quinta-feira, 30 de outubro de 2014

CAPÍTULO 18 - UM SINAL DOS CÉUS

UNIVERSIDADE GALILEU, PORTO ALEGRE, BRASIL, 2008.

- Alguém trouxe o jornal que eu pedi? Ah, obrigado, James – Leona pegou o jornal e antes de abri-lo, disse:

- Senhoras e senhores, a Bíblia nos ensina que, quando chegar o tempo do Retorno de Cristo, chamado pelos estudiosos de Fim dos Tempos, Israel será a preocupação mundial, e o Oriente Médio noticia freqüente nos jornais. Se isto é verdade, vamos fazer um teste. O mundo atual possui quase 200 países e milhões de cidades. Mas sabe quem iremos encontrar nas páginas internacionais?

Leona abriu o jornal e leu:

- Vejam as principais manchetes da página internacional.

“Fracassa nova conferência de paz entre árabes e judeus”

“Irã continua desafiando potências ocidentais e novamente ameaça Israel”

 “Nova explosão mata 40 pessoas no Iraque.”

Um país tão pequeno como Israel (menor que Sergipe, o menor Estado do Brasil), e tá sempre no centro das reviravoltas mundiais?


Meus amigos, existe uma fórmula muito simples para sabermos se Deus existe ou não. É só alguém lançar uma bomba atômica sobre Israel e acabar com os judeus. Pois Deus afirma na Bíblia que, enquanto Ele tiver o controle das leis do Universo nas mãos, Israel existirá. Esta fórmula está descrita detalhadamente em Jeremias 31.35-37 e em 33.19-26. Permitam-me ler só mais esta passagem.

“Assim diz o Senhor, que dá o sol para luz do dia, e a ordem estabelecida da lua e das estrelas para luz da noite, que agita o mar, de modo que bramem as suas ondas; o Senhor dos exércitos é o seu nome: se esta ordem estabelecida falhar diante de mim, diz o Senhor, deixará também a linhagem de Israel de ser uma nação diante de mim para sempre.”

“Assim diz o senhor: se puderem ser medidos os céus lá em cima, e sondados os fundamentos da terra cá em baixo, também eu rejeitarei toda a linhagem de Israel, por tudo quanto eles têm feito, diz o Senhor.”

“Assim diz o senhor: se o meu pacto com o dia e com a noite não permanecer, e se Eu não tiver determinado as ordenanças dos céus e da terra, também rejeitarei a descendência de Jacó...”

Portanto, meus amigos, se alguém conseguir destruir o sol e a lua, ou as leis fixas que regem o universo, ou for capaz de medir todas as extensões do céu e da terra, esse alguém terá todas as condições para poder exterminar os judeus. Em outras palavras: é impossível aniquilar Israel!

Pode contestar essa afirmação, professor? Se puder, explique como um país tão minúsculo pode ser tão importante? E aproveite para explicar por que tudo tem a ver com a Bíblia?

- Puramente coincidências, minha querida.

- Pode pensar assim se isso trouxer alivio à sua alma. Mas lembre-se que essas coincidências continuarão acontecendo até chegar o momento da maior coincidência de todas: o Retorno de Jesus Cristo! Quer apostar?

Bem, caros Racionalistas, não podemos ignorar essas coisas e fingir que não existem. Se alguém quiser negar a sobrenaturalidade da Bíblia, deve antes tentar explicar o fenômeno Israel. Obrigada pela paciência. Quaisquer questionamentos, estou à disposição.

Nunca pensei que fosse assistir um debate daquele na Cova dos Leões. Leona foi muito aplaudida, mesmo pelos não simpatizantes da causa cristã. O professor Miranda estava visivelmente abalado. Acostumado a pegar os cristãos, fazer churrasco com eles, e digerir com o maior prazer. Agora estava claramente engasgado com um osso especial chamado Leona. Aquele debate marcou uma era na Cova dos Leões.

Os Racionalistas estavam sempre prontos para refutar os argumentos tradicionais usados pelos apologistas cristãos. Miranda era o campeão nesse tipo de coisa. Mas o tema de Leona foi tão inédito que pegou os “mentes brilhantes” de surpresa. Ninguém esperava aquilo.

Eu precisava conversar com ela. A idéia que eu fazia dos cristãos tinha passado por uma metamorfose radical. E Leona tinha grande parcela de culpa nisso. Eu precisava contar pra ela.

Nem é preciso dizer que a partir daquela noite, os universitários tinham mais um assunto pra comentar e o tal Justiceiro do Senhor, enfim, saiu de cena. Ao lembrar disso senti uma profunda tristeza. Não queria acreditar que Hank era o culpado. Não dava pra ver um assassino com a cara dele. Pensei muito nele durante o debate de Leona. Ele precisava tá lá. Ele precisava sentir a sensação de revanche, ver, pela primeira vez, os arrogantes Racionalistas sendo humilhados.

Mas a história estava longe de acabar. E as surpresas também.

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Nova York, Maio de 2001.

Mohamed estava se preparando para sair. Era professor e havia uma importante conferência naquela semana. Veio para os Estados Unidos há algum tempo, onde concluiu sua faculdade e logo conseguiu uma vaga para lecionar Física Nuclear, paixão de adolescência. Estava morando com um tio, Kaleb Hassan, um empresário árabe que havia feito fortuna trabalhando honestamente dia e noite, derramando torrentes de suor nas ruas da “Grande Maçã”. Tudo ia bem para todo mundo, até que certo dia apareceu um irmão dele, Rachid. Rachid não era sujeito de muitas palavras. Mas além de silencioso tinha um ar sinistro. A desgraça de Mohamed começou quando um dia, sem querer, ouviu uma conversa do tio Rachid. Ele estava nervoso ao celular.

- Já disse pra não me ligar! Quando quiser eu mantenho contato. Como está o treinamento do pessoal? Não podemos adiar nada. Muita coisa já foi feita, muito dinheiro já foi gasto. Se adiarmos o projeto, tudo irá por água abaixo. Não quero nem saber! Iracema tem que morrer na 37.ª semana quando o 3.º se encontrar com o 7.º dia! Nada vai ser adiado.

Mohamed estava no banheiro. Mas, naquela casa havia dois banheiros e ficavam lado a lado. Tio Rachid estava no outro. À principio Mohamed não deu muita importância à conversa que ouviu. Seus parentes adoravam falar por enigmas. Mas, ao sair do banheiro, deu de cara com o tio que também estava saindo. Nunca mais iria esquecer a frieza com que seu tio lhe olhou. E passou a ter uma certeza: Aquela conversa ao celular era algo muito sério.

Pouco a pouco Mohamed passou a ter a sinistra sensação de que estava sendo seguido e vigiado. Sempre que se encontrava com o tio, desviava o olhar. Um dia, ao sair da Universidade, por pouco não foi atropelado por um carro em alta velocidade. Poderia ser coincidência. Mas algo parecido se repetiu duas semanas depois, quando saia de um shopping.

A partir daí, o jovem professor árabe passou a viver com medo. Ele havia registrado em sua agenda todas as palavras que ouvira do tio naquele dia ao celular. Passou muitas noites refletindo em cada palavra, tentando entender alguma coisa. Tinha certeza de que seu tio estava envolvido em algo muito sério. Será que ele e seus misteriosos amigos estariam planejando alguma coisa contra os Estados Unidos? Algum atentado em território americano? Não. Aquilo era absurdo demais.

Mohamed agradeceu aos céus quando o tio teve que viajar para a Europa. Mas continuou preocupado. Ficou muito contente ao ser sorteado para participar do intercâmbio de professores em Roma. Talvez quando retornasse as coisas voltassem ao normal.

Mas o inteligente professor de Física Nuclear nunca mais retornaria para casa. No primeiro dia em Roma, ao passear por uma das áreas históricas, ele percebeu estar sendo seguido por alguém. Suas preocupações retornaram. Estava perto de uma biblioteca e teve uma idéia. Caso lhe acontecesse algo, tinha esperança de que alguém fosse colocado na pista certa. Então escreveu a misteriosa mensagem e escondeu dentro do romance O NOME DA ROSA.

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Nova York, dezembro de 1999.

Dália Yassir parou diante de um cartaz. Era o anúncio de uma palestra numa Universidade perto dali. O tema era muito curioso: “O ENCONTRO DO 3.º COM O 7.º DIA”. Palestrante: Dr. Frank Makanera, teólogo e matemático. Esqueceram de colocar a foto do palestrante no cartaz.

Ela já tinha ouvido alguma coisa parecida com aquilo. Fazia muito tempo, mas não saia da sua cabeça. Tinha dez anos quando participou, escondida, de uma reunião de família.

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Jerusalém, janeiro de 1973.

Numa bonita casa no centro da cidade sagrada, uma importante reunião estava acontecendo. Seis homens ouviam com atenção as palavras de um sujeito magro, um individuo carrancudo, que tinha um grande bigode sobre os lábios e o olhar frio, tão frio quanto a morte.

Pertinho dali, morrendo de medo de ser descoberta, Dália escutava com atenção a conversa entre os tios.

- E ele disse que as duas crianças prepararão o caminho do Messias.

- Isso quer dizer que em breve haverá guerra – disse um dos homens, cuja cara também não inspirava confiança.

- É – confirmou o bigodudo – as profecias dos israelitas dizem que o Messias virá durante uma grande guerra envolvendo Israel e o mundo todo.

- Os profetas deles dizem que Israel vai sobreviver, mas sabemos que isso é mentira. Os nossos profetas é que são os verdadeiros mensageiros do Todo Poderoso e eles dizem que quando o El-Mahdi chegar, vai destruir Israel e todos os infiéis do mundo, todos os que se recusam a acreditar que Maomé é o maior dos profetas – tornou a falar um dos homens.

- É nosso dever destruir os inimigos da nossa fé – um dos homens levantou-se, com a mão direita em forma de punho – e não podemos permitir que os traidores dentro da nossa família compactue com os nossos inimigos.

- Eles pagarão – disse o bigodudo, acenando com a mão para que o outro se sentasse – não somente eles, mas os filhos deles, principalmente os filhos, pois o rabino viu na sua visão duas crianças preparando o caminho do Messias.

- Como elas farão isso?

- Não sei – respondeu o bigodudo – mas se somos dignos da glória eterna, elas não chegarão a fazer nada.

- E na visão do rabino existe alguma coisa falando sobre o tempo da chegada do Messias?

- Não sei exatamente, pois o nosso espião ouviu umas palavras estranhas. Parece que o Messias virá quando o 3.º dia se encontrar com o 7.º.

- Não faz sentido pra mim – quem continuava falando com o bigodudo era o mesmo homem já referido anteriormente, pois os outros se limitavam apenas a soltar imprecações de vez em quando.

- O Messias virá quando o 3.º dia se encontrar com o 7.º - repetiu o bigodudo – e ainda tem algo a ver com 37 semanas. Talvez o velho rabino tenha inventado tudo só pra aparecer.

- Inventando ou não, os dois casamentos feitos por ele é uma vergonha pra nossa família. Isso não pode ficar assim. Hassan, Nassir e aquelas duas judias do inferno devem morrer.

- Quem deseja ter a honra de matá-los?

A pequena Dália, instintivamente, colocou a mão na boca e sentiu um calafrio. Mas ela cresceu sendo ensinada a odiar os judeus e não sentia um pingo de pena quando um daqueles “pestes” era assassinado.

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Nova York, dezembro de 1999.

As lembranças de Dália continuavam vivas, bem vivas.

Nunca mais ela tinha ouvido aquelas palavras estranhas, ENCONTRO DO 3.º COM O 7.º DIA, desde o dia em que as ouvira naquela reunião de ódio.

Agora, ali estava a propaganda de uma palestra cujo tema era exatamente: “O ENCONTRO DO 3.º COM O 7.º DIA”. Dália ficou muitas noites refletindo naquelas palavras. Não conseguia entender como simples palavras poderiam causar tanto impacto ou tanta preocupação.

Ela estava em Nova York para realizar uma missão importantíssima. Não podia se dar ao luxo de se distrair com qualquer coisa. Mas a vontade de assistir àquela palestra era muito forte. Já haviam se passado muitos anos e nunca ouvira e nem lera em lugar algum qualquer coisa que lançasse luz sobre esse tal de ENCONTRO DO 3.º COM O 7.º DIA. Agora ali estava sua oportunidade.

Talvez aquela palestra pudesse até lhe dar uma inspiração relacionada ao poderoso plano que estava arquitetando desde setembro daquele ano.

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Ela saiu da reunião perplexa. Não somente com o que tinha ouvido. Na verdade, duas coisas abalaram o coração de Dália:

A 1.ª coisa - Os argumentos do palestrante eram muitos convincentes. Mas ela não podia acreditar naquelas coisas. Não podia crer que os cristãos estivessem certos. Não. Eles eram uns mentirosos. O cristianismo não podia ser verdadeiro. A única verdade estava no Alcorão. Jesus pode até ter sido um profeta, mas Maomé era o maior de todos. Maior do que Moisés. Maior do que Jesus.

De qualquer forma, houve algo na palestra que ela iria aproveitar em seu plano. O plano era muito bom, tudo já estava preparado. Faltava apenas uma data especial. Mas agora ela entendia perfeitamente o que o código significava. Agora sabia o que significava o encontro do 3.º com o 7.º dia. Agora era só esperar e agir. Quando o 3.º dia se encontrasse com o 7.º, na 37.ª semana começaria o fim de todos os inimigos do profeta.

Mas a segunda coisa que abalou Dália: ela conhecia o palestrante. Conhecia muito bem. E sabia perfeitamente que o nome dele não era Frank Makanera!

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Brasil, setembro de 2001.

Eliakim estava muito cansado. Após voltar de Roma, reassumiu seu posto de professor na Universidade Galileu, em Porto Alegre. No fundo sentia um certo alivio. Não teve mais nenhum problema, ninguém mais o seguiu ou tentou algo contra sua vida. Ao voltar para o Brasil resolvera esquecer a mensagem fatídica. Ele não era nenhum herói, não tinha nada a ver com agente secreto, portanto não poderia salvar o mundo. E esperava que aquilo que a mensagem dizia jamais acontecesse. Se tivesse de acontecer,... bem, ele não poderia se culpar.

Não teve mais noticias do Dr. Makanera, a não ser as que eram divulgadas no site. E nunca recebeu nenhuma mensagem dele. Talvez ele também tivesse esquecido o enigma. Mas Eliakim não conseguia esquecer a reação de surpresa do professor diante do enigma.

“Ele já sabia alguma coisa daquilo, só pode”.

Eliakim estava jogado no sofá. Foi um dia cansativo. Morava sozinho naquele apartamento. A casa estava uma bagunça. Ele deveria se levantar, espantar a preguiça e fazer alguma coisa útil – tomar banho, preparar um lanche, etc.

Mas, ainda deitado, pegou o controle remoto e ligou a televisão.

Ficou mudando de canal pra canal, procurando algo interessante e inteligente pra se ver. Já passavam das 23 horas. Um bom horário para se ver algo relevante na tv. Naquele horário havia muitos filmes, documentários, entrevistas com gente inteligente, os noticiários de sempre,...

Eliakim levantou-se do sofá de um salto.

- MEU DEUS!

Estava passando um programa de variedades, uma espécie de revista eletrônica. Era uma reportagem sobre Nova York. Um jornalista brasileiro conversando com alguns transeuntes pelas ruas da Grande Maçã. O tema da reportagem versava sobre o fim do mundo. Mas não foi isso que fez Eliakim saltar do sofá.

O repórter falou durante alguns segundos com uma pessoa. Alguém que passava ali por puro acaso e foi abordado na reportagem.

- MEU DEUS! É ELA! É ELA!

Eliakim estava sobressaltado. Quando ligou no canal da reportagem, o jornalista estava agradecendo a resposta da moça que havia interpelado na rua. Eliakim só viu o finalzinho. Ficou desesperado. Sabia que a cena não iria se repetir. Pelo menos, não naquele momento. A reportagem já estava chegando ao final.

- MEU DEUS! NÃO ACREDITO! SÓ PODE SER ELA! SÓ PODE!


Subitamente, todo o cansaço desapareceu. Ele ligou o notebook e digitou alguns endereços. Queria acessar a pagina do programa. Droga! A reportagem não estava disponível. Tentou falar com alguém do programa.

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