulher muito especial e Rogers passou a sentir por ela algo raro e precioso. Agora ele estava no Marrocos, onde sua vida iria sofrer mais uma reviravolta.

Ele tinha um amigo beduíno – os beduínos eram um povo do deserto – e recebera um sinal via Internet de que algo extraordinário estava para acontecer ao mundo. O sinal foi enviado do Marrocos. Rogers sabia que o único amigo que ele tinha no norte da África era Ismael Youssef, conhecido como “sultão” – embora andasse longe de ser um ricaço daqueles. O sultão pedia para que Rogers o encontrasse no Cairo o mais rápido possível, pois o negócio era urgente. Mas a mensagem foi interceptada, pois no Cairo Rogers sofreu um atentado. Por pouco não era atravessado por uma adaga. Porém sua maior surpresa foi encontrar Moyra Stanley no Egito. Claro que eles não se encontraram, ele a encontrou e permaneceu de longe, pois temia que seus misteriosos inimigos atentassem contra a vida dela também se descobrissem que eles eram amigos.

Mas não a perdeu de vista. Quase que se revelou ao vê-la ameaçada na biblioteca, mas conteve-se quando viu que ela conseguira escapar mais uma vez. Num daqueles becos mal afamados, quando Moyra Stanley se viu diante de uma armadilha, Rogers Town havia intervido usando uma pedra. Mas uma vez, Moyra não notou a presença do ex-agente da CIA. Rogers só respirou aliviado quando a viu deixando o Egito.

Então ele viajou ao Marrocos à procura do “sultão”. De informação em informação, o agente chegou ao deserto, à uma comunidade de beduínos. Mas os beduínos – fiéis aliados do “sultão” – empreenderam uma série de testes para comprovar que Rogers era mesmo o amigo que o sultão aguardava, pois muitos terroristas estavam na área à caça do “sultão”.

Antes de ser – forçosamente – enviado ao deserto para morrer de sede, Rogers teve que vencer certas provas. Seu amigo marroquino era cristão e havia convencionado certas senhas a fim de que seus homens identificassem Rogers quando este aparecesse.

- Procuro o “sultão” – disse Rogers, numa linguagem árabe tradicional da região, ao se aproximar de um grupo de beduínos na orla do grande deserto do Saara.

Aquelas palavras, pronunciadas naquela língua conhecida por poucas tribos árabes causaram impacto. O que parecia ser o chefe dos beduínos, levantou-se e aproximou-se do ex-agente da CIA.

- Por que quer ver o “sultão” e quem é você? – Perguntou o beduíno em sua língua pouco conhecida.

- Sou o homem do Ocidente – Rogers continuava montado no camelo, e atento a todos os movimentos dos beduínos desconfiados.

         O árabe levantou a mão direita e mostrou três dedos. Rogers sorriu. Levantou sua mão esquerda e mostrou quatro dedos. Essa senha também usada pelos SETES no Brasil continha algumas variações. Se alguém apresentasse 3 folhas, a contra senha era alguém mostrar quatro folhas (para perfazer sete). Ou então mostrava, discretamente, o número 1 e o outro (para confirmar a identificação) apresentava alguma coisa envolvendo o número 6 (ou seja, 6 + 1 = 7). Também podia ser 2 e 5.

O árabe sorriu e, olhando para trás chamou alguém. Um ancião apareceu, e aproximando-se de Rogers perguntou-lhe:

- De onde veio Deus?

- Deus nunca veio de lugar nenhum – respondeu Rogers imediatamente – todas as coisas é que vieram dEle.

- Por que Deus não está no céu, nem na terra, nem no inferno e nem no Universo?

Rogers não hesitou em responder:

- De acordo com Salomão Deus não está no céu porque Ele é tão grande que nem o céu dos céus é capaz de contê-lo. Está escrito em I Reis 8.27 “MAS, NA VERDADE, HABITARIA DEUS NA TERRA? EIS QUE O CÉU, E ATÉ O CÉU DOS CÉUS, NÃO TE PODEM CONTER; QUANTO MENOS ESTA CASA QUE EDIFIQUEI!” Ora, se o céu dos céus é maior do que a terra e o inferno, e Deus não cabe nele, concluímos que Deus não está no Universo; o Universo é que está nEle.

- E o que é infinitamente menor do que o Universo, mas é capaz de conter Deus?

- O coração do homem.

- O que o homem vê e Deus não vê?

- O homem vê outro homem; Deus não pode ver outro Deus, pois Ele é Único no Universo.

- Quem é a filha mais velha do Senhor Jesus?

- As Sagradas Escrituras afirmam que Jesus é o Pai da Eternidade.

- O que há no trono de Deus nos altos céus feito pela mão humana?

- A marca dos cravos nos braços de Jesus Cristo.

- O que está faltando agora?

- Faltava o senhor me fazer a 7.ª pergunta, mas é claro que já acabou de fazer – respondeu Rogers.

- Muito bem, meu jovem – sorriu o ancião, que, olhando para um beduíno, disse:
 – Hassan! Leve-o ao “sultão”. Mas tome cuidado com os salteadores.

Rogers ficou curioso com aquela história de “salteadores” e seguiu o jovem pelas areias do deserto. Alguns minutos depois, tentou puxar conversa:

- Quem são os salteadores citados pelo ancião?

- Antes que o jovem respondesse, eles escutaram tiros. Então viram 10 homens montados em camelos avançando na direção deles.

- Fuja! São os salteadores! – gritou o jovem, batendo em retirada com toda velocidade.

- E essa agora! – Rogers também tentou fugir, mas sua retaguarda estava cercada. Ele foi obrigado a fugir na direção oposta ao acampamento dos beduínos. E assim ele foi capturado e deixado para morrer no deserto. Mas agora – na sombra daquele oásis – já estava tudo explicado. Os salteadores eram os homens do “sultão” que tinha sido enviados especialmente para testar a inteligência do ex-agente da CIA.

- E se eu não conseguisse encontrar o oásis? – Perguntou Rogers diante do seu velho amigo.

- Ora, caro amigo – sorriu o homem do oásis – eu tinha plena certeza de que você conseguiria. De qualquer forma meus homens estavam nas redondezas.

Algum tempo depois, após uma alegre refeição, num cenário típico dos contos das mil e uma noites, Rogers afastou-se um pouco e começou ouvir da boca do “sultão” qual era a perigosa ameaça que pairava sobre o planeta.

- Minhas fontes revelaram que um grande atentado vai abalar o mundo em 6 de Junho, só não sei o ano, mas sei que será em breve – falou o “sultão” em tom dramático - e esse atentado marcará a entronização daquele que trará a paz para o Oriente Médio. Seis paises serão atingidos no mesmo dia e na mesma hora. Consegui descobrir que um dos seis países a serem “agraciados” com o ataque terrorista é o Marrocos. Lembro-me que há anos conversamos sobre as profecias referentes a chegada de um grande líder europeu que traria uma aparente paz para o Oriente Médio, mas que depois mergulharia o mundo na pior das guerras.

Acredite, meu amigo. Esse homem está vivo e está para assumir o poder na Europa. Meu serviço de informação conseguiu interceptar outra mensagem alarmante. O papa será assassinado dentro de poucos dias, mas seu assassinato não será percebido. Para o mundo vai parecer que ele morreu de morte natural ou de alguma doença fatal. Tenho algumas cópias de documentos relacionando todas as pessoas importantes ligadas à Nova Ordem Mundial. O Vaticano está cheio de pessoas ligadas aos Iluminati, e a poderosa Sociedade dos Jesuítas está no controle de quase todos os setores das organizações mundiais. Qualquer pessoa que for considerada uma ameaça aos planos deles, será eliminada. Todas as Igrejas e religiões estão sendo convidadas para participarem da União Ecumênica, e assim formarem a Religião Oficial Global Única. Qualquer religião ou igreja que se recusar aderir à Unidade Global será mal vista pela Nova Ordem e perseguida até deixar de existir. Chegou a hora do Armagedom.

- Isso é pior do que eu pensava – disse Rogers – atentados islâmicos são terríveis, mas coisas ligadas à Nova Ordem Mundial é o fim.

Rogers estava preocupado. Muito preocupado. Tinha um forte pressentimento de que não conseguiria voltar para a Europa. Nunca antes tivera tal intuição. Ali, naquele oásis no meio do deserto, tentava imaginar que tipo de tempestade estava para cair sobre o mundo. Mas ele sabia muito bem que tipo de tempestade era. Era a tempestade de Deus sobre um mundo anticristão. Como agente da CIA ele havia enfrentado espiões soviéticos, terroristas árabes, traficantes sul americanos. Mas agora estava diante de uma missão relacionada ao final da história, ao fim de todas as coisas, ao Apocalipse.

         Ele precisava enviar aquele conhecimento aos SETES, pois aqueles jovens espertos saberiam o que fazer com todas aquelas informações. No pouco tempo que ainda restava.

*******

Samantha estava achando Charles muito divertido. Meia hora depois ele a convidou para “dar uns giros pela cidade” no seu Vectra marrom. Algum tempo depois e ele tentou beijá-la. Ela não resistiu. O carro dele estava parado num canto escuro de uma praça. Samantha estava gostando de beijar aquele “bonitão”, mas sentia que não estava plenamente consciente. Ela não tinha bebido o suficiente para se embriagar, mas sentia-se muito fraca, sem forças nem para resistir ao charme daquele desconhecido. Subitamente as coisas começaram a girar ao redor dela. O que estava acontecendo? Afastou-se de Charles, e conseguiu perceber um sorriso estranho no rosto dele. Depois disso ela mergulhou em completa escuridão.

*******

Em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Alanna Max Mister saia da Universidade. Cursava Jornalismo, e ao mesmo tempo, trabalhava como repórter de TV numa emissora local. Suas reportagens sempre chamavam atenção, pois ela era especialista em jornalismo investigativo relacionado à crimes envolvendo cultos satânicos e movimentos neo-nazistas. Há dois anos namorava Marcos Moran, um jovem administrador de uma empresa de turismo.

Naquele dia ele estava chegando de uma viagem ao Egito. Precisou fechar negócios importantíssimos com o governo do Cairo, e esteve ausente de Porto Alegre por três semanas.

Era um jovem brilhante e ambicioso. Admirava a busca de Alanna pela verdade, mas temia que ela fosse “se dar mal” em alguma daquelas reportagens perigosas. Sempre pedia para que ela mudasse de tema. Em sua recente viagem ao país das pirâmides havia conhecido uma jovem arqueóloga, uma caçadora incansável por manuscritos antigos, principalmente relacionados aos cultos secretos do antigo Egito. Marcos a trouxe para passar uns dias no Brasil, pois sabia que Alanna teria enorme interesse em conversar com ela.   

*******

Samantha abriu os olhos, e não conteve um grito, ao se ver cercada de estranhas pessoas encapuzadas. Ela tentou se mover, mas percebeu horrorizada, que estava nua e amarrada numa grande mesa, em forma de X.

“Senhor Jesus! Parece que estou no inferno”.

Os misteriosos encapuzados vestiam longas capas negras, com o número 666 gravado em vermelho. Acima do número da Besta tinha a figura de três serpentes. Haviam muitas figuras grotescas pintadas nas paredes, e também algumas cruzes – só que de cabeça para baixo. Ela ouviu uma voz conhecida parecendo discursar:

- Irmãos, falta pouco para completarmos os preparativos para o sacrifício deste mês em honra ao nosso deus. A escolhida já está preparada, mas antes precisamos aguardar a chegada dos 6 príncipes do Círculo superior. Eles estarão aqui em menos de 24 horas.

Samantha estava paralisada de terror.

*******
- Esta é Rashira Levy, arqueóloga israelense, caçadora de manuscritos religiosos dos tempos dos faraós – disse Marcos Moran, apresentando para Alanna, uma jovem morena, cabelos negros e curtos, olhos castanhos e penetrantes, e um sorriso tímido.
- Prazer em conhecê-la – Alanna sabia que Rashira iria ajudá-la bastante nas investigações do Arquivo 7 – fico muito feliz em encontrar jovens interessados em manuscritos antigos e empoeirados, pois com certeza você crê naquele pensamento de que os “antigos sabiam muito mais do que possamos imaginar”.
- É verdade – sorriu Rashira – não tem sido fácil passar boa parte do meu tempo atrás de fantasmas do passado, mas tem sido bastante excitante. Recentemente descobri que antigos cultos ocultistas egípcios ainda sobrevivem, e há, atualmente, pessoas praticando esses cultos no Ocidente, inclusive na América.
- Você tem descoberto relações desses rituais egípcios com a onda esotérica que tem infestado nossa civilização? – Perguntou Alanna, já prevendo a resposta de Rashira.
- Você nem imagina quantas.

*******

Samantha abriu os olhos. Já fazia mais de 6 horas que ela estava aprisionada ali. O novo dia estava nascendo. Por um instante ela alimentou a ilusão de que tudo não passou de um grande pesadelo. Mas em questão de segundos percebeu que continuava realmente presa numa mesa cheia de símbolos ocultistas. A sala estava vazia. Ela relembrou as palavras de um dos encapuzados da noite anterior. Sim, as palavras daquele diabólico Charles. Ela seria sacrificada como um animal. Ela começou a chorar desesperadamente.

*******

Alanna e Rashira conversaram bastante. Ambas estavam muito admiradas, pois tinham aprendido muita coisa uma com a outra. Então Rashira surpreendeu Alanna, ao dizer:

- Apesar de ser a primeira vez que venho ao Brasil, tenho um amigo aqui. Nós nos encontramos em Nova York pela primeira vez há 6 anos. O nome dele é Rogers Town.

“Essa não!” Pensou Alanna “é muita coincidência. Rogers Town, o amigo de Morganne?” E Rashira continuou:

- Ele, apesar de não ser arqueólogo, costuma se interessar pela cultura egípcia. Por isso, de vez em quando envio uns relatórios para ele. Parece que ele tem um grupo de amigos que estuda essas coisas há anos.

Alanna sorriu. “É Rogers mesmo”.

- Você não vai acreditar, Rashira, mas eu também conheço esse cara. O mundo realmente não é tão grande assim.

*******
Samantha ouviu passos. “Essa não. Eles estão de volta”. Os satanistas se aproximavam. Já passava do meio dia.

*******
Alanna e Rashira estavam prestes a visitar um velho cemitério. Uma pista referente a uma seita satânica indicava que ali estavam acontecendo coisas tenebrosas. Elas desceram do carro. Era aproximadamente 14:00 horas. O calor estava insuportável, mas era a melhor hora para se fazer aquele tipo de investigação. Ao anoitecer era que não dava mesmo. As duas investigadoras especiais chegaram ao portão antigo.
- Deve fazer um bom tempo que este cemitério foi usado – disse Alanna – e não fica nem tão afastado assim da cidade.

Elas adentraram o cemitério e logo Rashira apontou algo.

- Veja aquele túmulo ali. Parece que foi violado.

Alanna sentiu um calafrio. Enquanto a arqueóloga israelense examinava com cuidado um dos túmulos daquele cemitério assustador, Alanna começou a sentir aquela estranha sensação de perigo. Levantou os olhos e viu um sinistro corvo sobrevoando a área.

Mas elas seguiram adiante, penetrando cada vez mais profundamente naquele cemitério antigo, cheio de árvores enormes e plantas exóticas. Rashira estava tensa e Alanna com estranhos pressentimentos. Começava a se arrepender de ter ido até ali. Mas a vontade de conhecer a verdade falou mais alto. De repente avistaram uma pequena cabana cercada de uma vegetação meio fantasmagórica. Alanna sentiu novo arrepio. Levantou os olhos e viu novamente o corvo.
- Vamos entrar aí? – Perguntou Rashira.
Alanna não se espantava com a coragem de Rashira, pois a arqueóloga israelense era acostumada a explorar túmulos de Faraós, no Egito, que eram coisas muito mais antigas.
- Querida – disse Alanna, após hesitar um pouco – eu não acho aconselhável entrar ai, pois, embora não haja fantasmas, é um bom esconderijo para cascavéis e companhia.
- Ah, queridinha, você precisa ter espírito de arqueólogo. Eu vou entrar.
Aquela sensação de perigo, um perigo iminente e desconhecido. Alanna olhou ao redor. Aquela região era muito sombria e assustadora. Era um cemitério.
E estava anoitecendo.
- Aaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!
O grito horrível veio da velha cabana. Não parecia humano. Alanna ficou paralisada. Rashira estava na cabana. Ela precisava de ajuda. Mas Alanna sentia que não poderia ajudá-la. Lá no alto o corvo soltou um grito estridente.

*******
Leafar estava diante de Samantha, sem máscara. E sorria.

- Sinto muito, minha querida. Considere isso um grande privilégio. Você será sacrificada ao verdadeiro dono deste Universo. Aquele que foi injustamente expulso do céu e que em breve assumirá o controle deste planeta.

Samantha sentiu um calafrio percorrer todo o seu corpo.

*******

Alanna sentiu um novo arrepio. Ela sabia que não devia entrar na cabana. Pensou durante alguns segundos. Chamou por Rashira, mas não obteve respostas. Ela precisava salvar sua amiga. De repente uma mão pousou em seu ombro. Ela virou-se. O que viu fez seu coração gelar.

*******
- Irmãos, eles chegaram. Vamos lhes dar as boas vindas – a voz sinistra de Leafar ecoou naquela casa bizarra. Então Samantha viu, horrorizada, 6 homens se aproximando. Seis homens encapuzados, todos com aqueles símbolos diabólicos em suas roupas.

Um deles aproximou-se de Samantha, com uma afiada navalha na mão.


Samantha fechou os olhos. O fim do mundo tinha chegado para ela.

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